Fiéis são incentivados a retornar à mensagem de Fátima sobre a devoção dos Primeiros Sábados em seu centenário (10 de dezembro de 2025)

Centenas de milhares de fiéis reuniram-se no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, no dia 12 de maio de 2025, para rezar pelo recém-eleito Papa Leão XIV e pela paz mundial. Os peregrinos vieram ao santuário para participar das comemorações do 108º aniversário da primeira aparição de Maria a três crianças pastoras, em 13 de maio de 1917.
(Foto: OSV News/Pedro Nunes, Reuters)

(OSV News) ─ […] Nossa Senhora de Fátima – Nossa Mãe Santíssima […] em 1925 pediu aos fiéis que cumprissem a devoção dos Primeiros Sábados.

É um pedido que ─ em seu centenário, em 10 de dezembro ─ é frequentemente considerado “esquecido” entre os eventos sobrenaturais que cercam Fátima. Mas, após as aparições mais conhecidas de 1917, a Irmã Lúcia de Jesus Rosa dos Santos – uma das três videntes de Fátima, que mais tarde se tornou freira carmelita – revelou que Maria lhe apareceu duas vezes enquanto estava hospedada em um convento em Pontevedra, na Espanha, e pediu especificamente a prática.

Católicos do mundo todo foram convidados a dedicar o primeiro sábado do mês – por cinco meses consecutivos, daí o nome “Cinco Primeiros Sábados” – à confissão, à recepção da Sagrada Comunhão e ao rosário e meditação [por 15 minutos] sobre seus mistérios.

“Acredito que os aniversários de 100 anos são significativos porque ajudam a relembrar as novas gerações sobre as devoções que não desaparecem”, disse Barbara Ernster, gerente de comunicação e editora do Apostolado Mundial de Fátima EUA, à OSV News.

Embora não tenha havido qualquer investigação canônica, a devoção dos Primeiros Sábados foi aprovada pelo bispo de Leiria, Portugal, em 13 de setembro de 1939.

“Nossa Senhora pediu-nos que fizéssemos isto, e a mensagem de Fátima é atemporal”, disse Ernster, “porque é a mensagem do Evangelho. Nunca ficará desatualizada.”

Falando de Fátima — onde participava num programa e conferência do centenário, no âmbito do Apostolado Mundial — Ernster reforçou a mensagem de paz.

“Uma das coisas que Lúcia sempre dizia era que isso poderia ajudar a evitar guerras e contribuir para a paz mundial. E nos vemos agora em situações em que ouvimos falar de uma terceira guerra mundial – qualquer coisa poderia desencadeá-la. Mesmo em nosso próprio país, há tanta divisão… E então”, concluiu Ernster, “fazemos isso para que possamos ajudar a trazer a paz – paz para nossas famílias, para nossas nações, para nossa Igreja.”

São Carlos Acutis contou que, em um sonho após a morte da Irmã Lúcia, ela lhe disse: “A prática dos cinco primeiros sábados do mês pode mudar o destino do mundo.

O cardeal Raymond L. Burke, ex-prefeito do Supremo Tribunal do Vaticano e arcebispo de Saint-Louis de 2004 a 2008, incentivou uma maior participação na devoção dos Primeiros Sábados, apoiando uma iniciativa liderada pela França conhecida como “Aliança dos Primeiros Sábados de Fátima”, que também lançou o “Jubileu dos Primeiros Sábados de Fátima 2025” em 4 de janeiro.

A proximidade do centenário da aparição do Menino Jesus e de Sua Santíssima Mãe à Irmã Lúcia em Pontevedra, em 10 de dezembro de 1925, convida os fiéis a renovarem, com fé mais profunda e maior fervor, a prática da Devoção Reparadora dos Primeiros Sábados”, disse o Cardeal Burke em mensagem enviada à OSV News.

Essa devoção, insistentemente solicitada pela própria Nossa Senhora como um ato de amorosa reparação ao seu Coração Doloroso e Imaculado, permanece de importância duradoura para a salvação das almas e para a paz no mundo“, acrescentou o prelado, que, como bispo de La Crosse, Wisconsin (1995-2004), fundou o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe naquela cidade.

No dia 10 de dezembro, o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe celebrará uma missa para comemorar o centenário das aparições em Pontevedra.

Encorajo a todos a perseverarem nesta devoção“, convidou o Cardeal Burke, “com a confiança de Nossa Senhora na fidelidade de Deus às suas promessas de vitória sobre o pecado e a vitória da vida eterna.” O Padre Edward Looney, secretário da Sociedade Mariológica da América, também afirmou que os fiéis devem atender ao pedido de Maria. “No que diz respeito a Fátima, todos nós nos esforçamos para rezar o terço todos os dias, como ela pediu. Os mais dedicados observam a devoção do Primeiro Sábado“, compartilhou. “Se todos os católicos praticantes atendessem a este pedido, como sacerdote, eu estaria muito ocupado com confissões.

Observando que os Primeiros Sábados também servem como reparação pelas ofensas contra Nossa Senhora, o Padre Looney acrescentou: “Temos visto estátuas vandalizadas e pessoas falando mal de Maria. Os Primeiros Sábados nos chamam a renovar nosso amor por Maria e a difundi-lo para que seu Imaculado Coração triunfe!” Para aqueles que não podem viajar para Fátima ou Pontevedra, o Apostolado Mundial de Fátima EUA oferece uma Peregrinação Virtual dos Primeiros Sábados a 12 locais sagrados relacionados a Fátima e às três videntes. Vídeos curtos, filmados no local, incluirão uma reflexão sobre os eventos e a devoção.

O mais importante é que esta era a parte que nos cabia fazer, a parte que nos foi dada“, enfatizou Ernster. “A Igreja recebeu a sua parte em Fátima, mas os leigos receberam a sua parte — e é por isso que fazemos isto para ajudar a responder à mensagem que Nossa Senhora nos trouxe.

Kimberley Heatherington é correspondente da OSV News.

Tradução e adaptação de Faithful urged to return to Fatima message about First Saturdays devotion on its centennial“.

Publicado em Detroit Catholic.






A devoção ao Sagrado Coração de Jesus (Solenidade – 2025)

Conheça a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, qual a sua origem, como se popularizou, quais são as suas promessas e como praticá-la.

Quando é a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus em 2025?

Em 2025, celebraremos a festa do Sagrado Coração de Jesus no dia 27 de junho — oito dias depois da solenidade de Corpus Christi, conforme o decreto do Papa Pio IX.

Conheça a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, qual a sua origem, como se popularizou, quais são as suas promessas e como praticá-la.

É parte da cultura universal fazer referência ao coração quando o assunto é sentimento, especialmente amor. Sem dúvida, o coração é um símbolo do amor. Imagine então o coração do próprio Jesus! João foi o único apóstolo que teve a graça de se reclinar no peito de Jesus, na última Ceia. Ele ouviu o pulsar do Coração que mais amou os homens.

Neste artigo, você vai conhecer a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Ela pode ser considerada a fonte de todas as devoções, pois consiste numa devoção intimamente ligada ao Amor do próprio Deus por cada um de nós.

O que é a devoção ao Sagrado Coração de Jesus?

Na linguagem bíblica, o coração quer dizer “toda a pessoa na sua unidade de consciência, inteligência, liberdade. O coração indica a interioridade do homem, como também a sua capacidade de pensar: é a sede da memória, centro de escolhas e projetos.” 1 A devoção ao Sagrado Coração de Jesus revela, sobretudo, o infinito amor de Deus por cada um de nós, seus filhos. Sendo assim, é também um chamado para que aprendamos a amar como Ele nos amou — e ama.

Em primeiro lugar, Deus quis ter um coração de carne. Isso se torna evidente na Encarnação do Verbo, pois Ele se fez homem, através de Jesus Cristo, para nos amar com o coração de Seu Filho. “O objeto específico dessa devoção é o imenso amor do Filho de Deus, que O levou a entregar-se por nós à morte e a dar-se inteiramente a nós no Santíssimo Sacramento do Altar.” 2Dessa forma, a devoção ao Sagrado Coração resulta também na devoção a Jesus Eucarístico, portanto é um dogma de fé.

Ao se fazer homem, viver tudo como nós — exceto o pecado —, e ainda sofrer e morrer numa cruz, Cristo nos convence de que um coração humano é capaz de amar. E nos convence também do Seu amor por nós. Se para nós é difícil compreender que Deus, Criador de todo o universo, nos ama, talvez seja mais simples imaginar que um homem, humano como nós, nos ama e anseia pelo nosso amor.

Por isso, viver essa devoção é honrar de todas as formas possíveis — por meio de orações, adorações, agradecimentos etc. — tudo quanto Cristo fez por nós, especialmente entregar-se na Santa Eucaristia.

As origens da devoção

A França é filha primogênita da Igreja. Ela foi um berço de santos e também um lugar de aparições marianas, como La Salette (em 1846) e Lourdes (em 1858). E foi neste país que Deus quis também despertar a devoção ao Seu Sagrado Coração.

Alguns místicos na Idade Média, como Matilde de Magdeburg (1212-1283) e o Beato dominicano Enrico Suso (1295 – 1366) já cultivavam a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. E em 1672, João Eudes, sacerdote francês, celebrou esta festa pela primeira vez. 1 Mas foram especialmente com as revelações de Nosso Senhor feitas à mística francesa Santa Margarida Maria Alacoque, a partir de 1673, que a devoção se propagou ainda mais.

Santa Margarida Maria Alacoque

Santa Margarida Maria Alacoque nasceu em 1647. Era de uma família católica e recebeu uma boa formação cultural e religiosa. No entanto, seus pais hesitavam em deixá-la ir para o convento, como era sua vontade. Contudo, depois de ter sido curada de uma doença — tinha convicção da intervenção divina —, entra para a Ordem da Visitação, aos 24 anos.

Foi uma freira e mística francesa da Ordem da Visitação. Ela recebeu visões de Jesus e de Maria, as quais revelaram o poder do Sagrado Coração de Jesus. A primeira vez que o Senhor lhe apareceu — em 27 de dezembro de 1673 — foi na capela do convento Visitação de Paray-le-Monial, enquanto o Santíssimo Sacramento estava exposto e a santa em profundo recolhimento interior.

Na segunda aparição, a santa decide ofertar o seu coração a Cristo, que lhe adverte o quanto ela teria de sofrer dali em diante para que a devoção fosse difundida. Mas também a consola com a certeza de estar sempre unido a ela, como o esposo à esposa. Ela relatava todas as visões ao seu diretor espiritual, o padre jesuíta francês Jean Croiset, que encorajado pela própria Santa deixa uma grande obra escrita sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Por fim, o Senhor apresenta a Santa Margarida o seu desejo de que o Rei da França (Luís XIV) consagre a si mesmo e toda a sua corte ao Sagrado Coração de Jesus. Apesar de o pedido ter sido negado, e de toda a prudência da Igreja, muitos bispos permitiram a fundação de confrarias em honra a esta preciosa devoção ao longo do século XVIII. E, desde então, a devoção só aumentou. 3

Santa Margarida Maria Alacoque morre aos 43 anos, em 1690, depois de muito sofrer e lutar para propagar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus

Nas aparições de Nosso Senhor à Santa Margarida Maria Alacoque, Ele revela como está o seu coração, que é desprezado pelos homens diariamente: “Eis o Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se poupou até se esgotar e consumir para testemunhar-lhes o seu amor; e em reconhecimento não recebo da maior parte deles senão ingratidões por meio das irreverências e sacrilégios, tibiezas e desdéns que usam para comigo neste sacramento de amor. E o que mais me custa é tratar-se de corações a mim consagrados os que assim me tratam.”

Mas, além das visões, o próprio Jesus revela que cumprirá grandes promessas na vida daqueles que se dedicarem, de fato, à devoção ao Seu Sagrado Coração. Não se sabe exatamente quem as enumerou em 12, como conhecemos hoje, mas é certo que elas estão contidas nas revelações, conforme os registros da própria Santa Margarida.

Conheça as 12 promessas

1ª: “A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração”;

2ª: “Eu darei aos devotos de Meu Coração todas as graças necessárias a seu estado”;

3ª: “Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias”;

4ª: “Eu os consolarei em todas as suas aflições”;

5ª: “Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte”;

6ª: “Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos”;

7ª: “Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias”;

8ª: “As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção”;

9ª: “As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição”;

10ª: “Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos”;

11ª: “As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração”;

12ª: “A todos os que comunguem, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna”.

A popularização da devoção

Depois da morte de Santa Margarida, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi se popularizando cada vez mais. O processo de reconhecimento e aprovação da Igreja também é prudente, a Festa do Sagrado Coração de Jesus foi instituída quase dois séculos depois das aparições. No entanto, isso não impediu que muitos mantivessem uma devoção particular durante esses anos. Vamos conhecer agora alguns acontecimentos que contribuíram para propagar a devoção.

A revolta da Vendeia

A revolta da Vendeia acontece em meio à Revolução Francesa. A região da Vendeia era uma área rural que, anos antes da revolução, foi evangelizada por São Luís de Montfort. Ele esteve lá pregando em missões, e a fé do povo se manteve de tal forma que os princípios da revolução foram por ele contrariados. Mesmo com a pobreza da região, os camponeses se recusaram a invadir e tomar as terras da nobreza, porque estas não lhe pertenciam.

Era um povo simples, mas de muita fé. Conheciam os mandamentos que lhes foram ensinados pelo santo e diziam que fazer aquilo seria atentar contra os mandamentos “não roubar” e “não cobiçar as coisas alheias”. A pregação de São Luís contemplava também o culto mariano e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus — o que foi refúgio para essa gente católica durante a revolução.

Logo, diversos homens e mulheres, nobres, padres e leigos se uniram para resistir à revolução e poderem viver a sua fé. A imagem do Sagrado Coração — como na visão de Santa Margarida: “um coração em chamas, coroado de espinhos e encimado por uma cruz”, 4 — passou a ser para eles um distintivo e também uma proteção contra os males da época.

Inclusive, muitas pessoas, durante a revolução, foram levadas à prisão e até mortas por confeccionar, distribuir ou portar a estampa do Sagrado Coração. Os contrarrevolucionários de Vendeia usavam uma insígnia do Sagrado Coração, onde se tinha escrito “Dieux le Roi“, que quer dizer, Deus é Rei.

Conheça a história dos Mártires do Sagrado Coração!

A recomendação dos Papas

A devoção foi sancionada em uma bula papal em 1794, pelo Papa Pio VI, a Auctorem Fidei. Na beatificação de Santa Margarida Maria Alacoque, pelo Papa Pio XI, ele diz: “Não havia nada mais caro ao Coração de Jesus do que acender no coração dos homens a mesma chama de amor que ardia no seu. A fim de alcançar este objetivo, Ele quis que se estabelecesse e se difundisse na Igreja a devoção ao seu Sacratíssimo Coração.”

Além disso, a devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus aparece recomendada por muitos outros pontífices no decorrer da história da Igreja. Papa Leão XIII, Inocêncio XII, Bento XIII, Clemente XIII, Pio VI e Pio IX contribuíram devotamente para a sua propagação. A encíclica Haurietis Aquas — promulgada em 15 de maio de 1956 —, do venerável Papa Pio XII, foi o maior documento pontifício a fundamentar com excelência a devoção, no que diz respeito a sua teologia. 5

Já Pio IX enfatizava a necessidade do sacrifício e da oração para que Nosso Senhor reinasse nos corações dos homens. Os Padres da Igreja viram no coração de Jesus aberto de Jesus, na Cruz, a origem dos sacramentos, a Eucaristia e sobretudo o sacerdócio. Também São João Paulo II afirma que o Coração de Jesus é fonte de santidade e que nele tem início a nossa santidade. É este coração que nos leva a compreender o amor de Deus e o mistério do pecado. 6

Festa litúrgica

Na segunda aparição, em 1675, depois de revelar Seu coração dilacerado, Jesus pede à Santa Margarida: “Por isso, que seja constituída uma festa especial para honrar meu Coração na primeira sexta-feira depois da oitava do corpo de Deus [Corpus Christi]. Comungue-se, nesse dia, e seja feita a devida reparação por meio de um ato de desagravo, para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo que fica exposto sobre os altares. Eu te prometo que o meu Coração se dilatará, para derramar com abundância os benefícios de seu divino amor sobre os que lhe tributarem essa honra e procurarem que outros a tributem” 7

E, na última aparição de Nosso Senhor à Santa Margarida, Ele pede que seja instituída uma festa litúrgica para honrar o Seu Sagrado Coração. Depois de muitas dificuldades — como já previsto —, em 1856, o Papa Pio IX estabelece a Festa do Sagrado Coração de Jesus como obrigatória para toda a Igreja. Então, ela passa a ser celebrada na sexta-feira após a oitava de Corpus Christi, como pedido pelo próprio Cristo. Em 28 de junho de 1889, o Papa Leão XIII promulga um decreto por meio do qual a festa do Sagrado Coração de Jesus é elevada à dignidade de primeira classe no calendário litúrgico romano.

(…)

Um livro para se aprofundar na Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

As aparições de Nosso Senhor à Santa Margarida são um apelo para que possamos amar e reparar o Sagrado Coração de Jesus. Deus vem primeiro até nós, revela o Seu amor e nos convida a amá-lo de volta. Agora cabe a nós buscar os meios de responder a esse amor, como é o desejo do Seu Sacratíssimo Coração.

Uma das formas de fazer isso é se aprofundar no conhecimento da devoção. Para isso, um livro que pode nos ajudar é “A Devoção ao Sagrado Coração”, do Pe. Jean Croiset. Ele foi amigo do confessor de Santa Margarida Maria Alacoque, o qual acompanhou de perto os relatos de suas visões.

(…)

Livro sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Esta preciosa obra conta com uma linguagem de fácil compreensão. É um livro completo sobre o tema. Ele vai te ajudar a entender no que consiste a devoção, a conhecer os meios para obtê-la e a colocá-la em prática — com exercícios e meditações para todas as semanas do ano. Além disso, ela apresenta orações próprias para dias específicos.

A própria Santa Margarida incentivou o padre a escrever tal obra para divulgar essa singular devoção. Por isso, este é um verdadeiro tesouro para a vida espiritual de todo católico que deseja corresponder ao amor de Jesus Cristo e reparar o Seu Coração tão desprezado e, muitas vezes, esquecido pelos homens.

(…)

Oração ao Sagrado Coração de Jesus

Sagrado Coração de Jesus ofereço-vos, através do Coração Imaculado de Maria, mãe da Igreja, em união com o Sacrifício Eucarístico, as orações, obras, sofrimentos e alegrias deste dia, em reparação das nossas ofensas e pela salvação de todos os homens, com a graça do Espírito Santo, para a glória do Pai Divino. Amém. 1

Reze também a Consagração ao Sagrado Coração de Jesus!

Referências

  1. Vatican News, SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS[][][]
  2. Pe. Jean Croiset S.J., Devoção ao Sagrado Coração de Jesus, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 19. []
  3. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 9.[]
  4. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 60.[]
  5. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 42.[]
  6. São João Paulo II, Homilia, Junho de 1999[]
  7. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 54.[]

Publicado em Minha Biblioteca Católica.

Leia mais: ORAÇÕES JACULATÓRIAS – SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS.

Veja também: Filme A história de Santa Margarida Maria Alacoque e o Sagrado Coração de Jesus:

Reze a Via Sacra de Santo Afonso Maria de Ligório

14.03.2025

Que nesta Quaresma possamos viver essa meditação com fervor, renovando nosso coração para celebrar com alegria a Páscoa do Senhor!

A Via Sacra é uma das práticas espirituais mais profundas da Igreja, especialmente durante a Quaresma, quando somos chamados a contemplar os sofrimentos de Cristo. Dentre as diversas formas de meditar esse caminho de dor e amor, uma das mais conhecidas e ricas espiritualmente é a Via Sacra composta por Santo Afonso Maria de Ligório.

Esse grande santo e doutor da Igreja nos deixou uma série de meditações que nos ajudam a refazer espiritualmente a via dolorosa de Jesus, levando-nos a um encontro íntimo com o Seu amor redentor.

Convidamos você a rezar e meditar cada estação com Santo Afonso, unindo-se ao sacrifício de Cristo e permitindo que essa experiência transforme seu coração.

Como Rezar a Via Sacra de Santo Afonso?

A Via Sacra tradicionalmente possui 14 estações, cada uma representando um momento do caminho de Cristo até o Calvário. Ao meditar essa devoção, você pode:

– Escolher um local tranquilo para rezar com recolhimento.
– Meditar cada estação com as orações de Santo Afonso.
– Fazer essa oração diante de um crucifixo, em uma igreja ou ao ar livre.
– Oferecer a Via Sacra por uma intenção especial, como pela sua conversão ou pela conversão de alguém.

Meditação das 14 Estações com Santo Afonso Maria de Ligório

Oração inicial. — Senhor Jesus Cristo, vós com tanto amor entrastes nesta via para morrerdes por mim; eu porém tantas vezes vos desprezei! Agora, de toda a minha alma vos amo e, porque vos amo, arrependo-me do fundo do coração de ter-vos ofendido. Perdoai-me e permiti que vos acompanhe nesta via. Vós, por amor a mim, caminhais para o lugar em que por mim haveis de morrer, e eu também, por amor a vós, desejo acompanhar-vos para convosco morrer, amantíssimo Redentor. Ó meu Jesus, desejo convosco viver e morrer!

🔹 1ª Estação: Jesus é condenado à morte

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como Jesus Cristo, já flagelado e coroado de espinhos, foi por fim injustamente condenado à morte por Pilatos.

Oração. — Ó Jesus adorável, não foi Pilatos, mas minha vida iníqua que vos condenou à morte. Pelo mérito deste tão penoso itinerário, no qual entrais rumo ao monte Calvário, peço-vos que benignamente me acompanheis no caminho pelo qual minha alma se dirige à eternidade. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, mais do que a mim mesmo, e do fundo do coração me arrependo de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente me separe de vós. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes. O que vos for agradável também o será para mim.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

A morrer crucificado,
Teu Jesus é condenado
Por teus crimes, pecador.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 2ª Estação: Jesus carrega a cruz

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como Jesus Cristo, levando a Cruz aos ombros, lembrava-se no caminho de oferecer por nós ao Pai eterno a morte que havia de sofrer.

Oração. — Ó amabilíssimo Jesus, abraço todas as adversidades que, por vossa vontade, hei de tolerar até a morte e, pelo duro sofrimento que suportastes carregando a Cruz, peço-vos que me deis forças para que também eu possa carregar, com ânimo forte e paciente, minha própria cruz. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, e arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que novamente me separe de ti. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Com a Cruz é carregado,
E do peso acabrunhado,
Vai morrer por teu amor.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 3ª Estação: Jesus cai pela primeira vez

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos a primeira queda de Jesus sob o peso da Cruz. Tinha Ele a carne, por causa da cruenta flagelação, ferida de muitos modos e a cabeça coroada de espinhos; derramara ainda tanto sangue, que mal podia mover os pés por falta de forças. E porque era oprimido pelo grave peso da Cruz e açulado sem clemência pelos soldados, por isso aconteceu-lhe de cair muitas vezes por terra ao longo do caminho.

Oração. — Ó meu Jesus, não é o peso da Cruz, mas o dos meus pecados que de tantas dores vos cobre. Rogo-vos, por esta vossa primeira queda, que me protejais de toda queda em pecado. Amo-vos, ó Jesus, de todo o meu coração; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não me permitais novamente cair em pecado. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Pela Cruz tão oprimido,
Cai Jesus, desfalecido,
Pela tua salvação.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 4ª Estação: Jesus encontra Sua Mãe

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como deve ter sido o encontro, neste caminho, do Filho e da Mãe. Jesus e Maria se olharam entre si, e os olhares mudos que trocaram foram outras tantas setas a atravessar o coração amante de ambos.

Oração. — Ó amantíssimo Jesus, pela dor acerba que experimentastes neste encontro, tornai-me, eu vos peço, verdadeiramente devoto de vossa Mãe santíssima. E vós, ó minha dolorosa Rainha, intercedei por mim e alcançai-me uma tal memória dos suplícios de vosso Filho, que minha mente esteja para sempre detida na piedosa contemplação deles. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não me permitais novamente pecar contra vós. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

De Maria lacrimosa,
No encontro lastimosa,
Vê a imensa compaixão.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 5ª Estação: Simão Cireneu ajuda Jesus a carregar a cruz

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como os judeus obrigaram Simão de Cirene a carregar a Cruz atrás do Senhor, vendo Jesus quase expirar a cada passo devido ao cansaço e temendo, por outra parte, que morresse no caminho aquele que queriam ver pregado à Cruz.

Oração. — Ó dulcíssimo Jesus, não quero, como o Cirineu, repudiar a Cruz. De bom grado a abraço e tomo sobre mim; abraço especialmente a morte que para mim estabelecestes, com todas as dores que ela trará consigo. Uno minha morte à vossa e, assim unida, ofereço-a a vós em sacrifício. Vós morrestes por amor a mim; quero também eu morrer por amor a vós, com a intenção de vos agradar. Vós, porém, ajudai-me com a vossa graça. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, e arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Em extremo desmaiado,
Teve auxílio, tão cansado,
Recebendo o Cireneu.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 6ª Estação: Verônica enxuga o rosto de Jesus

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como aquela santa mulher Verônica, vendo Jesus abatido pelas dores, com o rosto banhado em suor e sangue, estendeu-lhe um pano em que, purificada a face, Ele deixou impressa sua imagem.

Oração. — Ó meu Jesus, formosa era antes a vossa face; mas agora não aparece assim, tão deformada está por feridas e sangue! Ai de mim, como era formosa também minha alma, quando recebi a vossa graça pelo Batismo: mas, pecando, tornei-a disforme. Vós somente, meu Redentor, lhe podeis restituir a antiga beleza. Para que o façais, rogo-vos pelo mérito de vossa Paixão. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

O seu rosto ensanguentado,
Por Verônica enxugado,
Eis, no pano, apareceu.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos a segunda queda de Jesus sob o peso da Cruz, na qual se lhe aprofundam todas as chagas da venerável cabeça e de todo o corpo, e se renovam todas as angústias do doloroso Senhor.

Oração. — Ó mansíssimo Jesus, quantas vezes me concedestes o perdão! Eu, porém, recaí nos mesmos pecados e renovei minhas ofensas contra vós. Pelo mérito desta vossa nova queda, ajudai-me a perseverar em vossa graça até a morte. Fazei, em todas as tentações que avançarão contra mim, que em vós sempre me refugie. Amo-vos de todo o meu coração, ó Jesus, meu Amor; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Outra vez desfalecido,
Pelas dores abatido,
Cai por terra o Salvador.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 8ª Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como estas mulheres, vendo Jesus morto de cansaço e coberto de sangue, são tocadas de comiseração e choram copiosamente. Mas, voltando-se a elas, Ele diz: “Não choreis por mim; antes, chorai por vós mesmas e por vossos filhos”.

Oração. — Ó doloroso Jesus, choro os pecados que cometi contra vós, não só pelas penas de que me fizeram digno, mas sobretudo pela tristeza que vos causaram a vós, que tanto me amastes. Ao choro me move menos o inferno que o amor a vós. Ó meu Jesus, amo-vos mais do que a mim mesmo; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Das mulheres piedosas,
De Sião filhas chorosas,
É Jesus consolador.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 9ª Estação: Jesus cai pela terceira vez

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos a terceira queda de Cristo sob o peso da Cruz. Caiu porque era demasiada a sua fraqueza e excessiva a crueldade dos algozes, que lhe queriam acelerar a marcha, embora Ele mal pudesse dar um passo.

Oração. — Ó Jesus tão maltratado, pelo mérito desta falta de forças que quisestes padecer no caminho do Calvário, confortai-me, eu vos peço, com tanto vigor, que já não tenha respeito algum às opiniões dos homens e domine minha natureza viciosa: porque ambas as coisas foram a causa por que desprezei outrora a vossa amizade. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, de todo o meu coração; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Cai, terceira vez, prostrado,
Pelo peso redobrado
Dos pecados e da Cruz.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 10ª Estação: Jesus é despojado de Suas vestes

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos com que violência arrancaram as vestes a Cristo. Como o traje interior estivesse muito pegado à carne, aberta pelos flagelos, os carnífices, ao puxarem-lha, rasgaram-lhe também a pele. Tenhamos compaixão de Nosso Senhor e lhe falemos assim:

Oração. — Ó inocentíssimo Jesus, pelo mérito da dor que padecestes nesta espoliação, ajudai-me, eu vos peço, a despir-me de todo afeto às coisas criadas e, com toda a inclinação de minha vontade, converter-me somente a vós, que sois tão digno do meu amor. Amo-vos de todo o meu coração; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Dos vestidos despojado,
Por algozes maltratado,
Eu vos vejo, meu Jesus.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 11ª Estação: Jesus é pregado na cruz

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como Jesus é arremessado sobre a Cruz e, de braços estendidos, oferece sua vida ao Pai eterno em sacrifício pela nossa salvação. Os carnífices o pregam à Cruz e, depois de erguerem esta, deixam-no levantado num infame patíbulo, abandonado a uma morte cruel.

Oração. — Ó Jesus tão desprezado, pregai meu coração aos vossos pés, para que, com vínculo de amor, eu permaneça sempre a vós ligado e jamais seja de vós separado. Amo-vos mais do que a mim mesmo, arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Sois por mim na Cruz pregado,
Insultado, blasfemado,
Com cegueira e com furor.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 12ª Estação: Jesus morre na cruz

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos Jesus preso à nossa Cruz. Após três horas de luta, consumido enfim pelas dores, Ele deu o corpo à morte e, de cabeça inclinada, entregou o espírito.

Oração. — Ó Jesus morto, movido por íntimos afetos de piedade, beijo esta Cruz em que vós, por minha causa, cumpristes o curso de vossa vida. Pelos pecados cometidos, mereci uma morte infeliz; mas vossa morte é minha esperança. Pelos méritos de vossa morte, concedei-me, peço-vos, que, abraçado aos vossos pés e abrasado de amor por vós, eu entregue um dia meu espírito. Amo-vos de todo o meu coração; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Por meus crimes padecestes,
Meu Jesus, por mim morrestes,
Oh, quão grande é minha dor!
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 13ª Estação: Jesus é descido da cruz e entregue a Maria

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como dois dos discípulos de Jesus, José e Nicodemos, o tiram exânime da Cruz e o colocam nos braços de sua Mãe dolorosa, que recebe o Filho morto com grande amor e o abraça ternamente.

Oração. — Ó Mãe das Dores, pelo amor com que amais o vosso Filho, recebei-me como servo vosso e rogai a Ele por mim. E vós, ó meu Redentor, porque por mim morrestes, fazei, benignamente, com que eu vos ame; a vós somente desejo nem quero nada fora de vós. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, e arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Do madeiro vos tiraram
E à Mãe vos entregaram
Com que dor e compaixão!
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 14ª Estação: Jesus é sepultado

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como os discípulos levam Jesus exânime ao lugar da sepultura. Triste, a Mãe os acompanha e com as próprias mãos acomoda o corpo do Filho à sepultura. Fecha-se este, enfim, e todos vão-se embora.

Oração. — Ó Jesus sepultado, beijo esta pedra que vos acolheu; mas, após três dias, haveis de ressurgir! Por vossa ressurreição, fazei-me, eu vos peço, ressurgir glorioso convosco no último dia e ir para o Céu, onde, unido a vós para sempre, vos hei de louvar e amar por toda a eternidade. Amo-vos e arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

No sepulcro vos deixaram,
Sepultado, vos choraram,
Magoado o coração.
Meu Jesus, por vossos passos,
Recebei em vossos braços
A mim, pobre pecador.

A Graça da Via Sacra na Nossa Vida

Rezar a Via Sacra de Santo Afonso Maria de Ligório é uma experiência profunda de união com os sofrimentos de Cristo. Ao meditar cada estação, aprendemos que a dor e o sofrimento não são o fim, mas o caminho para a ressurreição.

Esta oração nos ensina a confiar na misericórdia de Deus, a carregar nossas cruzes com amor e a permanecer fiéis a Cristo, mesmo nas dificuldades.

Que nesta Quaresma possamos viver essa meditação com fervor, renovando nosso coração para celebrar com alegria a Páscoa do Senhor!

Publicado em Paróquia Coração de Maria – Londrina – PR.

O Menino Jesus nasceu. Viva o Natal do Senhor!

O Natal de Nosso Senhor Jesus recorda-nos que Deus está presente em todas as situações. Pensamos que Ele está ausente ou nas quais achamos que Ele não pode estar. A nossa fé estimula-nos a viver o tempo natalino com maior serenidade e esperança! Deus está aqui, tão presente que, talvez ou com certeza, nos convida a rever nossos costumes; convida-nos a lembrar que, assim como Ele veio para nos salvar, também nós, através d’Ele, só podemos nos salvar se caminharmos juntos, se aprendermos a cuidar uns dos outros. Somos convidados a ser uma “manjedoura”, onde os outros possam se alimentar do pão da amizade, do amor, da misericórdia, da esperança. 

Um convite

O Senhor oferece-se a nós para que possamos dar seu testemunho com a nossa vida. Como cristãos, somos convidados a assumir a esperança desta humanidade desnorteada e solitária, a sermos sentinelas da nova manhã, para que as trevas deste tempo sejam rompidas pela Luz, que vem do Senhor Jesus.

Minha oração

“Ó Senhor que vos revelastes tão pequenino e frágil, um Deus escondido na humanidade, porém, não menos poderoso. Concedei a nós a sabedoria para te encontrar nesses mistérios e a certeza da tua presença no meio de nós, todos os dias. Salvai-nos de nossas mazelas e durezas tornando-nos mais humildes e humanos assim como tu o fizeste. Amém.”

Um Santo Natal para você e para a sua família!

Publicado em Católico Orante (extraído de “Santo do Dia” – Comunidade Canção Nova). Obs.: Conteúdo editado.

A expectação do parto da Virgem Maria (por Santo Afonso de Ligório)

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado!

À espera de Jesus!

Nestes dias que antecedem o Natal, Maria Santíssima vive a doce espera pelo Nascimento de Jesus! 

Unamos o nosso Coração ao Imaculado Coração da Santíssima Virgem. Esperemos, cheios de esperança por aquele que nos purifica de nossos pecados.

Meditemos nesta espera pelo Menino Jesus através destas ricas palavras de Santo Afonso de Ligório.

EXPECTAÇÃO DO PARTO DA VIRGEM MARIA

(Santo Afonso de Ligório)

Exspectabimus eum et savabit nos – Esperaremos por ele, e ele nos salvará (Is 25, 9)

Sumário. Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido seu divino Filho, que em comparação com ele os suspiros mais ardentes dos Patriarcas e dos Profetas pareciam frios. Todavia Jesus não quis antecipar seu nascimento; quis ser semelhante aos outros e ficar oculto no seio materno em recolhimento e em preparação de sua entrada no mundo. Oh! Que bela lição para nós, se a soubermos aproveitar.

I. Muito embora a divina Mãe reconhecesse perfeitamente a grande honra que lhe advinha por trazer um Deus no seu seio, e os grandes tesouros de graças que ia merecendo, dando abrigo a seu Senhor, todavia foram tão grandes e tão veementes os seus desejos de ver o Salvador nascido, que em comparação deles pareciam frios os ardentes desejos dos Patriarcas e dos Profetas, que durante quatro mil anos fizeram violência ao céu dizendo: Mitte quem missurus es (1) – Envia aquele que deves enviar. Esses desejos nasciam na Santíssima Virgem de um amor duplo. Em primeiro lugar amava com terníssimo afeto o seu divino Filho, e por isso desejava dar à luz para vê-lo, abraçá-lo e provar-lhe seu amor prestando-lhe toda sorte de serviços. Demais, o coração da Virgem estava possuído de amor ardente para com o próximo. Por esta razão, apesar de prever o modo inumano de que os homens haviam de acolher e tratar Jesus Cristo, anelava pelo momento de manifestar ao mundo o seu Salvador, e de enriquecer o universo com aquele Bem supremo e com as graças infinitas que ele queria comunicar a nossas almas.

Ó divina Mãe, graças vos sejam dadas por terdes desejado tanto dar-nos o vosso Jesus! Por piedade dai-m’o também a mim; fazei que, assim como nasceu corporalmente de vossas puríssimas entranhas, assim renasça espiritualmente pela graça em meu coração. Fazei que a minha alma abrasada no amor divino, procure comunicá-lo também ao próximo.

II. Mais ardente do que o desejo de Maria foi o de Jesus. Achando-se ainda no seio de Maria ansiava pela hora de seu nascimento, afim de realizar a obra da Redenção do gênero humano e cumprir a sua missão conforme à vontade de seu Pai celestial. Parece, por assim dizer, que desde então exclamou o que depois de crescido, falando de sua Paixão, disse aos discípulos: Ah! Como sofro, enquanto não vir realizado na cruz o batismo de sangue com que devo ser batizado. – Mas, apesar disso, não quis nascer antes do tempo, para assemelhar-se a todos os outros mortais.

Conservou-se ali escondido, como que em recolhimento e preparação para a sua futura entrada no mundo, empregando todos aqueles momentos preciosos em oração e contemplação. – Desta sorte quis ensinar-nos, que nos preparemos bem para o recebermos, que nos recolhamos frequentes vezes em nós mesmos em silêncio e recolhimento, longe dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens, e entregarmo-nos aos trabalhos do ministério. Aproveitemo-nos de tão belas lições que o divino Salvador nos dá desde de o vermos em breve nascido, aos dos Patriarcas, de São José, da Santíssima Virgem e da Igreja Católica.

O Adonai… veni ad redimendum nos in brachio extento (2) – Ó Adonai, Deus, vinde para nos remir pelo poder de vosso braço. Ó Deus, protetor fortíssimo e guia fiel de vosso povo, vinde remir o gênero humano com o vosso supremo poder! Vinde livrai-nos de tantas misérias nossas e subjugar com o vosso braço todo-poderoso os poderes das trevas, que demasiado reinaram sobre nós, e arruinaram as almas. “E Vós, ó Pai Eterno, que quisestes mediante a embaixada do Anjo, que o vosso Verbo tomasse carne no seio da Bem-aventurada Virgem Maria, dai que, venerando-a como verdadeira Mãe de Deus, possamos, pela sua intercessão, obter o vosso auxílio. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo (3).

Referências:
(1) Ex 4, 13
(2) Antif. mai. fer.
(3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 61-63)

Muitas mulheres grávidas têm como devoção Nossa Senhora da Expectação, pedindo que Maria interceda por elas em um bom parto. Que Maria, nosso auxílio seguro, rogue a Deus por todas as mulheres que, como ela, também estão esperando a chegada de seu filho; recebendo, desde já, cada bebê como também propriedade sua.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO BOM PARTO:

“Ó Maria Santíssima, vós, por um privilégio especial de Deus, fostes isenta da mancha do pecado original e, devido a este privilégio, não sofrestes os incômodos da maternidade, nem ao tempo da gravidez e nem no parto; mas compreendeis perfeitamente as angústias e aflições das pobres mães que esperam um filho, especialmente nas incertezas do sucesso ou insucesso do parto. Olhai para mim, vossa serva, que, na aproximação do parto, sofro angústias e incertezas. Dai-me a graça de ter um parto feliz. Fazei que meu bebê nasça com saúde, forte e perfeito. Eu vos prometo orientar meu filho sempre pelo caminho certo, o caminho que o vosso Filho, Jesus, traçou para todos os homens, o caminho do bem. Virgem, Mãe do Menino Jesus, agora me sinto mais calma e mais tranquila porque já sinto a vossa maternal proteção. Nossa Senhora do Bom Parto, rogai por mim!”

Publicado em VOCAÇÃO DE JESUS (“Por Cristo, com Cristo, em Cristo”.

Homilia Dominical | Como reagiremos à visita de Maria? (4º Domingo do Advento) – Padre Paulo Ricardo – 22.12.2024

Quem quiser celebrar bem a festa do Natal precisa, a exemplo de Santa Isabel, receber Nossa Senhora em sua casa, isto é, abraçar fervorosamente a devoção à Virgem Santíssima, pela qual nos aproximamos cada vez mais da graça de Cristo.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Lc 1, 39-45)

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”.

Neste 4º Domingo do Advento, a Igreja proclama o Evangelho da Visitação, que é narrado em São Lucas, capítulo 1, versículos de 39 a 45. Esse mistério, que meditamos no Santo Rosário, relata como Maria, após receber o anúncio do Anjo Gabriel e já grávida de Jesus, parte apressadamente para a região montanhosa da Judeia a fim de visitar sua parenta Isabel — grávida de São João Batista.

Mas o que, afinal, esse Evangelho ensina-nos para a vida espiritual? Antes de tudo, recordemos que a primeira parte do Advento convida-nos à penitência e à mudança de vida. Por isso, os Evangelhos destacam tantas vezes as exortações de São João Batista: “Convertei-vos”, um claro chamado à mudança de vida, ao Batismo, à penitência, ao abandono completo do pecado — essa é a nova vida em Cristo. Entretanto, a partir de 17 de dezembro, o Advento entra em uma segunda fase, voltada diretamente para o Natal e a presença de Cristo. Nesse período, a figura central deixa de ser João Batista e passa a ser a Virgem Maria. É como se, nesse tempo final — especialmente marcado por práticas como a novena de Natal —, a Igreja, junto com Maria, estivesse grávida, aguardando a chegada do Salvador.

Acompanhamos, neste período, a presença da Virgem Maria: Nossa Senhora da Expectação, que está grávida, aguardando o nascimento de Jesus. Mas, afinal, o que isso significa espiritualmente? O que Maria pode trazer para a nossa vida espiritual? O Evangelho oferece-nos luzes importantes sobre essa realidade. Ele narra que, ao ouvir a saudação de Maria, Isabel sentiu a criança saltar em seu ventre e  ficou cheia do Espírito Santo.

A saudação de Nossa Senhora traz duas consequências marcantes. Primeiro, Isabel recebe uma efusão do Espírito Santo assim que ouviu Maria. Segundo, a criança em seu ventre, São João Batista, salta de alegria, como a própria Isabel explica no versículo 44: “Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre”. Não se trata de um simples movimento físico do bebê, mas de uma reação espiritual, percebida por Isabel, cheia do Espírito Santo, como um sinal da presença divina.

Além disso, o Espírito Santo, derramado abundantemente no coração de Isabel, permite que ela reconheça Maria como a mãe do Salvador. Isso é algo extraordinário, pois Maria estava nas primeiras semanas de gravidez, quando não há qualquer sinal externo de gestação. Ainda assim, Isabel, cheia do Espírito Santo, solta um grito de louvor. O Evangelho apresenta a cena de forma intensa e dramática, mostrando que Isabel bradou com força e entusiasmo: “Bendita és tu entre as mulheres!” (Lc 1, 42).

A frase que repetimos tantas vezes no terço, quando pronunciada pela primeira vez, foi um brado cheio do Espírito Santo. Isabel, transbordando de fé e entusiasmo, proclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres!” (Lc 1, 42). Não foi apenas uma declaração, senão uma verdadeira profissão de fé, efusiva e cheia do Espírito — algo análogo ao que aconteceu em Pentecostes. Aliás, a Visitação, de fato, é um pentecostes. E é algo extraordinário perceber como o Evangelho de São Lucas destaca, de forma emblemática, a presença constante do Espírito Santo.

São Lucas é o único autor do Novo Testamento que narra o Pentecostes, descrito nos Atos dos Apóstolos, que também é de sua autoria. Desde o início do seu Evangelho, porém, a presença do Espírito Santo já se destaca. No anúncio do anjo a Maria, ele declara: “O Espírito Santo virá sobre ti” (Lc 1, 35). Ali acontece o primeiro pentecostes, na própria Anunciação. Maria é a primeira a ser plena do Espírito Santo, um momento que os Santos Padres chamam de “protopentecostes”.

Quando Maria parte apressadamente para a região montanhosa da Judeia para visitar Isabel, sua saudação provoca um segundo pentecostes. Pela graça do Espírito Santo, Isabel recebe a revelação e, com os olhos da fé, reconhece a gravidez de Maria. Mais do que isso, ela percebe quem Maria está carregando: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Isabel reconhece que Maria não traz em seu ventre um homem comum, mas o próprio Senhor, e exclama: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?”. Assim, Isabel professa sua fé em Jesus e na maternidade divina de Maria.

Observemos a realização do Espírito Santo: Ele nos faz reconhecer a presença de Cristo em Maria e a grandeza da própria Virgem. Reconhecer que Nossa Senhora é bendita não tem ligação alguma com idolatria. Muitas pessoas têm certa preocupação com a veneração a Maria, temendo que isso seja um exagero — mas é fundamental perceber a obra do Espírito Santo nesse Evangelho. Isso porque é Ele quem nos leva a reconhecer tanto o Filho quanto a Mãe. E é nesse contexto que acontece o primeiro milagre na ordem da graça: São João Batista é purificado, é perdoado de seus pecados ainda no ventre de Isabel.

A tradição ensina-nos que, ao ouvir a saudação de Maria, São João Batista recebeu naquele momento a graça extraordinária de ser purificado. Esse evento oferece-nos elementos essenciais para refletir e aplicar à nossa vida o Evangelho da Visitação — especialmente neste período de preparação para o Natal.

Como podemos, então, fazer uma boa preparação para celebrar o Santo Natal? Primeiramente, acolhamos a Virgem Maria em nossa casa. No Evangelho, lemos que Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. No entanto, acolher Maria em nossa casa significa, sobretudo, recebê-la em nosso coração. Recordemos o que Jesus fez com o discípulo amado aos pés da Cruz: confiou Maria como mãe a todos nós.

Quando Jesus quis salvar a sua Igreja ao morrer na cruz, qual foi o passo concreto que Ele deu antes da sua morte? Ele nos entregou a Virgem Maria. Ele disse: “Filho, eis aí a tua mãe”. Nós também precisamos acolher a Virgem Maria em nossa casa, como está escrito no capítulo 19 de São João: “João então acolheu a mãe de Jesus em sua casa”. Porém, mais do que apenas em sua casa, João a recebeu na intimidade do seu coração, como está registrado: “idios”, que significa algo que é próprio, pessoal. João acolheu Maria em sua intimidade.

É isso que precisamos fazer para celebrar bem esse Santo Natal. Ao acolher Maria em nossa casa, fazemos como Santa Isabel, que recebe a salvação no seu lar. Ao receber a Virgem Maria em nosso coração, como o Apóstolo João aos pés da Cruz, a salvação também entra em nossa casa. É a mesma realidade. Precisamos abrir nosso coração para a Virgem Maria, porque Nossa Senhora, aqui, é causa instrumental da nossa salvação.

Vamos entender o que isso significa. Vamos explicar tendo como referência o ministério dos padres. O que é um padre? Ora, um padre é uma causa instrumental da salvação. Eu posso ser causa instrumental da salvação de duas maneiras diferentes. Por exemplo: posso ser causa instrumental como os demônios, ou como os Apóstolos. São coisas bem distintas. Imaginemos um padre em pecado mortal, alguém que vive uma vida afastada de Deus. Ele ainda é causa instrumental de salvação para as pessoas? Certamente. Deus o usa, apesar do seu pecado, assim como usa os demônios, apesar deles. O demônio não quer fazer a vontade de Deus; mas Deus, em sua sabedoria, é tão grandioso que consegue superar a malícia do diabo.

O diabo pensa que está atrapalhando o Reino de Deus, mas Deus permite que ele aja e cause destruição. No entanto, o mal que o diabo faz é usado por Deus como ocasião para obter um bem maior, a salvação das pessoas. Dessa forma, o diabo torna-se também um instrumento de Deus — mas sem fazê-lo de forma consciente e livre. É um instrumento quase inerte, porque, apesar da vontade rebelde do diabo e da sua recusa em reconhecer o Criador, Deus ainda o usa, assim como usamos uma vassoura para varrer o chão — um instrumento sem vontade própria.

O Apóstolo, por sua vez, é um instrumento consciente e livre, o que o torna diferente. Deus pode usar um padre que busca a santidade, que deseja agradar a Deus e seguir o seu caminho de uma forma mais profunda. Quanto mais o padre santifica-se, tornando-se dócil e maleável nas mãos de Deus, e quanto mais ele morre para suas próprias vontades, caprichos e desejos, mais Deus poderá usá-lo como um instrumento eficaz para a sua obra salvadora. 

Ou seja, o padre é causa instrumental de salvação na vida dos outros. É claro que um sacerdote santo, como São João da Cruz, por exemplo, que celebramos na semana passada, no dia 14, é um instrumento valiosíssimo nas mãos de Deus. Por outro lado, um padre que vive em estado de pecado mortal, que não se converte e acaba sendo condenado, pode também ser usado por Deus, mas de forma muito imperfeita e inadequada — de forma análoga ao modo como Deus usa os demônios.

Estou dizendo tudo isso para explicar que a Virgem Maria também é instrumento de Deus. Se um padre santo, como São João da Cruz, é instrumento de Deus, imaginemos a Virgem Maria, que não conheceu o pecado, cuja vontade perfeita está totalmente submissa à vontade de Deus, e cujo coração não tem outro desejo senão amar a Deus e fazer com que a vontade dele tome forma humana neste mundo. Assim, Maria é um instrumento excelente, apto de forma suprema, nas mãos de Nosso Senhor.

Se por meio da palavra do sacerdote Cristo faz-se carne na Eucaristia, pela palavra de Maria, ao dizer “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1, 38), também acontece a Encarnação — foi principalmente por sua palavra que o Verbo faz-se carne. Reflitamos: quantas vezes em nossa vida nós clamamos “Ave Maria”? Deixemos que, hoje, seja ela a nos saudar, a trazer o Espírito Santo à nossa vida.

Há um episódio bonito na vida de São Bernardo que mostra como ele, grande devoto de Nossa Senhora, cantava fervorosamente as glórias de Maria. Todos os dias, ao passar diante de uma imagem de Nossa Senhora em seu mosteiro, ele dizia com devoção “Ave Maria” antes de seguir seu caminho. Ele fazia isso todos os dias, até que, em um belo dia, para sua surpresa, ao dizer “Ave Maria”, a imagem respondeu: “Ave Bernardo”.

Isso é um grande incentivo para que ouçamos essa saudação da Virgem Maria e, com nossa vida, permitamos que ela diga também a nós: “Ave”. Assim como a criança no ventre de Isabel saltou de alegria, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, recebamos também o Espírito Santo para celebrar um Natal verdadeiro, acolhendo a presença de Cristo em nossas vidas.

A presença de Cristo não é uma simples visita; Ele vem para transformar e salvar, assim como salvou São João Batista e trouxe vida nova e mudança para Santa Isabel.

Além disso, também precisamos observar a humildade e a caridade de Nossa Senhora, que, apressadamente, foi visitar Isabel para servir, levar a salvação e a graça — o Príncipe da graça, o Salvador do mundo. Ela sabia que a criança que carregava era infinitamente mais importante do que a criança que Isabel carregava, mas, mesmo assim, foi humildemente servir à sua parenta.

No entanto, Nossa Senhora foi até lá para servir, para amar e, principalmente, para levar o serviço da graça, trazendo Jesus e o Espírito Santo. Aceitemos o convite para também vivermos isso. Nossa Senhora tem pressa de entrar na nossa casa, no nosso lar, de saudar a nossa família, de, em suma, levar Jesus até nós. E como reagiremos? Vamos reagir como Isabel, enchendo-nos do Espírito Santo e abrindo nossa casa, nossa vida e nosso coração para Jesus? Ou reagiremos como Herodes, que, ao receber a notícia da Encarnação do Filho de Deus, agitou-se e, cheio de ódio, ordenou que perseguissem o Filho de Deus recém-nascido? 

Como nos colocaremos para receber Jesus? Que a devoção à Virgem Maria, especialmente nestes dias de preparação para o Natal, seja um verdadeiro instrumento de conversão em nossa vida, para que Jesus realmente entre em nosso coração. Que ela nos ajude na transformação que Deus quer realizar em nós. Mas, para isso, precisamos abrir nossa casa para ela. Deixemos de temer a devoção a Nossa Senhora. Se nós permitirmos que ela entre em nossa casa, ela trará o Espírito Santo e o Menino Jesus. Ela será um instrumento eficaz de verdadeira mudança de vida para nós e para nossa família.

Que, neste período de preparação para o Natal, a Virgem Maria seja presença constante em nossa vida espiritual. Rezemos o terço, entreguemo-nos a ela e meditemos os mistérios da nossa salvação. Não sejamos soberbos ao dizer que não precisamos de Maria. Deus a usa como instrumento, assim como fez para trazer o Espírito Santo a Isabel e a salvação a São João Batista.

Ao nos abrirmos a Maria, abrimos também nosso coração a Jesus. Que Ele nasça verdadeiramente em nós e em nossas famílias, ao acolhermos a Virgem Maria, que, cheia do Espírito Santo, traz-nos a graça de Cristo.

Publicado em padrepauloricardo.org.

O perigo do Halloween

Quando se trata de Halloween no meio cristão, existem duas reações muito comuns que estamos acostumados a ver nas pessoas: ou imediatamente se posicionam contra, com firmeza e repulsa, ou então reviram os olhos, achando que é exagero, por parte de alguns, privar-se de uma festa cultural que consideram inocente. Nenhuma dessas duas figuras, no entanto, vai de fato atrás para entender os verdadeiros motivos, raízes, perigos e tudo que está por trás do dia 31 de outubro de todos os anos.

O Halloween, em sua origem, não era uma festa pagã. Muito pelo contrário! Seu próprio nome se remete justamente a uma celebração católica. “All Hallow’s Eve”, em português, a Véspera do dia de Todos os Santos. É verdade que os povos celtas da Irlanda possuíam um pequeno festival pagão na mesma data, mas, conforme o catolicismo se espalhava pela Europa, os Papas da Igreja conseguiram ressignificar esta festa. No Século VIII, o Papa Gregório III definiu o dia 1º de novembro como dia da comemoração de Todos os Santos em Roma e, alguns anos mais tarde, o Papa Gregório IV estendeu a celebração para todos os lugares.

All Hallow’s Eve

A celebração da Véspera do dia de Todos os Santos se tornou uma forma de evangelização nos países do Reino Unido, embora ainda distante de ser como o Halloween que conhecemos hoje em dia. Naquela época, visitavam-se cemitérios e faziam-se encenações sobre demônios e sobre as almas condenadas como forma de catequese, ensinando ao povo sobre a existência do Inferno e a importância de renunciar à vida de pecado. No dia seguinte, ensinava-se sobre o Céu e sobre os Santos, e no próximo dia, sobre o Purgatório.

As mudanças sofridas nessa data tiveram início na Reforma Protestante e foram concretizadas com uma mistura de culturas na colonização da América do Norte. A retomada de práticas pagãs na noite do dia 31 de outubro, como o culto aos mortos, práticas ocultistas etc., foi ocasionada aos poucos a partir do momento em que a Família Real Inglesa proibia a celebração de cerimônias católicas.

Quando tudo isso chegou aos Estados Unidos, outras culturas foram inseridas e misturadas com a celebração. Existem diversas teorias que sugerem a origem de elementos como a abóbora, “doces ou travessuras”, e a formação do termo Halloween como conhecemos hoje. Não vem ao caso explorá-las aqui, embora se acredite que muitos desses aspectos também tenham surgido de práticas católicas (como por exemplo a doação de comida aos pobres).

“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém.” 1Cor 6, 12

O Halloween foi então, ao longo dos anos, de uma cerimônia de evangelização cristã que mostrava o horror do Inferno para uma cerimônia de exaltação a ele, aos seus demônios e ao espiritismo. E isso é motivo suficiente para que tenhamos cuidado com essa festa que, superficialmente, parece inocente e infantil.

Como São Paulo diz na carta aos Coríntios: nem tudo convém. Ainda que a intenção do seu coração seja boa, ainda que não haja malícia de sua parte, muito menos nas suas crianças, se expor ao que é a festa de Halloween hoje em dia é se expor ao perigo da contaminação espiritual. Práticas ocultistas acontecem às escondidas de um lado, enquanto, do outro, crianças inocentemente banalizam e contribuem para que, cada dia mais, as pessoas deixem de acreditar na existência de demônios e do Inferno.

Para Satanás, é extremamente vantajoso que deixem de acreditar nele, pois não combatemos aquilo que teoricamente não existe. E essa tem sido sua estratégia ao longo da história. O Inferno não escandaliza mais como escandalizava antes. Pelo contrário, uma inversão de valores tem sido impregnada na nossa cultura. Exalta-se o feio, o horrendo, o esquisito, o macabro. E o Belo, que é o que vem de Deus, é desprezado e zombado.

Tudo aquilo que envolve o Halloween atualmente não condiz mais com os verdadeiros valores cristãos, portanto diversos perigos cercam esta prática e não nos convém participar dela. Não devemos condenar, todavia, quem participa por ignorância. Sei que explicar isso para as crianças pode ser um desafio, mas nunca podemos nos esquecer da Sabedoria do Espírito Santo que nos auxilia nestes momentos.

A partir do momento em que sabemos sobre a origem do Halloween no catolicismo, podemos usar disso para recapitular este sentido na vida de nossas crianças. E também usar da oportunidade para ensiná-las sobre o Céu e o Inferno, e convidá-las a celebrar então o dia de Todos os Santos, com doces e fantasias assim como gostam.

Giovana Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator

Publicado em Comunidade Católica Pantokrator.

A Paixão de Cristo: uma Profunda Análise Católica

QUARESMA – 2024

A Paixão de Cristo é um dos eventos mais significativos e profundamente simbólicos da fé católica, representando o ápice do amor de Deus pela humanidade e o sacrifício redentor de Jesus Cristo. Este artigo visa explorar o significado e o simbolismo da Paixão de Cristo, destacando como esses eventos, descritos nos Evangelhos, continuam a influenciar e moldar a fé católica. 

Entendendo a Paixão de Cristo

A narrativa da Paixão de Cristo se desenrola em várias etapas, cada uma com seu significado teológico e espiritual profundo:

A Entrada em Jerusalém

A entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado como Messias, cumpre a profecia de Zacarias: “Alegra-te muito, filha de Sião! Exulta, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti; ele é justo e salvador” (Zacarias 9:9). Este momento simboliza a aceitação de Jesus de sua missão redentora e a expectativa messiânica do povo.

A Última Ceia

Durante a Última Ceia, Jesus institui a Eucaristia, dizendo: “E, tomando o pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim’. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é o novo pacto no meu sangue, que é derramado por vós'” (Lucas 22:19-20). Aqui, Jesus estabelece um novo pacto, marcando a transição da Antiga para a Nova Aliança.

A Oração no Jardim do Getsêmani

Confrontado com a realidade de sua iminente morte, Jesus ora intensamente no Getsêmani: “Pai, se quiseres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42). Este momento destaca a humanidade de Jesus, sua angústia e sua submissão total à vontade do Pai.

A Traição de Judas e o Julgamento

A traição de Judas e os julgamentos subsequentes perante as autoridades religiosas e Pilatos revelam tanto a injustiça humana quanto a integridade inabalável de Jesus: “Então, o levaram a Pilatos. E começaram a acusá-lo” (Lucas 23:1).

A Crucificação e Morte

Na crucificação, o amor supremo de Jesus é revelado: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Sua morte na cruz é o ponto culminante do amor redentor e da salvação oferecida à humanidade.

O Sepultamento

O sepultamento de Jesus marca a realidade de sua morte humana e prepara o cenário para o milagre da Ressurreição.

Simbolismo Teológico da Paixão

Cada aspecto da Paixão possui um significado teológico profundo. A entrada em Jerusalém mostra Jesus como o Messias esperado; a Última Ceia estabelece a Eucaristia como um pilar central da fé católica; o Getsêmani destaca a obediência e humanidade de Cristo; a traição e julgamento revelam as falhas humanas e a retidão de Cristo; a crucificação simboliza o amor sacrificial e a redenção dos pecados. Juntos, esses eventos formam um poderoso testemunho do plano de salvação de Deus e do amor infinito de Cristo pela humanidade.

A Paixão de Cristo não é apenas um relato histórico; é um convite contínuo à reflexão, transformação e renovação espiritual. Ela nos inspira a seguir o exemplo de amor, sacrifício e obediência de Jesus e a viver nossas vidas em resposta ao seu chamado de amor e serviço.

A Paixão na Liturgia e na Devoção Católica

A Paixão de Cristo ocupa um lugar central na liturgia e na devoção católica. A Semana Santa, culminando na Páscoa, é marcada por liturgias que rememoram os eventos da Paixão. A Via Sacra, uma meditação sobre as “Estações da Cruz”, ajuda os fiéis a se conectarem com o sacrifício de Cristo.

Reflexão e Identificação com o Sofrimento de Cristo

A contemplação da Paixão permite uma reflexão profunda sobre o significado do sofrimento e sacrifício em nossas vidas. Identificar-se com o sofrimento de Cristo conduz a uma compreensão mais profunda do amor sacrificial e da redenção, reforçando a crença na vitória sobre o pecado e a morte.

A Paixão e a Vida Cristã Contemporânea

A Paixão de Cristo vai além de um evento histórico; é um convite contínuo à transformação pessoal. Em um mundo marcado por desafios, a história da Paixão oferece uma mensagem de esperança e salvação.

A Paixão como Modelo de Amor e Serviço

A entrega de Jesus é um modelo para os cristãos em termos de amor, serviço e sacrifício, inspirando a viver vidas de compaixão, buscar justiça e oferecer misericórdia.

A Paixão na Educação da Fé

No ensino da fé católica, a Paixão é um ponto de referência constante para compreender o amor de Deus, a realidade do pecado e a promessa da redenção.

Conclusão

A Paixão de Cristo permanece como um símbolo poderoso e transformador na fé católica, encapsulando a essência do amor de Deus, e continua a moldar as práticas devocionais e a vida espiritual dos cristãos. Ao refletir sobre a Paixão, somos convidados a mergulhar mais profundamente em nossa jornada de fé, reconhecendo o amor incondicional de Deus e respondendo com uma vida de serviço, amor e dedicação total.

Publicado em Santos Católicos.

O que há de errado com o Carnaval?

O que devemos pensar, como católicos, a respeito da alegria do Carnaval?

Antes de toda Quaresma há um Carnaval.

Já tivemos a oportunidade de tratar esse assunto aqui, ano passado, quando publicamos uma famosa citação de Santa Faustina Kowalska sobre a festa, juntamente com um vídeo da famosa religiosa norte-americana, Madre Angélica, sobre os foliões que se embebedam e dão escândalo aos mais jovens.

Na ocasião, comentamos que “a grande tragédia de nossa época” é o homem moderno ter transformado “a sua vida em uma festa de Carnaval prolongada”. No fundo, as pessoas não se entregam ao pecado só numa época do ano para se comportarem bem nas outras. Para muitos, o Carnaval tornou-se praticamente um “estilo de vida”. E essas pessoas não conseguem sequer conceber um outro modo de viver, senão este de brigas, bebedeiras e sexo desregrado.

Nem todas as pessoas que “pulam carnaval” se divertem dessa forma pecaminosa, é verdade. Há carnavais e carnavais, alguém poderia dizer. É possível se divertir honestamente, no fim das contas, evitando o pecado e as ocasiões de cair nele, e o próprio Santo Tomás de Aquino chega a associar o bom divertimento a uma virtude específica em sua Suma Teológica.

Neste vídeo, Pe. Paulo Ricardo fala de forma bem equilibrada a respeito do Carnaval, indicando as diferenças que existem entre:

  • a alegria pecaminosa em que muitos passam esses dias,
  • a alegria sadia de quem sabe gozar honestamente das coisas deste mundo e, por fim,
  • a alegria realmente sobrenatural de quem tem os olhos fixos, não nos bens passageiros desta existência, mas na vida eterna com Cristo.

Publicado em Equipe Christo Nihil Praeponere.

O Sangue de Cristo é o preço da nossa salvação

“Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso sangue de Cristo.” (IPd 1, 18). São Pedro nos exorta sobre o meio pelo qual nós fomos resgatados, os apresentando que fomos salvos pelo Sangue de Jesus Cristo, que na Cruz pagou por nossos pecados. Esta é uma realidade sobre natural que ultrapassa os limites de nossa inteligência, é um mistério que não somos capazes de compreender.

Por nós mesmos não podemos nos salvar, é por garça de Deus que nos vem a salvação (cf Ef 2,5). Nossa salvação custou o Sangue precioso de Jesus, sem Sua intervenção, Sem Seu Sacrifício de amor, estaríamos todos condenados a morte eterna. Cristo ao se encarnar, vir ao mundo, se fazer um como nós, menos no pecado, não o fez por beneficio próprio, mas veio e aceitou pagar o preço para que fossemos salvos. O resgate, o preço pago não foi plano de Deus nem ago que Ele desejou, mas Lhe custou esforço, renúncia e muito sofrimento. Fomos reconciliados com Deus pela more de Seu Filho, (cf. Rm 5,10) e, isto não e coisa qualquer, portanto.

O Sangue precioso de Jesus foi derramado para que eu e você tivéssemos vida! Ele cura as feridas que nós mesmos causamos em nós, por causa dos nossos pecados, erros, omissões… por causa do orgulho nos ferimos e também aqu’Ele que derramou Seu Sangue por nós!

Somos convidados a meditar, contemplar as feridas que causamos em Cristo Jesus , olhar para Seu peito aberto jorrando Sangue e Água preciosos, que nos cura e nos purifica. Somos convidados a reparar Seu Coração chagado, ferido por nossa causa e acima de tudo, somos convidados a nos redimir, mediante o sacrifício de amor de nosso Deus. Seu Sangue nos lava, nos cura e, nos liberta da vida do pecado para a vida nova.

Sem o Sangue de Jesus não há salvação! É o Sangue de Cristo que nos protege de todo mal, nos liberta do pecado e cura as feridas de nossa alma. O Sangue de Jesus foi o alto preço pago para que eu e você tenhamos vida e nos é oferecido, todos os dias, no Santo Sacrifício do altar, na Santa Missa.

Nós vos agradecemos Senhor, por vosso Preciosíssimo Sangue, pelo qual nós fomos salvos e preservados de todo mal. Amém.

Publicado em Comunidade Coração Fiel.

Nossa Senhora de Lourdes: Dia Mundial do Enfermo

A memória litúrgica de hoje recorda as aparições da Virgem Maria em Lourdes, iniciadas em 11 de fevereiro de 1858. A protagonista deste acontecimento foi uma menina, chamada Bernadete de Soubirous, que, hoje, se encontra na lista dos Santos. Nossa Senhora apareceu-lhe 18 vezes, perto de uma gruta, às margens do rio Gave.

Os detalhes desta aparição foram reunidos pela Comissão diocesana, encarregada de examinar os fatos. No entanto, sabemos que Bernadete estava às margens do rio, com suas companheiras, quando percebeu uma espécie de “rajada de vento”, proveniente de uma gruta. Aproximando-se, viu que as folhas das árvores estavam imóveis. Enquanto tentava entender, ouviu um segundo “ruído” e viu uma figura branca que se parecia com uma senhora. Temendo que fosse uma alucinação, esfregou os olhos, mas a figura continuava sempre ali. Sem saber o que fazer, tirou o terço do bolso e começou a rezar: a Virgem juntou-se à sua oração. No grupo das suas companheiras, estava também sua irmã, que lhe confiou o que havia acontecido. Ao chegar à sua casa, a menina contou o que aconteceu à mãe, que a proibiu de voltar lá. A notícia espalhou-se logo pela cidadezinha. Mas, no dia 14 de fevereiro, Bernadete voltou novamente àquele lugar, com umas amigas e aconteceu a segunda aparição.

Convite a voltar por 15 dias

Em 18 de fevereiro, a menina teve outra aparição, mas, na ocasião, a Virgem pediu que ela voltasse ali por 15 dias consecutivos. No dia 25, a “Senhora” convidou Bernadete a comer grama, fazer penitência e cavar com as mãos para encontrar água.

“Eu sou a Imaculada Conceição”

Em 25 de março, a pedido de Bernadete, a Virgem se apresentou como a Imaculada Conceição. Este Dogma de fé foi promulgado pelo Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854.

Aparições

As aparições duraram desde 11 de fevereiro até 16 de julho, em períodos diferentes: 11, 14, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 27, 28 de fevereiro de 1958; 1, 2, 3, 4 e 25 de março; 7 de abril e 16 de julho. As aparições foram reconhecidas, oficialmente, pelo Bispo de Tarbes, em 18 de janeiro de 1862.

Santuário dos enfermos

A fama de Lourdes não é tanto devido às aparições em si, quanto à mensagem de esperança para a humanidade, que sofre física e espiritualmente. Por isso, Lourdes é conhecida como o lugar que acolhe os enfermos no corpo e no espírito. Por intercessão da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, encontram paz, saúde e serenidade: uma equipe médica autônoma reconheceu 70 curas físicas e muitas conversões.

“Naquele tempo, celebravam-se as Bodas em Caná da Galileia e achava-se ali a mãe de Jesus. Foram também convidados Jesus e seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: “Eles já não têm mais vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Mulher, isso cabe a nós? Ainda não chegou a minha hora”. Disse, então, sua mãe aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Ora, havia ali ânforas de pedra para a purificação dos Judeus, que continham duas ou três medidas (de 80 a 120 litros). Então, Jesus lhes ordenou: “Enchei as ânforas de água”. Eles as encheram até à boca. E disse-lhes depois: “Agora, levai-as ao chefe dos serventes”. E as levaram. Quando o chefe dos serventes tomou a água, que se tornou vinho, sem saber de onde vinha – embora os serventes soubessem, pois as tinham enchido de água -, chamou o noivo e disse-lhe: “É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estiverem quase embriagados, servir o menos bom. Mas, tu guardaste o vinho melhor até agora”. Este foi o primeiro milagre de Jesus, realizado em Caná da Galileia. Ele manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,1-11).

Caná e Lourdes

Neste contexto, podemos compreender o significado da memória de hoje: a Virgem Maria é a que, ainda hoje, continua a interceder pelos seus filhos, muito mais pelos frágeis e enfermos, de corpo e espírito, para que confiem em Jesus, Senhor e Salvador, o único que pode transformar a água em vinho, ou seja, transformar toda fadiga em alegria, o em esperança, a enfermidade em uma confiança renovada.

Dia Mundial do Enfermo

A mensagem das Bodas de Caná e a de Lourdes leva-nos a entender melhor porque, em 1992 São João Paulo II quis proclamar o “Dia Mundial do Enfermo” neste dia: no fundo, por meio de Lourdes, reafirma-se que todo enfermo ou qualquer doente, jamais pode ser descartado; pelo contrário, precisa adquirir a plena cidadania no âmbito da sua existência.

Fonte: Vatican News

Publicado em Consolata América (Instituto Missões Consolata)

Leitura espiritual do poema “Nada te perturbe”

Em homenagem ao aniversário de nascimento de Santa Madre, publicamos a tradução de um texto de Tomás Alvares.

Fonte: Revista “Teresa de Jesús”, n. 109

Parece quase supérfluo fazer a apresentação do poema da Santa. Quem não o conhece? Nós o lemos de sua própria letra, catamo-lo, sussurrando sua música de seda. Tantas vezes repetimos seus versos em grupos de oração, abrindo espaço ao silêncio de todos. Em momentos difíceis o oferecemos ao amigo: veja que tudo passa! Nada te perturbe, dizia Santa Teresa. Deus está acima de tudo…

É tão breve o poema que apenas ocupa espaço. O reproduzimos uma vez mais, para lê-lo pausadamente e debulhar um a um a espiga de seus versos:

Nada te perturbe,

nada te espante,

tudo passa,

Deus não muda,

a paciência

tudo alcança.

Quem a Deus tem,

nada lhe falta.

Só Deus basta!

Como ler o poema? Como entendê-lo e apropriarmo-nos dele? Será um salmo sapiencial, de corte gnômico, como pretendem os entendidos? Ou um salmo íntimo, como certos poemas do saltério bíblico, que convidam a própria alma a prorromper em determinados sentimentos? Por exemplo, “Louva, minh’alma o Senhor, e todo meu seu ser Santo Nome”.

Se é um breve salmo sapiencial, deve ser lido deixando-o flechar-nos na alma como um dardo de cada verso, carregado de ressonâncias, que a partir de cada sentença, nos devolvem às sendas da própria vida, sendas às vezes tortuosas, às vezes encrespadas ou espinhosas.

Se, ao invés, é um salmo íntimo, nos introduz na alma da autora, que vai dizendo a si mesma: “Teresa, que nada te perturbe”…

São duas leituras possíveis, ou dois ensaios de escuta diante da melodia de cada verso. Pessoalmente, prefiro a segunda.

O “nada te perturbe” é uma fineza em solidão. Teresa escreve seu poema a sós. Como fazem sempre ou quase sempre os poetas líricos e os místicos. É certo de que ela não compõe estes versos como um bilhete de envio para convertê-los em missiva espiritual para alguns de seus amigos. Mas os compõe como uma vivência a mais, ou como um simples balbucio da alma.

Em primeiro lugar, Teresa não costuma dirigir-se a seus amigos com o “tu”. Nem sequer à sua irmã Juana ou à sua sobrinha Teresita. Basta ler as cartas que lhes dirige. A Teresita, por exemplo: “… filha minha, muito me alegrei com sua carta e de que lhe deem contento as minhas.” A Teresa, trata-a com o “tu” a voz interior: “Teresa, não tenhas medo”; “não te metas nisso”, etc. Porém, nesse diálogo, ela é a destinatária do “tuteio”.

Ela, por sua vez, só usa a segunda pessoa falando consigo mesma. Ou melhor, quando ela fala à Teresa profunda: “tu, alma minha, por que estás triste?”

Teresa é capaz desse estranho desdobramento de personalidade que lhe permite falar com o tu de si mesma. Exatamente com seu tu interior. Ela tem densa interioridade. Falando do “castelo de sua alma”, não diz ela que se parecia com um castelo cheio de moradas? Está convencida de que, nessa densidade da alma, é-lhe possível enviar mensagens (ou clamores) a partir das moradas superficiais até a morada central do castelo. Porque o tu mais identificado com ela reside aí, no centro do castelo. Pois bem, aí, no fundo, nasce seu poema: “Teresa, que nada te perturbe”.

À parte essa chave literária ou estilística, há também outra razão puramente espiritual, para propor a leitura do poema como um murmúrio da intimidade. Teresa já tinha vivido muitas coisas na vida. Em seu drama interior, porém, aconteceu-lhe algo tremendo, que a tomou de sobressalto. Foi o encontro repentino com uma Presença interior que a transpassa e a desborda. Essa Presença novidadeira a desconcerta de tal sorte, que prontamente surge, em seu interior, uma voz capaz de sedar toda a onda. A voz interior lhe diz: “Não tenhas medo, Teresa”. Referendado pelo tremendo “Eu sou” da Bíblia. Exatamente estas três palavras: “Não tenhas medo, filha, que Eu sou, e não te desampararei” (Vida 25,18).

Esse “não tenhas medo, filha” não seria o ponto de arranque de sua inspiração poética e mística? No Livro da Vida, Teresa o comenta assim: “Parece-me que, segundo estava, eram mister muitas horas para persuadir-me a que me sossegasse, e que não bastaria ninguém. Hei-me aqui sossegada só com estas palavras, com fortaleza, com ânimo, com segurança, com uma quietude e luz, que em um segundo vi minha alma transformada… Oh, que bom Deus!” (ib).

Pois bem. Sabemos que os autênticos poemas líricos, uma vez criados, tornam-se autônomos, têm vida própria, independentes da vontade do autor que os compôs. E que por isso, são polivalentes ou polissêmicos. Cada leitor pode escutá-los livremente: ou como uma voz em que Teresa excepcionalmente o chama de tu: “a ti, leitor, que nada te perturbe”… ou pode sentir-se convocado a esse misterioso ambiente em que sucedem muitas coisas à autora, e ele a escutará dizendo-se a si mesma: “Teresa, que nada te perturbe! ‘Eu sou’ está contigo!”

Não esqueçamos. Teresa é uma contemplativa. Nutre-se de palavra bíblica. Através de suas meditações, tantas palavras bíblicas ficaram presas às cordas da harpa interior.

Em nosso poema, o certo é que cada verso resulta ser um anel enfeitado de palavras bíblicas que ela passou tantas vezes do livro aos olhos, dos olhos à alma.

Nós, leitores de seu poema, podemos rastrear o eco dessas vibrações. Sem pretensões de erudita busca literária. Senão como prolongações de onda na vivência espiritual de Teresa orante ou de Teresa poeta.

O primeiro verso – nada te perturbe – é claro eco da palavra de Jesus ao amedrontados discípulos, momentos antes da Paixão: “Que o vosso coração não se perturbe” (Jo. 14,1).

O segundo verso – “nada te espante”: não fala de susto, senão de assombro. Basta recordar qualquer outra passagem teresiana: comovia-se-lhe de gozo a alma, “espantada da grande bondade e magnificência e misericórdia de Deus” (V. 4,10). Também é ressonância do assombro dos discípulos diante dos gestos taumatúrgicos de Jesus: “Isto vos amedronta? Como estareis admirados quando vereis o Filho do Homem subir para onde antes residia!” (Jo. 6,63).

O verso “tudo passa”, que materialmente remete á consigna do filósofo grego, também é eco da palavra de Paulo: “passa este mundo” (1Cor. 7,31), ou as palavras de Jesus: “céu e terra passarão” (Mt. 34,25), seguidas da eterna vigência da palavra de Jesus – “minhas palavras não passarão” -, que dá passo à sentença do verso seguinte.

“Deus não muda”. Sim, o Senhor e sua verdade permanecem para sempre (Sl. 116,2). Para Teresa, a fidelidade de Deus na amizade (“ele é amigo verdadeiro”) contrasta com a versatilidade das amizades humanas: “Vós sois o amigo verdadeiro. Todas as coisas faltam. Vós, Senhor de todas elas, nunca faltais…, que já tenho experiência da ganância com que atraís a quem só em Vós confia” (V. 25,17). Trata-se de uma antecipação do último verso do poema.

“A paciência tudo alcança”… Jesus dizia aos discípulos anunciando-lhes as perseguições: “com vossa paciência possuireis vossa vida” (Lc. 21,19). O versículo final – “só Deus basta” – é a palavra lema dos contemplativos. Trata-se do “só Deus” de São Bernardo ou do irmão Rafael. “A sós com O só” será o lema teresiano para as jovens pioneiras do Carmelo de São José.

Os três absolutos do poema são estes:

nada, nada, nada

tudo, tudo

só Deus!

Três nadas, dois tudos, um único só Deus.

É possível que a dose balsâmica e sedante que do poema impregna o leitor, deva-se à cadência dos dois versos finais, com sua assonância em a-a: “nada lhe falta / só Deus basta”. Assonância suavemente introduzida nos versos anteriores: “tudo passa – tudo alcança”.

Porém, sem dúvida, mais forte que essa cadência musical, é o medular e absoluto da mensagem que nos chega através do poema, com sua alternância de tudos – nadas – só Deus. Três vezes nada. Duas vezes tudo. E uma só vez, porém fechando o poema, no verso final: “Só Deus!” e ponto O “só Deus” e basta. Se o poema era um sedante psicológico, acima da psicologia prevalece a teologia da contemplativa e mística que é Teresa.

Rose Lemos (Ordem Carmelita Descalça Secular – OCDS)

Publicado em Lugar de Partilha.

Dia de todos os santos – 1º de novembro

Hoje, 1º de novembro, celebramos o Dia de Todos os Santos, entretanto no Brasil, esta Solenidade é transferida para o próximo domingo. A origem desta festa se deu no século IV, com a celebração de todos os mártires, no primeiro domingo depois de Pentecostes, mas anos depois, em 835, ela foi transferida pelo papa Gregório IV para o dia 1º de novembro. Sendo que, posteriormente, a Solenidade se tornou ocasião para celebrar Todos os Santos, não só os mártires, inclusive os desconhecidos.

Portanto, celebrar a festa de Todos os Santos é fazer memória destes incontáveis irmãos que nos precedem na contemplação do rosto de Deus em nossa Pátria Celeste, é recordar o testemunho daqueles munidos de obediência ao mandato divino, crucificaram suas paixões e se ofertaram como hóstia viva por amor ao Reino dos Céus.

Sendo assim, tal celebração também nos oferece a oportunidade de refletir sobre o que é ser santo. Neste aspecto, observa-se que houve uma época que se pensou que a santidade era alcançável somente para religiosos, para tanto para refutar esse pensamento, o Concílio Vaticano II recordou sobre a “vocação universal à santidade”, e que todos são chamados à perfeição cristã, como pedira Nosso Senhor Jesus Cristo: “sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).

Neste dia, peçamos a Jesus que “dos santos todos fostes caminho, vida, esperança, Mestre e Senhor” que nos ajude a não nos conformarmos com este mundo e a buscarmos sempre fazer da santidade nosso projeto de vida. Aos nossos Santos, agradeçamos pelas indicações deixadas de como amar a Deus, por nos apontarem que a santidade está ao nosso alcance e por intercederem por nós junto a Deus.

Todos os santos do céu, rogai por nós!

Publicado em Comunidade Olhar Misericordioso.

A paciência tudo alcança

Wikipédia

Uma das súplicas que pedimos e ouvimos com mais frequência é: “Ah, meu Deus, dê-me paciência!”. Incessantemente suplicamos ao Senhor essa virtude, porém nos falta perspicácia suficiente para perceber que Deus concede a virtude aliada à prática.
Nosso Senhor, em sua infinita sabedoria, nos proporciona ocasiões para que sejamos pacientes. O hábito faz a perfeição! Quer ser paciente com seu esposo ou sua esposa, com seu pai e mãe, irmãos e amigos? Então, aproveite as oportunidades que o Senhor lhe concede e pratique a paciência.

Quantas vezes você se deparou com uma situação na qual era suficiente um pouquinho mais de paciência para ser resolvida? Bastava respirar fundo e oxigenar o cérebro ao invés de responder com tanta aspereza. Vejamos a recomendação que a Palavra de Deus nos dá: “Um espírito paciente vale mais que um espírito orgulhoso. Não cedas prontamente ao espírito de irritação; é no coração dos insensatos que reside a irritação” (Eclesiastes 7,8b-9). Percebe como a pedagogia de Deus é diferente da nossa?

Na oração de Santa Teresa D’Ávila há uma referência sobre a paciência que diz: “a paciência tudo alcança”. Todavia, para alcançar esse “tudo” precisamos de muita luta espiritual, muito silêncio. Se for preciso “engolir um sapo” de vez enquanto, não há problema, o importante é atingir nossa meta principal: a eternidade. Não à toa os santos costumavam dizer que uma das formas de martírio, além da morte de espada, era o da paciência. Assim sendo, ser paciente é uma via segura que nos conduz à santidade. Alcançamos a fortaleza nas adversidades cultivando a paciência. Porém, o sofrimento somente é vencido pela graça de Deus unido a nossa perseverança.
“O erro deveria ser uma ponte para o acerto, não um obstáculo capaz de criar um abismo entre pessoas importantes em nossa vida”.

Esta virtude dos fortes, cada vez mais escassa em nossa convivência, exige, antes de tudo, a confiança em Deus. A paciência é o alimento que sustenta o diálogo. Quando o fio da comunicação familiar se fragiliza, nada melhor do que a prática desta virtude. Quantas famílias se desestruturam, separam-se devido à falta de diálogo, de uma boa conversa ao pé do ouvido com o cônjuge ou com os filhos! Por vezes, trocamos a paciência pelo orgulho. Recordemos novamente: “Um espírito paciente vale mais que um espírito orgulhoso” (Ecle 7,8b).

Fixamos uma ideia na cabeça e nada nos faz voltar atrás; não admitimos erros, sejam os nossos ou de outros. Colocamos uma barreira que nos distancia dia após dia. O erro deveria ser uma ponte para o acerto, não um obstáculo capaz de criar um abismo entre pessoas importantes em nossa vida. Nosso erro maior não é falhar por tentar, mas desistir sem ao menos ter tentando. Necessitamos, contudo, de muita coragem para superar essas fragilidades provocadas pela fraqueza humana, e os fortes de espírito encaram esse desafio da convivência familiar na dificuldade, porém com confiança; ao contrário dos fracos, que lhes faltam o equilíbrio e ousadia para, sem medo, arriscar vencer as barreiras.

Outros pensam que, por serem fracos, não conseguirão, pois suas forças são poucas. Além de lhes faltar coragem, falta-lhes confiança na misericórdia de Deus que tudo sonda. Nesta perspectiva, inúmeras famílias, em seu íntimo, carecem de esperança: esperança em pagar as dívidas, esperança na união da família, esperança no obstáculo das drogas e álcool, esperança contra a violência, esperança na fidelidade conjugal e no futuro. O fundamento da esperança está justamente na paciência como ouvimos dizer da Sagrada Escritura: “a paciência prova a fidelidade, e esta comprovada produz esperança. E a esperança não engana” (cf.Romanos 5,4-5). Irmãos, a esperança não engana, pelo contrário, ela elucida a nossa paciência em todas as atribulações, pois, na provação, resta-nos apenas esperar com paciência a graça vinda de Deus.

A paciência também nos salva, pois o Senhor utiliza dela conosco. São Pedro nos afirma: “O Senhor não retarda o cumprimento de suas promessas, como alguns pensam, mas usa dela convosco. Ele não quer que ninguém pereça; ao contrário, quer que todos se arrependam” (cf. II Pedro 3,9).
Ora, se nosso Senhor usa de paciência conosco, isso é sinal de misericórdia. Não sejamos diferentes para com aqueles que atravessam nosso caminho, mas sejamos sinais de salvação para quem precisa. Seja paciente e tolerante com a vizinha que insiste em fazer fofoca; seja paciente consigo na luta contra o pecado; tenha paciência nas relações difíceis, porque, no tempo certo, a transformação virá e, então, você colherá os frutos das sementes lançadas nos sulcos da paciência. Só lhe falta a paciência quando lhe falta oração.

Façamos juntos a oração da mística e doutora da Igreja:
Nada te perturbe,
nada te amedronte.
Tudo passa,
a paciência tudo alcança.
A quem tem Deus nada falta.
Só Deus basta!

Santa Teresa de Ávila

Fonte: Rodrigo Stankevicz

Publicado em Rádio Fraternidade.

Santa Teresa d’Ávila

Santa Teresa de Jesus nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, com o nome de Teresa de Ahumada. Em sua autobiografia, ela menciona alguns detalhes da sua infância: o nascimento “de pais virtuosos e tementes a Deus”, em uma grande família, com nove irmãos e três irmãs. Ainda jovem, com pelo menos 9 anos, leu a vida dos mártires, que inspiram nela o desejo de martírio, tanto que chegou a improvisar uma breve fuga de casa para morrer como mártir e ir para o céu (cf. Vida 1, 4): “Eu quero ver Deus”, disse a pequena aos seus pais. Alguns anos mais tarde, Teresa falou de suas leituras da infância e afirmou ter descoberto a verdade, que se resume em dois princípios fundamentais: por um lado, que “tudo o que pertence a este mundo passa”; por outro, que só Deus é para “sempre, sempre, sempre”, tema que recupera em seu famoso poema: “Nada te perturbe, nada te espante; tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!”. Ficando órfã aos 12 anos, pediu à Virgem Santíssima que fosse sua mãe (cf. Vida 1,7).

Se, na adolescência, a leitura de livros profanos a levou às distrações da vida mundana, a experiência como aluna das freiras agostinianas de Santa Maria das Graças, de Ávila, e a leitura de livros espirituais, em sua maioria clássicos da espiritualidade franciscana, ensinaram-lhe o recolhimento e a oração. Aos 20 anos de idade, entrou para o convento carmelita da Encarnação, sempre em Ávila. Três anos depois, ela ficou gravemente doente, tanto que permaneceu por quatro dias em coma, aparentemente morta (cf. Vida 5, 9). Também na luta contra suas próprias doenças, a santa vê o combate contra as fraquezas e resistências ao chamado de Deus.

Em 1543, ela perdeu a proximidade da sua família: o pai morre e todos os seus irmãos, um após o outro, migram para a América. Na Quaresma de 1554, aos 39 anos, Teresa chega o topo de sua luta contra suas próprias fraquezas. A descoberta fortuita de “um Cristo muito ferido” marcou profundamente a sua vida (cf. Vida 9). A santa, que naquele momento sente profunda consonância com o Santo Agostinho das “Confissões”, descreve assim a jornada decisiva da sua experiência mística: “Aconteceu que…de repente, experimentei um sentimento da presença de Deus, que não havia como duvidar de que estivesse dentro de mim ou de que eu estivesse toda absorvida n’Ele” (Vida 10, 1).

Paralelamente ao amadurecimento da sua própria interioridade, a santa começa a desenvolver, de forma concreta, o ideal de reforma da Ordem Carmelita: em 1562, funda, em Ávila, com o apoio do bispo da cidade, Dom Álvaro de Mendoza, o primeiro Carmelo reformado, e logo depois recebe também a aprovação do superior geral da Ordem, Giovanni Battista Rossi.

Nos anos seguintes, continuou a fundação de novos Carmelos, um total de dezessete. Foi fundamental seu encontro com São João da Cruz, com quem, em 1568, constituiu, em Duruelo, perto de Ávila, o primeiro convento das Carmelitas Descalças. Em 1580, recebe de Roma a ereção a Província Autônoma para seus Carmelos reformados, ponto de partida da Ordem Religiosa dos Carmelitas Descalços. Teresa termina sua vida terrena justamente enquanto está se ocupando com a fundação.

Em 1582, de fato, tendo criado o Carmelo de Burgos e enquanto fazia a viagem de volta a Ávila, ela morreu, na noite de 15 de outubro, em Alba de Tormes, repetindo humildemente duas frases: “No final, morro como filha da Igreja” e “Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos”. Uma existência consumada dentro da Espanha, mas empenhada por toda a Igreja. Beatificada pelo Papa Paulo V, em 1614, e canonizada por Gregório XV, em 1622, foi proclamada “Doutora da Igreja” pelo Servo de Deus Paulo VI, em 1970. Teresa de Jesus não tinha formação acadêmica, mas sempre entesourou ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Como escritora, sempre se ateve ao que tinha experimentado pessoalmente ou visto na experiência de outros (cf. Prefácio do “Caminho de Perfeição”), ou seja, a partir da experiência.

Teresa consegue tecer relações de amizade espiritual com muitos santos, especialmente com São João da Cruz. Ao mesmo tempo, é alimentada com a leitura dos Padres da Igreja, São Jerônimo, São Gregório Magno, Santo Agostinho. Entre suas principais obras, deve ser lembrada, acima de tudo, sua autobiografia, intitulada “Livro da Vida”, que ela chama de “Livro das Misericórdias do Senhor”. Escrito no Carmelo de Ávila, em 1565, conta o percurso biográfico e espiritual, por escrito, como diz a própria Teresa, para submeter a sua alma ao discernimento do “Mestre dos espirituais”, São João de Ávila. O objetivo é manifestar a presença e a ação de um Deus misericordioso em sua vida: Para isso, a obra muitas vezes inclui o diálogo de oração com o Senhor. É uma leitura fascinante, porque a santa não apenas narra, mas mostra como reviver a profunda experiência do seu amor com Deus. Em 1566, Teresa escreveu o “Caminho da perfeição”, chamado por ela de “Admoestações e conselhos” que dava às suas religiosas. As destinatárias são as doze noviças do Carmelo de São José, em Ávila. Teresa lhes propõe um intenso programa de vida contemplativa ao serviço da Igreja, em cuja base estão as virtudes evangélicas e a oração. Entre os trechos mais importantes, destaca-se o comentário sobre o Pai Nosso, modelo de oração.

A obra mística mais famosa de Santa Teresa é o “Castelo Interior”, escrito em 1577, em plena maturidade. É uma releitura do seu próprio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, uma codificação do possível desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo. Teresa refere-se à estrutura de um castelo com sete “moradas”, como imagens da interioridade do homem, introduzindo, ao mesmo tempo, o símbolo do bicho da seda que renasce em uma borboleta, para expressar a passagem do natural ao sobrenatural. A santa se inspira na Sagrada Escritura, especialmente no “Cântico dos Cânticos”, para o símbolo final dos “dois esposos”, que permite descrever, na sétima “morada”, o ápice da vida cristã em seus quatro aspectos: trinitário, cristológico, antropológico e eclesial.

À sua atividade fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica o “Livro das fundações”, escrito entre 1573 e 1582, no qual fala da vida do nascente grupo religioso. Como na autobiografia, a história é dedicada principalmente a evidenciar a ação de Deus na fundação dos novos mosteiros.

Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Em nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa nos ensina a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua ação; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe em nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente.

Papa Bento XVI

Publicado em Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.