O consumismo e o verdadeiro espírito do Natal

Natal é Jesus. Assim gostaria de começar esse texto, para que já fique explícito desde o começo qual é o verdadeiro sentido dessa festa que se aproxima. Sentido esse que fica muitas vezes em segundo plano nas celebrações, dando lugar a um consumismo desenfreado que cega o espírito que deveríamos ter nessa época.

consumismo

Isso não é novo. Todos sabemos que nessa época o comércio fica aberto até mais tarde para que possamos comprar aquelas coisas de última hora. Conhecemos a correria para comprar o tender, o peru, o presente daquela pessoa que tínhamos esquecido, etc….

Também não é novidade que existe uma reação à tudo isso. Podemos ver nos jornais, revistas e internet uma grande quantidade de pessoas que criticam todo esse consumismo que vemos nessas épocas. Mas aqui percebo um grande problema que estamos vivendo atualmente. Em vários desses artigos, os autores pregam um retorno à essência do Natal, que é o sentimento de família, a magia que ronda em torno a figura do Papai Noel, as luzes que enfeitam essa época “mágica”, a inocente alegria das crianças esperando o bom velhinho descer pela chaminé e outras coisas desse tipo.

“Natal é Jesus. E não se pode confundir isso apenas com sentimentos positivos”.

Por isso comecei o texto dessa maneira. Natal é Jesus. E não se pode confundir isso apenas com sentimentos positivos. Celebramos nessa data um acontecimento real. Deus veio ao mundo em um frágil menino, filho de Nossa Senhora de Nazaré. E é isso que devemos, como católicos, anunciar para o mundo inteiro.

O mundo está descontente. Esse exemplo do consumismo de Natal é bem gráfico. Se percebe intuitivamente que estamos celebrando mal essa festa, mas não se percebe qual é a Verdade que mostra como celebrá-la bem. De uma maneira mais geral, podemos dizer que o mundo muitas vezes está triste, cansado e procura sua alegria em coisas que não podem dar, porque a alegria verdadeira de todo mundo está em encontrar-se com Deus.

“Os presentes e a festa fazem parte de tudo isso. É um tempo de verdadeira alegria, mas que precisa ser entendida, para não perder o foco”. 

Mas encontrar-se com Ele não é tão simples assim. Ele não veio cheio de pompa, em um castelo imponente. Ele veio frágil, em uma manjedoura. Só o encontramos se ficamos atentos aos sinais dele em nossa vida, como os pastores que receberam a visita dos anjos e os reis magos que seguiram a estrela que os guiava. É preciso fazer silêncio e ficar atento. Exatamente o contrário do que muitas vezes fazemos nessas épocas.

Os presentes e a festa fazem parte de tudo isso. É um tempo de verdadeira alegria, mas que precisa ser entendida, para não perder o foco. Os reis magos trouxeram presentes para o menino Jesus. Presentes valiosos inclusive, ouro, incenso e mirra. Mas o fizeram sabendo porque o faziam. Tinham encontrado Jesus e essa era a alegria de cada um deles.

Mas realmente não importa se não podemos comprar nada nessa época. Existe uma música que é muito bonita, a canção do pequeno tamborileiro, que conta a história de um garotinho que havia encontrado a Jesus que tinha acabado de nascer em Belém, mas como era muito pobre, só podia tocar para Ele o seu velho tambor.

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Muitos pensariam talvez que esse não é um presente digno de Deus, mas conta a música que quando Ele ouviu o toque do tambor, sorriu para o pequeno tamborileiro. Pensemos se com as nossas atitudes nesse Natal, estamos fazendo, nós também, com que Jesus sorria ou não.

Publicado em A12 Redação.

Ao colocar o Menino Jesus no presépio, reze em família

À meia-noite de 25 de dezembro, muitas famílias se reúnem para colocar a imagem do Menino Jesus no presépio. É um momento para rezar juntos, pedindo que o Senhor nasça também nos corações de cada um. Por isso, a ACI Digital selecionou estas duas orações para serem rezadas diante do presépio.

Oração da família diante do presépio

Menino Jesus, Deus que se fez pequeno por nós, diante da cena do teu nascimento, do presépio, estamos reunidos em família para rezar.

Mesmo que fisicamente falte alguém, em espírito somos uma só alma.

Olhando Maria, tua Mãe Santíssima, rezamos pelas mulheres da família, que cada uma delas acolha com amor a palavra de Deus, sem medo e sem reservas, que elas lutem pela harmonia e paz em nossa casa.

Vendo teu pai adotivo, São José, pedimos ó Menino Deus, pelos homens desta família, que eles transmitam segurança e proteção, estejam sempre atentos às necessidades mais urgentes, que saibam proteger nossos lares de tudo que não provém de ti.

Diante dos pastores e reis magos, pedimos por todos nós, para que saibamos render-te graças, louvar-te sempre em todas as circunstâncias, e que não nos cansemos de te procurar, mesmo por caminhos difíceis.

Menino Jesus, contemplando tua face serena, teu sorriso de criança, bendizemos tua ação em nossas vidas.

Que nesta noite santa, possamos esquecer as discórdias, os rancores, possamos nos perdoar.

Jesus querido, abençoa nossa família, cura os enfermos que houver, cura as feridas de relacionamentos.

Fazemos hoje o propósito de nos amar mais.

Que neste Natal a bênção divina recaia sobre nós.

Amém.

Natal Feliz é Natal com Cristo

Menino das palhas, Menino Jesus, Menino de Maria, aqui estamos diante de ti. Tu vieste de mansinho, na calada da noite, no silêncio das coisas que não fazem ruído.

Tu é o Menino amável e santíssimo, deitado nas palhas porque não havia lugar para ti nas casas dos homens tão ocupados e tão cheios de si.

Dá a nossos lábios a doçura do mel e à nossas vozes o brilho do cantar da cotovia, para dizer que vieste encher de sentido os dias de nossas vidas.

Não estamos mais sós: tu és o companheiro de nossas vidas. Tu choras as nossas lágrimas e te alegras com nossas alegrias, porque tu és nosso irmão.

Tu vieste te instalar feito um posseiro dentro de nós e não queremos que teu lugar seja ocupado pelo egoísmo que nos mata e nos aniquila, pelo orgulho que sobe à cabeça, pelo desespero.

Sei, Menino de Maria, que a partir de agora, não há mais razão para desesperar porque Deus grande, belo, Deus magnífico e altíssimo se tornou nosso irmão.

Santa Maria, Mãe do Senhor e Palácio de Deus, tu estás perto do Menino que envolves em paninhos quentes.

José, bom José, carpinteiro de mãos duras e guarda de nosso Menino, protege esse Deus que se tornou mendigo de nosso amor.

Menino Jesus, hoje é festa de claridade e dia de luz. Tu nasceste para os homens na terra de Belém.

FONTE ACI DIGITAL

Publicado em Associação Católica Gospa Mira.

Dia de todos os santos – 1º de novembro

Hoje, 1º de novembro, celebramos o Dia de Todos os Santos, entretanto no Brasil, esta Solenidade é transferida para o próximo domingo. A origem desta festa se deu no século IV, com a celebração de todos os mártires, no primeiro domingo depois de Pentecostes, mas anos depois, em 835, ela foi transferida pelo papa Gregório IV para o dia 1º de novembro. Sendo que, posteriormente, a Solenidade se tornou ocasião para celebrar Todos os Santos, não só os mártires, inclusive os desconhecidos.

Portanto, celebrar a festa de Todos os Santos é fazer memória destes incontáveis irmãos que nos precedem na contemplação do rosto de Deus em nossa Pátria Celeste, é recordar o testemunho daqueles munidos de obediência ao mandato divino, crucificaram suas paixões e se ofertaram como hóstia viva por amor ao Reino dos Céus.

Sendo assim, tal celebração também nos oferece a oportunidade de refletir sobre o que é ser santo. Neste aspecto, observa-se que houve uma época que se pensou que a santidade era alcançável somente para religiosos, para tanto para refutar esse pensamento, o Concílio Vaticano II recordou sobre a “vocação universal à santidade”, e que todos são chamados à perfeição cristã, como pedira Nosso Senhor Jesus Cristo: “sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).

Neste dia, peçamos a Jesus que “dos santos todos fostes caminho, vida, esperança, Mestre e Senhor” que nos ajude a não nos conformarmos com este mundo e a buscarmos sempre fazer da santidade nosso projeto de vida. Aos nossos Santos, agradeçamos pelas indicações deixadas de como amar a Deus, por nos apontarem que a santidade está ao nosso alcance e por intercederem por nós junto a Deus.

Todos os santos do céu, rogai por nós!

Publicado em Comunidade Olhar Misericordioso.

13 DE OUTUBRO: DIA MUNDIAL DA COMUNHÃO REPARADORA

 Hoje, dia 13 de outubro, é o dia mundial da comunhão reparadora. Nossa Senhora fez este pedido quando apareceu a Fantanelle -Itália,  à Pierina Gilli, no dia 06 de agosto do ano de 1967, quando se festejava naquele tempo a Festa da Trasnfiguração do Senhor.

Já em Fátima, a Santíssima Virgem havia ensinado na sua terceira aparição na Cova da Iria a 13 de julho de 1917, aos três pastorzinhos Lúcia, Francisco e Jacinta uma oração a ser rezada diariamente quando fizéssemos sacrifícios e penitências pelos pecadores:

Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!

Os insistentes apelos da Mãe de Deus à reparação nos coloca numa posição de filhos que devem consolar o seu Coração Materno, que é transpassado de dor pelos pecados dos homens ingratos. Ofereçamos à Santíssima Mãe as nossas orações, o nosso amor, as nossas penitências e sacrifícios deste dia, como um verdadeiro ato de reparação e de amor, a fim de que muitos espinhos dolorosos que perfuram o seu amantíssimo Coração sejam tirados. Supliquemos constantemente e diariamente a conversão dos pecadores, começando por nós mesmos, a viver uma vida de acordo com a vontade de Deus, afastando-nos de tudo aquilo que possa desagradar e ofender o seu Sagrado Coração, não fazendo assim Nossa Senhora sofrer, pois não tem maior sofrimento para a Virgem Santa do que ver seu Filho Divino tão ultrajado e ofendido pelos pecados do mundo.

Os pecados que determinaram os castigos da Primeira Guerra Mundial foram:

1. A imoralidade dos costumes;

2. A decadência do clero, devida ao liberalismo e a tendência à boa vida, mesmo no clero mais conservador;

3. E -evidentemente – a heresia no clero mais progressista, isto é, o Mordenismo, condenado por São Pio X, em 1908.

Dissemos que  os pecados foram a primeira causa do primeiro castigo, e, como disse e mostrou Nossa Senhora aos pastorzinhos, muitas almas se perdiam pelos pecados no começo do século XX. Que dirá hoje?

A nossa reparação oferecida a Deus deve ser de coração, de alma e de corpo. Deus está a espera daqueles que queiram se doar pela salvação do seu próximo. O próprio Jesus nos disse: Não tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos! (Jo 15,13). É isto que Deus espera de nós: Dar a vida por seus amigos!…Dar a vida pela conversão e salvação das almas e do mundo! Ser uma luz para os outros que andam nas trevas e que estão morrendo sem fé e sem esperança. Cada ato de amor oferecido a Deus pela salvação do próximo e do mundo é uma reparação por tantos pecados e blasfêmias cometidos contra a sua Majestade Divina. Cada suor derramado pela implantação do reino de amor de Cristo no coração e nas almas, são espinhos tirados do Coração da Virgem Mãe, pois ela é consolada, quando vê os seus filhos que estavam mortos espiritualmente, sendo ressuscitados para o amor e para a graça divina.

O nosso jejum, o nosso sacrifício e a nossa penitência se tornam poderosos, cheios de frutos e das graças de Deus quando são oferecidos com um coração limpo e renovado, com um espírito novo em Deus. Não adianta querermos mudar o mundo se não mudamos o nosso interior primeiramente, e o primeiro passo que devemos dar diante de Deus é o do arrependimento, pedindo perdão dos nossos pecados. Este é o primeiro ato de reparação que fazemos a Deus, quando começamos o nosso caminho de conversão, renunciando ao pecado e ao mundo; deste ato surgirão muitos outros que se complementarão e se transformarão em luz e graça para as nossas vidas. Se queremos que os nossos atos de reparação sejam perfeitos e agradáveis ao Senhor devemos pedir o auxílio e a graça daquela que mais amou e reparou a Majestade Divina, devemos recorrer à Virgem Santa Imaculada, perfeita oferenda de amor que tanto alegrou o Coração de Deus. Em união com a Virgem Maria , a reparação nunca terá presunção, falsidade ou pecado. Nenhuma imperfeição acompanha o que é feito em união com ela. Os que fazem reparação com a Virgem Imaculada, os fazem com sua fé. O que eles executam imperfeitamente, por distração, cansaço ou outra coisa, torna-se perfeito através da Virgem Maria. Precisamos pedir à Santíssima Virgem, sinceramente e de todo o coração, então ela rezará conosco. Quem tem amor-próprio não conseguirá jamais reparar, pois o amor próprio busca somente aos interesses pessoais, enquanto o amor ao próximo busca os interesses de Deus, pela salvação do mundo.

Publicado em A.R.R.P.I – Santuário de Itapiranga.

Fé católica, cultura e sociedade contemporânea: um descompasso radical

ARTIGO

Vivemos, na atualidade, em uma sociedade neopagã. A afirmação categórica é do então Cardeal Joseph Ratzinger – Bento XVI – hoje na condição de Papa Emérito, em seu livro “Ser Cristão na Era Neopagã”. A obra contém seus discursos e homilias, proferidos entre 1986 a 1999, cuja tradução foi publicada no Brasil, em 2014. Ora, tal afirmação contundente é fruto de observações acuradas, ao longo de décadas, mais exatamente, desde o tempo de sua participação como padre e professor, ao tempo da realização do Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. Anos se seguiram e chegaram a esta conclusão já em meados da década de 80, ou seja, passados quase 20 anos daquele Concílio. Mas que relação haveria entre o Concílio Vaticano II e o neopaganismo dominante na sociedade contemporânea? Não é uma resposta fácil e simples para este panorama desconcertante. O conteúdo apresentado aqui não trata, especificamente, dos escritos do Cardeal Ratzinger, mas de uma sedimentação de dados e fatos relacionados à crescente secularização da Igreja, imersa em uma era neopagã. 

Este panorama é algo inaudito na história da Igreja Católica, por motivos óbvios, porque aponta para um retrocesso cultural da civilização judaico-cristã. Ou seja, o ponto de partida do Cristianismo foi justamente trazer aos povos pagãos o anúncio do Evangelho de Cristo e este objetivo foi quase em sua totalidade atingido no mundo contemporâneo. A demonstração disso é que todas as instituições que regulam a sociedade Ocidental tem base no legado judaico-cristão. No entanto, pouco a pouco, as sociedades foram deixando de lado esta herança, principalmente, a partir do século XIX – ainda que de maneira discreta – os valores universais que a fundamentam. Isto porque, no caldo cultural produzido pela Revolução Francesa, devido às perseguições à Igreja, surgiram ideias e ideais contrários a este legado. Como resultado dessa virada abrupta e sanguinária, houve a pretensão de estabelecer um mundo novo, em bases neopagãs e ateias. Ainda que fosse norteado pelo patrimônio cultural cristão, desde a evangelização dos povos, naquele século indivíduos quiseram romper definitivamente com os pressupostos do Cristianismo. 

Por outro lado, no final do século XIX, a Igreja Católica, acompanhando a realidade dos sindicatos de trabalhadores e a condição dos operários, lançou a Doutrina Social da Igreja, na forma de uma Carta Encíclica, publicada pelo Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891. Estavam lançadas as bases para os católicos se situarem diante da industrialização crescente, tanto para os empregados, quanto para os empregadores. Ou seja, os donos das indústrias não estavam livres em sua consciência para explorar seus empregados, enquanto os empregados sabiam que tinham direitos, mas desde que correspondessem às expectativas de seus empregadores. Nem tanto o liberalismo econômico por parte dos patrões, nem tanto as reivindicações exacerbadas dos sindicatos, minados de comunistas.

Na continuidade, vieram as 1ª e a 2ª Grandes Guerras e o sofrimento humano foi sem precedentes, principalmente na 1ª Grande Guerra. Mas, encerrados estes ciclos, com o fim da 2ª Guerra, em 1945, teve início a reconstrução da Europa. Passados cinco anos, um novo ímpeto, o do progresso, surgiu naquele continente e nos Estados Unidos. E, como não poderia deixar de ser, o mesmo aconteceu dentro da Igreja Católica, na esteira do pós-Guerra. Correntes, já antigas, chamadas de modernistas trataram de, internamente, incentivar mais e mais a ideia de progresso, de renovação da Igreja. Embarcaram neste ideal, a geração da época e posteriores e com o passar dos anos, na década de 60, aquela motivação benévola de abertura para a modernidade, por parte do Concílio Vaticano II, foi desvirtuada passo a passo. Enfim, uma má interpretação dos seus fundamentos e propostas acabou se impondo, o que gerou, com o passar dos anos e décadas, no quase esquecimento do que constituiu a Cristandade até o Concílio Vaticano II.

Preocupado com esta nova face da Igreja Católica que ia se formando e até se solidificando, quando assumiu o Papado, o então Papa Bento XVI, incansavelmente, falou da chamada “hermenêutica da continuidade”, embutida neste Concílio. Ou seja, a renovação do que necessitava ser repensado, mas sem descuidar do legado, do depósito da fé de dois mil anos de Cristianismo. Isto porque estavam contidos no Magistério e na Doutrina da Igreja Católica, ambos, rigorosamente, embasados nas Escrituras Sagradas. Mas, a pressão exterior, sob o véu do progressismo, sobre leigos e consagrados, de forma consciente ou não, acabou gerando um desvirtuamento tal, que só não destruiu a Igreja até o nosso tempo, porque o próprio Jesus afirmou que as portas do Inferno sobre ela jamais prevalecerão. 

A propósito, voltando um pouco no tempo, foram agregados outros fatores dentro da própria Igreja Católica, mais arraigados, que influenciaram leigos e consagrados ao longo do tempo. Tais fatores remontam a meados do século XIX, quando a Maçonaria e o Manifesto Comunista, vieram ambos a público, em 1848, e, com ousadia, afirmaram seus propósitos, obviamente, sob a capa do bem comum. Se mostravam pretensamente humanistas, ou seja, tendo por base ideais, já bastante conhecidos, como “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que remontavam à selvagem e sanguinária Revolução Francesa, em 1789, referida logo no início deste texto. Desse modo, é sabido e documentado que houve a partir desta época – isto é, meados do século XIX, infiltrações nos seminários. Estas infiltrações avançaram com mais ênfase no período da Revolução Comunista, em 1917, estendendo-se tal estratégia, ou seja, a da tentativa de enfraquecimento da Igreja Católica durante todo o período no qual estava no comando da URSS (União das Repúblicas Socialistas), o ditador russo, Joseph Stálin e período posterior. Neste, foi engendrada a estrutura da Teologia da Libertação, que consistia para o comunismo russo uma extensão de seu domínio na América Latina. Este dado veio à tona através de entrevistas com um ex-espião da União Soviética, Ion Mihai Pacepa, que foi general da polícia secreta da Romênia comunista. Pacepa pediu demissão do cargo e fugiu para os Estados Unidos, no fim da da década de 70. Obviamente, não teria curso esta estratégia se não houvesse na Igreja Católica uma leva de simpatizantes do ideário comunista. De modo similar, isto é, engendrar tentativas de minar a Igreja Católica por dentro por agentes externos se aplica também à Maçonaria, já antes referida, mas esta, sub-repticiamente, adotou uma tática pública, ou seja, buscar a aceitação de maçons no seio da Igreja. Esta entidade, que passou a ostentar uma fachada social, mas mantém encontros fechados a partir de certo grau que seus membros “ascendem”, fez duas tentativas ostensivas. Uma delas se deu durante a gestão do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o então Cardeal Joseph Ratzinger (de novembro de 1981 a abril de 2005), no início do Papado de João Paulo II (16 de outubro de 1978), que a rechaçou, e no Papado do próprio Bento XVI, a partir de 2005. Este, encomendou a uma junta de especialistas alemães um exame sobre a base conceitual da Maçonaria, e, já no 2º Grau, entre os 33 que a compõem, ficou comprovado que esta associação não se adequava ao Cristianismo e, por extensão, à Doutrina católica. Desse exame, foi lavrado um parecer em que consta não haver compatibilidade entre ser maçom e participar da Igreja Católica.

IGREJA INVISÍVEL

Assim, este verdadeiro bombardeio de propostas de “ser Igreja”, após as inúmeras leituras da proposta inicial do Concílio Vaticano II, em um mundo que adentrava em uma era neopagã, não poderia resultar em outra coisa, a não ser em uma fragmentação, onde a Igreja Católica passou a agradar ou ter os bons olhos da sociedade, em franco ímpeto de rejeição do passado, a partir dos anos 50 e 60. Isto, se deu em larga escala e os aplausos, interna e externamente, foram muitos, o que por si só é algo que é estranho ao Cristianismo. Ou seja, se o espírito mundano nas sociedades gera aprovação é porque a Doutrina da Igreja foi relaxada num todo, e, sendo assim, em seu interior, pouco a pouco os valores cristãos, que são exigentes, principalmente, católicos, passaram a ocupar um segundo plano. Ou seja, foram adotadas ideias e costumes não condizentes com o próprio Cristianismo. Um exemplo disso, foi ao tempo do Concílio, um casal norte-americano apresentou a proposta do uso de pílulas anticoncepcionais pelos católicos, o que gerou muita controvérsia, chamando a atenção da imprensa mundial, que não economizou páginas em entrevistas sobre este ou aquele ponto de vista. De certo modo, se estabeleceu uma ponte entre a Igreja e o mundo nesta época. Era o que o pensamento mundano queria, incluindo boa parte dos leigos católicos, mas o uso da pílula pelos casais católicos se opunha radicalmente ao valor que o Cristianismo dá à abertura ao dom da vida no matrimônio. Ainda que a proposta tenha sido rejeitada, a difusão do assunto pelo mundo inteiro, deu margem à aceitação pelas famílias católicas do controle da natalidade por este meio. Isto, como que desgastou o princípio da geração da vida, dádiva de Deus, passando a vinda de uma criança a ser calculada, planejada, conforme as condições materiais dos casais católicos. Assim se deu com o recurso ao DIU (Dispositivo Intra Uterino) pelas mulheres, inclusive católicas, no mundo inteiro. Para piorar o quadro instalado, a partir deste acontecimento, já em 1972, nos Estados Unidos, o direito ao aborto foi aprovado, amparado por lei federal. Alguns Estados acolheram a legalização, enquanto outros o mantiveram como ilegal. Foi o estopim para a ideia se espalhar pelo mundo todo, quando surgiram no início da da década de 70, os primeiros movimentos pró-aborto, na esteira da “revolução sexual” surgida nesta mesma década ou poucos antes dela. A propósito, a Profª Dra. em Filosofia, Alice von Hildebrand, esposa do renomado filósofo e teólogo católico, Dietrich von Hildebrand, teceu em seu livro “O Privilégio de Ser Mulher”, duras críticas ao aborto legal, que, como é sabido, trouxe consigo a cultura da morte a centenas de países. Na mesma esteira, em toda exposição pública a que tinha acesso, Madre Teresa de Calcutá falava em auditórios no Ocidente contra a prática do aborto. Dizia ela que, se alguém é capaz de matar uma criança em seu ventre, o que esperar de uma sociedade que patrocina este assassinato? Em sua singeleza, pedia, quando estava diante da situação que a mãe desse à luz e trouxesse a criança para ela adotar. Foi ouvida e levada a sério por muitas pessoas, que, ao fim e ao cabo, por ser muito admirada pelo Papa João Paulo II, a trazia para falar às multidões. Com certeza, Santa Teresa de Calcutá teve grande influência em seu combate ao aborto, abrindo os olhos de milhares enquanto viva esteve, e, na atualidade, por certo, o mesmo acontece a milhões de pessoas de todos os credos, já que com o advento da internet, seu pensamento obstinado contra o aborto, continua circulando no mundo todo. É uma gota em um oceano de mal feitos, mas é bendita sobremaneira esta filha da Igreja Católica, já que sua voz determinada, ainda que humilde, marcou profundamente gerações de adultos e jovens, que passaram a lutar em movimentos pró-vida, principalmente, no rebanho católico. 

São exatamente estes leigos, que são indiferentes ao respeito humano – termo antigo, já em desuso, mas ainda válido, a saber, colocar o ser humano à frente do que é correto aos olhos de Deus – é que compõem a Igreja invisível, fazendo frente aos desatinos do mundanismo. É importante dizer que há correntes no interior da Igreja, que compõem entusiasticamente a Cristandade contemporânea, mas não se dão conta de que não estão levando em conta o legado do Santo Magistério e da Sã Doutrina católicos nesse sentido. Mais ainda, o que é pior, os desprezam, deixando-se arrastar por ideais contrários à própria Doutrina Social da Igreja Católica, tal como o comunismo e o socialismo, pela via do marxismo. Ora, como cristãos, em obediência aos ensinamentos de Jesus aos Apóstolos, no Novo Testamento, seria uma decorrência natural rejeitar o mundo e as ideias e atitudes apartadas desse ensino. 

Dessa forma, na atualidade, o ideário do “politicamente correto”, de base marxista, quase dominante na cultura, deve ser rejeitado com decisão pelos cristãos, porque sua base é neopagã, isto é, o ser humano é o fundamento de todas coisas, – ou seja, se trata de um humanismo radical, portanto, ateu e materialista. Dessa maneira, é um mundo sem Deus e sua Lei Revelada, daí porque remonta ao tempo do paganismo. Esta tendência, que deriva do marxismo, conseguiu, pouco a pouco, se imiscuir na Igreja, e encontrou na corrente da Teologia da Libertação uma via de pleno desenvolvimento. Nesta, Deus, como que está a serviço dos interesses materiais, em nome de uma pretensa justiça social, ou seja, o Paraíso na Terra aqui e agora, em vista da instauração do Reino de Deus. Esta “teologia” é enganosa, além de reduzir ao mínimo o caráter sagrado da fé católica. 

No entanto, a Igreja invisível persiste, guiada pelo Espírito Santo, suscitando combatentes, que atuam dentro e fora dela, sem esmorecer. Ali onde o erro quer dominar, surge um movimento contrário. Cumpre-se, então, a promessa de Cristo de que Sua Igreja jamais seria destruída. É verdade que em seu todo, a Igreja Católica, neste século e desde o início do passado, pareça, aqui e ali, desfigurada, ao ser comparada à Igreja primitiva até o advento da era industrial. Nesse sentido, não importa tanto a forma, e, sim, o conteúdo de sua mensagem. Até é possível conviver com o despojamento estético das igrejas católicas, como se fossem templos protestantes, isto é, sem as bordaduras das roupas clericais ou o estilo arquitetônico moderno, ainda que seja lamentável vê-las despojadas de belas imagens inspiradoras. A ascese, o fervor místico, na prática, desaparecem da mente e do coração do fiel. Mas há algo ainda pior nesse sentido. Em várias partes do Brasil e no mundo, não é possível ver crucifixos com a figura de Jesus Cristo, e menos ainda, uma imagem da Virgem Maria. No máximo, são apresentadas figuras estilizadas, inclusive da Via Sacra. No entanto, como foi referido acima, é possível suportar essa dessacralização se há um sacerdote piedoso, inspirado e sábio. Quando não há um tal sacerdote, as almas divagam dentro da própria igreja, conferindo o celular ou conversam sobre assuntos alheios à Santa Missa. Tem sido muito comum estas ocorrências devido à dispersão quase generalizada, à perda do sentido do sagrado, à ênfase que, no mundo publicitário, é dada ao que está acontecendo nas redes sociais. É um problema amplo, mas se é levado para a celebração, fica evidente o que a dessacralização gera na vida dos fiéis.

Por conseguinte, esta combinação, ou seja, a falta de dedicados pastores de almas e a mundanização, gera como que um efeito cascata, que atinge indiretamente as famílias, minando até mesmo seu sentido de estar no mundo. Afinal, a Igreja é o Corpo de Cristo, do qual Ele é a Cabeça. Este Corpo é composto, em sua maioria, de famílias, desde a pia batismal até o matrimônio. Se não há ensino, admoestação e exortação, por parte de padres e Bispos em homilias bem preparadas, o que pais (e filhos por extensão), ou jovens, o quê todos vão levar para casa e pôr em prática em relação aos valores cristãos?

Novamente, volta o drama que o neopaganismo vigente espalha com seus inúmeros tentáculos. Não seria este ideário – o neopagão, obviamente – que poderia trazer paz, amor mútuo, compreensão e perdão entre os membros de uma família, pelo contrário, vai predominar a confusão, o desencontro. Daí a importância de bons pastores, bons confessores, que vão ser, em quase todas as situações de conflito, uma influência benévola. Vão como que “por nos eixos” os desajustes eventuais que qualquer família católica, vez ou outra, atravessa, ao viver em um mundo que tende para o caos. Este é o poder da Igreja invisível, que como a palavra refere, não pode ser vista, porque é mística, mas, na trama caótica do mundo, é vital, essencial. Nosso Senhor Jesus Cristo a orienta e pequenos milagres acontecem todos os dias nas famílias ou aos indivíduos, por intermédio dos sacerdotes a Ele fiéis, bem como, leigos, profunda e valentemente, cristãos.

Lúcia Barden Nunes – Jornalista.

Confira três alegrias da Assunção da Virgem Maria

SOLENIDADE -15 de Agosto

Foto Ilustrativa

O mistério da Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Reino dos Céus deve ser para nós católicos fonte de alegria e esperança, pois se, aqui na Terra, ela já realizou maravilhas da graça por obra do Espírito Santo, muito mais ela realizará agora que goza da visão beatífica.

A Virgem Maria é a Rainha Mãe

Participante da glória divina, a Rainha dos Céus certamente exercerá sua maternidade misericordiosa com muito mais eficácia; intercederá por todos e cada um de nós em particular, especialmente pelos pobres pecadores com muito mais amor, pois conhecerá mais profundamente as nossas misérias; será nossa mediadora junto ao seu Filho Jesus Cristo com maior autoridade, pois agora a Virgem Maria é a Rainha Mãe – Gebirah, em hebraico –, de quem Betsabé, mãe de Salomão, é tipo ou imagem (cf. 1 Rs 2,19).

Em seu testamento, Jesus Cristo não nos deixou tesouros nem riquezas materiais. Além da Sua presença (cf. Mt 28,20), Ele nos deixou a Santa Mãe Igreja, e com ela o seu membro mais eminente, que é a Santíssima Virgem. Na pessoa do discípulo amado, o Crucificado entregou a toda a Igreja e, ao mesmo tempo, a cada um de nós em particular a sua própria Mãe (cf. Jo 19,27).

A maternidade espiritual da Virgem Maria

Ainda em sua vida terrena, a Mãe da Igreja exerceu essa maternidade especialmente sobre os apóstolos e demais discípulos de seu Filho. Essa presença materna tem seu ápice no dia de Pentecostes, quando Nossa Senhora estava reunida com eles em unânime e perseverante oração (cf. At 1,14).

A Virgem de Nazaré, a cheia de graça (cf. Lc 1, 28), ou seja, cheia do Espírito Santo, foi a mestra de oração daqueles homens e mulheres. Ela intercedia e, ao mesmo tempo, ensinava aos discípulos como rezar. Além disso, ela realizava a missão especialíssima da maternidade espiritual, ou seja, com o Espírito Santo, gerava os novos filhos da Igreja nascente.

Depois da Assunção da Virgem Maria em corpo e alma ao Reino dos Céus, essa maternidade espiritual se manifesta de forma ainda mais perfeita e acabada, pois ela não mais intercedia, ensinava e gerava os filhos da Igreja ali presentes no Cenáculo. Mas, na glória dos Céus, em comunhão com a Santíssima Trindade e revestida de poder sobre todo o gênero humano, Nossa Senhora exerce sua maternidade espiritual sobre toda a humanidade e sobre cada um de nós em particular.

Nos céus, temos uma Mãe que intercede por nós, que nos ensina a rezar e que nos gera em Jesus Cristo, Cabeça da Igreja. Por isso, devemos nos alegrar, encher-nos de júbilo e dar graças a Deus pela gloriosa Assunção da Virgem Maria à glória dos Céus!

A intercessão da Virgem Maria

Nos seus dias aqui na Terra, Nossa Senhora já intercedia pela Igreja, particularmente para aqueles membros que viviam naquela época e, de certa forma, estavam sob o seu olhar materno. Depois de sua Assunção aos Céus, a Virgem Maria continua a sua missão de interceder por toda a Igreja e, ao mesmo tempo, por cada um de nós:

“De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou essa missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna (185). Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho, que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada” 1.

Com essa certeza de fé e confiantes na sua intercessão materna, invocamos a Mãe da Igreja antes de imergir os novos filhos de Deus nas fontes do batismo; imploramos sua intercessão para aquelas mães que, reconhecidas pelo dom da maternidade, apresentam-se com alegria em suas comunidades.

Intercedemos por aqueles pais que lutam para educar e santificar os filhos, levando-os para o caminho de Deus; confiamos aos seus cuidados maternais os filhos da Igreja que abraçam o seguimento de Cristo na vida religiosa e/ou o ministério sacerdotal, e para eles invocamos o seu auxílio maternal; a ela, dirigimos instantes súplicas em favor dos filhos que chegaram à hora da passagem desta para uma nova vida; dela solicitamos a intervenção em prol daqueles que, fechados os olhos para as luzes deste mundo que passa, comparecem diante de Jesus Cristo, a Luz eterna; e, por fim, suplicamos, pela sua intercessão materna, conforto para aqueles que, mergulhados na dor, choram, com fé, a partida dos nossos próprios entes queridos 2 .

A mediação da Mãe de Deus

A maternidade de Maria Santíssima, na economia da graça, perdura sem interrupção, desde o seu consentimento, que fielmente deu na Anunciação do Anjo (cf. Lc 1,38) e que manteve inabalável aos pés da cruz (cf. Jo 19,25) até a consumação eterna de todos os eleitos. Conscientes disso, enquanto filhos da Igreja, invocamos a Virgem Maria com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro e medianeira, conscientes de que esses títulos e invocações nada tiram nem acrescentam à dignidade e eficácia do único Mediador, que é Jesus Cristo 3.

[…]

Com efeito, nenhuma criatura pode equiparar-se ao Verbo de Deus encarnado, o Redentor da humanidade. Todavia, da mesma forma que o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros ordenados e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo única, se difunde de múltiplas formas pelos seres criados, de modo análogo, a mediação única de Jesus Cristo não exclui, antes suscita cooperações diversas, que participam dessa única fonte. Por isso, não hesitamos em invocar a mediação da Virgem Maria, Mãe da Igreja, para mais intimamente aderirmos, com seu auxílio materno, ao único Mediador e Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo.

Oração a Nossa Senhora da Assunção

Ó Maria Santíssima, ao celebrarmos a sua Assunção em corpo e alma à glória dos Céus,
suplicamos que nos ajude a viver com fé e esperança neste mundo, procurando sempre e em
todas as coisas a edificação do Reino de Deus.

Nossa Senhora, assunta aos Céus, ajudai-nos a abrir-nos à presença e à ação do Espírito Santo, Espírito Criador e Renovador, capaz de transformar os nossos corações.

Ó Senhora da Assunção, ilumina as nossas mentes acerca do destino que nos espera – a alegria
eterna na Pátria celeste –, da dignidade de cada um de nós e da nobreza dos nossos corpos e
das nossas almas, que poderão um dia estar convosco na glória dos Céus.

Virgem Maria, elevada aos Céus, mostra-te a todos nós como Mãe de esperança! “Mostra-te como Rainha da Civilização do amor!”

Padre Natalino Ueda

Natalino Ueda é brasileiro, católico, formado em Filosofia e Teologia.  É o autor do blog Todo de Maria, que tem como temas principais a devoção mariana e a consagração a Nossa Senhora segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort.

Publicado em Canção Nova (Formação).

A esperança é a chave para suportar qualquer dificuldade

Em tempos sombrios, tendemos a perder a esperança, especialmente quando eles se prolongam. Até que tentamos ter uma atitude positiva, mas as circunstâncias nem sempre promovem essa virtude.

No entanto, uma das únicas maneiras pelas quais podemos suportar tais dificuldades é ter esperança.

São João Clímaco, um monge cristão do século VI, passou 40 anos levando uma vida solitária, raramente tendo contato as pessoas. Mas, em determinada época, ele foi encarregado de um mosteiro e vários religiosos o procuraram para ter orientação espiritual. Sua sabedoria era profunda e seus escritos continuam a inspirar as pessoas até hoje.

O Papa Bento XVI destacou sua vida em uma audiência geral em 2009, na qual se concentrou em várias lições que podemos tirar da vida do eremita. Em particular, Bento XVI enfatizou a necessidade de ter esperança, citando os pensamentos de São João sobre o assunto:

“A esperança é o poder que impulsiona o amor. Graças à esperança, podemos esperar a recompensa da caridade … A esperança é a porta do amor … A ausência de esperança destrói a caridade: nossos esforços estão ligados a ela, nossos trabalhos são sustentados por ela e, por meio dela, somos envolvidos pela misericórdia de Deus.”

O tipo de esperança sobre a qual São João Clímaco escreve é a esperança sobrenatural, uma firme esperança no futuro e no que Deus tem reservado para seus fiéis discípulos. O Papa Bento XVI explica mais detalhadamente essa virtude fundamental:

“Com razão, João Clímaco diz que somente a esperança nos torna capazes de viver a caridade; esperança na qual transcendemos as coisas de todos os dias, não esperamos sucesso em nossos dias terrestres, mas estamos ansiosos pela revelação do próprio Deus, finalmente. É somente nessa extensão de nossa alma, nessa auto-transcendência, que nossa vida se torna grande e que somos capazes de suportar o esforço e as decepções de todos os dias, que podemos ser gentis com os outros sem esperar qualquer recompensa. Somente se houver Deus, essa grande esperança à qual aspiro, poderei dar os pequenos passos da minha vida e, assim, aprender a caridade.”

Qualquer sofrimento que experimentamos pode ser suportado com a virtude da esperança. Ele nos sustenta em tempos sombrios e nos aponta a direção certa. Em vez de buscar consolo nesta vida terrena, esperamos ansiosamente a vida eterna. Todas as nossas ações podem ser ordenadas para essa esperança, dando sentido e propósito às nossas vidas.

Se você está sofrendo agora, peça a Deus a virtude da esperança, para poder superar as decepções diárias e transmitir a alegria a que somos chamados a experimentar na presença de Deus.

Philip Kosloski / Aleteia 

Publicado em Diocese de Campo Limpo – Uma caminhada de fé, esperança e caridade.

Julho, mês do Preciosíssimo Sangue de Cristo

O mês de julho é dedicado à devoção ao Preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado pelo perdão dos nossos pecados. São João Batista apresentou Jesus ao mundo dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Sem o Sangue desse Cordeiro não há salvação.

São Pedro ensina que fomos resgatados pelo Sangue do Cordeiro de Deus mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pe 1, 2). “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo.” (1Pe 1,19).

O Papa Bento XIV (1740-1748) ordenou a Missa e o ofício em honra ao Sangue de Jesus, que foi estendida à Igreja Universal por decreto do Papa Pio IX (1846-1878). São Gaspar de Búfalo propagou fortemente essa devoção, tendo a aprovação da Santa Sé. Ele foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue (CPPS), em 1815. São Gaspar nasceu, em Roma, aos 6 de janeiro de 1786.

O Papa São João Paulo II, em sua Carta Apostólica Angelus Domini,  repetiu o que São João XXIII disse sobre o valor infinito do Sangue de Cristo, do qual “uma só gota pode salvar o mundo inteiro de qualquer culpa”.

Valor infinito

O Sangue de Cristo representa a Sua vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça Divina para o perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. “Isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 28).

Em cada Santa Missa, a Igreja renova, presentifica, atualiza e eterniza esse sacrifício expiatório pela redenção da humanidade. Em média, quatro vezes por segundo essa oferta divina sobe ao céu em todo o mundo, nas Missas.

O Catecismo da Igreja ensina que “nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de oferecer-se em sacrifício por todos” (n. 616); para isso, era preciso um sacrifício humano, mas de valor infinito. Só Deus poderia oferecer esse sacrifício; então, o Verbo Divino dignou-se a assumir a nossa natureza humana para oferecer a Deus um sacrifício de valor infinito. A majestade de Deus é infinita; e foi ofendida pelos pecados dos homens. Logo, só um sacrifício de valor infinito poderia restabelecer a paz entre a humanidade e Deus.

Assim, o Sangue do Senhor nos libertou do pecado, da morte eterna e da escravidão do demônio. São Paulo diz: “Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5,9). Por Seu Sangue, Cristo nos reconciliou com Deus: “Por seu intermédio, reconciliou consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).

Com o Seu Sangue, Cristo nos resgatou, fez de nós um povo Seu: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue” (At 20,29). “Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do Sangue de Jesus” (Hb 10,19).

“Cantavam um cântico novo, dizendo: ‘Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça’.” (Ap 5,9)

Remissão dos pecados

Hoje, esse Sangue redentor de Cristo está à nossa disposição de muitas maneiras. Em primeiro lugar, pela fé. Somos justificados por esse Sangue, ensina São Paulo: “Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu Sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5, 8-9). “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1,7).

Esse Sangue redentor está à nossa disposição também no sacramento da confissão. Pelo ministério da Igreja e dos sacerdotes, o Cristo nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o Seu precioso Sangue. Infelizmente, muitos católicos ainda não entenderam a profundidade desse sacramento e fogem dele por falta de fé ou de humildade. O Sangue de Cristo perdoa os nossos pecados na confissão e cura as nossas enfermidades espirituais e psicológicas.

O Catecismo ensina que, pelo Sangue de Cristo, a Igreja pode perdoar qualquer pecado: “Não há pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar. Não existe ninguém, por mais culpado que seja, que não deva esperar com segurança o seu perdão, desde que seu arrependimento seja sincero. Cristo, que morreu por todos os homens, quer que, em sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todo aquele que recua do pecado” (cf. n. 982).

Esse Sangue está presente na Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. “O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor ” (1 Cor 10,16-27).

“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,53-56).

É pelo Sangue de Cristo que os santos e os mártires deram testemunho de sua fé e chegaram ao céu: “Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14).“Estes venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloquente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12, 11).

É pelo Sangue derramado que Ele venceu e se tornou Rei e Senhor: “Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é Verbo de Deus. Um nome está escrito sobre o seu manto: Rei dos reis e Senhor dos Senhores” (Ap 19,13-16).

Professor Felipe Aquino
Canção Nova 

Publicado em Diocese de São José dos Campos.

São Pedro e São Paulo Apóstolos (Memória – 29 de junho)

Estes santos são considerados “os cabeças dos apóstolos” por terem sido os principais líderes da Igreja Cristã Primitiva, tanto por sua fé e pregação, como pelo ardor e zelo missionários.

São Pedro, príncipe dos Apóstolos

Tinha como primeiro nome Simão, era natural de Betsaida, irmão do Apóstolo André. Pescador, foi chamado pelo próprio Jesus e, deixando tudo, seguiu o Mestre, estando presente nos momentos mais importantes da vida do Senhor, que lhe deu o nome de Pedro.

Um homem simples e impulsivo. Falou, muitas vezes, em nome dos Apóstolos e não hesitou em pedir a Jesus explicações e esclarecimentos sobre sua pregação.

Foi o primeiro a responder ao Mestre: “Senhor, para quem iremos? Somente tu tens palavras de vida eterna; nós acreditamos e sabemos que és o Santo de Deus” (Jo 6,67-68), diante da pergunta que Cristo fez aos discípulos: “Também vocês querem ir embora?”.

Primeiro Papa da Igreja

Em princípio, fraco na fé, chegou a negar Jesus durante o processo que culminaria em Sua morte por crucifixão. O próprio Senhor o confirmou na fé após Sua ressurreição (da qual o apóstolo foi testemunha), tornando-o intrépido pregador do Evangelho através da descida do Espírito Santo de Deus, no Dia de Pentecostes, o que o tornou líder da primeira comunidade.

São Pedro é o apóstolo que Jesus Cristo escolheu e investiu da dignidade de ser o primeiro Papa da Igreja. “E eu te digo: Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus”.

São Pedro é o pastor do rebanho santo, é na sua pessoa e nos seus sucessores que temos o sinal visível da unidade e da comunhão na fé e na caridade.

Martírio

Pregou no Dia de Pentecostes e selou seu apostolado com o próprio sangue, pois foi martirizado em uma das perseguições aos cristãos, sendo crucificado de cabeça para baixo a seu próprio pedido, por não se julgar digno de morrer como seu Senhor, Jesus Cristo. Escreveu duas Epístolas e, provavelmente, foi a fonte de informações para que São Marcos escrevesse seu Evangelho.

São Paulo

Saulo era natural de Tarso. Recebeu educação esmerada “aos pés de Gamaliel”, um dos grandes mestres da Lei na época. Tornou-se fariseu zeloso, a ponto de perseguir e aprisionar os cristãos, sendo responsável pela morte de muitos deles.

De perseguidor cristão à conversão 

Converteu-se à fé cristã, enquanto perseguia os cristãos, no caminho de Damasco, quando o próprio Senhor Ressuscitado lhe apareceu e o chamou para o apostolado:  “Saulo, Saulo, por que você me persegue?”. Recebeu o batismo do Espírito Santo e preparou-se para o ministério.

Desde então, converteu-se e começou a pregar o Cristianismo, viajando pelo mundo, pregando o evangelho de Jesus Cristo e o mistério de sua paixão, morte e ressurreição.

Apóstolo das Gentes

Tornou-se um grande missionário e doutrinador, fundando muitas comunidades.

De perseguidor passou a perseguido, sofreu muito pela fé e foi coroado com o martírio, sofrendo morte por decapitação. Escreveu treze Epístolas e ficou conhecido como o “Apóstolo dos Gentios”.

A minha oração

“Senhor, hoje eu quero Te pedir por toda a Santa Igreja Católica. Que pela intercessão de São Pedro e São Paulo, colunas da Igreja, possamos ser sempre fiéis à fé e à doutrina que o próprio Cristo nos deixou. Amém!”

São Pedro e São Paulo, rogai por nós!

Publicado em Canção Nova ( Santo do Dia).

Hoje a Igreja celebra o Imaculado Coração de Maria

MEMÓRIA – 25.06.2022

REDAÇÃO CENTRAL, 25 jun. 22 / 05:00 am (ACI).- No dia após a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a Igreja celebra a festa do Imaculado Coração de Maria, a fim de mostrar que estes dois corações são inseparáveis e que Maria sempre leva a Jesus.

Esta celebração foi criada pelo papa Pio XII, em 1944, para que, por intercessão de Maria se obtenha “a paz entre as nações, liberdade para a Igreja, a conversão dos pecadores, amor à pureza e a prática da virtude”.

São João Paulo II declarou que esta festividade em honra à Mãe de Deus é obrigatória e não opcional. Ou seja, deve ser realizada em todo o mundo católico.

Durante as aparições da Virgem de Fátima aos três pastorinhos em 1917, Nossa Senhora disse a Lúcia: “Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração”.

“A quem a abraçar, prometo a salvação; e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o Seu Trono”.

Em outra ocasião, disse-lhes: “Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: ‘Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores, e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria’”.

Muitos anos depois, quando Lúcia era uma postulante no Convento de Santa Doroteia, em Pontevedra (Espanha), a Virgem lhe apareceu com o menino Jesus e, mostrando-lhe o seu coração rodeado por espinhos, disse: “Olha, minha filha, o meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos me cravam com blasfêmias e ingratidões”.

“Tu, ao menos, vê de me consolar e diz que, todos aqueles que durante cinco meses no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do rosário com o fim de me desagravar, eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas’”.

Publicado em ACI Digital.

O que é a Divina Providência?

O homem é chamado a confiar inteiramente na Divina Providência

Certamente, você já ouviu falar que Deus sustenta e conduz toda a criação, realizando Sua vontade por meio da Divina Providência. Assim, para viver uma vida de santidade, é necessário confiar inteiramente nela. Mas muitos ainda têm dúvidas sobre o que ela é e como viver dela.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) define a Divina Providência como as disposições pelas quais Deus conduz a Sua criação em ordem a essa perfeição: “Deus guarda e governa, pela Sua providência, tudo quanto criou, atingindo com força, de um extremo ao outro, e dispondo tudo suavemente” (Sb 8,1), porque “tudo está nu e patente a seus olhos” (Hb 4,13), mesmo aquilo que “depende da futura ação livre das criaturas” (CIC 302).

Desta maneira, o Senhor criou o homem para a santidade e, por isso, Ele jamais o abandona; por isso o conduz, a cada instante, para uma perfeição última ainda a atingir pelos caminhos que só Ele conhece.

Por outro lado, mesmo conduzindo tudo, Ele jamais retira a liberdade do homem, uma vez que este não é marionete. “Em Deus, vivemos, movemos e existimos” (At 17,28). Ele está presente em todas as situações, mesmo nas ocorrências dolorosas e nos acontecimentos aparentemente sem sentido. Ele também escreve direito pelas linhas tortas da nossa vida; o que nos tira e o que nos dá, tudo constitui ocasiões e sinais da Sua vontade, afirma o Youcat (49).

Reconhecer, confiar nesta dependência total do Senhor é fonte de sabedoria e liberdade, de alegria e confiança (Sb 11,24-26). O próprio Jesus recomendou o abandono total à providência celeste, sendo Ele o próprio a testemunhar, com Sua vida, que o Senhor cuida de todas as coisas: “Não vos inquieteis, dizendo: ‘Que havemos de comer?’ ‘Que havemos de beber?’ […] Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6,31-33).

Por que Deus não evita o mal?

Se Deus conduz todas as coisas, surge então o questionamento: Por que Ele não evita o mal?

Afirma o Catecismo da Igreja Católica: “A esta questão, tão premente como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não é possível dar uma resposta rápida e satisfatória. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta questão: a bondade da criação, o drama do pecado,  o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas suas alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pela agregação à Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamamento à vida bem-aventurada, à qual as criaturas livres são de antemão convidadas a consentir, mas à qual podem, também de antemão, negar-se, por um mistério terrível. Não há nenhum pormenor da mensagem cristã que não seja, em parte, resposta ao problema do mal” (CIC 309).

Santo Tomás de Aquino afirmava: “Deus só permite o mal para fazer surgir dele algo melhor”. Ora, o mal no mundo é um mistério sombrio e doloroso, por isso tão incompreensível; mas temos a certeza de que o Senhor é cem por cento bom, Ele nunca é o autor de algo mau. Ele criou o mundo bom, embora ainda não aperfeiçoado.

Olhando para a história, é possível descobrir que o Senhor, em sua providência, tirou um bem das consequências de um mal (mesmo moral) causado pelas criaturas: “Não, não fostes vós – diz José a seus irmãos – que me fizestes vir para aqui. Foi Deus. […] Premeditastes contra mim o mal: o desígnio de Deus aproveitou-o para o bem […] e um povo numeroso foi salvo” (Gn 45,8; 50,20).

“Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa redenção. Mas nem por isso o mal se transforma em bem”. (CIC 314).

Confiar inteiramente na Divina Providência

O certo é que “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade: Santa Catarina de Sena afirmou: “Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem e não com nenhum outro fim”. São Tomás Morus, pouco antes do seu martírio, disse estas palavras: “Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom” (CIC 315).

Portanto, o homem é chamado a confiar inteiramente na Divina Providência, pois esta é o meio pelo qual Ele conduz, com sabedoria e amor, todas as criaturas para o seu último fim, que é a santidade, mesmo sabendo que, muitas vezes, os caminhos da sua providência são desconhecidos. A resposta para aquele que deseja viver uma vida na vontade do Senhor é o abandono, pois esta é a ordem de Deus: “Lançai sobre o Senhor toda a vossa inquietação, porque Ele vela por vós” (1 Pe 5,7).

Ricardo Gaiotti
Advogado, Juiz Eclesiástico e Mestre em Direito Canônico pela Universidade de Salamanca (Espanha) e Mestre em Direito Civil pela PUC-SP

Fonte: Canção Nova.

Publicado em Arca da Aliança – Comunidade Católica.

Junho: mês do Sagrado Coração de Jesus

coracaodejesus

Neste mês de junho, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, somos convidados pela Igreja a contemplar e experimentar, nesta devoção, o infinito amor de Deus por nós.

“Na encíclica «Deus caritas est», citei a afirmação da primeira carta de São João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem e cremos nele» para sublinhar que, na origem da vida cristã, está o encontro com uma Pessoa (cf. n.1). Dado que Deus se manifestou da maneira mais profunda por meio da encarnação de Seu Filho, fazendo-se «visível» n’Ele.

Na relação com Cristo, podemos reconhecer quem é verdadeiramente Deus (cf. encíclica «Haurietis aquas», 29,41; encíclica «Deus caritas est», 12-15). Mais ainda, dado que o amor de Deus encontrou sua expressão mais profunda na entrega que Cristo fez de sua vida por nós na Cruz. Ao contemplarmos seu sofrimento e morte, podemos reconhecer, de maneira cada vez mais clara, o amor sem limites de Deus por nós: «tanto amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que crer nele não pereça, mas que tenha vida eterna» (João 3,16).

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Por outro lado, esse mistério do amor de Deus por nós não constitui só o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda verdadeira espiritualidade e devoção cristã. Portanto, é importante sublinhar que o fundamento dessa devoção é tão antigo como o próprio cristianismo. De fato, só se pode ser cristão dirigindo o olhar à Cruz de nosso Redentor, «a quem transpassaram» (João 19, 37; cf. Zacarias 12, 10).

A encíclica «Haurietis aquas» lembra que a ferida do lado e as dos pregos foram para numeráveis almas os sinais de um amor que transformou, cada vez mais incisivamente, sua vida (cf. número 52). Reconhecer o amor de Deus no Crucificado se converteu para elas em uma experiência interior, o que as levou a confessar junto a Tomé: «Meu Senhor e meu Deus!» (João 20,28), permitindo-lhes alcançar uma fé mais profunda na acolhida sem reservas do amor de Deus (cf. encíclica «Haurietis aquas», 49).

Experimentar o amor de Deus

O significado mais profundo desse culto ao amor de Deus só se manifesta quando se considera mais atentamente sua contribuição não só ao conhecimento, mas também, e sobretudo, à experiência pessoal desse amor na entrega confiada a seu serviço (cf. encíclica «Haurietis aquas», 62). Obviamente, experiência e conhecimento não podem separar-se: um faz referência ao outro. Também é necessário sublinhar que um autêntico conhecimento do amor de Deus só é possível no contexto de uma atitude de oração humilde e de disponibilidade generosa.

Partindo dessa atitude interior, o olhar posto no lado transpassado da lança se transforma em silenciosa adoração. O olhar no lado transpassado do Senhor, do qual saem «sangue e água» (cf. Gv 19, 34), ajuda-nos a reconhecer a multidão de dons de graça que daí procedem (cf. encíclica «Haurietis aquas», 34-41) e nos abre a todas as demais formas de devoção cristã que estão compreendidas no culto ao Coração de Jesus.

A fé é um dom que vem do amor

A fé, compreendida como fruto do amor de Deus experimentado, é uma graça, um dom divino. O homem, no entanto, poderá experimentar a fé como uma graça só na medida em que ele a aceita dentro de si como um dom, e procura vivê-lo. O culto do amor de Deus, ao que convidava aos fiéis a encíclica «Haurietis aquas» (cf. ibidem, 72), deve nos ajudar a recordar incessantemente que Ele carregou com este sofrimento voluntariamente «por nós», «por mim».

Quando praticamos este culto, não só reconhecemos com gratidão o amor de Deus, mas continuamos nos abrindo a esse amor, de maneira que a nossa vida vai ficando cada vez mais modelada por ele. Deus, que derramou seu amor «em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (cf. Romanos 5, 5), convida-nos, incansavelmente, a acolher seu amor. O convite a entregar-se totalmente ao amor salvífico de Cristo (cf. ibidem, n. 4) tem como primeiro objetivo a relação com Deus. Por esse motivo, esse culto totalmente orientado ao amor de Deus que se sacrifica por nós tem uma importância insubstituível para nossa fé e para nossa vida no amor.”

(Trecho da Carta de Bento XVI ao padre Peter-Hans Kolvenbach, Companhia de Jesus.)

Frede Silvério de Oliveira (agente da Pascom)

Publicado em Paróquia São José – Ressaquinha – MG.

HOMILIA PARA A SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

At 1,1-11
Sl 46
Ef 1,17-23
Mt 28,16-20

Estamos ainda nos dias pascais, nas alegrias da Ressurreição do Senhor. A Solenidade que hoje celebramos – a Ascensão – e aquela do Domingo próximo – Pentecostes – são ainda partes, aspectos do único e maravilhoso Mistério da Páscoa: Ressurreição, Subida aos Céus e dom do Espírito são três aspectos do mesmo mistério! Celebramo-lo num arco de cinquenta dias porque, enquanto o Senhor Jesus deixou este nosso tempo, feito de ontens, de hojes e de amanhãs, nós continuamos presos às horas, dias, meses e anos deste mundo… Quanto ao Cristo Senhor, desde a morte saiu do nosso tempo e, com Sua Ressurreição, entrou na Eternidade de Deus, no Santuário celeste, onde não já tempo algum, mas somente perene Eternidade!

Eis: Jesus ressuscita no Pai; não ressuscita para depois ir ao Seu Deus e Pai! Ressuscitar é, precisamente, sair da morte, entrando na Vida divina e imortal, que é o Pai. Isso aparece claro em alguns textos dos próprios evangelhos. Em Lc 24,44, Jesus ressuscitado, conversando com Seus apóstolos e sendo tocado por eles, diz claramente que com eles não está mais: “São estas as palavras que Eu vos falei quando estava convosco…” No próprio Evangelho deste hoje, o Senhor, aparecendo aos Seus sobre o monte, dá a entender que já está nos Céus: “Toda autoridade Me foi dada no Céu e na terra!” Vede: Ele já recebeu tal autoridade! Ele, durante quarenta dias apareceu aos Seus, mas já não está fisicamente entre os Seus! Seu novo modo de permanecer conosco é na potência do Seu Espírito Santo, também fruto da Sua Ressurreição e entrada no Pai…

Se é assim, qual o sentido desta Solene Ascensão do Senhor? Eis o seu significado, tão importante para nós e para a nossa salvação: ressuscitado, Jesus foi glorificado na Sua Pessoa, isto é, em Si mesmo. Agora, com a Ascensão, aparece o que Sua Ressurreição significa para nós, o que o Cristo Se torna em relação a nós. Vejamos:

Em primeiro lugar, a Ascensão marca o fim daquele período de encontros que o Ressuscitado teve com Seus discípulos para fortalecer-lhes a fé explicar-lhes a missão. É, portanto, uma despedida! Como já foi dito, a partir desse momento o Senhor estará com os Seus e poderá ser por eles percebido de uma forma nova: na potência do Seu Espírito Santo, presente na força da Palavra anunciada e nos sacramentos da Igreja. É assim, que a Ascensão abre caminho para o Pentecostes, quando o Espírito, de um modo visível e barulhento, marca a inauguração da missão da Igreja, que é testemunhar e anunciar o Senhor, tornando-o presente nos gestos sacramentais.

Segundo: a Ascensão nos revela aquilo que aconteceu nos Céus com o Cristo Jesus e que, na terra, somente pela fé podemos saber e crer, isto é, Sua glorificação como Senhor do Céu e da terra, Senhor da história humana e da Igreja. Ele ressuscitou e subiu aos Céus para tudo recapitular e de tudo ser a Cabeça, fonte de Vida e salvação! São Paulo nos disse na segunda leitura que “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a Quem pertence a glória ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos e fê-Lo sentar-se à Sua direita nos Céus. Ele pôs tudo sob os Seus pés e fez Dele, que está acima de tudo, Cabeça da Igreja, que é o Seu Corpo…” É assim que hoje, cheios de alegria, proclamamos Jesus ressuscitado como Cabeça de toda a criação, Cabeça da humanidade toda, Cabeça e sentido da história humana. E tudo isso Ele o é enquanto Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo! Isso significa que toda a criação caminha para Ele e Nele será um dia glorificada; que toda história somente Nele encontra a direção e o sentido profundo; e que a Igreja participa da Sua obra universal de salvação! Se toda salvação neste mundo somente pode vir através de Cristo, vem desse Cristo que é, inseparavelmente, Cabeça da Igreja. Assim, podemos e devemos dizer que sem o ministério da Igreja não há salvação possível! Isso mesmo: fora da Igreja não há salvação, porque ela é o Corpo do Cristo, sua Cabeça e único Salvador. Em outras palavras: todo ser humano de boa vontade e consciência reta pode salvar-se, mas pode-o somente porque Cristo, Cabeça da Igreja, morreu e ressuscitou e está à Direita do Pai em favor de toda a humanidade, até de quem não crê Nele!

Em terceiro lugar, glorificado, o Senhor é nosso Juiz! Para Ele caminham a história humana e as nossas histórias. Somente Ele pode ver nosso caminho neste mundo com seu sentido profundo, somente Ele nos julgará, porque, à Direita do Pai, somente Ele abarca toda a história com o Seu Espírito e desvela seu sentido pleno.

Quarto: desaparecendo de nossa vista humana, Ele nos dá o Seu Espírito, inaugurando um novo modo de estar presente entre nós, mais profundo e eficaz: agora Ele nos é interior, age em nós pela energia do Seu Espírito Santo: “Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo!” – Essa promessa não é palavra vazia; é, sim, uma impressionante realidade!

Em quinto lugar, Sua presença na Glória, à Direita do Pai, o constitui para sempre como nosso Intercessor, como diz o Autor da Epístola aos Hebreus: “Cristo entrou no próprio Céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor!” (9,24)

Caríssimos, a hodierna Solenidade é também nossa festa e motivo de alegria para nós! Aquele que hoje sentou-Se à Direita do Pai é o Filho eterno feito homem, é um de nós! Que coisa impressionante: hoje, a nossa humanidade foi colocada acima dos Anjos! Aquele que, como Deus, foi colocado no Presépio e no Sepulcro, hoje, como homem, foi colocado acima dos anjos, à Direita do próprio Pai! Ora, alegremo-nos: onde já está o Cristo, nossa Cabeça, estaremos um dia todos nós, membros do Seu Corpo! Era isso que rezava a oração inicial da Missa de hoje: “Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do vosso Filho já é a nossa vitória: membros do Seu Corpo, somos chamados a participar da Sua Glória!” E a oração que faremos após a comunhão dirá claramente que junto do Pai já se encontra a nossa humanidade, no Cristo glorificado.

Irmãos e irmãs! Elevemos o olhar para os Céus: à Direita do Pai, Deus como o Pai, encontra-Se o homem Jesus, nosso irmão, um de nossa raça… Ele é o objetivo para o qual se dirigem a nossa existência e a história humana, Ele é o nosso Juiz, Ele é o nosso Intercessor! Que nossa vida, neste mundo que passa, seja cheia do gosto da Eternidade, porque Nele, nossa esperança é certíssima! Não temamos: Aquele que está nos Céus Se nos dá em comunhão para que o experimentemos, O anunciemos e O testemunhemos, até sermos plenamente unidos a Ele quando aparecer em Sua Glória e entregar o Reino a Deus Seu Pai. “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; Ele o será por toda a Eternidade” (Hb 13,8). Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

Bispo de Palmares

Publicado em Visão Cristã.

Santa Teresa d’Ávila

Santa Teresa de Jesus nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, com o nome de Teresa de Ahumada. Em sua autobiografia, ela menciona alguns detalhes da sua infância: o nascimento “de pais virtuosos e tementes a Deus”, em uma grande família, com nove irmãos e três irmãs. Ainda jovem, com pelo menos 9 anos, leu a vida dos mártires, que inspiram nela o desejo de martírio, tanto que chegou a improvisar uma breve fuga de casa para morrer como mártir e ir para o céu (cf. Vida 1, 4): “Eu quero ver Deus”, disse a pequena aos seus pais. Alguns anos mais tarde, Teresa falou de suas leituras da infância e afirmou ter descoberto a verdade, que se resume em dois princípios fundamentais: por um lado, que “tudo o que pertence a este mundo passa”; por outro, que só Deus é para “sempre, sempre, sempre”, tema que recupera em seu famoso poema: “Nada te perturbe, nada te espante; tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!”. Ficando órfã aos 12 anos, pediu à Virgem Santíssima que fosse sua mãe (cf. Vida 1,7).

Se, na adolescência, a leitura de livros profanos a levou às distrações da vida mundana, a experiência como aluna das freiras agostinianas de Santa Maria das Graças, de Ávila, e a leitura de livros espirituais, em sua maioria clássicos da espiritualidade franciscana, ensinaram-lhe o recolhimento e a oração. Aos 20 anos de idade, entrou para o convento carmelita da Encarnação, sempre em Ávila. Três anos depois, ela ficou gravemente doente, tanto que permaneceu por quatro dias em coma, aparentemente morta (cf. Vida 5, 9). Também na luta contra suas próprias doenças, a santa vê o combate contra as fraquezas e resistências ao chamado de Deus.

Em 1543, ela perdeu a proximidade da sua família: o pai morre e todos os seus irmãos, um após o outro, migram para a América. Na Quaresma de 1554, aos 39 anos, Teresa chega o topo de sua luta contra suas próprias fraquezas. A descoberta fortuita de “um Cristo muito ferido” marcou profundamente a sua vida (cf. Vida 9). A santa, que naquele momento sente profunda consonância com o Santo Agostinho das “Confissões”, descreve assim a jornada decisiva da sua experiência mística: “Aconteceu que…de repente, experimentei um sentimento da presença de Deus, que não havia como duvidar de que estivesse dentro de mim ou de que eu estivesse toda absorvida n’Ele” (Vida 10, 1).

Paralelamente ao amadurecimento da sua própria interioridade, a santa começa a desenvolver, de forma concreta, o ideal de reforma da Ordem Carmelita: em 1562, funda, em Ávila, com o apoio do bispo da cidade, Dom Álvaro de Mendoza, o primeiro Carmelo reformado, e logo depois recebe também a aprovação do superior geral da Ordem, Giovanni Battista Rossi.

Nos anos seguintes, continuou a fundação de novos Carmelos, um total de dezessete. Foi fundamental seu encontro com São João da Cruz, com quem, em 1568, constituiu, em Duruelo, perto de Ávila, o primeiro convento das Carmelitas Descalças. Em 1580, recebe de Roma a ereção a Província Autônoma para seus Carmelos reformados, ponto de partida da Ordem Religiosa dos Carmelitas Descalços. Teresa termina sua vida terrena justamente enquanto está se ocupando com a fundação.

Em 1582, de fato, tendo criado o Carmelo de Burgos e enquanto fazia a viagem de volta a Ávila, ela morreu, na noite de 15 de outubro, em Alba de Tormes, repetindo humildemente duas frases: “No final, morro como filha da Igreja” e “Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos”. Uma existência consumada dentro da Espanha, mas empenhada por toda a Igreja. Beatificada pelo Papa Paulo V, em 1614, e canonizada por Gregório XV, em 1622, foi proclamada “Doutora da Igreja” pelo Servo de Deus Paulo VI, em 1970. Teresa de Jesus não tinha formação acadêmica, mas sempre entesourou ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Como escritora, sempre se ateve ao que tinha experimentado pessoalmente ou visto na experiência de outros (cf. Prefácio do “Caminho de Perfeição”), ou seja, a partir da experiência.

Teresa consegue tecer relações de amizade espiritual com muitos santos, especialmente com São João da Cruz. Ao mesmo tempo, é alimentada com a leitura dos Padres da Igreja, São Jerônimo, São Gregório Magno, Santo Agostinho. Entre suas principais obras, deve ser lembrada, acima de tudo, sua autobiografia, intitulada “Livro da Vida”, que ela chama de “Livro das Misericórdias do Senhor”. Escrito no Carmelo de Ávila, em 1565, conta o percurso biográfico e espiritual, por escrito, como diz a própria Teresa, para submeter a sua alma ao discernimento do “Mestre dos espirituais”, São João de Ávila. O objetivo é manifestar a presença e a ação de um Deus misericordioso em sua vida: Para isso, a obra muitas vezes inclui o diálogo de oração com o Senhor. É uma leitura fascinante, porque a santa não apenas narra, mas mostra como reviver a profunda experiência do seu amor com Deus. Em 1566, Teresa escreveu o “Caminho da perfeição”, chamado por ela de “Admoestações e conselhos” que dava às suas religiosas. As destinatárias são as doze noviças do Carmelo de São José, em Ávila. Teresa lhes propõe um intenso programa de vida contemplativa ao serviço da Igreja, em cuja base estão as virtudes evangélicas e a oração. Entre os trechos mais importantes, destaca-se o comentário sobre o Pai Nosso, modelo de oração.

A obra mística mais famosa de Santa Teresa é o “Castelo Interior”, escrito em 1577, em plena maturidade. É uma releitura do seu próprio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, uma codificação do possível desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo. Teresa refere-se à estrutura de um castelo com sete “moradas”, como imagens da interioridade do homem, introduzindo, ao mesmo tempo, o símbolo do bicho da seda que renasce em uma borboleta, para expressar a passagem do natural ao sobrenatural. A santa se inspira na Sagrada Escritura, especialmente no “Cântico dos Cânticos”, para o símbolo final dos “dois esposos”, que permite descrever, na sétima “morada”, o ápice da vida cristã em seus quatro aspectos: trinitário, cristológico, antropológico e eclesial.

À sua atividade fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica o “Livro das fundações”, escrito entre 1573 e 1582, no qual fala da vida do nascente grupo religioso. Como na autobiografia, a história é dedicada principalmente a evidenciar a ação de Deus na fundação dos novos mosteiros.

Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Em nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa nos ensina a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua ação; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe em nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente.

Papa Bento XVI

Publicado em Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.

Como lidar com o sofrimento?

O mundo em que vivemos é como um Titanic a afundar-se. Os que não têm fé, agarrados aos destroços da embarcação, sofrem não só por causa do naufrágio, mas também de desespero. Quem crê, no entanto, mantém-se firme na esperança, sem perder de vista que o nosso único porto seguro está para além da terra e do mar: está no Céu. Mas como sofrer com esperança, sem cair no desespero? De que modo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo pode iluminar as batalhas e os desafios que enfrentamos nesta vida? (Padre Paulo Ricardo – Resposta Católica)

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