SEXTA-FEIRA SANTA

Caros irmãos e irmãs,

A sexta-feira santa é o único dia do ano em que não se celebra missa. A eucaristia é a celebração de Deus vivo e, por isto, não faz sentido celebrar a eucaristia no dia em que Cristo morre. A Igreja está recolhida, em oração. Dia de penitência. Dia de jejum. Dia de abstinência de carne. Dia em que devemos voltar nossos pensamentos para viver os sofrimentos atrozes vividos pelo Salvador e Redentor da humanidade.

A liturgia nos faz sentir, de maneira especial, o significado do sofrimento de Cristo, e as duas leituras que preparam o Evangelho são fundamentais para penetramos no Mistério que celebramos. A leitura da Paixão segundo João constitui o modo privilegiado de acesso ao mistério pascal, que neste dia revivemos, sobretudo como morte do Senhor. A primeira Leitura (cf. Is 52,13-53,12) é o quarto canto do Servo de Javé. Nesta leitura retirada do livro do profeta Isaías, a Igreja nascente encontrou, através das nuvens da história antiga, o fio que a existência de Jesus retornou e levou ao fim: a doação da vida do justo, pela salvação dos homens e mulheres, pela salvação dos irmãos, mesmo dos que o rejeitaram e mesmo daqueles que o traíram.

Já a segunda leitura, retirada da Carta aos Hebreus (cf. Hb 4,14-16;5,7-9), coloca em evidencia que Jesus participou em tudo de nossa condição humana. Assim, devemos nos colocar perante o mistério de hoje: Jesus, se fazendo homem em tudo, exceto no pecado, morre pela salvação da humanidade, para o perdão de nossos pecados, inaugurando o novo tempo: o tempo da salvação e da glória.

Nesta celebração acompanhamos os passos do Senhor em sua paixão até a sua entrega total na cruz. Contemplando e adorando o Senhor Crucificado, elevamos nossa oração por todas as pessoas com quem o sangue de Cristo nos fez irmãos, especialmente os que sofrem, prolongando hoje, o mistério de sua cruz.

Neste dia, somos chamados a contemplar a Paixão e Morte de Jesus. Somos levados a contemplar e vivenciar o mistério da iniquidade humana na pessoa de Jesus sim, mas, sobretudo, o mistério do Seu triunfo definitivo. O rito da apresentação e adoração da cruz vem como consequência lógica da proclamação da paixão de Cristo. A Igreja ergue diante dos fiéis o sinal do triunfo do Senhor, que Ele mesmo havia dito: “Quando levantarem o Filho do Homem, saberão que Eu sou” (Jo 8,28). Enquanto apresenta a cruz, o celebrante canta por três vezes: “Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”. A assembleia, cada vez, responde: “Vinde, adoremos!”.

E neste dia, a liturgia nos convida a lançar um olhar para o Calvário de Cristo. E lá podemos também contemplar Maria, silenciosa aos pés da cruz, com o coração retalhado de dor, Maria é figura da humanidade redimida. Nesta Sexta-feira Santa somos também convidados a contemplar o mistério da cruz de Cristo, através do olhar maternal de Maria. O evangelista São João refere-nos que aos pés da cruz, onde o Senhor entrega a vida, estavam a mãe de Jesus, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena; e ainda o próprio evangelista São João (cf. Jo 19,25). Jesus foi praticamente abandonado por todos. Os discípulos se dispersaram, restando apenas João, aquele que Jesus amava, segundo a tradição, os miraculados desapareceram, as multidões que o seguiam e o aclamaram como Messias nas ruas de Jerusalém, pediram a sua condenação. Só Maria, sua mãe, acompanhada por duas amigas, e João, são fiéis até ao fim.

Eles vencem o medo e superam a dor e não evitam a cruz. Essa é a primeira atitude que podemos aprender com Maria: não ter medo da cruz, contemplá-la com amor, porque aquele crucificado é a encarnação do amor. Aproximamos da cruz porque nela está suspenso alguém que nos ama infinitamente, nosso Senhor e Mestre. Naquela cruz joga-se o nosso destino; ali somos gerados para uma vida nova, nas núpcias misteriosas entre Deus e a humanidade; e Maria, que dera à luz o Verbo encarnado, surge como Mãe da nova humanidade, participando como mulher e Mãe nesse parto doloroso da humanidade redimida. Jesus explicita essa nova maternidade de Maria, ao dizer-lhe, referindo-se a São João: “Mulher, eis o teu filho” (Jo 19,26). A maldição que tinha caído sobre outra mulher, Eva, a primeira mãe da humanidade, condenada a dar à luz os seus filhos na dor (cf. Gn 3,16) é vencida na dor de Maria. Também ela, aos pés da cruz, gera os novos filhos na dor, mas a sua dor é o sofrimento da redenção.

Aos pés da Cruz está Maria como corredentora. Quis Deus que entre ela e o seu Filho, houvesse uma unidade de missão, e essa missão Maria a aceitou, desde o primeiro momento, na obediência da fé. Ao anjo disse: “Eu sou a Serva do Senhor, cumpra-se em mim a tua Palavra” (Lc 1,38). Essa obediência total à vontade do Pai será a atitude contínua de Jesus. A Sua fidelidade é uma obediência que, segundo São Paulo, encontra a sua máxima expressão naquela Cruz: humilhando-Se ainda mais, obedeceu até à morte na cruz (cf. Fl 2,8).

E na Carta aos Hebreus diz-se que Ele, “apesar de ser Filho, aprendeu, de quanto sofrera, o que é obedecer” (Hb 5,8). Aprender a obediência, aprofundar a atitude de abandono à vontade de Deus, eis algo que Maria não deixou de aprofundar, desde a anunciação até à cruz. Aos pés da cruz, tal como Seu Filho, Maria obedece, abandona-se ao desígnio misterioso de Deus e percebe, na cruz, qual era a vontade de Deus. A sua obediência é, agora, mais radical e profunda, pois percebe que é mais exigente aceitar a vontade de Deus acerca do Seu Filho do que acerca dela própria.

Aprendamos com Maria a obedecer à vontade do Senhor, quando nos convida à conversão, quando nos atrai para a intimidade, quando nos envia em missão, quando nos interpela a sermos santos, como ele é Santo. A cruz de Cristo é, em cada momento, um apelo à conversão, um convite à confiança, um desafio de amor.

Contemplando Maria, aos pés da cruz, aprenderemos, com ela, a abraçar a nossa cruz, isto é, as nossas provações, os nossos sofrimentos e que possamos fazer deles a oferta eucarística e hóstia de louvor, para a redenção do mundo. Assim seja.

Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Mosteiro de São Bento/RJ

A Vigília Pascal faz do Sábado Santo uma noite de luz

EIS A LUZ DE CRISTO

A Semana Santa é a Semana das semanas! Neste tempo, vivemos a intensidade do Mistério Pascal que é constituído pela Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. É certo que, a cada domingo, dia do Senhor, nós revivemos e celebramos esse mistério. Além disso, também é certo que, em cada Santa Missa, celebramos vivamente o Mistério Pascal. mas todo o ano decorre desta Semana Santa. A Vigília Pascal é uma Fonte da graça de Deus. Nesta Semana, o nosso coração é alimentado pela força do amor do Pai.

O Sábado Santo é precedido pelo Domingo de Ramos, em que acompanhamos Jesus no Triunfo e na Paixão. Ele é acolhido em Jerusalém como um Rei, com hinos, ramos nas mãos; por onde Ele ia passando roupas eram jogadas pelo chão e havia muita euforia. Na mesma liturgia, é narrada a Paixão do Senhor. O Triunfo e a Paixão de Jesus nos faz pensar nos nossos altos e baixos ao longo da vida. Em Jesus encontramos sabedoria e discernimento para louvarmos a Deus nas conquistas e confiarmos n’Ele nas horas amargas.

A Vigília Pascal faz do Sábado Santo uma noite de luz-artigo (1)

A Vigília Pascal faz parte do Tríduo Pascal

O Sábado Santo é chamado de Vigília Pascal. Na Igreja e na Liturgia Católica, antes de todas as grandes solenidades, há uma celebração de véspera ou vigília. A Vigília Pascal antecede o dia da Páscoa, o Domingo da Ressurreição de Jesus.

A Vigília Pascal faz parte também do Tríduo Pascal, onde vivemos com profundidade os passos de Jesus rumo ao Calvário, ao Sepulcro e à Ressurreição. Este Tríduo começa com a Quinta-feira Santa, pela conhecida “Missa do Lava-pés”, por meio da qual Jesus instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio, com uma recomendação: “Fazei isso em minha memória” (Lc 22,19). A Eucaristia e o Sacerdócio nasceram do coração de Jesus, em torno de uma mesa, para que se fosse cumprida uma promessa do Senhor: “Eis que estarei convosco, todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20). Tanto pela Eucaristia, como pelo Sacerdócio, o Senhor continua no meio de nós!

Na Sexta-feira Santa, até a natureza silencia-se. O Cordeiro é imolado. Jesus, morre na Cruz, rezando: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46)! E aí Jesus entrega toda a Sua história e missão. Jesus entrega a Igreja e toda a humanidade. Jesus nos entrega ao Pai. Com essa entrega, Ele coloca em prática o Seu ensinamento: “Ninguém tem maior amor do que Aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).

(…)

A cada dia mais um passo e mais próximo do ápice

Diante da Vigília Pascal, é como se a Igreja e cada fiel estivessem escalando uma alta montanha: cada dia mais um passo e mais próximo do ápice! A cada celebração do Tríduo Pascal, mais perto do cume, do lugar mais alto. Depois dessa caminhada, com o coração aberto e os olhos bem atentos no Senhor, chegamos à grande noite do Sábado Santo, da Vigília Pascal.

O Sábado Santo é celebrado ao escurecer do dia, à noite. Até as luzes da Igreja são apagadas. Todo o povo se reúne na escuridão. Esta Liturgia é muito rica nos sinais, nos gestos e símbolos. É na Vigília Pascal que acontece a bênção do fogo. O Círio Pascal, uma vela bem grande, é aceso no fogo novo, trazendo o ano que estamos vivendo e duas letras do alfabeto grego, ou seja, o Alfa e o Ômega, que representam Jesus, nossa Luz, Princípio e Fim de tudo e de todos, Senhor do tempo e da história!

Partes fundamentais da Vigília Pascal

A Vigília Pascal tem quatro partes fundamentais: Liturgia da Luz, da Palavra, do Batismo e da Eucaristia. É comum crianças e adultos serem batizados nesta celebração, quando todos renovam sua fé e confiança no Deus Altíssimo. A Palavra de Deus recorda toda caminhada do povo de Israel, aguardando o Messias, e apresenta Jesus como o verdadeiro Messias, Salvador. O Povo de Deus, pede a intercessão dos santos para que continuem perseverantes no seguimento de Jesus, que trouxe ao mundo uma Boa Notícia e alimenta-se da Eucaristia, remédio santo que cura as enfermidades do corpo e da alma.

(…)

A Vigília Pascal é uma celebração solene e com uma catequese muito profunda. Quando participamos, cheios de atenção e desejo de nos encontrarmos com o Senhor, ficamos maravilhados com a beleza e o esplendor em torno de Jesus, nossa Luz. A Vigília Pascal transforma a noite mais clara que o dia, e nos impulsiona a irmos ao encontro do Senhor Ressuscitado, para vê-Lo e acreditar na vitória da vida sobre a morte. A Ressurreição de Jesus torna o Sábado Santo uma Noite de Luz!

Publicado por Equipe Formação Portal Canção Nova.

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

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