Por que esta semana é Santa?

[Domingo, 02 de abril até sábado, 8 de abril]

Na Semana Santa, a Igreja Católica celebra os mistérios da salvação, levados ao cumprimento por Jesus Cristo nos últimos dias de Sua vida, a começar pelo Seu ingresso messiânico em Jerusalém. O tempo da Quaresma, o período de 40 dias, cujo início é na Quarta-feira de Cinzas, continua até a Quinta-feira Santa. A partir da Missa Vespertina da Quinta-feira (“in Cena Domini”/Ceia do Senhor) inicia-se o Tríduo Pascal que abrange a Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor e o Sábado Santo. E tem o seu ápice na Vigília Pascal e no Domingo da Ressurreição.

A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, que une num todo o triunfo real de Cristo e o anúncio de Sua Paixão. Desde a Antiguidade comemora-se a entrada do Senhor em Jerusalém com uma procissão solene. Com ela, os cristãos celebram esse evento, imitando as aclamações e os gestos das crianças hebreias, que foram ao encontro do Senhor com o canto do “Hosana” (o grito de exaltação e adoração ao messianismo de Jesus).

Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo

Durante a Semana Santa, a Igreja Católica celebra, todos os anos, os grandes mistérios da redenção humana. O Tríduo Pascal tem início na Quinta-feira Santa com a Missa do Lava-pés, expressão máxima da frase de Jesus: “Eu vim para servir, não para ser servido”. Nessa celebração, Cristo deixa o exemplo do amor ao próximo; nessa Missa também se recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Ao final da celebração, acontece a “Transladação do Santíssimo”, na qual o sacerdote recolhe as Hóstias Consagradas e as deposita no sacrário. Tudo isso acontece numa procissão luminosa, na qual, o povo, em silêncio e recolhimento, é chamado à adoração a Nosso Senhor Jesus Cristo, que vai entregar-Se como sacrifício.

Na Sexta-feira Santa recorda-se o dia em que Cristo entrega-Se como vítima pela humanidade. A celebração desse dia se dá em três partes: Liturgia da Palavra com o Evangelho da Paixão; adoração da cruz, com o tradicional beijo da cruz e distribuição da comunhão. Esse é o único dia em que não há Missa. Nesse dia, os católicos observam o jejum juntamente com a abstinência de carne, como também, guarda-se o silêncio numa atitude de oração e contemplação.

semana santa

Foto Ilustrativa: Arquivo CN/ cancaonova.com

Ressurreição de Cristo

Na noite do Sábado, segundo uma antiga tradição da Igreja Católica, celebra-se a chamada “Vigília Pascal”. Esta noite santa, em que Jesus ressuscitou, deve ser considerada como “mãe de todas as santas vigílias”. Esta celebração inclui a chamada “bênção do fogo novo” com uma procissão luminosa, por meio da qual os fiéis católicos renovam sua fé em Jesus: a luz do mundo; a proclamação solene da Páscoa com o canto do “Exultat“; as leituras do Antigo e Novo Testamentos; e a celebração de um batismo, que é expressão da vida nova que Jesus veio trazer. Os fiéis são convidados a cantar com alegria que Jesus ressuscitou.

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 O Domingo de Páscoa, para os católicos, marca o início de um novo ciclo ou como é chamado “O Tempo Pascal”, que se estende por cinquenta dias até a chamada Festa de Pentecostes (descida do Espírito Santo). Esses dias são vividos com a mesma intensidade e júbilo como se fossem um só e mesmo dia, o Dia da Ressurreição.

Equipe de Colunistas do Formação

Publicado em Formação Canção Nova.

À escuta de Deus

Uma das mais simples e talvez mais frequentes definições de oração é: «Rezar é falar com Deus». Sendo totalmente verdadeira esta afirmação, ela não deixa, no entanto, de levantar algumas dificuldades a essa mesma oração. A dificuldade está em, muitas vezes, não se saber o que dizer e como o dizer, exatamente porque o interlocutor é Deus. Ora se é verdade que rezar é falar com Deus, também é verdade que, nessa conversa, a iniciativa é sempre de Deus. É sempre o Senhor a ter a primeira palavra. É Ele quem inicia o diálogo e, por isso, da nossa parte, a primeira atitude não deverá ser a de falarmos, mas a de nos colocarmos na sua presença, procurando escutar o que Ele nos quer dizer. Se assim fizermos, perceberemos como a oração é habitualmente mais fácil do que aquilo que imaginamos.

Escutar torna-se, assim, naturalmente, o primeiro degrau de um diálogo com Deus que queremos que aconteça em cada dia das nossas vidas. Se pensarmos um pouco, veremos que é o que ocorre em qualquer conversa. Para poder saber o que uma pessoa diz, tenho que a escutar. Apesar de ser natural, escutar nem sempre é fácil. Com frequência, estamos viciados em tomar a iniciativa, em partir de nós, em fazer do nosso eu o centro do mundo. Escutar vai exigir-nos uma deslocação de nós para o outro. Deixamos de ser o centro para passar a ser o outro, aquele com quem queremos dialogar. Este sair de nós é sempre, em maior ou menor medida, um morrer para nós próprios. E por isso, tantas vezes, o querer rezar e o rezar se nos afiguram realmente difíceis.

Daqui e pela mesma razão advém também uma das dificuldades em fazer silêncio. Habitualmente, quando pensamos em silêncio, pensamos antes de mais em estar calados. E isso, num mundo e numa cultura que privilegia o ruído e em que todos têm que falar, dificulta muito uma verdadeira atitude de escuta, um silêncio suscitado pelo gosto de escutar o outro. Confundimos silêncio com mutismo e então o silêncio e a atitude de escuta, em lugar de se tornarem facilitadores da oração, erguem-se como obstáculos.

Temos que ir aprendendo a estar em silêncio, a escutar. Não ter medo de nos deslocarmos sem ter de levar conosco um leitor de mp3 ou algo que nos ocupe a atenção. Aceitar que os sons interiores e exteriores nos toquem, nos perturbem, inclusivamente nos incomodem, é um passo importante para nos começarmos a abrir, no nosso dia a dia, a um Deus que fala, como nos diz a Sagrada Escritura.

Um Deus que fala

O falar de Deus é também, muitas vezes, uma dificuldade. Como é que Ele fala? O que nos diz? Estas questões são suscitadas exatamente pelo interesse que temos em escutar a Deus e saber o que Ele quer para a nossa vida. Por outro lado, com alguma frequência, nos nossos dias, ouvimos relatos de pessoas que dizem ter falado com Deus e, sobretudo, que Deus fala com elas, transmitindo-nos a impressão, errada, de que Deus fala conosco da mesma forma que nós falamos uns com os outros.

Como nos recorda a carta aos Hebreus: «Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a Quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de Quem fez o mundo» (Heb 1, 1-2). O falar de Deus acontece, sobretudo e primordialmente, em Jesus Cristo. É n’Ele que nós vemos Deus a falar ao nosso modo. O próprio Jesus dirá: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15).

O falar de uma maneira humana em tudo igual a nós, com sujeito, predicado e complemento direto, de facto, aconteceu em Jesus Cristo. Desde que Ele regressou ao Pai, porém, o falar de Deus já não é dessa forma mas pelo Espírito Santo, que fala com acontecimentos e nos acontecimentos da nossa vida. Esta forma de falar, já não direta e articulada mas velada, obriga-nos a ter que contrariar a nossa tentação, tão atual, de querer ver tudo clara e imediatamente.

Teremos de aceitar a dificuldade em não entender logo o que Deus nos diz, como entendemos aquelas pessoas com quem diariamente nos cruzamos e com quem falamos. Somos, no entanto, chamados a estar atentos ao que em nós acontece, sentimentos, desejos, sonhos, projetos, e aonde somos levados pelo impacto que esses acontecimentos provocam quando os escutamos no mais profundo de nós.

Sérgio Diz Nunes, sj

Publicado em Passo a Rezar.

Palavra de Vida: “Tende coragem! Eu venci o mundo.” (João 16,33).

Com essas palavras concluem-se os discursos de despedida dirigidos por Jesus aos discípulos na sua última ceia, antes de morrer. Foi um diálogo denso, em que revelou a realidade mais profunda do seu relacionamento com o Pai e da missão que este lhe confiou.

Jesus está prestes a deixar a terra e voltar ao Pai, enquanto que os discípulos permanecerão no mundo para continuar a sua obra. Também eles, como Jesus, serão odiados, perseguidos, até mesmo mortos (cf. Jo 15,18.20; 16,2). Sua missão será difícil, como foi a Dele: “No mundo tereis aflições”, como acabara de dizer (16,33).

Jesus fala aos apóstolos, reunidos ao seu redor para aquela última ceia, mas tem diante de si todas as gerações de discípulos que haveriam de segui-lo, inclusive nós.

É a pura verdade: entre as alegrias esparsas no nosso caminho não faltam as “aflições”: a incerteza do futuro, a precariedade do trabalho, a pobreza e as doenças, os sofrimentos causados pelas calamidades naturais e pelas guerras, a violência disseminada em casa e entre os povos. E existem ainda as aflições ligadas ao fato de alguém ser cristão: a luta diária para manter-se coerente com o Evangelho, a sensação de impotência diante de uma sociedade que parece indiferente à mensagem de Deus, a zombaria, o desprezo, quando não a perseguição aberta, por parte de quem não entende a Igreja ou a ela se opõe.

Jesus conhece as aflições, pois viveu-as em primeira pessoa. Mas diz:

“Tende coragem! Eu venci o mundo.” 

Essa afirmação, tão decidida e convicta, parece uma contradição. Como Jesus pode afirmar que venceu o mundo, quando pouco depois é preso, flagelado, condenado, morto da maneira mais cruel e vergonhosa? Mais do que ter vencido, Ele parece ter sido traído, rejeitado, reduzido a nada e, portanto, ter sido clamorosamente derrotado.

Em que consiste a sua vitória? Com certeza é na ressurreição: a morte não pode mantê-lo cativo. E a sua vitória é tão potente, que faz com que também nós participemos dela: Ele torna-se presente entre nós e nos leva consigo à vida plena, à nova criação.

Mas antes disso ainda, a sua vitória consistiu no ato de amar com aquele amor maior, de dar a vida por nós. É aí, na derrota, que Ele triunfa plenamente. Penetrando em cada canto da morte, libertou-nos de tudo o que nos oprime e transformou tudo o que temos de negativo, de escuridão e de dor, em um encontro com Ele, Deus, Amor, plenitude.

Cada vez que Paulo pensava na vitória de Jesus, parecia enlouquecer de alegria. Se é verdade, como ele dizia, que Jesus enfrentou todas as contrariedades, até a adversidade extrema da morte e as venceu, também é verdade que nós, com Ele e Nele, podemos vencer todo tipo de dificuldade. Mais ainda, graças ao seu amor somos “mais que vencedores”: “Tenho certeza de que nem a morte, nem a vida […], nem outra criatura qualquer será capaz de nos separar do amor de Deus, que está no Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,37; cf. 1Cor 15,57).

Então compreende-se o convite de Jesus a não ter medo de mais nada:

“Tende coragem! Eu venci o mundo.”

Essa frase de Jesus poderá nos infundir confiança e esperança. Por mais duras e difíceis que possam ser as circunstâncias em que nos encontramos, elas já foram vividas e superadas por Jesus.

É verdade que não temos a sua força interior, mas temos a presença Dele mesmo, que vive e luta conosco. “Se tu venceste o mundo” – diremos a Ele nas dificuldades, provações, tentações – “saberás vencer também esta minha ‘aflição’. Para mim, para todos nós, ela parece um obstáculo intransponível. Temos a impressão de não dar conta. Mas com tua presença entre nós encontraremos a coragem e a força, até chegarmos a ser ‘mais que vencedores’”.

Não é uma visão triunfalista da vida cristã, como se tudo fosse fácil e coisa já resolvida. Jesus é vitorioso justamente no drama do sofrimento, da injustiça, do abandono e da morte. A sua vitória é a de quem enfrenta a dor por amor, de quem acredita na vida após a morte.

Talvez também nós, como Jesus e como os mártires, tenhamos de esperar o Céu para ver a plena vitória sobre o mal. Muitas vezes temos receio de falar do Paraíso, como se esse pensamento fosse uma droga para não enfrentar com coragem as dificuldades, uma anestesia para suavizar os sofrimentos, uma desculpa para não lutar contra as injustiças. Ao contrário, a esperança do Céu e a fé na ressurreição são um poderoso impulso para enfrentar qualquer adversidade, para sustentar os outros nas provações, para acreditar que a palavra final é a do amor que venceu o ódio, da vida que derrotou a morte.

Portanto, em qualquer dificuldade, seja ela pessoal ou de outros, renovemos a confiança em Jesus, presente em nós e entre nós: Ele venceu o mundo e nos torna participantes da sua própria vitória, Ele nos escancara o Paraíso, para onde foi preparar-nos um lugar. Desse modo encontraremos a coragem para enfrentar toda provação. Seremos capazes de superar tudo, Naquele que nos dá a força.

Fabio Ciardi 

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Movimento dos Focolares/Brasil.

Publicado em I. Católica.

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