Entenda o significado de cada dia da Semana Santa

O Domingo de Ramos, abre a Semana Santa, e para aprofundar e melhor viver cada dia da “Semana Maior”, confira o significado das celebrações:

Domingo de Ramos


O Domingo de Ramos abre, por excelência, a Semana Santa, pois celebra a entrada triunfal de Jesus Cristo, em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, a Morte e a Ressurreição.

Este domingo é chamado assim, porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão por onde o Senhor passaria montado num jumento. Com isso, Ele despertou, nos sacerdotes da época e mestres da Lei, inveja, desconfiança e medo de perder o poder. Começa, então, uma trama para condená-Lo à morte.

A liturgia dos ramos não é uma repetição apenas da cena evangélica, mas um sacramento da nossa fé, na vitória do Cristo na história, marcada por tantos conflitos e desigualdades.

Segunda-feira Santa


Neste dia, proclama-se, durante a Missa, o Evangelho segundo São João. Seis dias antes da Páscoa, Jesus chega a Betânia para fazer a última visita aos amigos de toda a vida. Está cada vez mais próximo o desenlace da crise. “Ela guardava este perfume para a minha sepultura” (cf. João 12,7); Jesus já havia anunciado que Sua hora havia chegado.

A primeira leitura é a do servo sofredor: “Olha o meu servo, sobre quem pus o meu Espírito”, disse Deus por meio de Isaías. A Igreja vê um paralelismo total entre o servo de Javé cantado pelo profeta Isaías e Cristo. O Salmo é o 26: “Um canto de confiança”.

Terça-feira Santa

A mensagem central deste dia passa pela Última Ceia. Estamos na hora crucial de Jesus. Cristo sente, na entrega, que faz a “glorificação de Deus”, ainda que encontre, no caminho, a covardia e o desamor. No Evangelho, há uma antecipação da Quinta-feira Santa. Jesus anuncia a traição de Judas e as fraquezas de Pedro. “Jesus insiste: ‘Agora é glorificado o Filho do homem e Deus é glorificado nele’”.

A primeira leitura é o segundo canto do servo de Javé; nesse canto, descreve-se a missão de Jesus. Deus o destinou a ser “luz das nações, para que, a salvação alcance até os confins da terra”. O Salmo é o 70: “Minha boca cantará Teu auxílio.” É a oração de um abandonado, que mostra grande confiança no Senhor.

Quarta-feira Santa

Em muitas paróquias, especialmente no interior do país, realiza-se a famosa “Procissão do Encontro” na Quarta-feira Santa.

Os homens saem, de uma igreja ou local determinado, com a imagem de Nosso Senhor dos Passos; as mulheres saem de outro ponto com Nossa Senhora das Dores. Acontece, então, o doloroso encontro entre a Mãe e o Filho. O padre proclama o célebre “Sermão das Sete Palavras”, fazendo uma reflexão, que chama os fiéis à conversão e à penitência.

Quinta-feira Santa

Santos óleos
Uma das cerimônias litúrgicas da Quinta-feira Santa é a bênção dos santos óleos usados durante todo o ano pelas paróquias. São três os óleos abençoados nesta celebração: o do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos.
Ela conta com a presença de bispos e sacerdotes de toda a diocese. É um momento de reafirmar o compromisso de servir a Jesus Cristo.

Lava-pés
O Lava-pés é um ritual litúrgico realizado, durante a celebração da Quinta-feira Santa, quando recorda a última ceia do Senhor.
Jesus, ao lavar os pés dos discípulos, quer demonstrar Seu amor por cada um e mostrar a todos que a humildade e o serviço são o centro de Sua mensagem; portanto, esta celebração é a maior explicação para o grande gesto de Jesus, que é a Eucaristia.
O rito do lava-pés não é uma encenação dentro da Missa, mas um gesto litúrgico que repete o mesmo gesto de Jesus. O bispo ou o padre, que lava os pés de algumas pessoas da comunidade, está imitando Jesus no gesto; não como uma peça de teatro, mas como compromisso de estar a serviço da comunidade, para que todos tenham a salvação, como fez Jesus.

Instituição da Eucaristia
Com a Santa Missa da Ceia do Senhor, celebrada na tarde ou na noite da Quinta-feira Santa, a Igreja dá início ao chamado Tríduo Pascal e faz memória da Última Ceia, quando Jesus, na noite em que foi traído, ofereceu ao Pai o Seu Corpo e Sangue sob as espécies do Pão e do Vinho, e os entregou aos apóstolos para que os tomassem, mandando-os também oferecer aos seus sucessores.
A palavra “Eucaristia” provém de duas palavras gregas “eu-cháris”, que significa “ação de graças”, e designa a presença real e substancial de Jesus Cristo sob as aparências de Pão e Vinho.

Instituição do sacerdócio
A Santa Missa é, então, a celebração da Ceia do Senhor, quando Jesus, num dia como hoje, véspera de Sua Paixão, “durante a refeição, tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é meu corpo’.” (cf. Mt 26,26).
Ele quis, assim como fez na última ceia, que Seus discípulos se reunissem e se recordassem d’Ele abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim”. Com essas palavras, o Senhor instituiu o sacerdócio católico e deu-lhes poder para celebrar a Eucaristia.

Sexta-feira Santa

A tarde da Sexta-feira Santa apresenta o drama incomensurável da morte de Cristo no Calvário. A cruz, erguida sobre o mundo, segue de pé como sinal de salvação e esperança. Com a Paixão de Jesus, segundo o Evangelho de João, contemplamos o mistério do Crucificado, com o coração do discípulo Amado, da Mãe, do soldado que o transpassou o lado. Há um ato simbólico muito expressivo e próprio deste dia: a veneração da santa cruz, momento em que esta é apresentada solenemente à comunidade.

Via-sacra
Ao longo da Quaresma, muitos fiéis realizam a Via-Sacra como uma forma de meditar o caminho doloroso que Jesus percorreu até a crucifixão e morte na cruz.
A Igreja nos propõe esta meditação para nos ajudar a rezar e a mergulhar na doação e na misericórdia de Jesus que se doou por nós. Em muitas paróquias e comunidades, são realizadas a encenação da Paixão, da Morte e da Ressurreição de Jesus Cristo por meio da meditação das 14 estações da Via-Crucis.

Sábado Santo

O Sábado Santo não é um dia vazio, em que “nada acontece”. Nem uma duplicação da Sexta-feira Santa. A grande lição é esta: Cristo está no sepulcro, desceu à mansão dos mortos, ao mais profundo que pode ir uma pessoa. O próprio Jesus está calado. Ele, que é Verbo, a Palavra, está calado. Depois de Seu último grito na cruz – “Por que me abandonaste?” –, Ele cala no sepulcro agora. Descanse: “tudo está consumado!”.

Vigília Pascal
Durante o Sábado Santo, a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando Sua Paixão e Morte, Sua descida à mansão dos mortos, esperando, na oração e no jejum, Sua Ressurreição. Todos os elementos especiais da vigília querem ressaltar o conteúdo fundamental da noite: a Páscoa do Senhor, Sua passagem da morte para a vida.
A celebração acontece no sábado à noite. É uma vigília em honra ao Senhor, de maneira que os fiéis, seguindo a exortação do Evangelho (cf. Lc 12,35-36), tenham acesas as lâmpadas, como os que aguardam seu senhor chegar, para que, os encontre em vigília e os convide a sentar à sua mesa.

Bênção do fogo
Fora da Igreja, prepara-se a fogueira. Estando o povo reunido em volta dela, o sacerdote abençoa o fogo novo. Em seguida, o Círio Pascal é apresentado ao sacerdote. Com um estilete, o padre faz nele uma cruz, dizendo palavras sobre a eternidade de Cristo.
Assim, ele expressa, com gestos e palavras, toda a doutrina do império de Cristo sobre o cosmos, exposta em São Paulo. Nada escapa da Redenção do Senhor, e tudo – homens, coisas e tempo – estão sob Sua potestade.

Procissão do Círio Pascal
As luzes da igreja devem permanecer apagadas. O diácono toma o Círio e o ergue, por algum tempo, proclamando: “Eis a luz de Cristo!”. Todos respondem: “Demos graças a Deus!”.
Os fiéis acendem suas velas no fogo do Círio Pascal e entram na igreja. O Círio, que representa o Cristo Ressuscitado, a coluna de fogo e de luz que nos guia pelas trevas e nos indica o caminho à terra prometida, avança em procissão.

Proclamação da Páscoa
O povo permanece em pé com as velas acesas. O presidente da celebração incensa o Círio Pascal. Em seguida, a Páscoa é proclamada.
Esse hino de louvor, em primeiro lugar, anuncia a todos a alegria da Páscoa, a alegria do Céu, da Terra, da Igreja, da assembleia dos cristãos. Essa alegria procede da vitória de Cristo sobre as trevas. Terminada a proclamação, apagam-se as velas.

Liturgia da Palavra
Nesta noite, a comunidade cristã se detém mais que o usual na proclamação da Palavra.
As leituras da vigília têm uma coerência e um ritmo entre elas. A melhor chave é a que nos deu o próprio Cristo: “E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes (aos discípulos de Emaús) o que dele se achava dito em todas as Escrituras” (Lc 24, 27).

Domingo da Ressurreição

É o dia santo mais importante da religião cristã. Depois de morrer crucificado, o corpo de Jesus foi sepultado, ali permaneceu até a ressurreição, quando seu espírito e seu corpo foram reunificados. Do hebreu “Peseach”, Páscoa significa a passagem da escravidão para a liberdade.
A presença de Jesus ressuscitado não é uma alucinação dos Apóstolos. Quando dizemos “Cristo vive” não estamos usando um modo de falar, como pensam alguns, para dizer que vive somente em nossa lembrança.

Fonte: Jovens Conectados – com Portal Canção Nova 

Por que esta semana é Santa?

[Domingo, 02 de abril até sábado, 8 de abril]

Na Semana Santa, a Igreja Católica celebra os mistérios da salvação, levados ao cumprimento por Jesus Cristo nos últimos dias de Sua vida, a começar pelo Seu ingresso messiânico em Jerusalém. O tempo da Quaresma, o período de 40 dias, cujo início é na Quarta-feira de Cinzas, continua até a Quinta-feira Santa. A partir da Missa Vespertina da Quinta-feira (“in Cena Domini”/Ceia do Senhor) inicia-se o Tríduo Pascal que abrange a Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor e o Sábado Santo. E tem o seu ápice na Vigília Pascal e no Domingo da Ressurreição.

A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, que une num todo o triunfo real de Cristo e o anúncio de Sua Paixão. Desde a Antiguidade comemora-se a entrada do Senhor em Jerusalém com uma procissão solene. Com ela, os cristãos celebram esse evento, imitando as aclamações e os gestos das crianças hebreias, que foram ao encontro do Senhor com o canto do “Hosana” (o grito de exaltação e adoração ao messianismo de Jesus).

Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo

Durante a Semana Santa, a Igreja Católica celebra, todos os anos, os grandes mistérios da redenção humana. O Tríduo Pascal tem início na Quinta-feira Santa com a Missa do Lava-pés, expressão máxima da frase de Jesus: “Eu vim para servir, não para ser servido”. Nessa celebração, Cristo deixa o exemplo do amor ao próximo; nessa Missa também se recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Ao final da celebração, acontece a “Transladação do Santíssimo”, na qual o sacerdote recolhe as Hóstias Consagradas e as deposita no sacrário. Tudo isso acontece numa procissão luminosa, na qual, o povo, em silêncio e recolhimento, é chamado à adoração a Nosso Senhor Jesus Cristo, que vai entregar-Se como sacrifício.

Na Sexta-feira Santa recorda-se o dia em que Cristo entrega-Se como vítima pela humanidade. A celebração desse dia se dá em três partes: Liturgia da Palavra com o Evangelho da Paixão; adoração da cruz, com o tradicional beijo da cruz e distribuição da comunhão. Esse é o único dia em que não há Missa. Nesse dia, os católicos observam o jejum juntamente com a abstinência de carne, como também, guarda-se o silêncio numa atitude de oração e contemplação.

semana santa

Foto Ilustrativa: Arquivo CN/ cancaonova.com

Ressurreição de Cristo

Na noite do Sábado, segundo uma antiga tradição da Igreja Católica, celebra-se a chamada “Vigília Pascal”. Esta noite santa, em que Jesus ressuscitou, deve ser considerada como “mãe de todas as santas vigílias”. Esta celebração inclui a chamada “bênção do fogo novo” com uma procissão luminosa, por meio da qual os fiéis católicos renovam sua fé em Jesus: a luz do mundo; a proclamação solene da Páscoa com o canto do “Exultat“; as leituras do Antigo e Novo Testamentos; e a celebração de um batismo, que é expressão da vida nova que Jesus veio trazer. Os fiéis são convidados a cantar com alegria que Jesus ressuscitou.

Leia mais:
:: 
A cruz representa Cristo e o amor que Ele tem por nós
:: A espiritualidade da Sexta-feira Santa
:: Páscoa, seu real sentido
:: Nossa religião gira em torno da Páscoa

 O Domingo de Páscoa, para os católicos, marca o início de um novo ciclo ou como é chamado “O Tempo Pascal”, que se estende por cinquenta dias até a chamada Festa de Pentecostes (descida do Espírito Santo). Esses dias são vividos com a mesma intensidade e júbilo como se fossem um só e mesmo dia, o Dia da Ressurreição.

Equipe de Colunistas do Formação

Publicado em Formação Canção Nova.

Quaresma: um caminho para salvação

Quaresma nos motiva a não fazermos as pazes com nossas paixões desenfreadas, ou atitudes anticristãs, um convite a buscarmos o bem, e principalmente a combatermos o mal que muitas vezes tenta nos desconfigurar da “imagem e semelhança de Deus” que fomos criados. Todos nós cristãos somos chamados à conversão contínua para alcançarmos a “estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4,13).

No contexto social são intensos os preparativos para se comemorar as festas de significados relevantes. Quanto mais importante é a festa, mais tempo reservamos para as preparações, e nessas preparações já começamos a experimentar a alegria do que iremos comemorar.

De maneira análoga, porém, mistagógica, a Igreja propõe aos fiéis católicos um caminho de santidade a ser preparado e percorrido por um longo período, em dois ciclos que possuem uma dinâmica própria de celebração, são eles: o ciclo do Natal e o ciclo da Páscoa. Ambos os ciclos têm “o seu momento forte” da celebração propriamente dita, porém, precedido pela vivência da preparação, e sucedido por um prolongamento, chamado Mistério pascal.

O período de quarenta dias, compreendido entre a Quarta-feira de Cinzas e a Quinta-feira Santa pela manhã, é um tempo forte na vida da Igreja, tempo em que percorremos o caminho para a Páscoa, a celebração do “Grande Sacramento Pascal”, da Morte e Ressurreição de Jesus e nossa. A solenidade da Páscoa ultrapassa todas as outras do ano litúrgico.  É a maior de todas as festas cristãs, portanto, requer uma esmerada preparação. Seu objetivo, não se restringe apenas a um momento circunscrito do plano da salvação, mas o abrange em sua plenitude.Nesses quarenta dias a Liturgia da Palavra leva-nos a fazermos memória dos quarenta anos do povo de Deus no deserto, a revivermos os quarenta dias que Jesus passou no deserto, preparando-se para a sua missão outorgada pelo Pai.

É um tempo de aprimorada escuta da Palavra de Deus, de oração mais intensa, de jejum com firme propósito de mudança de vida. Tempo de reconciliação com Deus e com os irmãos, tempo de esmola (caridade), de partilha, de gestos solidários, de atenção aos pobres e necessitados. 

A Quaresma nos motiva a renunciarmos nossas paixões desenfreadas, ou atitudes anticristãs, um convite a não somente a buscarmos o bem, mas a combatermos o mal que muitas vezes tenta nos desconfigurar da “imagem e semelhança de Deus”. Todos nós cristãos somos chamados à conversão contínua para atingirmos a “estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4,13).

Para melhor vivenciarmos esse rico Tempo litúrgico, a Igreja nos oferece celebrações relevantes para a nossa conversão, são elas: Quarta-feira de Cinzas, através da qual abrimos esse tempo de preparação pascal: “Convertei-vos, e crede no Evangelho!” Depois temos cinco Domingos da Quaresma, quando nos reunimos para celebrar a presença viva do Senhor que nos mostra o caminho para a vitória definitiva da Páscoa. E então vem o Domingo de Ramos, no qual lembramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde ele sofrerá a Paixão e mergulhará na morte, para depois ressuscitar vitorioso. Ainda como parte da Quaresma, celebramos na Quinta-feira Santa, pela manhã, a Missa dos Santos Óleos.

Peçamos ao Senhor que nos conceda a graça da perseverança e fidelidade ao seu plano de amor por nós, que nos conduz ao caminho da nossa salvação.

Oremos: Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

Perguntas para a reflexão: 

  1. O que significa para você a Quaresma?
  2. O que você costuma fazer no Tempo da Quaresma?
  3. O que lembra para você o Tempo da Quaresma?
  4. Como viver hoje o Tempo da Quaresma, na família, na comunidade, individualmente?

Texto: Zilbete Gonzaga | Revisão de Texto: Padre César Almeida Siqueira, sdb | Imagens: Internet | Design Imagem Capa: Ricardo Campolim – Pascom

Publicado em Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora (Salesianos)

Das humilhações e desprezos que Jesus Cristo sofreu

Flagelação de Cristo, por Caravaggio
Flagelação de Cristo, por Caravaggio

Vidimus eum… despectum et novissimum virorum – “Vimo-lo… feito um objeto de desprezo e o último dos homens” (Is 53, 3)

Sumário. Quem pudera jamais imaginar que, tendo o Filho de Deus vindo à terra a fazer-se homem por amor dos homens, viesse a ser tratado por eles com tamanhos insultos e injúrias, como se fosse o último e o mais vil de todos? No entanto, assim aconteceu. Jesus foi traído por Judas, negado por Pedro, abandonado por seus discípulos, tratado de louco, açoitado qual escravo, e, afinal, proposto ao homicida Barrabás, foi condenado a morrer crucificado. Ah! Se este exemplo de Jesus Cristo não cura o nosso orgulho, não há remédio que o possa curar.

I. Diz Bellarmino que os desprezos causam mais pena às almas grandes do que as dores do corpo. Com efeito, se estas afligem a carne, aqueles afligem a alma, cuja pena é tanto maior quanto ela é mais nobre que o corpo. Mas quem teria jamais imaginado que o personagem mais digno do céu e da terra, o Filho de Deus, vindo ao mundo a fazer-se homem por amor dos homens, houvesse de ser tratado por estes com tamanhos desprezos e injúrias, como se fosse o último e o mais vil dos mortais? No entanto, assim aconteceu, pelo que Isaías disse: Vimo-lo desprezado e feito o último dos homens.

E que qualidade de afrontas não sofreu o Redentor em todo o tempo de sua vida, e especialmente em sua Paixão? Viu-se exposto a afrontas da parte de seus próprios discípulos. Um deles o traiu e vendeu por trinta dinheiros. Outro negou-o muitas vezes, mostrando assim que se envergonhava de o ter conhecido. Os outros discípulos, vendo-o preso e amarrado, fugiram todos e o abandonaram: Tunc discipuli eius, relinquentes eum, omnes fugerunt (1). Se Jesus Cristo foi tratado assim pelos seus próprios discípulos, faze-te uma ideia de como havia de ser tratado pelos seus inimigos mais encarniçados!

Ai, meu Senhor! No Sinédrio de Caifás vejo-Vos amarrado como um malfeitor; esbofeteado como homem insolente, declarado réu de morte como usurpador sacrílego da dignidade divina; e como homem já condenado ao suplício, vejo-Vos entregue à discrição de um canalha que Vos maltrata com pontapés, escarros e empurrões. Na casa de Herodes, Vos vejo, ó meu Jesus, feito alvo dos escárnios daquele rei impuro e de toda a sua corte; vejo-Vos coberto de um manto branco, tratado como ignorante e louco, e levado assim pelas ruas de Jerusalém. – No pretório de Pilatos, Vos vejo açoitado com milhares de golpes, qual servo rebelde, coroado de espinhos qual rei de teatro; posposto ao homicida Barrabás, e, finalmente, condenado a morrer crucificado. Por isso, vejo-Vos, por último, no Calvário, crucificado entre dois ladrões, praguejado, amofinado, insultado e feito o mais vil dos homens, homem de dores e opróbrios. Ai meu pobre Senhor!

II. As injúrias e os desprezos que Jesus Cristo quis sofrer no tempo de sua Paixão, foram tantos e tão grandes, que, no dizer de Santo Anselmo, não podia ser mais humilhado, do que realmente o foi. E o devoto Taulero diz que é opinião de São Jerônimo, que as penas sofridas por nosso Senhor, especialmente na noite que precedia a sua morte, só serão plenamente conhecidas no dia do juízo.

Mas para que tantos desprezos? É São Pedro quem no-lo diz: Jesus Cristo quis desta forma mostrar-nos quanto nos ama e ensinar-nos pelo seu exemplo a sofrermos resignadamente os desprezos e as injúrias: Christus passus est pro nobis, vobis relinquens exemplum, ut sequamini vestigia eius (2). Eis porque Santo Agostinho, falando das ignomínias padecidas pelo Senhor, conclui: “Se esta medicina não cura o nosso orgulho, não sei que outro remédio o possa curar!”

Ah, meu Jesus! Vendo um Deus tão desprezado por meu amor, não poderei eu sofrer o mais pequeno desprezo por vosso amor? Eu, pecador e orgulhoso? E d’onde, meu divino Mestre, me pode vir este orgulho? Pelos merecimentos das afrontas que tendes suportado por mim, dai-me a graça de sofrer, com paciência e com alegria, as afrontas e as injúrias. Proponho com vosso auxílio, d’aqui em diante, não me entregar mais ao ressentimento e receber com alegria todos os opróbrios de que eu possa ser alvo. Mereceria outros desprezos, porque desprezei a vossa divina Majestade e mereci os desprezos do inferno. E Vós, meu amado Redentor, me fizestes verdadeiramente doces e amáveis as afrontas, quando aceitastes tantas afrontas por meu amor. Proponho além disso, para Vos agradar, fazer todo o bem que eu puder àquele que me desprezar, ao menos dizer bem dele e orar por ele. Desde já Vos peço que acumuleis todas as vossas graças sobre os de quem tenha recebido alguma injúria. Amo-Vos, bondade infinita, e quero amar-Vos sempre com todas as minhas forças. – Ó minha aflita Mãe, Maria, alcançai-me a santa perseverança.

Referências:

(1) Mc 14, 50
(2) 1 Pd 2, 21

Publicado em Rumo à Santidade.

Jesus, a luz que ilumina o mundo

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A extraordinária cura de um cego de nascença mostra como Deus não julga o exterior, mas olha dentro do coração humano (Jo 9,1-41). Aquele que é humilde, fraco, sofredor tem a preferência divina ao contrario dos que julgam pelos critérios humanos os quais valorizam os poderosos. Jesus viu alguém que não enxergava desde seu nascimento, desprezado, considerado pecador ou filho daqueles que haviam pecado e logo dele se compadeceu. Ante um julgamento tão negativo, Ele, que era luz do mundo, se encheu de compaixão perante a cegueira daquele homem. Fez um gesto surpreendente. Antes de simplesmente abrir os olhos do cego cuspiu no chão e fez barro com a saliva e aplicou-o aos olhos daquele sofredor. Cumpre penetrar no significado daquele sinal de Cristo que a primeira vista poderia parecer estranho. Há nele um duplo sentido. No início da Bíblia o Gênesis relata no capítulo segundo que Deus modelou o ser humano com o barro da terra. Era o aparecimento do homem. Pelo gesto de Jesus agora era um homem novo que ele entranhava no cego. Surgia uma nova vida deste encontro com o poderoso taumaturgo e tanto isto é verdade que, mais tarde, no reencontro com Cristo o cego curado fez um ato salvífico de fé: “Eu creio, Senhor. E O adorou”. Jesus lhe restituíra a visão corporal e espiritual. Aquele lodo de que se serviu Cristo era o símbolo do barro do pecado que deforma o olhar humano. São as faltas que impedem de ver a Deus como Pai e o próximo como irmão. Entretanto, Jesus, o taumaturgo, sana também o olhar errôneo que cada um tem sobre si mesmo. Muitos se julgam santos, quando na verdade o mal está enraizado na sua vida pela prática do desprezo dos mandamentos da Lei do Senhor. Jesus então manda ir não já à piscina de Siloé, mas ao sacramento da Confissão, fonte onde se lavam todas as maldades, todos os erros. Depara-se então com Aquele que é a luz que ilumina o mundo. A cura do cego de nascença suscitou inúmeras dúvidas entre seus conhecidos e os fariseus. Quantos incrédulos ainda hoje há no mundo que não creem no poder miraculoso de Jesus para si, para os outros, para quantos nele confiam! Não percebem que é possível a conversão dos que se extraviam e não são capazes também de perdoar os outros. A quaresma, mais do que um tempo de penitência, deve ser um contexto de acolhimento aos outros e a si mesmo. Recepção generosa da Luz de Deus, esta Luz que é Jesus e que deve aclarar a vida de seus seguidores, aumentando-lhes a fé nos mistérios revelados. O cego de nascença não havia nada pedido a Jesus, mas foi Jesus que tomou a iniciativa. Cristo está, sobretudo na Quaresma, à porta de cada coração e bate. Ele quer iluminar todos os recantos deste coração para que seu discípulo possa contemplá-lo na Eucaristia, na pessoa do próximo, nas belezas da natureza. Ele veio ao mundo como luz para restabelecer inteiramente a dignidade humana. O cego de nascimento que reconheceu a divindade de Cristo se tornou seu seguidor e sublinha a necessidade de que haja um apostolado devotado para que outros cegos passem a enxergar as maravilhas de Deus em seu derredor. A cura do cego fez surgir controvérsias e tomadas de posição. Isto faz lembrar o ilogismo daqueles que se opõem ao bom senso e à fé que se deve ter em Jesus e na sua verdadeira Igreja católica. Muitos são aqueles que como os pais do cego se esquivam para não se comprometer e até traem sua crença religiosa por interesses muitas vezes irrisórios. Não querem complicar sua vida, mas abandonam a luminosidade de Jesus. O encontro pessoal com Cristo deve levar a uma profissão completa de fé, porque senão, como disse Jesus, o pecado permanece. Jesus oferece sempre oportunidade para uma escolha sábia entre as trevas e a luz. Aquele que prefere sua cegueira espiritual, porém, não tem escusas, dado que Deus, como aconteceu com o cego do Evangelho, oferece oportunidade para uma cura total. Ele, contudo, não força a liberdade humana. Os fariseus continuaram os verdadeiros cegos e foram repreendidos pelo Mestre divino. Felizes, contudo, os que acolhem o dom da fé e vivem na luz de Cristo dentro da Igreja que guia, conduz e salva. É preciso enxergar a evidência da presença de Deus no decorrer de todas as horas, tendo com Ele uma amizade pessoal, íntima. Solicitar a Jesus para guardar junto de seu coração amoroso todos os passos cotidianos. Assim outros também descobrirão como é doce e suave uma existência sob a luminosidade divina.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Publicado em Arquidiocese de Mariana.

Quaresma: Tempo de crescer no amor

Assim como nossa vida é feita de momento mais fortes e momentos mais “fracos”, a nossa vida espiritual também acaba passando por esses altos e baixos. Para nos ajudar a não cair na tibieza espiritual e no cansaço diante da oração, da vida sacramental, e para nos ajudar a seguir e crescer espiritualmente a nossa Santa Igreja, nos dá também durante o ano litúrgico tempos mais “fortes espiritualmente”: Quaresma e Advento.

A Quaresma é o tempo no qual nos preparamos para a Páscoa, mas não somente a Páscoa da ressurreição de Cristo. O crescimento espiritual que teremos durante a Quaresma nos prepara também para a nossa páscoa, ou seja, a nossa passagem desta vida. Por isso, é muitíssimo importante aproveitar este tempo e crescer no Amor, na Caridade, na Penitência, e subjugar cada vez mais a nossa carne para que possamos fortalecer o espírito.

Nossa religião nos ensina os meios que temos de nos unir a Jesus:

Se você não está em estado de graça, o primeiro passo é se confessar e restabelecer o amor no seu próprio coração. Para que possa colher os frutos das obras a seguir.

1º Se você está em estado de graça, você precisa de um tempo para amar Jesus!

Vá a Igreja, visite o sacrário com mais frequência! Como você poderá amar alguém se não passa tempo com essa pessoa? Quando amamos, somos atraídos por aquele que amamos! Então, vamos procurar Cristo e aumentar a oração direcionada para o próprio Amor, que é Deus. Então mais que pedir coisas, mais que falar de si, contemple Cristo na tua oração, e deixe Deus falar no seu coração.

Vá mais ao Sacrário, Comungue com fervor, intensifique as orações!

Atenção: O DIABO NÃO QUER QUE FAÇAMOS ISSO! Então surgirão muitas dificuldades. O próprio Cristo foi tentado no deserto 3 vezes. Satanás tem inveja porque NUNCA verá a Deus, então por ódio ele vai fazer de tudo para que você também nunca contemple a Deus no céu. A oração nos ajuda a caminhar a cada dia mais para o céu, então tenha uma certeza: você será tentado de alguma forma a não crescer na sua vida de oração! Você vai sentir preguiça, vai pensar “ah… mas e já rezo o suficiente”, “ah, mas por que isso??”. Seja forte!

2º É preciso fazer Penitência: tirar do seu corpo os caprichos da criança mimada que é o seu corpo!

Não dê ao seu corpo tudo aquilo que ele quer. Assim como educamos uma criança assim, devemos nos educar assim também. Quando você dá tudo ao seu corpo, você mergulha no tédio e na tristeza, e para sair dessa tristeza precisa recorrer a subterfúgios: álcool, comida em excesso, drogas, pornografia, masturbação, programas de TV inúteis, horas e horas em Redes Sociais, etc.

A penitência, algo que tire do nosso corpo os prazeres da carne, nos ajudará a ficar mais saudáveis fisicamente e espiritualmente. Por que?

Negando ao seu corpo egoísta o que ele quer, você vai estar abrindo a porta para amar Jesus. Você estará abrindo espaço no seu coração, para receber a graça que Deus quer dar a você durante a sua oração.Padre Paulo Ricardo

Assim, o Jejum/Penitência é o complemento da Oração! É como se a penitência “turbinasse” a oração, pois é a penitência o que abre o meu coração para colher os frutos da oração, assim, aos poucos vendo os frutos dessa oração na minha vida eu cada vez mais desejo ter essa Presença perto de mim.

3º Melhorar na Caridade

Todo esse amor que alimentamos nos passos anteriores, se transforma não só em ação para com os irmãos mas em questionamentos também: Como eu estou tratando as pessoas com as quais eu mais convivo? Como eu tenho sido? Sou impaciente desmedidamente? Tenho sido bom? No meu trabalho, puxo tapetes? Procuro o meu bem acima do das outras pessoas?

A caridade, as obras de amor, também nos ajudam a praticar uma fagulha do amor com o qual Deus nos ama, nos fazendo amar o nosso próximo, o que agrada a Deus e nos aproxima dEle. A caridade pode ser frutos da Penitência e Oração, mas também pode ser um passo que nos ajudem a melhorar nos outros dois.

Ajuda para viver a Quaresma:

É importante nos darmos conta de que Jesus venceu o Inimigo! O Senhor colocou a nosso serviço os Santos Anjos e Ele próprio é a fonte da Graça, a fonte inesgotável do Amor.
O desejo de Cristo é que nós amemos a Deus, como Deus se ama na Santíssima Trindade e como Deus nos ama.

Nos momentos de dificuldade e em que somos atacados por Satanás e seus demônios, que NÃO QUEREM QUE NÓS CAMINHEMOS PRO CÉU, devemos recorrer aos Anjos! No Evangelho do 1º Domingo da Quaresma vemos que os anjos estavam a serviço de Cristo no deserto, e Cristo venceu as tentações! Os anjos também estão a nosso serviço e nós também temos a capacidade, pela graça de Deus, de vencer as tentações!

Então, vamos pedir a ajuda dos Santos Anjos para que nos ajudem a bem viver a Quaresma.

Publicado em Paróquia Bom Pastor.

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