SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – 07.01.2024

O AMOR DE DEUS ENFIM SE MANIFESTOU A TODA HUMANIDADE

Nós vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt. 2,2).

A liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus Cristo a todos os seres humanos. De modo semelhante à estrela que guia os magos, Jesus é a “luz” que se acende na noite de uma humanidade desolada e distante de Deus e que atrai a si, pela redenção, todos os povos da terra. Realizando o plano salvador que o Pai desejava ardentemente nos oferecer, Ele se encarnou na nossa história, iluminou os nossos caminhos, conduzindo-nos ao encontro da vida em plenitude. Acendamos esta luz em nossos corações que nossos caminhos, vida e missão sejam perenemente iluminados ao deste ano

A primeira leitura (Is. 60,1-6), retirada do Livro do Profeta Isaías, nos revela como o plano de amor de Deus foi sendo construído ao longo dos séculos através da Promessa, da Fé e da Esperança, até atingir a sua plenitude com a chegada do Messias. A volta dos exilados para a Cidade Santa traz nova esperança. Ainda que os exilados encontrem a cidade sem o esplendor de outrora, o nascer do sol refletindo nas pedras brancas dos muros de Jerusalém anunciam novos tempos. Isaías fala de uma cidade santa, mas envolta em trevas. Tais trevas são vistas não como sinal da noite temporal, mas sim da humanidade distante do seu Criador e carente de sua Graça. Por isto, ditando palavras de ordem e encorajamento – como se percebe pelos verbos utilizados no tempo imperativo – o profeta anuncia a chegada da luz salvadora, esta luz transfigurará Jerusalém na cidade das luzes e reunirá na cidade de Deus todos os habitantes do mundo transformados em um só povo de irmãos. As primeiras comunidades cristãs paulatinamente compreenderam que esta luz salvadora da qual falava o profeta se tratava do Messias. Ainda que o Messias nasça em outra cidade de Judá – Belém – é de Jerusalém que Ele fará brilhar a sua luz antes inacessível. Será nela que o Messias um dia doará sua vida e fará surgir sobre a humanidade um esplendor nunca antes vislumbrado: a Ressurreição.

Assim, na segunda leitura (Ef. 3,2-3a.5-6), o Apóstolo Paulo, apresenta aos Efésios o plano salvador de Deus como uma realidade concreta que atinge toda a humanidade, congregando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos – a comunidade de Jesus. Daquilo que estava dividido (judeus e pagãos), Deus fez uma unidade (o Corpo de Cristo ou a Igreja).

No Evangelho (Mt. 2,1-12), vemos a concretização da Promessa anunciada pelo profeta Isaías: representando todos os povos, os reis magos rumam ao encontro de Jesus. Segundo uma tradição dos primeiros séculos do cristianismo, cada um dos magos pertence a uma cultura diferente: Melchior da Ásia, Baltazar da Pérsia e Gaspar da Etiópia. Eles representam assim, as três raças conhecidas no mundo antigo. Eles são os povos estrangeiros de que falava a primeira leitura (cf. Is. 60,1-6), que buscando a libertação se colocam a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro, incenso e mirra) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade santa.

Além de apresentar Jesus como a Luz buscada pelo coração humano, Mateus aproveita para apresentar uma catequese sobre as atitudes de cada um diante de Deus. Já no seu nascimento o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os pagãos o reverenciam (os magos do oriente). Herodes e todo o povo de Jerusalém, mesmo conhecendo as Escrituras, preocupados com a manutenção do poder vigente, ficam perturbados. Ao invés de alegrarem-se com a notícia do nascimento do menino, arquitetam a sua morte. Enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador. Mateus assim nos ensina que ao longo de sua vida e missão, Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo, todavia vai ser acolhido pelos pagãos, que farão parte do novo Povo de Deus, conforme anunciado pelo Apóstolo Paulo na segunda leitura e por João no prólogo do seu Evangelho. (cf. Jo. 1,9-13) – (Reflitamos: Como reagimos diante do cumprimento das promessas de Deus? Nos alegramos e nos disponibilizamos para colaborar em seu plano salvífico? Ou nos perturbamos porque achamos que o plano de Deus irá “atrapalhar” a realização dos nossos planos pessoais e individuais?)

A longa peregrinação dos reis magos para contemplar o Deus Menino, nos revela que também nós necessitamos fazer nossa peregrinação. Eles se mantiveram atentos aos sinais da chegada do Messias, O procuraram com esperança até O encontrar. E reconheceram n’Ele a “salvação de Deus” e O adoraram como “O Senhor”. A salvação que tantas vezes foi rejeitada pelos habitantes de Jerusalém tornou-se um dom que Deus oferece a toda humanidade, sem exceção. Assim como a luz tênue de uma estrela serviu de sinal, Deus se serve de diferentes sinais e se manifesta constantemente e de várias maneiras a nós. Nos sacramentos, em especial, no sacramento da Eucaristia, na sua Palavra proclamada, na pessoa do Sacerdote, na Igreja/Comunidade reunida para celebrar, no amor caloroso e acolhedor de nossa Família, etc.

Os reis magos representam os habitantes de todo o mundo que vão ao encontro de Jesus Cristo, que acolhem a proposta salvadora que Ele traz e que se prostram diante d’Ele. É a Igreja – somos uma família de irmãos, constituída por pessoas de todas as cores, raças e línguas. Nós – seus discípulos – seguimos convictos a Jesus e O reconhecemos como o Nosso Senhor. Cabe a nós que já O acolhemos, ajudar a todos que O desejam encontrar, nos utilizando de todos os sinais que Deus nos oferece para fazer o mundo inteiro enfim saber que Ele está Vivo, Encarnado e no meio de nós!

Pe. Paulo Sérgio Silva

Publicado em Diocese de Crato.

Contemplar o Natal

Confira todos os capítulos desta riquíssima obra do Pe. Francisco Faus!

Contemplar o Natal

A Adoração dos Magos

Adoração dos Reis Magos ao Menino Jesus

«Prostrando-se, o adoraram»

Neste último capítulo, vamos continuar a olhar para os Magos, contemplando-os agora na cena da adoração, que o Evangelho descreve assim: Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram (cf. Mt 2, 9-12). Muitos pintores famosos deixaram-nos quadros belíssimos dessa cena. Ajoelhados ou inclinados perante o Menino Jesus, os Magos o adoram, com o olhar extasiado, e lhe oferecem os presentes que trouxeram. No centro desta bela cena, aparece uma palavra que merece a nossa reflexão: a palavra «adorar». É uma das atitudes mais elevadas, mais sadias e mais necessárias para nós, os homens, especialmente nos nossos tempos. Não duvide de que tudo iria muito melhor, em nossa vida e no mundo, se aprendêssemos a adorar a Deus.

Contemplar o Natal

A Estrela dos Magos

A Estrela de Belém e os Reis Magos

Uns magos vieram do Oriente

Em todo presépio que se preze, sempre estão presentes as figuras dos três Reis Magos, montados em seus camelos e com um cortejo de pajens e oferendas. Eles avançam pela estrada que leva a Belém. Quantos de nós não fizemos avançar suas figurinhas de barro no presépio, um centímetro por dia, até colocá-los aos pés de Jesus Menino na data em que a Igreja comemora a sua chegada, 6 de Janeiro. O Evangelho (cf. Mt 2, 1-10) não diz se eram mesmo três, nem de que país procediam. Mas usa uma expressão – «magos» – que naquele tempo designava, no Oriente, homens sábios, homens de ciência e estudo, conselheiros de reis (talvez por isso o povo cristão usou chamá-los de «Reis» Magos). Diante deles, marcando o rumo, brilhou no início do caminho uma estrela, que logo se ocultou e reapareceu mais brilhante quando já se aproximavam de Belém.

Contemplar o Natal

Jesus nasce em Belém

Nascimento de Jesus em Belém

A Luz veio ao mundo

O nascimento de Jesus (cf. Lc 2, 1-20) é contemplado pela Liturgia da Igreja sob o símbolo da Luz: «Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz!»; «O povo que caminhava na escuridão viu uma grande luz»; «Hoje surgiu a luz para o mundo: o Senhor nasceu para nós». Todas essas expressões são um eco das palavras do prólogo do Evangelho de São João:

No princípio era o Verbo […] e o Verbo era Deus. […] Nele estava a Vida, e a vida era a Luz dos homens. […] Era a Luz verdadeira, que vindo ao mundo, ilumina todo homem […]. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós (Jo 1, 1 seg.)

Neste capítulo, a nossa meditação quer ser mais contemplativa: ajudar-nos a voltar os olhos e o coração para Jesus Menino, que repousa sobre as palhas do Presépio, envolto nos paninhos que a Mãe lhe preparou, de modo a sentirmos o impulso de agradecer-lhe a sua entrega «por nós, homens e para a nossa salvação», e de adorá-lo: Meu Senhor e meu Deus!

Contemplar o Natal

Jesus nasce em Belém

Menino Jesus reclinado em uma Manjedoura

Reclinou-O numa Manjedoura

Dos arredores de Belém, onde contemplávamos os pastores, vamos passar neste capítulo para a cidade, a cidadezinha onde Maria e José chegaram buscando pousada. Ao olhar para eles, procuraremos fazer uma meditação que seja, ao mesmo tempo, uma contemplação e um exame de consciência pessoal, como que um pequeno retiro espiritual de preparação para o Natal. Há uma coisa que vemos em todos os presépios: o lugar onde Jesus nasceu é desamparado, um pobre estábulo onde se recolhe o gado. Umas vezes, tem a aparência de uma gruta – assim deve ter sido na realidade – e outras, a de um telheiro ou galpão de adobe e tábuas, chão batido e palha. A tradição do presépio é fiel ao Evangelho (Lc 2, 1-7), pois nele se diz que Maria e José chegaram a Belém para se recensear, e

estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o numa manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem.

Contemplar o Natal

Os Pastores

Pastores adorando Menino Jesus

Os Pastores Vigiavam

Vamos dirigir a atenção, neste capítulo, àqueles pastores que cuidavam dos seus rebanhos nos arredores de Belém na noite em que Jesus nasceu (Lc 2, 8-20). As suas figuras estão em todos os presépios, e são dignas de ser contempladas, porque eles foram os primeiros a adorar o Menino Deus na noite de Natal. Não é por acaso que Deus lhes anunciou essa alegria em primeiro lugar, antes que a ninguém mais. É porque eram criaturas simples e Deus ama, juntamente com a humildade, a simplicidade de coração. Talvez você se lembre daquelas palavras que Jesus proferiu com entusiasmo: Eu te dou graças, Pai, Senhor do Céu e da terra, porque revelaste estas coisas – as grandezas da nossa Redenção – aos pequeninos, aos simples.

Contemplar o Natal

As Alegrias de Maria e Isabel. A Alegria do Espírito Santo

Neste capítulo (cada capítulo do livro é uma meditação íntima), vamos transportar-nos de novo, com a imaginação, para a cena da Visitação de Maria a santa Isabel. Acabamos de considerar nas páginas anteriores a bela lição de caridade – «adivinhar» e «adiantar-se» -, que Nossa Senhora nos dá. Contemplaremos agora lições de «alegria» e de «humildade». Lendo o relato da Visitação no Evangelho (Lc 1, 41-55), impressiona ver que a visita de Nossa Senhora a santa Isabel foi uma grande explosão de alegria. Vemos aí a alegria de Deus fundida com a alegria das duas futuras mães e com a alegria dos filhos que ambas trazem no seio: Jesus e João Batista. Todos ficam inundados de júbilo. O Evangelho narra assim: Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, o menino [o futuro São João Batista] saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então Isabel olhou, encantada, para Maria e exclamou em voz alta:

Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E de onde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor? Pois logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio.

Contemplar o Natal

Maria visita Isabel. Coração aberto ao Próximo

Maria visita sua prima Isabel

No primeiro capítulo, víamos Maria abrir as portas do coração a Deus, respondendo com um sim cristalino àquilo que o Anjo lhe anunciava da parte do Senhor. Como resposta de Deus àquele sim da Virgem, o Verbo se fez carne no seu ventre imaculado. Não é difícil imaginar como Maria deve ter se sentido depois da Anunciação. Trazia Deus no seu seio. Começava a amar a Deus com amor de Mãe. Teria sido lógico que se ensimesmasse, que ficasse concentrada em si mesma, que se absorvesse no mistério divino que habitava nela. Como não ficar pensando no Filho, na vida nova que começava para ela, no futuro que jamais teria imaginado? Agir desse modo seria humano, seria lógico. Mas ela não fez assim: não ficou enclausurada em si, concentrada no seu mistério interior, mesmo tendo fortes razões para fazê-lo.

Contemplar o Natal

José: O Amor Fiel. Um Homem Justo

São José, Amor fiel. Um homem Justo

Vamos contemplar, neste capítulo, a figura de são José. No presépio, ele costuma estar um pouco recuado, quase na sombra, olhando para o Menino e amparando Maria e Jesus com a sua vigilância carinhosa. Que figura, a de são José! O Evangelho o define com uma só palavra: era justo (Mt 1, 19). Vale a pena meditarmos nisso. Pode ajudar-nos lembrar que, quando a Bíblia afirma que alguém é justo, quer dizer que é bom, que é reto, que está sempre «ajustado» com Deus, ou seja, que vive sempre em sintonia com Deus, com os seus preceitos e os seus pedidos. Numa palavra, que é santo e que, por isso mesmo, também é íntegro e honesto com os outros. Essas qualidades brilham mais quando lembramos que São José teve um caminho bastante sofrido, misto de sombras e de luzes, até chegar ao Natal. Foi reto no meio das perplexidades, foi totalmente leal a Deus e a Maria nos dias desconcertantes em que não podia entender o que estava acontecendo.

Contemplar o Natal

A Aurora do Natal: Maria

Virgem Maria: Aurora do Natal

O raiar da antemanhã

Depois de uma noite escura de séculos, um dia surgiu sobre o mundo a luz de um novo amanhecer: apareceu Maria, criatura em quem se refletia sem sombras a imagem de Deus, pois foi concebida livre da mancha do pecado original. Quem é esta que avança como a aurora que desponta? – pergunta a Liturgia, com palavras do Cântico dos Cânticos (6, 10), e responde que é a Virgem Maria, preparada por Deus desde toda a eternidade para ser a digna Mãe do seu Filho, a aurora do Sol nascente, que é Cristo (Lc 1, 78). Há uma oração em honra de Nossa Senhora, que reza assim: «A maternidade de Maria foi a aurora da Salvação». E o Bem-aventurado Paulo VI, comentando essa frase poética, dizia:

O aparecimento de Nossa Senhora no mundo foi como a chegada da aurora que precede a luz da salvação, que é Cristo Jesus. Foi como o abrir-se sobre a terra, toda coberta pela lama do pecado, da mais bela flor que jamais tenha desabrochado no vasto jardim da humanidade. (Homilia, 08.09.1964)

Publicado em Rumo à Santidade.