A devoção ao Sagrado Coração de Jesus (Solenidade – 2025)

Conheça a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, qual a sua origem, como se popularizou, quais são as suas promessas e como praticá-la.

Quando é a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus em 2025?

Em 2025, celebraremos a festa do Sagrado Coração de Jesus no dia 27 de junho — oito dias depois da solenidade de Corpus Christi, conforme o decreto do Papa Pio IX.

Conheça a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, qual a sua origem, como se popularizou, quais são as suas promessas e como praticá-la.

É parte da cultura universal fazer referência ao coração quando o assunto é sentimento, especialmente amor. Sem dúvida, o coração é um símbolo do amor. Imagine então o coração do próprio Jesus! João foi o único apóstolo que teve a graça de se reclinar no peito de Jesus, na última Ceia. Ele ouviu o pulsar do Coração que mais amou os homens.

Neste artigo, você vai conhecer a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Ela pode ser considerada a fonte de todas as devoções, pois consiste numa devoção intimamente ligada ao Amor do próprio Deus por cada um de nós.

O que é a devoção ao Sagrado Coração de Jesus?

Na linguagem bíblica, o coração quer dizer “toda a pessoa na sua unidade de consciência, inteligência, liberdade. O coração indica a interioridade do homem, como também a sua capacidade de pensar: é a sede da memória, centro de escolhas e projetos.” 1 A devoção ao Sagrado Coração de Jesus revela, sobretudo, o infinito amor de Deus por cada um de nós, seus filhos. Sendo assim, é também um chamado para que aprendamos a amar como Ele nos amou — e ama.

Em primeiro lugar, Deus quis ter um coração de carne. Isso se torna evidente na Encarnação do Verbo, pois Ele se fez homem, através de Jesus Cristo, para nos amar com o coração de Seu Filho. “O objeto específico dessa devoção é o imenso amor do Filho de Deus, que O levou a entregar-se por nós à morte e a dar-se inteiramente a nós no Santíssimo Sacramento do Altar.” 2Dessa forma, a devoção ao Sagrado Coração resulta também na devoção a Jesus Eucarístico, portanto é um dogma de fé.

Ao se fazer homem, viver tudo como nós — exceto o pecado —, e ainda sofrer e morrer numa cruz, Cristo nos convence de que um coração humano é capaz de amar. E nos convence também do Seu amor por nós. Se para nós é difícil compreender que Deus, Criador de todo o universo, nos ama, talvez seja mais simples imaginar que um homem, humano como nós, nos ama e anseia pelo nosso amor.

Por isso, viver essa devoção é honrar de todas as formas possíveis — por meio de orações, adorações, agradecimentos etc. — tudo quanto Cristo fez por nós, especialmente entregar-se na Santa Eucaristia.

As origens da devoção

A França é filha primogênita da Igreja. Ela foi um berço de santos e também um lugar de aparições marianas, como La Salette (em 1846) e Lourdes (em 1858). E foi neste país que Deus quis também despertar a devoção ao Seu Sagrado Coração.

Alguns místicos na Idade Média, como Matilde de Magdeburg (1212-1283) e o Beato dominicano Enrico Suso (1295 – 1366) já cultivavam a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. E em 1672, João Eudes, sacerdote francês, celebrou esta festa pela primeira vez. 1 Mas foram especialmente com as revelações de Nosso Senhor feitas à mística francesa Santa Margarida Maria Alacoque, a partir de 1673, que a devoção se propagou ainda mais.

Santa Margarida Maria Alacoque

Santa Margarida Maria Alacoque nasceu em 1647. Era de uma família católica e recebeu uma boa formação cultural e religiosa. No entanto, seus pais hesitavam em deixá-la ir para o convento, como era sua vontade. Contudo, depois de ter sido curada de uma doença — tinha convicção da intervenção divina —, entra para a Ordem da Visitação, aos 24 anos.

Foi uma freira e mística francesa da Ordem da Visitação. Ela recebeu visões de Jesus e de Maria, as quais revelaram o poder do Sagrado Coração de Jesus. A primeira vez que o Senhor lhe apareceu — em 27 de dezembro de 1673 — foi na capela do convento Visitação de Paray-le-Monial, enquanto o Santíssimo Sacramento estava exposto e a santa em profundo recolhimento interior.

Na segunda aparição, a santa decide ofertar o seu coração a Cristo, que lhe adverte o quanto ela teria de sofrer dali em diante para que a devoção fosse difundida. Mas também a consola com a certeza de estar sempre unido a ela, como o esposo à esposa. Ela relatava todas as visões ao seu diretor espiritual, o padre jesuíta francês Jean Croiset, que encorajado pela própria Santa deixa uma grande obra escrita sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Por fim, o Senhor apresenta a Santa Margarida o seu desejo de que o Rei da França (Luís XIV) consagre a si mesmo e toda a sua corte ao Sagrado Coração de Jesus. Apesar de o pedido ter sido negado, e de toda a prudência da Igreja, muitos bispos permitiram a fundação de confrarias em honra a esta preciosa devoção ao longo do século XVIII. E, desde então, a devoção só aumentou. 3

Santa Margarida Maria Alacoque morre aos 43 anos, em 1690, depois de muito sofrer e lutar para propagar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus

Nas aparições de Nosso Senhor à Santa Margarida Maria Alacoque, Ele revela como está o seu coração, que é desprezado pelos homens diariamente: “Eis o Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se poupou até se esgotar e consumir para testemunhar-lhes o seu amor; e em reconhecimento não recebo da maior parte deles senão ingratidões por meio das irreverências e sacrilégios, tibiezas e desdéns que usam para comigo neste sacramento de amor. E o que mais me custa é tratar-se de corações a mim consagrados os que assim me tratam.”

Mas, além das visões, o próprio Jesus revela que cumprirá grandes promessas na vida daqueles que se dedicarem, de fato, à devoção ao Seu Sagrado Coração. Não se sabe exatamente quem as enumerou em 12, como conhecemos hoje, mas é certo que elas estão contidas nas revelações, conforme os registros da própria Santa Margarida.

Conheça as 12 promessas

1ª: “A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração”;

2ª: “Eu darei aos devotos de Meu Coração todas as graças necessárias a seu estado”;

3ª: “Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias”;

4ª: “Eu os consolarei em todas as suas aflições”;

5ª: “Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte”;

6ª: “Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos”;

7ª: “Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias”;

8ª: “As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção”;

9ª: “As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição”;

10ª: “Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos”;

11ª: “As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração”;

12ª: “A todos os que comunguem, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna”.

A popularização da devoção

Depois da morte de Santa Margarida, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi se popularizando cada vez mais. O processo de reconhecimento e aprovação da Igreja também é prudente, a Festa do Sagrado Coração de Jesus foi instituída quase dois séculos depois das aparições. No entanto, isso não impediu que muitos mantivessem uma devoção particular durante esses anos. Vamos conhecer agora alguns acontecimentos que contribuíram para propagar a devoção.

A revolta da Vendeia

A revolta da Vendeia acontece em meio à Revolução Francesa. A região da Vendeia era uma área rural que, anos antes da revolução, foi evangelizada por São Luís de Montfort. Ele esteve lá pregando em missões, e a fé do povo se manteve de tal forma que os princípios da revolução foram por ele contrariados. Mesmo com a pobreza da região, os camponeses se recusaram a invadir e tomar as terras da nobreza, porque estas não lhe pertenciam.

Era um povo simples, mas de muita fé. Conheciam os mandamentos que lhes foram ensinados pelo santo e diziam que fazer aquilo seria atentar contra os mandamentos “não roubar” e “não cobiçar as coisas alheias”. A pregação de São Luís contemplava também o culto mariano e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus — o que foi refúgio para essa gente católica durante a revolução.

Logo, diversos homens e mulheres, nobres, padres e leigos se uniram para resistir à revolução e poderem viver a sua fé. A imagem do Sagrado Coração — como na visão de Santa Margarida: “um coração em chamas, coroado de espinhos e encimado por uma cruz”, 4 — passou a ser para eles um distintivo e também uma proteção contra os males da época.

Inclusive, muitas pessoas, durante a revolução, foram levadas à prisão e até mortas por confeccionar, distribuir ou portar a estampa do Sagrado Coração. Os contrarrevolucionários de Vendeia usavam uma insígnia do Sagrado Coração, onde se tinha escrito “Dieux le Roi“, que quer dizer, Deus é Rei.

Conheça a história dos Mártires do Sagrado Coração!

A recomendação dos Papas

A devoção foi sancionada em uma bula papal em 1794, pelo Papa Pio VI, a Auctorem Fidei. Na beatificação de Santa Margarida Maria Alacoque, pelo Papa Pio XI, ele diz: “Não havia nada mais caro ao Coração de Jesus do que acender no coração dos homens a mesma chama de amor que ardia no seu. A fim de alcançar este objetivo, Ele quis que se estabelecesse e se difundisse na Igreja a devoção ao seu Sacratíssimo Coração.”

Além disso, a devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus aparece recomendada por muitos outros pontífices no decorrer da história da Igreja. Papa Leão XIII, Inocêncio XII, Bento XIII, Clemente XIII, Pio VI e Pio IX contribuíram devotamente para a sua propagação. A encíclica Haurietis Aquas — promulgada em 15 de maio de 1956 —, do venerável Papa Pio XII, foi o maior documento pontifício a fundamentar com excelência a devoção, no que diz respeito a sua teologia. 5

Já Pio IX enfatizava a necessidade do sacrifício e da oração para que Nosso Senhor reinasse nos corações dos homens. Os Padres da Igreja viram no coração de Jesus aberto de Jesus, na Cruz, a origem dos sacramentos, a Eucaristia e sobretudo o sacerdócio. Também São João Paulo II afirma que o Coração de Jesus é fonte de santidade e que nele tem início a nossa santidade. É este coração que nos leva a compreender o amor de Deus e o mistério do pecado. 6

Festa litúrgica

Na segunda aparição, em 1675, depois de revelar Seu coração dilacerado, Jesus pede à Santa Margarida: “Por isso, que seja constituída uma festa especial para honrar meu Coração na primeira sexta-feira depois da oitava do corpo de Deus [Corpus Christi]. Comungue-se, nesse dia, e seja feita a devida reparação por meio de um ato de desagravo, para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo que fica exposto sobre os altares. Eu te prometo que o meu Coração se dilatará, para derramar com abundância os benefícios de seu divino amor sobre os que lhe tributarem essa honra e procurarem que outros a tributem” 7

E, na última aparição de Nosso Senhor à Santa Margarida, Ele pede que seja instituída uma festa litúrgica para honrar o Seu Sagrado Coração. Depois de muitas dificuldades — como já previsto —, em 1856, o Papa Pio IX estabelece a Festa do Sagrado Coração de Jesus como obrigatória para toda a Igreja. Então, ela passa a ser celebrada na sexta-feira após a oitava de Corpus Christi, como pedido pelo próprio Cristo. Em 28 de junho de 1889, o Papa Leão XIII promulga um decreto por meio do qual a festa do Sagrado Coração de Jesus é elevada à dignidade de primeira classe no calendário litúrgico romano.

(…)

Um livro para se aprofundar na Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

As aparições de Nosso Senhor à Santa Margarida são um apelo para que possamos amar e reparar o Sagrado Coração de Jesus. Deus vem primeiro até nós, revela o Seu amor e nos convida a amá-lo de volta. Agora cabe a nós buscar os meios de responder a esse amor, como é o desejo do Seu Sacratíssimo Coração.

Uma das formas de fazer isso é se aprofundar no conhecimento da devoção. Para isso, um livro que pode nos ajudar é “A Devoção ao Sagrado Coração”, do Pe. Jean Croiset. Ele foi amigo do confessor de Santa Margarida Maria Alacoque, o qual acompanhou de perto os relatos de suas visões.

(…)

Livro sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Esta preciosa obra conta com uma linguagem de fácil compreensão. É um livro completo sobre o tema. Ele vai te ajudar a entender no que consiste a devoção, a conhecer os meios para obtê-la e a colocá-la em prática — com exercícios e meditações para todas as semanas do ano. Além disso, ela apresenta orações próprias para dias específicos.

A própria Santa Margarida incentivou o padre a escrever tal obra para divulgar essa singular devoção. Por isso, este é um verdadeiro tesouro para a vida espiritual de todo católico que deseja corresponder ao amor de Jesus Cristo e reparar o Seu Coração tão desprezado e, muitas vezes, esquecido pelos homens.

(…)

Oração ao Sagrado Coração de Jesus

Sagrado Coração de Jesus ofereço-vos, através do Coração Imaculado de Maria, mãe da Igreja, em união com o Sacrifício Eucarístico, as orações, obras, sofrimentos e alegrias deste dia, em reparação das nossas ofensas e pela salvação de todos os homens, com a graça do Espírito Santo, para a glória do Pai Divino. Amém. 1

Reze também a Consagração ao Sagrado Coração de Jesus!

Referências

  1. Vatican News, SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS[][][]
  2. Pe. Jean Croiset S.J., Devoção ao Sagrado Coração de Jesus, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 19. []
  3. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 9.[]
  4. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 60.[]
  5. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 42.[]
  6. São João Paulo II, Homilia, Junho de 1999[]
  7. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 54.[]

Publicado em Minha Biblioteca Católica.

Leia mais: ORAÇÕES JACULATÓRIAS – SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS.

Veja também: Filme A história de Santa Margarida Maria Alacoque e o Sagrado Coração de Jesus:

Solenidade da Santíssima Trindade

15/06/2025

Tudo na vida começa e termina com o Sinal da Cruz, no qual invocamos Deus que é Uno e Trino (ou seja, que é um só Deus e, ao mesmo tempo, é Pai e Filho e Espírito Santo). É assim ao se levantar, ao tomar as refeições, ao iniciar os trabalhos, diante de um perigo e, por fim, na hora de ir dormir. A Santa Missa, a nossa comunhão com o Céu, começa e termina invocando-se a Santíssima Trindade. Sim, Deus é origem e fim de tudo em nossas vidas!

Por isso hoje a Igreja, tendo passado por todos os mistérios da nossa salvação durante o ano litúrgico (o nascimento, a paixão, a morte, a ressurreição e a ascensão de Cristo, e com o envio do Espírito Santo), faz-nos contemplar um mistério grandioso da nossa fé: a Santíssima Trindade.

Neste dia é oportuno não só recordar o que sabemos deste mistério de nossa fé, mas também lembrar que fomos batizados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” e desde então chamados a viver a vida da Trindade, agora, aqui na terra, e depois no céu. Por isso hoje eu vos convido a contemplar o mistério e a lembrar o que ele significa em nossas vidas:

1. Contemplar o mistério: quem é Deus?

Uma das mais belas definições de Deus está numa das epístolas de S. João. Se lhe perguntássemos “Quem é Deus?”, o discípulo amado nos responderia: “Deus é amor” (1). E por essa definição podemos começar uma reflexão muito simples para perceber a Trindade:

Se Deus é amor, a quem Ele ama? Os homens? Sim, mas os homens começaram a existir há certo tempo. A quem Deus amava antes? O universo? Sim, mas também o universo foi criado, e em um determinado tempo não existia! Então Deus ama a si mesmo? Isso seria um egoísmo se Deus fosse uma pessoa só… então, isso quer dizer que…

Aqui surge a resposta que nos foi revelada por Cristo: Deus é Amor porque ama com amor infinito seu Filho. Eis a Santíssima Trindade: em Deus há um que ama (Pai), outro que é amado (Filho) e o amor que os une (Espírito Santo).

E quem nos revelou este mistério? Jesus Cristo! Ele nos revelou o Pai e nos deu o Espírito Santo. Se Cristo não nos tivesse revelado nunca saberíamos que Deus é assim! Foi o que disse S. Tomás de Aquino (2).

Pouco a pouco, como um bom professor (na pedagogia divina), Deus foi nos revelando quem Ele É. No Antigo Testamento fica bem claro que há um só Deus, evitando assim o erro do politeísmo (3). Deus falou-nos como se fala com um amigo, assim como ouvimos na Primeira Leitura na experiência de Moisés!

E no Novo Testamento Jesus confirma que Deus é um, mas diz também que Nele existem três Pessoas diferentes. Por isso ouvimos no Evangelho aquela conversa noturna com Nicodemos, em que Cristo revela tesouros preciosos sobre a nossa fé, principalmente sobre a Trindade!

É claro que amor é mistério, ou seja, vai além da razão. Não seria possível apenas com os nossos raciocínios e a nossa capacidade intelectual chegar a essa conclusão. E ainda que Deus tenha nos revelado em Jesus quem Ele é, a penumbra do mistério vai continuar sempre, nesta vida, até o dia em que “ante o fulgor daquela luz, não haverá duvidas” (4).

2. Viver o mistério: Deus nos ama e mora em nós!

a) Como Deus nos ama?

  • Tanto Deus amou o mundo que nos criou: Ele nos amou desde o princípio, quando nos tirou do nada. É por seu amor que somos sustentados na existência. Se por um minuto Deus deixasse de nos amar (de pensar em nós) desapareceríamos, para sempre!
  • Tanto Deus amou o mundo que nos redimiu: Tendo o pecado nos afastado Dele, Ele veio em nosso socorro. E por isso enviou seu Filho que nos mostrou o rosto misericordioso do Pai e pagou o preço do nosso regaste, se fazendo vítima por nossas ofensas.
  • Tanto Deus amou o mundo que nos santifica: E tudo isso começou pelo Batismo, quando as portas do céu foram abertas para nós. E o Espírito Santo nos conduz para que não nos desviemos do caminho. E assim caminhamos para a vida eterna, que não é outra coisa senão Deus mesmo.

b) Como Deus mora em nós?

É importante falar também no dia de hoje sobre o “mistério da inabitação divina”, ou seja, da presença de Deus na alma humana através da Graça. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (5). É o mistério da adoção divina. É de certa forma já uma antecipação do Céu…

Foi para isso que fomos criados, redimidos e santificados! Somos criaturas que foram elevadas à ordem sobrenatural. E assim podemos conhecer e amar a Deus. Desde o batismo Deus mesmo mora na alma humana e a conduz para viver para sempre na intimidade divina.

Por fim, chamo a atenção para a bela a oração de Moisés ao Senhor, na primeira leitura: “Caminha conosco!” (Ex 34, 9). Pela divina revelação de Cristo podemos fazer uma oração mais ousada que a de Moisés: “Senhor, vem morar em nós para que possamos morar em Vós!”.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém!

(1) Cf. 1Jo 4, 8.16. (2) cf. Suma Teológica, I, q. 32, a.1. (3) Cf. Dt 6, 4. (4) S. Agostinho, De Trinitate, L. XV, c. 25, n. 45. (5) Jo 14, 23.


Textos para meditação

01 | Disse S. Catarina de Sena: “Tu, Trindade eterna, és mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro, e quanto mais descubro, mais te busco” (S. Catarina de Sena, Diálogo, 167).

02 | Sabemos que Deus começa a fazer morada em nós pelo Batismo, mas é pela Eucaristia que toda a Trindade passa a nos ser ainda muito mais íntima. Foi o que disse um abade beneditino: “A alma que acaba de comungar é um verdadeiro santuário, porque a Eucaristia, ao comunicar-lhe o corpo e o sangue de Cristo, lhe dá além disso a divindade do Verbo unido em Jesus com laços indissolúveis à natureza humana. (…) Quando a Trindade fixa em nós sua morada nossa alma se converte no céu, onde se realizam as misteriosas operações da vida divina” (Dom Columba Marmion, Jesuscristo em sus mistérios, Ed. Difusión Chielena S.A., Santiago: 1943, p. 437-438).

03 | Se Deus é comunhão, e como somos feitos a sua imagem e Ele mora em nós, nós só nos realizamos no amor, na vida fraterna. É o que São Paulo nos fala na sua Epístola aos Coríntios. Os gestos concretos dessa presença divina em nós são: alegria, aperfeiçoamento, coragem, concórdia e a paz.  É desta carta, vale lembrar, que a Igreja tira a saudação utilizada no início da Missa: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós (2Cor 13, 13).

04 | “Oh, meu Deus, Trindade a quem adoro! Ajuda-me a esquecer-me totalmente de mim, para estabelecer-me em Vós, imóvel e tranquila, como se minha alma estivesse já na eternidade. Que nada possa perturbar minha paz, nem fazer-me sair de Vós. Oh meu imutável! Senão que a cada minuto me mergulhe mais na profundidade de vosso mistério” (Elisabete da Trindade, Notas Íntimas, em Obras Selectas, BAC, Madrid: 2000, p. 110-112).

Padre Anderson Santana Cunha

Publicado em Pastor Bonus.

Homilia Dominical | Três lições da Ascensão para as nossas vidas (Solenidade da Ascensão do Senhor)

01 de junho de 2025

Ao meditarmos sobre o mistério da Ascensão do Senhor, percebemos três lições fundamentais para progredirmos na vida espiritual: a humildade de nos recolhermos interiormente, a eficácia da presença de Jesus entre nós e o desapego das realidades deste mundo. Essas três realidades nos mostram que a Ascensão do Senhor possui implicações bastante concretas em nossa vida. Ouça a homilia dominical do Padre Paulo Ricardo e perceba como o mistério da Ascensão do Senhor ecoa ainda hoje em nossas vidas.

Publicado em Padre Paulo Ricardo.

MISSA DE INÍCIO DE PONTIFICADO DO PAPA LEÃO XIV (Domingo – 18.05.2025)

Publicado em Brasil Paralelo.

—x—

SAIBA MAIS

Publicarei, em breve, neste blog, outros aspectos a respeito do futuro Papado do Santo Padre, Leão XIV, e sobre seu ideário.

Robert Prevost, 69, é o novo papa Leão 14, primeiro americano da história – ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS).

(Obs.: O trecho da matéria, com conteúdo rico em informações, foi editado sem a continuidade do raciocínio do autor, no caso, André Fontenelle: “Ele é tido como mais progressista no campo social do que outros cardeais americanos —considerados conservadores e, em muitos casos, opostos a Francisco—, mas sem inclinação para…”).

De Chicago ao Vaticano: conheça a trajetória de Leão XIV, eleito papa aos 69 anos – Brasil Paralelo.

A Paixão do Senhor segundo São Lucas – Homilia Dominical (Domingo de Ramos da Paixão do Senhor)

O Domingo de Ramos marca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, mas também é o único domingo dedicado a uma meditação especial sobre sua Paixão, que, neste ano, é narrada pelo Evangelho de São Lucas.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 22, 14 -23, 56)

Neste domingo, celebramos o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, que marca o início da Semana Santa. Chegamos, portanto, ao final dos quarenta dias de jejum e penitência, a Quaresma — período especialíssimo para vivermos, com verdadeira devoção, a Paixão de Cristo. 

O Domingo de Ramos marca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, mas também é o único domingo dedicado a uma meditação especial sobre sua Paixão. Embora a Sexta-feira Santa seja a ocasião própria para isso, ela não é um dia de preceito e não há Missa propriamente, apenas a Celebração da Adoração da Cruz. Como nem todos participam das celebrações do Tríduo Pascal, a Igreja garante que, pelo menos no Domingo de Ramos, os fiéis ouçam a narrativa da Paixão de Nosso Senhor.

Neste ano, seguimos o relato de São Lucas sobre a Paixão, que possui detalhes singulares. A descrição começa na Última Ceia, onde Jesus institui a Eucaristia, entregando-se completamente. São Pedro, entusiasmado, acredita estar pronto para agir de modo semelhante a Jesus. Essa cena nos convida a refletir sobre nossa atitude ao comungar: ao receber a Eucaristia, não apenas nos aproximamos de Jesus, mas somos chamados a nos doar como Ele. Frequentemente, como Pedro, acreditamos estar preparados, sem perceber nossas fragilidades.

No Evangelho de São Lucas, Jesus nos desmascara, mas também nos assegura que está rezando por nós. Pedro, cheio de entusiasmo, declara: “Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte” (Lc 22, 33). Porém, Jesus o adverte: “Simão, Simão, olha que Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo. Eu, porém, rezei por ti, Pedro, para que a tua fé não se apague. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32). Nosso Senhor também diz a Pedro que, antes que o galo cante, por três vezes o Apóstolo o negaria. Apesar disso, Jesus já intercede por ele, para que sua fé não se apague e, depois de convertido, fortaleça os irmãos. Esse diálogo exclusivo de Lucas nos mostra que Jesus nos escolhe para uma missão, mas também conhece nossas quedas. Diferente de nós, que muitas vezes rompemos alianças por causa de traições, Jesus já prevê nossas falhas e, mesmo assim, reza por nossa conversão, esperando que voltemos a Ele.

De fato, é maravilhoso saber que Nosso Senhor reza por nós. Ao comungarmos, oferecemos nossa vida a Ele, que conhece nossa fraqueza e já intercede por nós. Assim, mesmo nossas quedas podem se tornar oportunidade de fortalecer os irmãos, pois, uma vez restaurados, somos chamados a confirmar a fé dos outros. Assim como rezou por Pedro, Jesus reza por cada um de nós.

Após a Última Ceia, Jesus segue com Pedro ao Horto das Oliveiras e pede que os Apóstolos orem para não caírem em tentação. Ele próprio se afasta e, de joelhos, começa a rezar. São Lucas destaca detalhes únicos dessa agonia: o suor de Jesus se torna como gotas de sangue e um anjo é enviado a fim de consolá-lo. Enquanto Cristo enfrenta sua grande provação, Pedro e os outros Apóstolos, em vez de rezarem, dormem. Essa cena nos ensina que, assim como Jesus pediu oração aos Apóstolos, Ele também nos chama a vigiar e a orar, mesmo quando nos sentimos sozinhos.

Podemos contemplar a imensa solidão de Jesus no Horto das Oliveiras, carregando o peso dos pecados do mundo e suando sangue em sua agonia. Ele esperava o consolo da oração dos Discípulos, mas encontrou apenas o silêncio. No entanto, sua súplica não ficou sem resposta: Deus enviou um anjo para confortá-lo. Esse detalhe, único no relato de Lucas, lembra-nos que também não estamos sozinhos em nossas angústias. Mesmo quando o mundo parece nos abandonar, Deus nos ampara.

Embora Lucas não mencione, podemos imaginar que Maria, mesmo sem estar no Horto das Oliveiras em pessoa, acompanhava tudo em oração. O anjo que consolou Jesus talvez não tenha sido fruto das orações de Pedro, que dormia, mas das súplicas da Virgem Santíssima. Assim como muitas mães intercedem por seus filhos à distância, Maria, em espírito, pode ter enviado esse anjo para fortalecer seu Filho em sua missão. Este é um belo papel materno: sustentar os filhos com a oração, mesmo quando não é possível estar fisicamente ao lado deles.

Após a prisão de Jesus, Pedro o negou três vezes no palácio do sumo sacerdote. Ao perceber sua traição, o Apóstolo sai e chora amargamente, como relata o versículo 62: “Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente” — “flevit amare”. Naquele momento, o choro de Pedro revela que ele enfrentava a tentação do desespero, como Judas. A diferença foi a oração de Jesus, que o sustentou e ajudou-o a reencontrar seu caminho.

À vista dessa realidade, precisamos recordar, especialmente a quem se sente desanimado ou afastado de Jesus neste Domingo da Paixão: Ele está rezando por nós — “ad interpellandum pro nobis”. Nos momentos de solidão e angústia, a Virgem Maria intercede e envia os anjos para nos consolar. Nunca estamos sozinhos. Mesmo em meio às nossas dores, Cristo está diante de Deus, sempre vivo, intercedendo por nós. Diante da grande tragédia redentora da Paixão, reconheçamos também nossas próprias dores e sofrimentos, sabendo que estamos unidos a Ele em sua Paixão.

Então, Jesus é conduzido ao tribunal, onde é condenado pelos sumos sacerdotes e, em seguida, levado a Pilatos. Este, ao saber que Ele é galileu, recusa-se a julgá-lo e envia-o a Herodes, que o interroga insistentemente, mas Jesus permanece em silêncio. Frustrado, Herodes devolve-o a Pilatos, que declara: “Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei” (Lc 23, 15-16). No entanto, a fraqueza de Pilatos, que busca agradar a multidão e preservar sua própria posição, resulta na condenação injusta do inocente. O povo, inflamado, clama em uníssono: “Crucifica-o!”.

Na crucificação, São Lucas nos apresenta uma cena singular: enfatiza que Jesus foi pregado na Cruz entre dois malfeitores. No Calvário, ao ser despojado das suas vestes e transpassado pelos pregos, Jesus não apenas disse, mas “ia dizendo”: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). O uso do tempo verbal imperfeito indica que essa oração foi repetida por um certo período, tornando-se uma súplica contínua. Mel Gibson, em “A Paixão de Cristo”, captou essa nuance ao mostrar Jesus repetindo o pedido de perdão enquanto sofria. Esse detalhe, exclusivo do Evangelho de São Lucas, revela-nos a profundidade do amor e da misericórdia de Cristo, preparando o cenário para o extraordinário diálogo com o Bom Ladrão.

Somente São Lucas nos transmite esse diálogo marcante na Cruz. Um dos malfeitores blasfema contra Jesus, desafiando-o a provar seu poder: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23, 39). Em vez de demonstrar humildade e fé diante da morte, ele transforma sua súplica em tentação e desafio. O outro, identificado pela tradição como Dimas, repreende-o: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas Ele não fez nada de mal” (Lc 23, 41). Nesse ato de contrição, o Bom Ladrão reconhece tanto a própria culpa quanto a inocência de Nosso Senhor. Esse reconhecimento da verdade ilumina seu coração, levando-o a pronunciar uma súplica cheia de esperança: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Em resposta, Cristo realiza a primeira canonização da história, garantindo-lhe: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). 

O Bom Ladrão, ao olhar para Jesus na Cruz, vê um homem condenado à morte, alguém que em breve morrerá e será sepultado. Todavia, ao reconhecer seu próprio pecado e a inocência de Cristo, recebe a luz da fé. Diante daquele que, aos olhos do mundo, parecia derrotado, ele enxerga um rei e suplica: “Senhor Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino” (Lc 23, 42). Qualquer um que testemunhasse aquela cena veria apenas um homem humilhado e moribundo, mas o Bom Ladrão reconhece ali a fonte da graça. Por isso, recebe a promessa extraordinária de Jesus: “Em verdade eu te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso”. À vista disso, como nos recorda o “Dies irae”, quem não perde o temor de ser condenado ao ver a salvação do Bom Ladrão? 

Jesus finalmente morre na Cruz, pronunciando suas últimas palavras, registradas apenas por São Lucas: “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito” (Lc 23, 46). Essa frase ressoa profundamente, sendo repetida tantas vezes na Sexta-feira Santa. O Evangelho de São Lucas, em seu início, apresenta Jesus, ainda menino, no Templo, dizendo a Maria: “Não sabíeis que eu devo cuidar das coisas do meu Pai?” (Lc 2, 49) e encerra-se com essa entrega total ao Pai. A primeira e a última palavra de Cristo é “Pai”, revelando a confiança absoluta do Filho. Enquanto o mundo gritava que Deus o havia abandonado, Jesus responde entregando-se inteiramente ao amor do Pai, como se dissesse: “O Pai não me abandonou, sou eu quem me abandono aos seus braços”.

Este Evangelho tão rico e repleto de ensinamentos nos convida a uma profunda reflexão. Estamos no tempo favorável da conversão, na Semana Santa, e não devemos deixar passar a Páscoa sem buscar a Confissão e a reconciliação com Nosso Senhor. Assim como Cristo rezou por Pedro, Ele também intercede por nós em nossas fraquezas. Se, a exemplo do Bom Ladrão, reconhecermos nossos pecados e a inocência de Cristo, ouviremos d’Ele a mesma promessa: “Estarás comigo no paraíso”. Entreguemo-nos, portanto, ao Pai, confiando-lhe nossa vida e nossos sofrimentos — assim como Jesus se entregou na sua Cruz.

Publicado em padrepauloricardo.orgChristo Nihil Præponere (“A nada dar mais valor do que a Cristo”) – (11.04.2025).

A devoção dos cinco primeiros sábados do mês ao Imaculado Coração de Maria

https://admin.santuarioimaculado.org.brnull

05 de abril de 2025 (Primeiro sábado do mês de abril)*

Além de ser um ano jubilar, 2025 marca o centenário do pedido de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, uma das videntes de Fátima, para a instituição da devoção dos cinco primeiros sábados como reparação pelas ofensas feitas ao Seu Imaculado Coração.

Oito anos após as aparições da Virgem aos três pastorinhos de Fátima, Maria teria reaparecido à Irmã Lúcia no convento de Pontevedra, na Espanha, no dia 10 de dezembro de 1925. Durante essa aparição, a Virgem Maria teria solicitado a instituição da devoção dos cinco primeiros sábados como reparação pelas ofensas feitas ao Seu Imaculado Coração.

Ela teria dito à irmã Lúcia: “Olha, minha filha, o meu Coração cercado de espinhos com que os homens ingratos me ferem a todo o momento com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, procura consolar-me e digo que prometo assistir na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação, a todos os que, no primeiro sábado de cinco meses seguidos, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem um terço e me fizerem companhia durante quinze minutos, meditando nos mistérios do Rosário, com o fim de me fazerem reparações.”

Desde séculos, o sábado é um dia da semana dedicado à Maria. Segundo uma tradição antiga atribuída ao monge beneditino Alcuíno (735-804), conselheiro de Carlos Magno, a liturgia consagra os sábados à Virgem Maria. Em 1905, o Papa Pio X concedeu indulgências para os fiéis que praticassem uma devoção mariana aos primeiros sábados de doze meses consecutivos em honra da Imaculada Conceição. Em 1917, durante a aparição de 13 de julho em Fátima, a Virgem menciona pela primeira vez “os primeiros sábados”: “Para evitar a guerra, Eu virei pedir a consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora dos Primeiros Sábados”. Essa devoção foi difundida pela Irmã Lúcia, mas ainda não obteve uma aprovação oficial da Igreja Católica.

Um ato de reparação

Em que consiste exatamente essa devoção? Ela envolve quatro gestos, a serem realizados no primeiro sábado de cada mês durante cinco meses consecutivos: confessar-se, comungar, rezar um terço e meditar por quinze minutos sobre os quinze mistérios do rosário. Esses quatro atos devem ser realizados com o intuito de reparar as ofensas feitas ao Imaculado Coração de Maria.

A devoção dos cinco primeiros sábados é, acima de tudo, um ato de reparação: os cinco sábados são necessários para reparar os cinco tipos de ofensas e blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria. Essas ofensas incluem as blasfêmias contra a Imaculada Conceição, contra sua virgindade, contra sua maternidade divina, contra aqueles que tentam incutir nos corações das crianças indiferença, desprezo ou ódio por Maria, e finalmente, as ofensas contra as santas imagens de Maria.

A prática dessa devoção também teria o poder de garantir a salvação pessoal. A Virgem promete assistir na hora da morte todos aqueles que realizarem plenamente a devoção dos cinco sábados.

Uma devoção necessária para alcançar a paz

Além da reparação das ofensas e da salvação pessoal, há um terceiro aspecto fundamental ligado a essa devoção: a paz no mundo. Em uma carta datada de 19 de março de 1939, a Irmã Lúcia escreveu ao Padre Aparício que “da prática da devoção dos Primeiros Sábados, unida à consagração ao Imaculado Coração de Maria, depende a guerra ou a paz do mundo.” Em tempos tão conturbados por diversos conflitos, a Aliança Salve Corda, uma iniciativa laica lançada em 2016 por Régis de Lassus, convida a redescobrir essa devoção e a formar ou participar de grupos locais e autônomos, chamados “Cidades do 1º sábado do mês”, onde os membros se encontram a cada primeiro sábado para cumprir as quatro solicitações da Virgem Maria.

Além disso, por ocasião do Jubileu e do Centenário da devoção, os primeiros sábados de cada mês serão solenemente celebrados em 2025 em um grande santuário mariano. Uma peregrinação local será organizada e os fiéis do mundo inteiro são convidados a se unir realizando os atos solicitados a partir de seu local de residência, em união com o santuário. Doze santuários foram escolhidos, cada um relacionado a um dos doze mistérios do Rosário.

Publicado em Aleteia.

* Acréscimo meu. Também fiz o acréscimo “ao Imaculado Coração de Maria” no título publicado pela Aleteia.

Observações: (1) A Memória do Imaculado Coração de Maria se deu no primeiro sábado de 2025, em 04 de janeiro. (Fonte: Internet) (2) “Em 25 de março de 2022, o papa Francisco consagrou a Rússia ao Imaculado Coração ao lado da Ucrânia, com os dois países explicitamente mencionados em meio à Invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, durante a Guerra Russo-Ucraniana.” (Fonte: Wikipédia).

Leia também:

Fátima, os primeiros sábados e a consagração da Rússia (Aleteia): “Muitos esquecem que Nossa Senhora de Fátima pediu que a devoção dos primeiros sábados fosse amplamente observada para garantir a conversão da Rússia“.

Ucrânia (Aleteia).

Castíssimo Coração de São José: lições que podemos com ele aprender

São José – Patrono da Sagrada Família – Solenidade – 19 de Março (*)

Wikipédia

O Castíssimo Coração de São José, esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus Cristo, é um símbolo de pureza, amor, fé e obediência. Através de sua vida exemplar, podemos aprender valiosas lições que nos guiam em nossa jornada de fé e crescimento espiritual.

1. Pureza de coração:

São José, guardião da Sagrada Família, nos ensina a importância da pureza de coração. Sua castidade não se limitava à abstinência sexual, mas se manifestava também em sua total entrega a Deus e à sua missão. Ele nos convida a cultivar um coração livre de vícios e paixões desordenadas, buscando sempre a santidade em nossos pensamentos, palavras e ações.

2. Amor incondicional:

O amor de São José por Maria e Jesus era puro, sacrificial e abnegado. Ele dedicou sua vida ao cuidado e proteção da Sagrada Família, renunciando aos seus próprios sonhos e ambições. Sua devoção nos inspira a amar com generosidade, colocando as necessidades do próximo à frente das nossas.

3. Fé inabalável:

Diante das provações e desafios, São José manteve sua fé inabalável em Deus e confiante na Providência Divina. Sua fé nos ensina a perseverar em meio às dificuldades, confiando na infinita misericórdia de Deus.

4. Obediência fiel:

São José foi um homem obediente à vontade de Deus. Em cada passo de sua vida, ele se colocava à disposição do Senhor, cumprindo com fidelidade os planos divinos. Sua obediência nos convida a discernir a vontade de Deus em nossas vidas e a segui-la com docilidade e prontidão.

5. Humildade profunda:

São José, apesar de sua posição elevada como pai adotivo de Jesus, foi um homem humilde e simples. Ele reconhecia sua total dependência de Deus e não buscava reconhecimento ou glória pessoal. Sua humildade nos ensina a cultivar a mansidão e a reconhecer que tudo o que somos e temos vem de Deus.

Conclusão:

O Castíssimo Coração de São José é um farol que nos guia em nossa jornada de fé. Ao contemplar suas virtudes, podemos aprender a cultivar a pureza de coração, o amor incondicional, a fé inabalável, a obediência fiel e a humildade profunda. Que a intercessão de São José nos inspire a viver uma vida santa e agradável a Deus, seguindo seus passos de amor, fé e devoção.

Reflexão:

  • Como posso cultivar a pureza de coração no meu dia a dia?
  • De que maneira posso demonstrar amor incondicional pelas pessoas que me rodeiam?
  • Como posso fortalecer minha fé em Deus, mesmo diante das dificuldades?
  • O que posso fazer para ser mais obediente à vontade de Deus?
  • Como posso ser mais humilde de coração?

Oração:

Ó São José, castíssimo esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus Cristo, a ti recorremos com filial confiança. Te pedimos que nos ensines a cultivar a pureza de coração, o amor incondicional, a fé inabalável, a obediência fiel e a humildade profunda. Que o teu testemunho nos inspire a viver uma vida santa e agradável a Deus, seguindo teus passos de amor, fé e devoção. Amém.

São José, rogai por nós!

Publicado em Paróquia Coração de Maria (Claretianos) – Londrina- PR.

* Acréscimo meu.

O que você deve saber sobre a Quarta-feira de Cinzas

2 de mar de 2025 às 01:00

Daqui alguns dias a igreja viverá a Quaresma de 2025, por isso compartilhamos com você algumas informações fundamentais para entender a importância da Quarta Festa de Cinzas e, assim, viver adequadamente esse tempo litúrgico de preparação para a Páscoa.

1. O que é a Quarta-feira de Cinzas?

É o primeiro dia da Quaresma, ou seja, dos 40 dias nos quais a igreja chama os fiéis a se converterem e a se prepararem verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo durante a Semana Santa. Este ano será celebrada no dia 05 de março*.

A Quarta-feira de Cinzas é uma celebração que está no Missal Romano, o qual explica que no final da Missa, abençoa-se e impõe-se as cinzas obtidas da queima dos ramos usados no Domingo de Ramos do ano anterior.

2. Como nasceu a tradição de impor as cinzas?

A tradição de impor as cinzas remonta à Igreja primitiva. Naquela época, as pessoas colocavam as cinzas sobre a cabeça e se apresentavam diante da comunidade com um “hábito penitencial” para receber o Sacramento da Reconciliação na Quinta-feira Santa.

A Quaresma adquiriu um sentido penitencial para todos os cristãos por volta do ano 400 d.C. e, a partir do século XI, a Igreja de Roma passou a impor as cinzas no início deste tempo.

3. Por que se impõe as cinzas?

A cinza é um símbolo. Sua função está descrita em um importante documento da Igreja, mais precisamente no artigo 125 do Diretório sobre a piedade popular e a liturgia:

“O começo dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Próprio dos antigos ritos nos quais os pecadores convertidos se submetiam à penitência canônica, o gesto de cobrir-se com cinza tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Este não era um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal. Deve-se ajudar os fiéis, que vão receber as Cinzas, para que aprendam o significado interior que este gesto tem, que abre a cada pessoa a conversão e ao esforço da renovação pascal”.

4. O que as cinzas simbolizam e o que recordam?

A palavra cinza, que provém do latim “cinis”, representa o produto da combustão de algo pelo fogo. Esta adotou desde muito cedo um sentido simbólico de morte, expiração, mas também de humildade e penitência.

A cinza, como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn 2,7); “até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19).

5. Onde podemos conseguir as cinzas?

Para a cerimônia devem ser queimados os restos dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estes recebem água benta e logo são aromatizados com incenso.

6. Como se impõe as cinzas?

Este ato acontece durante a Missa, depois da homilia, e está permitido que os leigos ajudem o sacerdote. As cinzas são impostas na fronte, em forma de cruz, enquanto o ministro pronuncia as palavras Bíblicas: “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”.

Depois de receber as cinzas, o fiel deverá retirar-se em silêncio, meditando na frase proferida.

7. O que devem fazer quando não há sacerdote?

Quando não há sacerdote, a imposição das cinzas pode ser realizada sem Missa, de forma extraordinária. Entretanto, é recomendável que antes do ato participem da liturgia da palavra.

É importante recordar que a bênção das cinzas, como todo sacramental, somente pode ser feita por um sacerdote ou um diácono.

8. Quem pode receber as cinzas?

Qualquer pessoa pode receber este sacramental, inclusive os não católicos. Como explica o Catecismo (1670 ss.), “sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela”.

9. A imposição das cinzas é obrigatória?

A Quarta-feira de Cinzas não é dia de preceito e, portanto, não é obrigatória. Não obstante, nesse dia muitas pessoas costumam participar da Santa Missa, algo que sempre é recomendável.

10. Quanto tempo é necessário permanecer com a cinza na fronte?

Quanto tempo a pessoa quiser. Não existe um tempo determinado.

11. O jejum e a abstinência são necessários?

O jejum e a abstinência são obrigatórios durante a Quarta-feira de Cinzas, como também na Sexta-feira Santa, para as pessoas maiores de 18 e menores de 60 anos. Fora desses limites, é opcional. Nesse dia, os fiéis podem ter uma refeição “principal” uma vez durante o dia.

A abstinência de comer carne é obrigatória a partir dos 14 anos. Todas as sextas-feiras da Quaresma também são de abstinência obrigatória. Às sextas-feiras do ano também são dias de abstinência. O gesto, dependendo da determinação da Conferência Episcopal de cada país, pode ser substituído por outro tipo de mortificação ou oferecimento como a oração do terço.

Publicado em Agência Católica de Informação – ACI Digital.

*Na matéria publicada pela ACI Digital (cfe. o registro acima – 02.03.2025), erroneamente, está escrito 14 de fevereiro. Friso que o correto é 05.03.2025.

Leia também:

Imagem ilustrativa

O significado e a origem das cinzas de Quaresma

O que fazer depois de receber as cinzas no início da Quaresma

Santa Maria – Mãe de Deus: Solenidade – 1º de janeiro – o Dogma

A Virgem Maria é também chamada de Mãe de Deus. Mas como se dá a maternidade divina? Conheça a festa e o dogma de Maria Mãe de Deus.

Quarta-feira, dia 1º de janeiro do ano do Jubileu de 2025, a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e o dia mundial da paz. A Virgem Maria é também chamada de Mãe de Deus. Mas como se dá a maternidade divina? Conheça a festa e o dogma de Maria Mãe de Deus.

Nossa Senhora foi designada e preservada desde o ventre para assumir o papel sublime de ser a mãe de Jesus. O dogma da Imaculada Conceição, proclamado pela Igreja, ressalta essa escolha divina ao designar Maria como “a toda santa”. 1 Além desse dogma, a Igreja possui outros três referentes a Maria, incluindo o reconhecimento de sua Maternidade Divina.

Neste artigo, mergulharemos no significado do dogma da Maternidade Divina, abordando passagens bíblicas que destacam Maria como Mãe de Deus e seu o fundamento teológico. Além disso, veremos o papel da Virgem Maria também como mãe na nossa vida espiritual.

Conheça aqui os quatro dogmas marianos.

O que é o dogma da Mãe de Deus ou Maternidade Divina?

Todo fiel católico deve crer nos dogmas da Igreja, ou seja, nas verdades de fé. No Catecismo da Igreja Católica encontramos o que significa o dogma da Mãe de Deus e por que a Igreja crê nesse fato.A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida. Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou, com toda a verdade, Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: «Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne». 2

Desse modo, sendo Mãe de Jesus, que é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, Maria é também Mãe de Deus. Isto é o que afirma o dogma da Maternidade Divina.

O que é a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus?

A Solenidade de Maria, Mãe de Deus, é uma festa litúrgica que celebra o dogma da Maternidade Divina de Nossa Senhora. Durante esta solenidade, os fiéis recordam com alegria e reverência que a Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus. Pois concebeu e deu à luz o Filho de Deus, uma pessoa divina, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.

Esta solenidade destaca-se como um momento propício para mergulhar na relação íntima de Maria com a obra redentora do Pai, reconhecendo-a como a Mãe do Salvador e de todos nós. E Maria é parte integrante da realidade salvadora. Além disso, a solenidade é um dia santo de guarda, é preceito na fé católica, exigindo a participação dos fiéis na celebração da Santa Missa neste dia — ou na noite do dia anterior.

celebração da solenidade de Maria Mãe de Deus no vaticano.
Solenidade de Maria, Mãe de Deus na Basílica de São Pedro. Foto/divulgação: Vatican News.

Quando é celebrada Santa Maria, Mãe de Deus?

A Maternidade Divina de Maria, celebrada desde o século VII, teve sua festa litúrgica estabelecida pelo Papa Pio XI em 1931. Desde então, a Igreja celebra a Solenidade de Maria Mãe de Deus no dia primeiro de janeiro — que é ao mesmo tempo o dia da Oitava do Natal.Nós veneramos esta maternidade no primeiro dia do novo ano. É nosso desejo, de fato, que, nesta nova etapa do tempo humano, Maria continue a abrir a Cristo a via para a humanidade, do mesmo modo que lha abriu na noite do nascimento de Deus. 3

Saiba o que é a Oitava de Natal.

A Mãe de Deus na Bíblia

A Sagrada Escritura nos oferece diversas passagens que ressaltam o papel único de Maria como Mãe de Deus. No Evangelho de Lucas, durante a Visitação, Isabel, cheia do Espírito Santo, saúda Maria, reconhecendo-a como “a mãe do meu Senhor”. Essa saudação destaca não apenas a maternidade de Maria sobre Jesus, mas sua condição como Mãe do próprio Senhor.Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. 4

imagem da visitação, quando Isabel reconhece Maria como mãe de Deus.

O Catecismo da Igreja Católica também reforça este ponto no seu número 495:Chamada nos evangelhos «a Mãe de Jesus» 5, Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito Santo e desde antes do nascimento do seu Filho, como «a Mãe do meu Senhor» 6. Com efeito, Aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e que Se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é, verdadeiramente, Mãe de Deus («Theotokos»)

Em outra passagem presente no Evangelho de Mateus, a citação da profecia de Isaías 7 destaca que o nascimento de Jesus, por meio de Maria, é o cumprimento divino da promessa de Deus de estar conosco, encarnado na pessoa de Jesus:Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa “Deus está conosco”. 8

Não deve haver dúvidas, portanto, em relação à Maternidade Divina de Nossa Senhora. Se ela é Mãe de Jesus e[…] para nós, contudo, existe um só Deus, o Pai, de quem tudo procede e para o qual caminhamos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e para quem caminhamos. 9

Fundamento teológico do dogma da maternidade divina

O fundamento teológico do dogma da Maternidade Divina remonta ao Concílio de Éfeso em 431, quando a Igreja oficialmente proclamou essa verdade de fé. O contexto envolveu a refutação das ideias equivocadas de Nestório, que separava as naturezas humana e divina de Cristo, negando assim o título de “Mãe de Deus” a Maria.

Nesse contexto, São Cirilo de Jerusalém emergiu como um defensor notável, contestando e condenando as ideias de Nestório. Suas argumentações, notavelmente expressas em cartas, foram incorporadas na proclamação dogmática. Contudo, vale lembrar que quando a Igreja proclama um dogma, ela não está introduzindo algo novo, mas reconhecendo uma realidade já existente, garantindo que não haja mais mal-entendidos.

A tradição dessa maternidade divina encontra-se em orações antigas e escritos dos Padres da Igreja, como Orígenes no século terceiro. Os Santos Padres já reconheciam que Maria não era apenas o lugar de nascimento de Jesus, mas a verdadeira fonte da encarnação divina. Santo Tomás de Aquino e o Beato Duns Scotus, doutor mariano, por exemplo, ressaltam a dignidade única de Maria como Mãe de Deus.

Além disso, mesmo reformadores protestantes como Lutero e Calvino reconheceram a maternidade divina. O fundamento teológico permeia, portanto, as Escrituras, a Tradição da Igreja e o pensamento de diversos teólogos ao longo dos séculos.

A solenidade da Mãe de Deus e a nossa vida espiritual

Esta solenidade também é um convite profundo para explorarmos a íntima relação entre Maria e a nossa vida espiritual. Quando Jesus, na cruz, diz Eis aí a tua mãe 10, Ele não apenas confiou Maria a João, mas simbolicamente a todos nós, tornando-a Mãe da Igreja, composta pela cabeça, que é Cristo, e pelo corpo, que somos nós, seus membros.

São Paulo, ao chamar a Igreja de Corpo Místico de Cristo, destaca a união vital entre Cristo e os fiéis. São Luís Maria Grignion de Montfort, formulando essa questão, destaca a necessidade natural de uma mãe dar à luz tanto a cabeça quanto o corpo. Assim, Maria, como Mãe de Deus, é também nossa mãe, uma mãe que não só deu à luz a Cristo, nosso irmão, mas que, por extensão, acolhe-nos como filhos espirituais.

menina rezando diante da imagem de Maria, mãe de Deus e nossa mãe.

Maria é, portanto, nosso modelo de vida com Deus. Sua humildade, obediência e amor são um guia para nos aproximarmos de Cristo e nos assemelharmos a Ele — o que buscamos quando pensamos na santidade. Além disso, como mãe, ela intercede por nós diante do Pai, conhecendo o papel vital da mãe na vida dos filhos. Deus, ao nos dar Maria como mãe, reconhece nossa necessidade espiritual de orientação e cuidado materno.

Por isso, recorramos à Nossa Senhora, nossa mãe. Ela deseja ser uma presença viva na nossa vida espiritual e derramar muitas graças. Mas para isso precisamos invocá-la, pedir que ela esteja presente nos diversos momentos de nossa vida. Um meio devoto e eficaz de recorrer à Nossa Senhora é repetir várias vezes ao dia: Ave Maria!A esta invocação – Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores –, a Mãe de Deus sempre responde! Escuta os nossos pedidos, abençoa-nos com o seu Filho nos braços, traz-nos a ternura de Deus feito carne; numa palavra, dá-nos esperança. 11

Conheça os mistérios do terço e saiba como rezá-lo.

Referências

  1. CIC, 493[]
  2. CIC, 466[]
  3. Papa João Paulo II, Santa Missa para o XVII Dia Mundial da Paz Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, 1º de janeiro de 1984[]
  4. Lc 1,43-44[]
  5. Jo 2, 1; 19, 25[]
  6. Lc 1, 43[]
  7. 7, 14[]
  8. Mt 1, 22-23[]
  9. I Cor 8, 6[]
  10. João 19,26-27[]
  11. Papa Francisco, Santa Missa na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus LVI Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2023[]

Publicado em Minha Biblioteca Católica.

São João da Cruz – Memória – 14 de dezembro

Origens

Juan de Yepes era seu nome de batismo. Nasceu em 1542, em Fontivaros, pertencente à província de Ávila, na Espanha. Seu pai, Gonzalo de Yepes, descendia de uma família tradicional e rica de Toledo. Porém, por ter se casado com uma jovem de família humilde, perdeu os direitos da herança. Catarina Alvarez, sua esposa e mãe de São João da cruz, era vista como sendo de classe inferior. Gonzalo, pai de São João da Cruz, faleceu ainda jovem, quando João ainda era uma criança. Por isso, a viúva, desprezada pela família do marido e obrigada a trabalhar para sobreviver, mudou-se com os filhos para a cidade de Medina.

Trabalho e vocação

Em Medina, João, já jovem, começou a trabalhar. Ele tentou algumas profissões. A última foi a de ajudante no hospital da cidade. À noite, João estudava gramática no colégio dos jesuítas. Sob a influência dos padres da Companhia de Jesus, a espiritualidade do jovem João de Yepes desabrochou. Por isso, aos vinte e um anos, ele entrou na Ordem Carmelita, procurando uma vida de oração profunda.

Estudos e caridade

Após o noviciado, João de Yepes foi transferido para a Universidade de Salamanca, com o objetivo de terminar o estudo da filosofia e da teologia. Mesmo cursando a Universidade, que exigia dele toda a dedicação aos estudos, João encontrava tempo para a caridade e fazia questão de visitar os doentes nos hospitais ou nas residências, onde prestava seu precioso serviço de enfermeiro.

Santa Tereza de Ávila cruza seu caminho

João foi ordenado sacerdote quando tinha vinte e cinco anos. Nessa ocasião, mudou seu nome para João da Cruz, pois já tinha o desejo de se aproximar dos sofrimentos da cruz de Cristo. Por causa disso, achava a Ordem dos Carmelitas muito suave, sem austeridade. Pensou, inclusive, em entrar numa congregação mais austera. Foi nessa ocasião que Madre Tereza de Ávila atravessou seu caminho. Na época, ela tinha autorização fundar conventos reformados da Ordem Carmelita. Tinha também autorização de todos os superiores da Espanha para intervir nos conventos masculinos. O entusiasmo de Santa Tereza contagiou o Padre João da Cruz e ele começou a trabalhar na reforma da Ordem Carmelita, voltando às origens da mesma, procurando reviver em todos o carisma fundante da Ordem e ajustando a disciplina.

Formador A partir de então, a Ordem Carmelita encarregou o Pe. João da Cruz na missão formador dos noviços. Por isso, ele assumiu o posto de reitor de um convento dedicado à formação e aos estudos dos novos carmelitas. Assim, ele contagiou um grande número de carmelitas e, por conseguinte, reformou vários conventos.

Barreiras e perseguições

Como era de se esperar, padre João da Cruz começou a enfrentar dificuldades dentro da Ordem. Conventos inteiros e vários superiores se opuseram às reformas quando ele começou a aplica-las efetivamente. Por isso, ele passou por sofrimentos insuportáveis se não fossem vistos com os olhos da fé. Chegou, por exemplo, a ficar preso durante nove meses num convento que recusava terminantemente a reforma proposta por ele. Tudo isso sem contar as perseguições que começaram a aparecer de todos os cantos.

Paciência, fé e louvor

Testemunhas dizem, no entanto, que Pe. João da Cruz fez jus ao nome que escolheu abraçando a cruz, os sofrimentos e as perseguições com alegria e louvor a Deus. E esta foi a grande marca de sua vida, além de seus escritos preciosos. São João da Cruz abraçou o sofrimento com prazer, desejando ao máximo, sofrer como Cristo e unir seus sofrimentos aos do Mestre, em sacrifício pela própria conversão e também da Igreja.

Doutor da Igreja

O espírito de sacrifício, o fugir das glórias humanas, a busca da humildade, a oração profunda e o conhecimento da Palavra de Deus renderam a São João da Cruz vários escritos de grande profundidade teológica e sabedoria divina. Dentre eles, destacam-se os livros Cântico Espiritual, Subida do Carmelo e Noite Escura. Por isso, ele foi aclamado Doutor da Igreja, equiparado a Santa Tereza de Ávila, também Doutora. Deixou uma grande obra escrita, que é lida, estudada e seguida até hoje por religiosos e leigos.

Apenas três pedidos a Deus

Os biógrafos de São João da Cruz relatam que ele sempre fazia três pedidos a Deus. Conta-se que ele pedia, insistentemente, três coisas a Deus. Primeiro, que ele tivesse forças para sofrer e trabalhar muito. Segundo, que ele não saísse deste mundo estando no cargo de superior de nenhuma comunidade. E, terceiro, que ele tivesse a graça de morrer humilhado e desprezado por todos, como aconteceu com Jesus. Isto fazia parte de sua mística: igualar-se ao máximo a Jesus no momento de sua paixão.

Três pedidos atendidos

Pouco antes de falecer, São João da Cruz passou, de fato, por grandes sofrimentos, advindos de calúnias e incompreensões. Foi destituído de todos os cargos que ocupava na Ordem Carmelita e passou os últimos meses de sua vida no abandono e na solidão. Antes de falecer, sofreu de uma terrível doença, sempre louvando e agradecendo a Deus por tudo. Faleceu no Convento de Ubeda, Espanha, no dia 14 de dezembro de 1591, tendo somente quarenta e nove anos. A reforma da Ordem Carmelita Descalça proposta por ele, por fim, tornou-se realidade. Pouco tempo após sua morte, São João da Cruz passou a ser venerado e seguido pelos seus confrades. Em 1952 foi aclamado como o Padroeiro dos Poetas da Espanha.

Oração a São João da Cruz (extraída do Primeiro dia da Novena)

“Glorioso São João da Cruz, que desde vossa infância fostes terno amante de Maria Santíssima e da cruz de seu Santíssimo Filho, merecendo por este amor ser protetor singular das almas aflitas e desconsoladas: Vos suplico, Pai meu, interponhais vossos rogos para com Mãe e Filho a fim de que me concedam viva fé, firme esperança, fervente caridade e terníssimo amor à cruz de meu Senhor, em cujo exercício viva e more amparado sempre de sua graça, e também consiga, se me convém, o que peço nesta novena. Amém.”

São João da Cruz, rogai por nós!

Publicado em IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA – Largo do Machado – Catete – Rio de Janeiro – RJ

Leia mais

Nossa Senhora ajudou são João da Cruz a escapar de uma terrível prisão (acidigital)

Três livros do poeta místico e gênio literário são João da Cruz (acidigital)

A Imaculada Conceição de Maria no Advento

No Advento eterno, antes da criação do mundo, a Imaculada Conceição de Maria já estava no desígnio amoroso de Deus para a humanidade. É significativo refletir sobre esta verdade, especialmente no Tempo do Advento e na proximidade da Solenidade da Imaculada Conceição. A este respeito, o Papa São João Paulo II nos ensina que existe um Advento primordial e eterno em Deus, que está se cumprindo na história da humanidade.

Este Advento eterno, que é o projeto de Deus para a humanidade, realiza-se em três fases na história da salvação. No primeiro Advento, tem início a Criação do mundo, que tem como centro e ápice o gênero humano, ainda em plena harmonia com o Criador. O segundo, começa com a queda de Adão e termina na primeira vinda de Jesus Cristo. O terceiro e último, tem início naquele que chamamos de Tempo da Igreja, que vivemos hoje e que culminará com a segunda e definitiva vinda do Senhor.

Desde o Advento primordial, Maria foi escolhida, predestinada, para ser a Mãe do Verbo Eterno. Em vista dessa suprema dignidade, foi também concedida à Mãe de Deus a maravilhosa graça da Imaculada Conceição [Dogma]*. A graça da Imaculada, que celebramos com toda a Igreja no Tempo do Advento, diz respeito não somente a Santíssima Virgem, mas também à escolha de Deus a respeito de cada um de nós desde toda a eternidade.

A Imaculada Conceição no Advento primordial

Na carta aos Efésios, o apóstolo São Paulo nos dá uma belíssima imagem do Advento: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos”. Esta não é ainda a imagem do Advento da vinda de Jesus Cristo, mas “trata-se daquele Advento eterno cujo início se encontra em Deus mesmo, ‘antes da constituição do mundo’, porque já a ‘constituição do mundo’ foi o primeiro passo da Vinda de Deus ao homem, o primeiro ato do Advento”.

Créditos: by Getty Images / Sidney de Almeida/cancaonova.com

Neste primeiro Advento, todo o mundo visível foi criado para o homem como demonstra o livro do Gênesis. Mas “o início do Advento em Deus é o Seu eterno projeto de criação do mundo e do homem, projeto nascido do amor. Este amor se manifesta com a eterna opção do homem em Cristo, Verbo Encarnado”. Em Cristo, fomos escolhidos por Deus, antes da constituição do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos.

Leia mais:
.:Os cinco segredos para ser um cristão como Maria
.:Presença de Maria no Antigo Testamento
.:O mais doce e forte nome: Maria
.:O que é a suprema caridade maternal de Maria?

“Neste eterno Advento está presente Maria. Entre todos os homens que o Pai escolheu em Cristo, Ela foi-o de modo particular e excepcional, porque foi escolhida em Cristo para ser Mãe de Cristo”. E assim Ela, melhor do que qualquer outra pessoa entre os homens “predestinados pelo Pai” para a dignidade de filhos e filhas adotivos, foi predestinada de modo especialíssimo para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que o Pai nos deu no Filho Bem-amado.

A Virgem Maria

A glória sublime da especialíssima graça de Deus é a Maternidade do Verbo eterno e, em consideração desta, a Mãe de Deus obteve em Cristo também a graça da Imaculada Conceição. Sendo assim, a Virgem Maria está presente naquele primeiro e eterno Advento da Palavra com a dignidade de Mãe de Deus e da sua Imaculada Conceição, segundo o desígnio de Amor do Pai na criação do mundo e no projeto de salvação da humanidade.

Publicado em Formação Canção Nova.

* Grifo meu.

Solenidade de Jesus Cristo – Rei do Universo -24 de novembro de 2024

24 novembro 2024

Hoje celebramos o nosso Rei! Jesus é Rei! Ele é o Rei do reino de Deus, teve uma coroa, mas espinhos; como cetro uma cana; um manto púrpura e como trono a Cruz!

Jesus Cristo é Rei do Universo e, no entanto, o Evangelho apresenta Jesus diante de Pilatos, no momento da entrada na sua Paixão… pobre, humilde, humilhado e torturado!

Que paradoxo da nossa fé! “JESUS DE NAZARÉ, REI DOS JUDEUS”

Não é pela coerção, nem diminuindo a nossa liberdade que Jesus quer reinar. Ele o faz  destruindo o mal e pelo poder do seu amor.

Ele quer libertar os nossos corações pelo amor para nos tornar capazes de escolhê-Lo! Porque Ele é o único caminho, a única verdade e a única vida!

Como entrar nesta verdade? 

“Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” João 18:37

1. Escutando a sua voz para acolher o desígnio de Deus 

– “O meu reino não é deste mundo” João 18:36

A glória de Deus está muito além do que podemos imaginar. 

O plano de Deus ultrapassa-nos infinitamente. 

– no tempo: “desde sempre e para sempre” Salmos 103:17, “Eu sou o alfa e o ômega” Apocalipse 22:13, “Seu domínio é um domínio eterno que não acabará” Daniel 7:14

– na loucura do seu amor: o Rei da verdade entrega a sua vida pelo seu povo para que se realize o desígnio do Pai!

– no motivo: “Ele fez nós um reino de sacerdotes para Deus e seu Pai” Apocalipse 1:6.

– A única maneira de entrar neste plano é fazer-se pequeno e pobre, permanecendo nesta alegre expectativa.

2. Escutando a sua voz para manter a coragem e a esperança.

– Uma vez que Jesus deu a sua vida para vencer o pecado e o mal, devemos confiar nessa verdade! “Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado” Apocalipse 1:6

– Devemos manter a coragem e a esperança nas situações difíceis, porque o amor triunfou! O mal foi derrotado! Há alguém ao leme: Ele é “o Senhor do Universo” 

3. Escutando a sua voz para O seguirmos no amor 

– Para seguir Jesus, nosso Rei, na verdade, devemos segui-Lo e crescer no amor. 

“A verdade vos libertará” João 8:32… livres para nos superarmos no amor e conquistarmos novas terras e novos corações para o nosso Rei por amor a Ele. 

– Jesus é um rei sem palácio, mas o seu reino de amor está em toda a parte e especialmente em nós! Fazemo-lo crescer através de todas as pequenas coisas da vida quotidiana e de pequenos atos de caridade.

– Jesus é um rei sem exército, mas reina por todos os sinais de paz e benevolência que realiza em nós através do Espírito Santo. 

A nossa vida é o reino de Jesus Rei. O nosso coração é o palácio de Jesus Rei. Somos o exército de Jesus Rei. Somos o tesouro de Jesus Rei.

Publicado em IAA – Igreja de Arroios e Anjos (Lisboa).

Imagem: Alma Carmelita – “A História da Solenidade de Cristo Rei nos questiona”.

Vatican News

Solenidade de Todos os Santos, BAV Vat. sir. 559, f. 93v

Ao final do século II, já era grande a veneração dos Santos. No início, os santos mártires, aos quais os Apóstolos foram logo assimilados, eram testemunhas oficiais da fé.

Depois das grandes perseguições do Império Romano, homens e mulheres, que viveram a vida cristã, de modo belo e heroico, começaram a tornar-se, paulatinamente, exemplos de veneração: o primeiro santo, não mártir, foi São Martinho de Tours.

Em fins do ano mil, diante do incontrolado desenvolvimento da veneração dos santos e do “comércio” em torno das suas relíquias, iniciou-se um processo de canonização, até se chegar à comprovação dos milagres.

A Solenidade de Todos os Santos começou no Oriente, no século IV. Depois, difundiu-se em datas diferentes. Em Roma, dia 13 de maio; na Inglaterra e Irlanda, a partir do século VIII, dia 1º de novembro, uma data que também foi adotada em Roma, a partir do século IX.

Esta Solenidade era celebrada no fim do Ano litúrgico, quando a Igreja mantinha seu olhar fixo ao término da vida terrena, pensando naqueles que haviam atravessado as portas do Céu.

«Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. Então, abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”»
(Mt 5,1-12a).

Os Santos

Os Santos e as Santas – autênticos amigos de Deus – aos quais a Igreja nos convida, hoje, a dirigir nossos olhares, são homens e mulheres, que se deixaram atrair pela proposta divina, aceitando percorrer o caminho das Bem-aventuranças; não porque sejam melhores ou mais intrépidos que nós, mas, simplesmente, porque “sabiam” que todos nós somos filhos de Deus e assim viveram; sentiram-se “pecadores perdoados”… Eis os verdadeiros de Santos! Eles aprenderam a conhecer-se, a canalizar suas forças para Deus, para si e para os outros, sabendo confiar sempre, nas suas fragilidades, na Misericórdia divina.
Hoje, os Santos nos animam a apontar para o alto, a olhar para longe, para a meta e o prêmio que nos aguardam; exortam-nos a não nos resignar diante das dificuldades da vida diária, pois a vida não só tem fim, mas, sobretudo, tem uma finalidade: a comunhão eterna com Deus.
Com esta Solenidade, a Igreja nos propõe os Santos, amigos de Deus e exemplos de uma vida feliz, que nos acompanham e intercedem por nós; eles nos estimulam a viver com maior intensidade esta última etapa do Ano litúrgico, sinal e símbolo do caminho da nossa vida.

Condições evangélicas

Trata-se de percorrer o caminho, ou melhor, as nove condições traçadas por Jesus e indicadas no Evangelho: as Bem-aventuranças!
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus…”: o ponto forte não é tanto ser “bem-aventurado”, mas o “porquê”. Uma pessoa não é “bem-aventurada” porque é “pobre”, mas porque, como pobre, tem a condição privilegiada de entrar no Reino dos Céus.
A mesma coisa acontece com as outras oito condições: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem… Alegrai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos Céus”.
A explicação de tudo encontra-se naquele “porquê”, pois revela onde os mansos encontrarão confiança, onde os pacíficos encontrarão alegria… Logo, “bem-aventurados”, não deve ser entendido como uma simples emoção, se bem que importante, mas como um auspício para se reerguer, não desanimar, não desistir e seguir em frente… pois Deus está conosco.
A questão, portanto, consiste em ver Deus, estar da sua parte, ser objeto das suas atenções; contemplar Deus, não no paraíso, mas, aqui e agora.
Enfim, eis o caminho que devemos percorrer para participar também da alegria indicada pelo Apocalipse, que todos nós podemos conseguir: “Caríssimos, considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato… desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser” (1 Jo 3,1-2). Nós, diz o refrão do Salmo, em resposta à primeira leitura da Carta de João: “Somos a geração que busca a face do Senhor”. Não porque somos melhores que os outros, mas porque Deus quis assim.

E nós?

Com essas Bem-aventuranças, Jesus nos faz um convite: “O Reino dos Céus pode-lhes interessar? Vocês tem interesse em viver uma vida melhor?”. Claro, o mundo vai para a direção oposta e nos convida a ser felizes com uma vida opulenta e economicamente tranquila, bem diferente daquela dos “pobres de espírito”; convida-nos a uma vida de diversão, em todos os sentidos, a todo custo e com todos os meios, bem diferente daquela dos “Bem-aventurados os que choram”; convida-nos a ter sempre razão e a prevalecer sobre os outros, mas não a ser mansos; convida-nos a satisfazer-nos com tudo, sem objeção, mas não a satisfazer-nos com a paz e a justiça; convida-nos a pensar só em nós mesmos, mas não em ser misericordiosos; convida-nos a ir para aonde nosso coração nos levar, satisfazendo as nossas paixões, mas não a ser puros de coração; convida-nos a defender nossos muros, mas não a ser pacificadores; convida-nos a prevalecer e a perseguir os outros, ao invés de deixar-nos insultar!
Enfim, as Bem-aventuranças podem, realmente, parecer absurdas, mas são apenas algumas condições para uma vida melhor, feliz e linda… uma vida bem sucedida ou, então, uma vida santa. Não se trata apenas de palavras ou ideias… porque se observarmos bem, as Bem-aventuranças são um retrato do próprio Jesus: pobre, manso, dócil, misericordioso… animado apenas pelo desejo “de ocupar-se das coisas do Pai” (Cf. Lc 2,49).
Como dizíamos acima, o ponto forte não é tanto ser “bem-aventurado”, mas o “porquê”: a felicidade ou a bem-aventurança depende do sentido que dermos à nossa vida, da direção que tomarmos, da nossa razão de viver, mas, também, do valor que dermos ao sentido de perder a vida: “Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas do meu Pai?” “…porque delas depende é o Reino dos Céus”.
Portanto, a alegria ou a bem-aventurança não depende das condições externas, como o bem-estar, o prazer, o sucesso… que são experiências frágeis e efêmeras (Cf. Mt 7,24-28: a casa construída na areia ou na rocha), mas depende da felicidade prometida por Deus aos que adotam certos comportamentos em seus corações e os manifestam na vida de cada dia.

Santos da porta ao lado

Logo, a Solenidade de hoje confirma que uma vida “beata”, “bela”, “bem-sucedida” e “santa”… é possível, tanto ontem como hoje! Para nós e para todos. Podemos sempre nos tornar aqueles “santos da porta ao lado”, sobre os quais o Papa Francisco se refere: homens e mulheres reconciliados conosco, com os outros e com Deus, capazes de fazer brilhar a luz do amor misericordioso de Deus no dia a dia, na família, no trabalho, nos tempos livres… sabendo viver “Jesus” e confiando nas suas “Bem-aventuranças”.
Todos nós somos santos ao recebermos o Batismo, mas muitos não sabem! Muitas vezes, nem nos damos conta desta possibilidade que o Batismo nos proporciona. Não obstante, ela existe, porque Jesus quis assim!

Anedota

Durante uma visita a uma igreja de Turim, um aluno pediu à professora uma explicação sobre alguns vitrais luminosos e belos do templo. E ela respondeu: “Representam os Santos, homens e mulheres, que viveram, de forma especial e forte, a amizade com Jesus”.
Poucos dias depois, Dia de Todos os Santos, um sacerdote perguntou aos mesmos alunos: “Alguém saberia me explicar quem foram e o que fizeram aqueles que a Igreja venera como “Santos?”. O menino, que havia pedido explicações à professora sobre os vitrais, levantou a mão e, com voz firme e confiante, respondeu: “São os que deixam a Luz passar!”.

Publicado em VATICAN NEWS.

O perigo do Halloween

Quando se trata de Halloween no meio cristão, existem duas reações muito comuns que estamos acostumados a ver nas pessoas: ou imediatamente se posicionam contra, com firmeza e repulsa, ou então reviram os olhos, achando que é exagero, por parte de alguns, privar-se de uma festa cultural que consideram inocente. Nenhuma dessas duas figuras, no entanto, vai de fato atrás para entender os verdadeiros motivos, raízes, perigos e tudo que está por trás do dia 31 de outubro de todos os anos.

O Halloween, em sua origem, não era uma festa pagã. Muito pelo contrário! Seu próprio nome se remete justamente a uma celebração católica. “All Hallow’s Eve”, em português, a Véspera do dia de Todos os Santos. É verdade que os povos celtas da Irlanda possuíam um pequeno festival pagão na mesma data, mas, conforme o catolicismo se espalhava pela Europa, os Papas da Igreja conseguiram ressignificar esta festa. No Século VIII, o Papa Gregório III definiu o dia 1º de novembro como dia da comemoração de Todos os Santos em Roma e, alguns anos mais tarde, o Papa Gregório IV estendeu a celebração para todos os lugares.

All Hallow’s Eve

A celebração da Véspera do dia de Todos os Santos se tornou uma forma de evangelização nos países do Reino Unido, embora ainda distante de ser como o Halloween que conhecemos hoje em dia. Naquela época, visitavam-se cemitérios e faziam-se encenações sobre demônios e sobre as almas condenadas como forma de catequese, ensinando ao povo sobre a existência do Inferno e a importância de renunciar à vida de pecado. No dia seguinte, ensinava-se sobre o Céu e sobre os Santos, e no próximo dia, sobre o Purgatório.

As mudanças sofridas nessa data tiveram início na Reforma Protestante e foram concretizadas com uma mistura de culturas na colonização da América do Norte. A retomada de práticas pagãs na noite do dia 31 de outubro, como o culto aos mortos, práticas ocultistas etc., foi ocasionada aos poucos a partir do momento em que a Família Real Inglesa proibia a celebração de cerimônias católicas.

Quando tudo isso chegou aos Estados Unidos, outras culturas foram inseridas e misturadas com a celebração. Existem diversas teorias que sugerem a origem de elementos como a abóbora, “doces ou travessuras”, e a formação do termo Halloween como conhecemos hoje. Não vem ao caso explorá-las aqui, embora se acredite que muitos desses aspectos também tenham surgido de práticas católicas (como por exemplo a doação de comida aos pobres).

“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém.” 1Cor 6, 12

O Halloween foi então, ao longo dos anos, de uma cerimônia de evangelização cristã que mostrava o horror do Inferno para uma cerimônia de exaltação a ele, aos seus demônios e ao espiritismo. E isso é motivo suficiente para que tenhamos cuidado com essa festa que, superficialmente, parece inocente e infantil.

Como São Paulo diz na carta aos Coríntios: nem tudo convém. Ainda que a intenção do seu coração seja boa, ainda que não haja malícia de sua parte, muito menos nas suas crianças, se expor ao que é a festa de Halloween hoje em dia é se expor ao perigo da contaminação espiritual. Práticas ocultistas acontecem às escondidas de um lado, enquanto, do outro, crianças inocentemente banalizam e contribuem para que, cada dia mais, as pessoas deixem de acreditar na existência de demônios e do Inferno.

Para Satanás, é extremamente vantajoso que deixem de acreditar nele, pois não combatemos aquilo que teoricamente não existe. E essa tem sido sua estratégia ao longo da história. O Inferno não escandaliza mais como escandalizava antes. Pelo contrário, uma inversão de valores tem sido impregnada na nossa cultura. Exalta-se o feio, o horrendo, o esquisito, o macabro. E o Belo, que é o que vem de Deus, é desprezado e zombado.

Tudo aquilo que envolve o Halloween atualmente não condiz mais com os verdadeiros valores cristãos, portanto diversos perigos cercam esta prática e não nos convém participar dela. Não devemos condenar, todavia, quem participa por ignorância. Sei que explicar isso para as crianças pode ser um desafio, mas nunca podemos nos esquecer da Sabedoria do Espírito Santo que nos auxilia nestes momentos.

A partir do momento em que sabemos sobre a origem do Halloween no catolicismo, podemos usar disso para recapitular este sentido na vida de nossas crianças. E também usar da oportunidade para ensiná-las sobre o Céu e o Inferno, e convidá-las a celebrar então o dia de Todos os Santos, com doces e fantasias assim como gostam.

Giovana Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator

Publicado em Comunidade Católica Pantokrator.

13 DE OUTUBRO: DIA MUNDIAL DA COMUNHÃO REPARADORA

 Hoje, dia 13 de outubro, é o dia mundial da comunhão reparadora. Nossa Senhora fez este pedido quando apareceu a Fantanelle -Itália,  à Pierina Gilli, no dia 06 de agosto do ano de 1967, quando se festejava naquele tempo a Festa da Trasnfiguração do Senhor.

Já em Fátima, a Santíssima Virgem havia ensinado na sua terceira aparição na Cova da Iria a 13 de julho de 1917, aos três pastorzinhos Lúcia, Francisco e Jacinta uma oração a ser rezada diariamente quando fizéssemos sacrifícios e penitências pelos pecadores:

Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!

Os insistentes apelos da Mãe de Deus à reparação nos coloca numa posição de filhos que devem consolar o seu Coração Materno, que é transpassado de dor pelos pecados dos homens ingratos. Ofereçamos à Santíssima Mãe as nossas orações, o nosso amor, as nossas penitências e sacrifícios deste dia, como um verdadeiro ato de reparação e de amor, a fim de que muitos espinhos dolorosos que perfuram o seu amantíssimo Coração sejam tirados. Supliquemos constantemente e diariamente a conversão dos pecadores, começando por nós mesmos, a viver uma vida de acordo com a vontade de Deus, afastando-nos de tudo aquilo que possa desagradar e ofender o seu Sagrado Coração, não fazendo assim Nossa Senhora sofrer, pois não tem maior sofrimento para a Virgem Santa do que ver seu Filho Divino tão ultrajado e ofendido pelos pecados do mundo.

Os pecados que determinaram os castigos da Primeira Guerra Mundial foram:

1. A imoralidade dos costumes;

2. A decadência do clero, devida ao liberalismo e a tendência à boa vida, mesmo no clero mais conservador;

3. E -evidentemente – a heresia no clero mais progressista, isto é, o Mordenismo, condenado por São Pio X, em 1908.

Dissemos que  os pecados foram a primeira causa do primeiro castigo, e, como disse e mostrou Nossa Senhora aos pastorzinhos, muitas almas se perdiam pelos pecados no começo do século XX. Que dirá hoje?

A nossa reparação oferecida a Deus deve ser de coração, de alma e de corpo. Deus está a espera daqueles que queiram se doar pela salvação do seu próximo. O próprio Jesus nos disse: Não tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos! (Jo 15,13). É isto que Deus espera de nós: Dar a vida por seus amigos!…Dar a vida pela conversão e salvação das almas e do mundo! Ser uma luz para os outros que andam nas trevas e que estão morrendo sem fé e sem esperança. Cada ato de amor oferecido a Deus pela salvação do próximo e do mundo é uma reparação por tantos pecados e blasfêmias cometidos contra a sua Majestade Divina. Cada suor derramado pela implantação do reino de amor de Cristo no coração e nas almas, são espinhos tirados do Coração da Virgem Mãe, pois ela é consolada, quando vê os seus filhos que estavam mortos espiritualmente, sendo ressuscitados para o amor e para a graça divina.

O nosso jejum, o nosso sacrifício e a nossa penitência se tornam poderosos, cheios de frutos e das graças de Deus quando são oferecidos com um coração limpo e renovado, com um espírito novo em Deus. Não adianta querermos mudar o mundo se não mudamos o nosso interior primeiramente, e o primeiro passo que devemos dar diante de Deus é o do arrependimento, pedindo perdão dos nossos pecados. Este é o primeiro ato de reparação que fazemos a Deus, quando começamos o nosso caminho de conversão, renunciando ao pecado e ao mundo; deste ato surgirão muitos outros que se complementarão e se transformarão em luz e graça para as nossas vidas. Se queremos que os nossos atos de reparação sejam perfeitos e agradáveis ao Senhor devemos pedir o auxílio e a graça daquela que mais amou e reparou a Majestade Divina, devemos recorrer à Virgem Santa Imaculada, perfeita oferenda de amor que tanto alegrou o Coração de Deus. Em união com a Virgem Maria , a reparação nunca terá presunção, falsidade ou pecado. Nenhuma imperfeição acompanha o que é feito em união com ela. Os que fazem reparação com a Virgem Imaculada, os fazem com sua fé. O que eles executam imperfeitamente, por distração, cansaço ou outra coisa, torna-se perfeito através da Virgem Maria. Precisamos pedir à Santíssima Virgem, sinceramente e de todo o coração, então ela rezará conosco. Quem tem amor-próprio não conseguirá jamais reparar, pois o amor próprio busca somente aos interesses pessoais, enquanto o amor ao próximo busca os interesses de Deus, pela salvação do mundo.

Publicado em A.R.R.P.I – Santuário de Itapiranga.