REFLEXÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO

Por Santo Afonso Maria de Ligório

«Oh! se conhecesses o mistério da cruz!, disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. «Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna…»

Quanto agrada a Jesus Cristo que nós nos lembremos continuamente de sua paixão e da morte ignominiosa que por nós sofreu, muito bem se deduz de haver ele instituído o Santíssimo Sacramento do altar com o fito de conservar sempre viva em nós a memória do amor que nos patenteou, sacrificando-se na cruz por nossa salvação. Já sabemos que na noite anterior à sua morte ele instituiu este sacramento de amor e depois de ter dado seu corpo aos discípulos, disse-lhes – e na pessoa deles a nós todos – que ao receberem a santa comunhão se recordassem do quanto ele por nós padeceu: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beber de deste cálice, anunciareis a morte do Senhor” (1 Cor 11, 26). Por isso a santa Igreja, na missa, depois da consagração, ordena ao celebrante que diga em nome de Jesus Cristo: “Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em memória de mim”. E São Tomás escreve: “Para que permanecesse sempre viva entre nós a memória de tão grande benefício, deixou seu corpo para ser tomado como alimento” (Op. 57). E continua o santo a dizer que por meio de um tal sacramento se conserva a memória do amor imenso que Jesus Cristo nos demonstrou na sua paixão

Se alguém padecesse por seu amigo injúrias e ferimentos e soubesse que o amigo, quando se falava sobre tal acontecimento nem sequer nisso queria pensar e até costumava dizer: falemos de outra coisa – que dor não sentiria vendo o desconhecimento de um tal ingrato? Ao contrário, quanto se consolaria se soubesse que o amigo reconhece dever-lhe uma eterna obrigação e que disso sempre se recorda e se lhe refere sempre com ternura e lágrimas? Por isso é que todos os santos, sabendo a satisfação que causa a Jesus Cristo quem se recorda continuamente de sua paixão, estão quase sempre ocupados em meditar as dores e os desprezos que sofreu o amantíssimo Redentor em toda a sua vida e particularmente na sua morte. Santo Agostinho escreve que as almas não podem se ocupar com coisa mais salutar que meditar cotidianamente na paixão do Senhor. Deus revelou a um santo anacoreta que não há exercício mais próprio para inflamar os corações com o amor divino do que o meditar na morte de Jesus Cristo. E a Santa Gertrudes foi revelado, segundo Blósio, que todo aquele que contempla com devoção o crucifixo é tantas vezes olhado amorosamente por Jesus quantas ele o contempla. Ajunta Blósio que o meditar ou ler qualquer coisa sobre a paixão traz-nos maior bem que qualquer outro exercício de piedade. Por isso escreve São Boaventura: “A paixão amável que diviniza quem a medita” (Stim. div. amor, p. 1. c. 1). E falando das chagas do crucifixo, diz que são chagas que ferem os mais duros corações e inflamam no amor divino as almas mais geladas.

O SALVADOR

Adão peca e se rebela contra Deus e sendo ele o primeiro homem, pai de todos os homens, perdeu-se com todo o gênero humano. A injúria foi feita a Deus, motivo por que nem Adão nem os outros homens, com todos os sacrifícios, mesmo oferecendo sua própria vida, poderiam dar uma digna satisfação à Majestade divina; para aplacá-la plenamente era necessário que uma pessoa divina satisfizesse a justiça divina. E eis que o Filho de Deus, movido à compaixão pelos homens, arrastado pelos extremos de sua misericórdia, se oferece a revestir-se da carne humana e a morrer pelos homens, para assim dar a Deus uma completa satisfação por todos os seus pecados e obter-lhes a graça divina que perderam.

Desce, pois, o amoroso Redentor a esta terra e fazendo-se homem quer curar os danos que o pecado causara ao homem. Portanto, quer não só com seus ensinamentos, mas também com os exemplos de sua santa vida, induzir os homens a observar os preceitos divinos e por essa maneira conseguir a vida eterna. Para esse fim Jesus Cristo renunciou a todas as honras, às delícias e riquezas de que podia gozar neste mundo e que lhe eram devidas como ao Senhor do mundo, e escolhe uma vida humilde, pobre e atribulada até morrer de dor sobre uma cruz. Foi um grande erro dos judeus pensar que o Messias devia vir à terra para triunfar de todos os seus inimigos com o poder das armas e, depois de os ter debelado e adquirido o domínio do mundo inteiro, deveria tornar opulentos e gloriosos os seus sequazes. Mas se o Messias fosse qual os judeus o desejavam, príncipe soberano e honrado de todos os homens como senhor de todo o mundo, não seria o Redentor prometido por Deus e predito pelos profetas. É o que ele mesmo declara quando responde a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36). Por esse motivo repreende São Fulgêncio a Herodes por ter tão grande temor de ser privado do seu reino pelo Salvador, quando ele não viera para vencer o rei pela guerra, mas a conquistá-lo com sua morte (Serm. 5 de Epiph.).

Dois foram os erros dos judeus a respeito do Redentor esperado: o primeiro foi que, quando os profetas falavam dos bens espirituais e eternos, eles o interpretavam dos bens terrenos e temporais. “E a fé reinará nos teus tempos; a sabedoria e a ciência serão as riquezas da salvação; o temor do Senhor esse é o teu tesouro” (Is 33, 6). Eis os bens prometidos pelo Redentor, a fé, a ciência das virtudes, o santo temor, eis as riquezas da prometida salvação. Além disso, promete que dará remédio aos penitentes, perdão aos pecadores e liberdade aos cativos dos demônios: “Enviou-me para evangelizar os mansos, para curar os contritos de coração e pregar remissão aos cativos e soltura aos encarcerados” (Is 61, 1).

O outro erro dos judeus foi que pretenderam entender da primeira vinda do Salvador o que fora predito pelos profetas da segunda vinda, para julgar o mundo no fim dos séculos. Assim, escreve Davi do futuro Messias que ele deverá vencer os príncipes da terra e abater a soberba de muitos e com a força da espada subjugar toda a terra (Sl 109,6). E o profeta Jeremias escreve: “A espada do Senhor devorará a terra de um extremo a outro” (Lm 12, 12). Isso, porém, entende-se da segunda vinda, quando vier como juiz a condenar os malvados. Falando, porém, da primeira vinda, na qual deveria consumar a obra da redenção, mui claramente predisseram os profetas que o Redentor levaria neste mundo uma vida pobre e desprezada. Eis o que escreve o profeta Zacarias, falando da vida abjeta de Jesus Cristo: “Eis que o teu rei virá a ti, justo e salvador; ele é pobre e vem montado sobre uma jumenta e sobre o potrinho da jumenta” (Zc 9, 9).

Esta profecia realizou-se plenamente quando Jesus entrou em Jerusalém, assentado sobre um jumento, sendo recebido com todas as honras, como o Messias desejado, segundo o testemunho de São João (Jo 12,14). Também sabemos que ele foi pobre desde o seu nascimento, tendo vindo a este mundo em Belém, lugar desprezado, e numa manjedoura: “E tu, Belém Efrata, tu és pequenina entre os milhares de Judá, mas de ti é que há de sair aquele que há de reinar em Israel e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade” (Mq 5, 2). E essa profecia foi assinalada por São Mateus (2,6) e São João (7, 42). Além disso, escreve o profeta Oséias: “Do Egito chamarei o meu Filho” (11, 1), o que se realizou quando Jesus Cristo, como menino, foi levado para o Egito, onde permaneceu sete anos como estranho no meio de gente bárbara, dos parentes e dos amigos, devendo viver necessariamente mui pobremente. Continuou, depois de voltar à Judéia, a levar uma vida pobre. Ele mesmo predisse pela boca de Davi que pobre deveria ser durante toda a sua vida e atribulado pelas fadigas: “Eu sou pobre e vivo em trabalhos desde a minha mocidade” (Sl 87,16).

A EXPIAÇÃO

Deus não podia ver plenamente satisfeita a sua justiça com os sacrifícios oferecidos pelos homens, mesmo sacrificando-lhe suas vidas e, por isso, dispôs que seu próprio Filho tomasse um corpo humano e fosse a digna vítima que o reconciliasse com os homens e lhes obtivesse a salvação. “Não quiseste hóstia nem oblação, mas tu me formaste um corpo” (Hb 10, 5). E o Filho unigênito se ofereceu voluntariamente a sacrificar-se por nós e desceu à terra para completar o sacrifício com sua morte e assim realizar a redenção do homem: “Eis, aqui venho para fazer, ó Deus, a tua vontade, como está escrito de mim no princípio do livro” (Hb 10, 7).

Pergunta o Senhor, referindo-se ao pecador: “Que importará que eu vos fira de novo?” (Is 1, 5). Isso dizia Deus, para nos dar a entender que, por mais que punisse os seus ofensores, suas penas não seriam suficientes para reparar a sua honra ultrajada, e por isso enviou seu próprio Filho a satisfazer pelos pecados dos homens, visto que ele podia dar uma digna reparação à justiça divina. Depois declarou por Isaías, falando de Jesus feito vítima para expiar nossas culpas: “Eu o feri por causa dos crimes de meu povo” (53, 8), e não se contentou com uma pequena satisfação, mas quis vê-lo abatido pelos tormentos: “E o Senhor quis quebrantá-lo na sua enfermidade” (Is 53, 10). Ó meu Jesus, ó vítima de amor, consumida de dores na cruz para pagar os meus pecados, desejaria morrer de dor, pensando quantas vezes vos tenho desprezado depois de tanto me haverdes amado. Não permitais que eu continue a viver tão ingrato a tão grande bondade. Atraí-me todo a vós: fazei-o pelos merecimentos desse sangue que derramastes por mim!

Quando o Verbo divino se ofereceu para remir os homens, de duas maneiras se podia fazer essa redenção: uma por meio do gozo e da glória, outra das penas e dos vitupérios. Ele, porém, que com sua vinda não só pretendia livrar o homem da morte eterna, mas também ganhar a si o amor de todos os corações humanos, repeliu o caminho do gozo e da glória e escolheu o das penas e dos vitupérios (Hb 10, 34). A fim, portanto, de satisfazer por nós a justiça divina e juntamente para inflamar-nos com seu santo amor, quis qual criminoso sobrecarregar-se de todas as nossas culpas e, morrendo sobre uma cruz, obter-nos a graça e a vida feliz. É justamente o que exprime Isaías quando afirma: “Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as nossas dores” (Is 53, 4).

Disso encontram-se duas figuras claras no Antigo Testamento: a primeira era a cerimônia usada todos os anos do “bode expiatório” sobre o qual o sumo pontífice entendia impor todos os pecados do povo e por isso todos, cumulando-o de maldições, o enxotavam para a floresta para servir aí de objeto à ira divina (Lv 16, 5). Esse bode figurava nosso Redentor, que quis espontaneamente sobrecarregar-se com todas as maldições a nós devidas por nossos pecados (Gl 3, 13), feito por nós maldição, para nos obter as bênçãos divinas. E assim escreve o Apóstolo em outro lugar: “Aquele que desconhecia o pecado, fê-lo por nós, para que nós fôssemos feitos justiça de Deus nele” (2 Cor 5, 21). Como explicam Santo Ambrósio e Santo Anselmo, aquele que era a mesma inocência, fê-lo pecado; revestiu-se com as vestes do pecador e quis tomar sobre si as penas devidas a nós pecadores, para nos obter o perdão e nos tornar justos aos olhos de Deus.

A segunda figura do sacrifício que Jesus Cristo ofereceu por nós a seu eterno Pai na cruz, foi a “serpente de bronze” suspensa em um poste, que curava os hebreus mordidos pela serpente de fogo, quando para ela olhavam (Nm 21, 8). Assim escreve São João: “Como Moisés suspendeu a serpente no deserto, assim importa que seja levantado o Filho do homem, para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 14).

À LUZ DAS PROFECIAS

É preciso refletir que no capítulo 2.º da “Sabedoria” está predita a morte ignominiosa de Jesus Cristo. Ainda que as palavras desse capítulo possam se referir à morte de qualquer homem justo, contudo, afirma Tertuliano, São Cipriano, São Jerônimo e muitos outros santos Padres, que de modo especial quadram à morte de Cristo: Aí se diz no versículo 18: “Se realmente é o verdadeiro filho de Deus, ele o amparará e o livrará das mãos dos contrários”. Essas palavras correspondem perfeitamente ao que diziam os judeus, quando Jesus estava na cruz: “Confiou em Deus: livre-o agora, se o ama; pois disse que era filho de Deus” (Mt 27, 43). Continua o sábio a dizer: “Façamos-lhe perguntas por meio de ultrajes e tormentos… e provemos a sua paciência. Condenemo-lo a uma morte a mais infame” (Sb 2, 19-20). Os judeus escolheram para Jesus Cristo a morte da cruz, que era a mais ignominiosa, para que seu nome ficasse para sempre aviltado e não fosse mais relembrado, segundo um outro testemunho de Jeremias: “Ponhamos madeira no seu pão e exterminemo-lo da terra dos viventes e não haja mais memória de seu nome” (Jr 11, 19). Ora, como podem dizer hoje em dia os judeus ser falso que Jesus fosse o Messias prometido, por ter sido arrebatado deste mundo por uma morte torpíssima, quando seus mesmos profetas haviam predito que ele deveria ter uma morte tão vil?

Jesus aceitou, porém, semelhante morte porque morria para pagar os nossos pecados: também por esse motivo quis qual pecador ser circuncidado, ser resgatado quando foi apresentado ao templo, receber o batismo de penitência de São João. Na sua paixão, finalmente quis ser pregado na cruz para pagar por nossos licenciosas liberdades, com a sua nudez reparar a nossa avareza, com os opróbrios a nossa soberba, com a sujeição aos carnífices a nossa ambição de dominar, com os espinhos os nossos maus pensamentos, com o fel a nossa intemperança e com as dores do corpo os nossos prazeres sensuais. Deveríamos por isso continuamente agradecer com lágrimas de ternura ao eterno Pai por ter entregue seu Filho inocente à morte para livrar-nos da morte eterna. “O qual não poupou seu próprio Filho, mas entregou-o por todos nós: como não nos deu também com ele todas as coisas?” (Rom 8, 32). Assim fala São Paulo e o próprio Jesus diz, segundo São João (3, 16): “Tanto Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito”. Daí exclamar a santa Igreja no sábado santo: “Ó admirável dignação de vossa piedade para conosco! Ó inestimável excesso de vossa caridade! Para resgatar o escravo, entregastes o vosso Filho”. Ó misericórdia infinita, ó amor infinito de nosso Deus, ó santa fé! Quem isto crê e confessa, como poderá viver ser arder em santo amor para com esse Deus tão amante e tão amável?

Ó Deus eterno, não olheis para mim, carregado de pecados, olhai para vosso Filho inocente, pregado numa cruz, e que vos oferece tantas dores e suporta tantos ludíbrios para que tenhais piedade de mim. Ó Deus amabilíssimo e meu verdadeiro amigo, por amor, pois, desse Filho que vos é tão caro, tende piedade de mim. A piedade que desejo é que me concedais o vosso santo amor. Ah, atraí-me inteiramente a vós do meio do lodo de minhas torpezas. Consumi, ó fogo devorador, tudo o que vedes de impuro na minha alma e a impede de ser toda vossa.

NOSSO FIADOR

Agradeçamos ao Pai e agradeçamos igualmente ao Filho que quis tomar a nossa carne e juntamente os nossos pecados para dar a Deus com sua paixão e morte uma digna satisfação. Diz o Apóstolo que Jesus Cristo se fez nosso fiador, obrigando-se a pagar as nossas dívidas (Hb 7, 22). Como mediador entre Deus e os homens, estabeleceu um pacto com Deus por meio do qual se obrigou a satisfazer por nós a divina justiça e em compensação prometeu-nos da parte de Deus a vida eterna. Já com muita antecedência o Eclesiástico nos advertia que não nos esquecêssemos do benefício deste divino fiador, que, para obter a salvação, quis sacrificar a sua vida (Eclo 29, 20). E para mais nos assegurar do perdão, diz São Paulo, foi que Jesus Cristo apagou com seu sangue o decreto de nossa condenação, que continha a sentença da morte eterna contra nós, e a afixou à cruz, na qual, morrendo, satisfez por nós a justiça divina (Col 2, 14). Ah, meu Jesus, por aquele amor que vos obrigou a dar a vida e o sangue no Calvário por mim, fazei-me morrer a todos os afetos deste mundo, fazei que eu me esqueça de tudo para não pensar senão em vos amar e dar-vos gosto. Ó meu Deus, digno de infinito amor, vós me amastes sem reserva e eu quero também amar-vos sem reserva. Eu vos amo, meu sumo Bem, eu vos amo, meu amor, meu tudo.

Em suma, tudo o que nós podemos ter de bens, de salvação, de esperança, tudo possuímos em Jesus Cristo e nos seus merecimentos, como disse São Pedro: “E não há em outro nenhuma salvação, nem foi dado aos homens um outro nome debaixo dos céus em que nós devemos ser salvos” (At 4, 12). Assim para nós não há esperança de salvação senão nos merecimentos de Jesus Cristo. Donde São Tomás, com todos os teólogos, conclui que depois da promulgação do Evangelho nós devemos crer explicitamente, por necessidade não só de preceito, como também de meio, que somente por meio de nosso Redentor nos é possível a salvação.

Todo o fundamento de nossa salvação está, portanto, na redenção humana do Verbo divino, operado na terra. É preciso, pois, refletir que ainda que as ações de Jesus Cristo feitas no mundo, sendo ações de uma pessoa divina, eram de um valor infinito, de maneira que a mínima delas bastava para satisfazer a justiça divina por todos os pecados dos homens, contudo só a morte de Jesus foi o grande sacrifício com o qual se completou a nossa redenção, motivo pelo qual as Sagradas Escrituras se atribui a redenção do homem principalmente à morte por ele sofrida na cruz: “Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2, 8). Razão por que escreve o Apóstolo que, quando tomamos a sagrada eucaristia, nos devemos recordar da morte do Senhor: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste vinho, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Cor 11,26). Por que é que diz da morte e não da encarnação, do nascimento, da ressurreição? Porque foi esse tormento, o mais doloroso de Jesus Cristo, que completou a redenção.

Por isso dizia S. Paulo: “Não julgueis que eu sabia alguma coisa entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Cor 2,2). Muito bem sabia o apóstolo que Jesus Cristo nascera numa gruta, que habitara por trinta anos uma oficina que ressuscitara e subira aos céus. Por que então escreve que não sabia outra coisa senão Jesus crucificado? Porque a morte sofrida por Jesus na cruz era o que mais o movia a amá-lo e o induzia a prestar obediência a Deus, a exercer a caridade para com o próximo, a paciência nas adversidades, virtudes praticadas e ensinadas particularmente por Jesus Cristo na cátedra da cruz. São Tomás escreve: “Em qualquer tentação encontra-se na cruz o auxílio; aí a obediência para com Deus, aí a caridade para com o próximo, aí a paciência nas adversidades, donde assevera Agostinho: A cruz não foi só o patíbulo do mártir, como também a cátedra do mestre”. (In c. 12 ad Heb.).

À SOMBRA DA CRUZ

Almas devotas, procuremos ao menos imitar a esposa dos Cânticos, que dizia: “Eu assentei-me à sombra daquele que tanto desejei” (Cânt 2, 3). Oh! que doce repouso as almas que amam a Deus encontram nos tumultos deste mundo e nas tentações do inferno e mesmo nos temores dos juízos de Deus, contemplando a sós em silêncio o nosso amado Redentor agonizando na cruz, gotejando seu sangue divino de todos os seus membros já feridos e rasgados pelos açoites, pelos espinhos e pelos cravos. Oh! como a vista de Jesus crucificado afugenta de nossas mentes todos os desejos de honras mundanas, das riquezas da terra e dos prazeres dos sentidos! Daquela cruz emana uma vibração celeste, que docemente nos desprende dos objetos terrenos e acende em nós um santo desejo de sofrer e morrer por amor daquele que quis sofrer tanto e morrer por amor de nós.

Ó Deus, se Jesus Cristo não fosse o que ele é, Filho de Deus e verdadeiro Deus nosso criador e supremo senhor, mas um simples homem, quem não sentiria compaixão vendo um jovem de nobre linhagem, inocente e santo, morrer à força de tormentos sobre um madeiro infame, para pagar, não os seus delitos, mas os de seus mesmos inimigos e assim libertá-los da morte em perspectiva? E como é possível que não ganhe os afetos de todos os corações um Deus que morre num mar de desprezos e de dores por amor de suas criaturas? Como poderão essas criaturas amar outra coisa fora de Deus? Como pensar em outra coisa que em ser gratos para com esse tão amante benfeitor? “Oh! se conhecesses o mistério da cruz!”. disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna, certamente não te empenharias em persuadir-me a renegá-lo; pelo contrário, tu mesmo abandonarias tudo o que possuis e esperas nesta terra para comprazeres e contentares um Deus que tanto te amou. Assim já procederam tantos santos e tantos mártires que abandonaram tudo por Jesus Cristo. Que vergonha para nós, quantas tenras virgenzinhas renunciaram a casamentos principescos, riquezas reais e todas as delícias terrenas e voluntariamente sacrificaram sua vida para testemunhar qualquer gratidão pelo amor que lhes demonstrou este Deus crucificado.

Como explicar então que a muitos cristãos a Paixão de Cristo faz tão pouca impressão? Isso provém do pouco que consideram nos padecimentos sofridos por Jesus Cristo por nosso amor. Ah, meu Redentor, também eu estive no número desses ingratos. Vós sacrificastes vossa vida sobre uma cruz, para que não me perdesse, e eu tantas vezes quis perder-vos, ó bem infinito, perdendo a vossa graça! Ora, o demônio, com a recordação de meus pecados, pretenderia tornar-me dificílima a salvação, mas a vista de vós crucificado, meu Jesus, me assegura que não me repelireis de vossa face se eu me arrepender de vos haver ofendido e quiser vos amar. Oh! sim, eu me arrependo e quero amar-vos com todo o meu coração. Detesto aqueles malditos prazeres que me fizeram perder a vossa graça. Amo-vos, ó amabilidade infinita, e quero amar-vos sempre e a recordação de meus pecados servirá para me inflamar ainda mais no vosso amor, que viestes em busca de mim quando eu de vós fugia. Não, não quero mais separar-me de vós, nem deixar mais de vos amar, ó meu Jesus. Maria, refúgio dos pecadores, vós que tanto participastes das dores de vosso Filho na sua morte, suplicai-lhe que me perdoe e me conceda a graça de o amar.

Fonte: “Reflexões sobre a Paixão de Jesus Cristo expostas às almas devotas”

Tradução: Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R.

Publicado em Blog Quadrante (Quadrante Editora é uma entidade sem fins lucrativos, que iniciou as atividades no ano de 1964, em São Paulo, com a publicação do livro Caminho, de São Josemaria Escrivá).

Imagem: Relógio da Paixão (Pinterest).

Tempo do Advento: Preparar a Vinda do Senhor

O Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós. O Advento é um tempo no qual a Igreja convida os seus filhos a vigiar, a estar despertos para receber a Cristo que passa, a Cristo que vem. Editorial sobre este tempo do ano litúrgico.

“Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos.” Essas palavras da oração coleta do primeiro domingo do Advento iluminam com grande eficácia o caráter peculiar desse tempo, em que se dá início ao Ano litúrgico. Imitando a atitude das virgens prudentes da parábola evangélica, que souberam preparar o azeite para as bodas do Esposo [1], a Igreja convida os seus filhos a vigiar, a estar despertos para receber a Cristo que passa, a Cristo que vem.

Tempo de presença

Ao dizer adventus, os cristãos afirmavam, simplesmente, que Deus está aqui: o Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós.

O desejo de sair ao encontro, de preparar a vinda do Senhor[2], nos coloca diante do termo grego parusia, que o latim traduz como adventus, de onde surge a palavra Advento. De fato, adventus pode ser traduzido como “presença”, “chegada”, “vinda”. Não se trata, portanto, de uma palavra inventada pelos cristãos: era usada na Antiguidade em âmbito não cristão para designar a primeira visita oficial de um personagem importante – o rei, o imperador ou um de seus funcionários – por motivo da sua tomada de posse. Também podia indicar a vinda da divindade, que sai da sua ocultação para se manifestar com força, o que se celebra no culto. Os cristãos adotaram o termo para expressar a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei que entrou nesta pobre “província”, nossa terra, para visitar a todos, um Rei que convida a participar na festa do seu Advento todos os que creem n’Ele, a todos que estão certos de sua presença entre nós.

Ao dizer adventus, os cristãos afirmavam, simplesmente, que Deus está aqui: o Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós. Mesmo que não possamos vê-lo ou tocá-lo, como ocorre com as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem nos visitar de muitas formas: na leitura da Sagrada Escritura, nos sacramentos, especialmente na Eucaristia, no ano litúrgico, na vida dos santos, em tantos episódios, mais ou menos comuns, da vida cotidiana, na beleza da criação… Deus nos ama, conhece nosso nome, tudo o que é nosso lhe interessa e está sempre presente junto de nós. Esta segurança da sua presença, que a liturgia do Advento nos sugere discretamente, mas com constância ao longo destas semanas, não esboça uma nova imagem do mundo ante nossos olhos? “Essa certeza, que procede da fé, faz-nos olhar o que nos cerca sob uma nova luz, e leva-nos a perceber que, permanecendo tudo como antes, tudo se torna diferente, porque tudo é expressão do amor de Deus.”[3]

Uma memória agradecida

O Advento nos convida a pararmos, em silêncio, para captar a presença de Deus. São dias para voltar a considerar, com palavras de São Josemaria, que “Deus está junto de nós continuamente. – Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um Pai amoroso – quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos -, ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando… e perdoando” [4].

Se esta realidade inundar a nossa vida, se a consideramos com frequência no tempo do Advento, nos sentiremos animados a dirigir-lhe a palavra com a confiança na oração, e muitas vezes durante o dia, lhe apresentaremos os sofrimentos que nos entristecem, a impaciência e as perguntas que brotam de nosso coração. Este é um momento oportuno para que cresça em nós a segurança de que Ele nos escuta sempre. “A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado!” [5]

Compreendemos também como os acontecimentos às vezes inesperados de cada dia são gestos personalíssimos que Deus nos dirige, sinais do seu olhar atento sobre cada um de nós. Acontece que costumamos estar muito atentos aos problemas, às dificuldades, e às vezes mal nos restam forças para perceber tantas coisas belas e boas que vêm do Senhor. O Advento é um tempo para considerar, com mais frequência, como Ele nos protegeu, guiou e ajudou nas vicissitudes de nossa vida, para louvá-lo por tudo o que fez e continua fazendo por nós.

Esse estar despertos e vigilantes perante os detalhes de nosso Pai no céu floresce em ações de graças. Nasce assim em nós uma memória do bem que nos ajuda inclusive na hora escura das dificuldades, dos problemas, da doença, da dor. “A alegria evangelizadora – escreve o Papa – refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos pedir.” [6] O Advento nos convida a escrever, por dizer de alguma forma, um diário interior deste amor de Deus por nós. “Acredito que vós e eu – dizia São Josemaria – ao pensarmos nas circunstâncias que acompanharam a nossa decisão de nos esforçarmos por viver integralmente a fé, daremos muitas graças ao Senhor e teremos a convicção sincera – sem falsas humildades – de que não houve nisso mérito algum da nossa parte.” [7]

Deus vem

A alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos pedir (Papa Francisco)

Dominus veniet![8] Deus vem! Esta breve exclamação que abre o tempo do Advento ressoa especialmente ao longo destas semanas, e depois, durante todo o ano litúrgico. Deus vem! Não se trata simplesmente de que Deus tenha vindo, de algo do passado, nem tampouco é um simples anúncio de que Deus virá, em um futuro que poderia não ter excessiva transcendência para nosso hoje e agora. Deus vem: se trata de uma ação sempre em andamento, está acontecendo, acontece agora e continuará a acontecer conforme passe o tempo. A todo momento, “Deus vem”: em cada instante da história, o Senhor continua dizendo: “Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho”[9].

O Advento nos convida a tomar consciência desta verdade e a atuar de acordo com ela. “Já é hora de despertardes do sono”, “ficai atentos”, “o que vos digo, digo a todos: vigiai!”[10]. São chamadas da Sagrada Escritura nas leituras do primeiro domingo do Advento que nos lembram dessas constantes vindas, adventus, do Senhor. Nem ontem, nem amanhã, mas hoje, agora. Deus não está só no céu, desinteressado de nós e da nossa história; na realidade, Ele é o Deus que vem. A meditação atenta dos textos da liturgia do Advento nos ajuda a preparar-nos, para que a sua presença não passe despercebida.

Para os Padres da Igreja, a “vinda” de Deus -continua e conatural com seu próprio ser- se concentra nas duas principais vindas de Cristo: a de sua encarnação e a da sua volta glorioso no fim da história.[11] O tempo do Advento se desenvolve entre esses dois polos. Nos dias iniciais se sublinha a espera da última vinda do Senhor no fim dos tempos. E, à medida que se aproxima o Natal, abre-se caminho à memória do acontecimento em Belém, no qual se reconhece a plenitude dos tempos. “Por essas duas razões o Advento se manifesta como tempo de uma espera piedosa e alegre” [12].

O prefácio I do Advento sintetiza esse duplo motivo: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez, para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” [13].

Dias de espera e esperança

Um aspecto fundamental do Advento é, portanto, a espera, mas uma espera que o Senhor converte em esperança. A experiência nos mostra que passamos a vida esperando: quando somos crianças queremos crescer, na juventude aspiramos a um amor grande, que nos preencha, quando somos adultos buscamos a realização profissional, o sucesso determinante para o resto de nossa vida, quando chegamos à idade avançada aspiramos ao merecido descanso. No entanto, quando essas esperanças se cumprem, ou quando fracassam, percebemos que isso, na realidade, não era tudo. Precisamos de uma esperança que vá além do que podemos imaginar, que nos surpreenda. Assim, mesmo que existam esperanças maiores ou menores que dia a dia nos mantêm no caminho, na verdade, sem a grande esperança – a que nasce do Amor que o Espírito Santo pôs em nosso coração[14] e aspira a esse Amor-, todas as outras não bastam.

O Advento nos anima a perguntar “O que esperamos?”, “Qual é a nossa esperança?” Ou, de modo ainda mais profundo, “Que sentido tem meu presente, meu hoje e agora?” “Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso” [15].

Um presépio para nosso Deus

Nosso tempo presente tem um sentido porque o Messias, esperado por séculos, nasce em Belém. Juntamente com Maria e José, com a assistência dos nossos Anjos da Guarda, lhe esperamos com o desejo renovado. Cristo, ao vir entre nós, nos oferece o dom do seu amor e da sua salvação. Para os cristãos a esperança está animada por uma certeza: o Senhor está presente ao longo de toda nossa vida, no trabalho e nos afãs cotidianos, nos acompanha e um dia enxugará também nossas lágrimas. Um dia, não tão distante, tudo encontrará o seu cumprimento no reino de Deus, reino de justiça e de paz. “O tempo do Advento nos restitui o horizonte da esperança, uma esperança que não decepciona porque é fundada na Palavra de Deus. Uma esperança que não decepciona, simplesmente porque o Senhor não decepciona nunca!” [16]

O Advento é um tempo de presença e de espera do eterno, um tempo de alegria, de uma alegria íntima que nada pode eliminar: “eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria” [17]. O gozo no momento da espera é uma atitude profundamente cristã, que vemos plasmada na Santíssima Virgem: Ela, desde o momento da Anunciação, esperou “com amor de mãe” [18] a vinda de seu Filho, Jesus Cristo. Por isso, Ela também nos ensina a aguardar ansiosamente a chegada do Senhor, ao mesmo tempo que nos preparamos interiormente para esse encontro, com o desejo de “construir com o coração um presépio para nosso Deus” [19].

Juan José Silvestre

[1] Cfr. Mt 25, 1ss.

[2] Cfr. Tes 5, 23.

[3] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 144.

[4] São Josemaria, Caminho, n. 267.

[5] Missal Romano, I Domingo do Advento, Antífona de entrada. Cf. Sal 24 (25) 1-2.

[6] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24-XI-2013, n. 13.

[7] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 1.

[8] Cfr. Missal Romano, Feria III (terça-feira) das semanas I-III do Advento, Antífona de entrada. Cfr. Za 14, 5.

[9] Jo 5, 17.

[10] Rm 13, 11; Lc 21, 36; Mc 13, 37.

[11] Cfr. São Cirilo de Jerusalém, Catequese 15, 1: PG 33, 870 (II Leitura do Ofício de Leituras do I Domingo do Advento).

[12] Calendário Romano, Normas universais sobre o ano litúrgico e sobre o calendário, n. 39.

[13] Missal Romano, Prefácio I do Advento.

[14] Cfr. Rom 5, 5

[15] Bento XVI, Homilia I Véspera do I Domingo do Advento, 28-XI-2009.

[16] Francisco, Ângelus, 1-XII-2013.

[17] Jo 16, 22.

[18] Missal Romano, Prefácio II do Advento.

[19] Notas de uma meditação, 25-XII-1973 (AGP, biblioteca, P09, p. 199). Publicado em Álvaro del Portillo, Caminar con Jesús. Al compás del año litúrgico, Ed. Cristiandad, Madrid 2014, p. 21.

Publicado em Opus Dei.

O perigo do Halloween

Quando se trata de Halloween no meio cristão, existem duas reações muito comuns que estamos acostumados a ver nas pessoas: ou imediatamente se posicionam contra, com firmeza e repulsa, ou então reviram os olhos, achando que é exagero, por parte de alguns, privar-se de uma festa cultural que consideram inocente. Nenhuma dessas duas figuras, no entanto, vai de fato atrás para entender os verdadeiros motivos, raízes, perigos e tudo que está por trás do dia 31 de outubro de todos os anos.

O Halloween, em sua origem, não era uma festa pagã. Muito pelo contrário! Seu próprio nome se remete justamente a uma celebração católica. “All Hallow’s Eve”, em português, a Véspera do dia de Todos os Santos. É verdade que os povos celtas da Irlanda possuíam um pequeno festival pagão na mesma data, mas, conforme o catolicismo se espalhava pela Europa, os Papas da Igreja conseguiram ressignificar esta festa. No Século VIII, o Papa Gregório III definiu o dia 1º de novembro como dia da comemoração de Todos os Santos em Roma e, alguns anos mais tarde, o Papa Gregório IV estendeu a celebração para todos os lugares.

All Hallow’s Eve

A celebração da Véspera do dia de Todos os Santos se tornou uma forma de evangelização nos países do Reino Unido, embora ainda distante de ser como o Halloween que conhecemos hoje em dia. Naquela época, visitavam-se cemitérios e faziam-se encenações sobre demônios e sobre as almas condenadas como forma de catequese, ensinando ao povo sobre a existência do Inferno e a importância de renunciar à vida de pecado. No dia seguinte, ensinava-se sobre o Céu e sobre os Santos, e no próximo dia, sobre o Purgatório.

As mudanças sofridas nessa data tiveram início na Reforma Protestante e foram concretizadas com uma mistura de culturas na colonização da América do Norte. A retomada de práticas pagãs na noite do dia 31 de outubro, como o culto aos mortos, práticas ocultistas etc., foi ocasionada aos poucos a partir do momento em que a Família Real Inglesa proibia a celebração de cerimônias católicas.

Quando tudo isso chegou aos Estados Unidos, outras culturas foram inseridas e misturadas com a celebração. Existem diversas teorias que sugerem a origem de elementos como a abóbora, “doces ou travessuras”, e a formação do termo Halloween como conhecemos hoje. Não vem ao caso explorá-las aqui, embora se acredite que muitos desses aspectos também tenham surgido de práticas católicas (como por exemplo a doação de comida aos pobres).

“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém.” 1Cor 6, 12

O Halloween foi então, ao longo dos anos, de uma cerimônia de evangelização cristã que mostrava o horror do Inferno para uma cerimônia de exaltação a ele, aos seus demônios e ao espiritismo. E isso é motivo suficiente para que tenhamos cuidado com essa festa que, superficialmente, parece inocente e infantil.

Como São Paulo diz na carta aos Coríntios: nem tudo convém. Ainda que a intenção do seu coração seja boa, ainda que não haja malícia de sua parte, muito menos nas suas crianças, se expor ao que é a festa de Halloween hoje em dia é se expor ao perigo da contaminação espiritual. Práticas ocultistas acontecem às escondidas de um lado, enquanto, do outro, crianças inocentemente banalizam e contribuem para que, cada dia mais, as pessoas deixem de acreditar na existência de demônios e do Inferno.

Para Satanás, é extremamente vantajoso que deixem de acreditar nele, pois não combatemos aquilo que teoricamente não existe. E essa tem sido sua estratégia ao longo da história. O Inferno não escandaliza mais como escandalizava antes. Pelo contrário, uma inversão de valores tem sido impregnada na nossa cultura. Exalta-se o feio, o horrendo, o esquisito, o macabro. E o Belo, que é o que vem de Deus, é desprezado e zombado.

Tudo aquilo que envolve o Halloween atualmente não condiz mais com os verdadeiros valores cristãos, portanto diversos perigos cercam esta prática e não nos convém participar dela. Não devemos condenar, todavia, quem participa por ignorância. Sei que explicar isso para as crianças pode ser um desafio, mas nunca podemos nos esquecer da Sabedoria do Espírito Santo que nos auxilia nestes momentos.

A partir do momento em que sabemos sobre a origem do Halloween no catolicismo, podemos usar disso para recapitular este sentido na vida de nossas crianças. E também usar da oportunidade para ensiná-las sobre o Céu e o Inferno, e convidá-las a celebrar então o dia de Todos os Santos, com doces e fantasias assim como gostam.

Giovana Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator

Publicado em Comunidade Católica Pantokrator.

13 DE OUTUBRO: DIA MUNDIAL DA COMUNHÃO REPARADORA

 Hoje, dia 13 de outubro, é o dia mundial da comunhão reparadora. Nossa Senhora fez este pedido quando apareceu a Fantanelle -Itália,  à Pierina Gilli, no dia 06 de agosto do ano de 1967, quando se festejava naquele tempo a Festa da Trasnfiguração do Senhor.

Já em Fátima, a Santíssima Virgem havia ensinado na sua terceira aparição na Cova da Iria a 13 de julho de 1917, aos três pastorzinhos Lúcia, Francisco e Jacinta uma oração a ser rezada diariamente quando fizéssemos sacrifícios e penitências pelos pecadores:

Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!

Os insistentes apelos da Mãe de Deus à reparação nos coloca numa posição de filhos que devem consolar o seu Coração Materno, que é transpassado de dor pelos pecados dos homens ingratos. Ofereçamos à Santíssima Mãe as nossas orações, o nosso amor, as nossas penitências e sacrifícios deste dia, como um verdadeiro ato de reparação e de amor, a fim de que muitos espinhos dolorosos que perfuram o seu amantíssimo Coração sejam tirados. Supliquemos constantemente e diariamente a conversão dos pecadores, começando por nós mesmos, a viver uma vida de acordo com a vontade de Deus, afastando-nos de tudo aquilo que possa desagradar e ofender o seu Sagrado Coração, não fazendo assim Nossa Senhora sofrer, pois não tem maior sofrimento para a Virgem Santa do que ver seu Filho Divino tão ultrajado e ofendido pelos pecados do mundo.

Os pecados que determinaram os castigos da Primeira Guerra Mundial foram:

1. A imoralidade dos costumes;

2. A decadência do clero, devida ao liberalismo e a tendência à boa vida, mesmo no clero mais conservador;

3. E -evidentemente – a heresia no clero mais progressista, isto é, o Mordenismo, condenado por São Pio X, em 1908.

Dissemos que  os pecados foram a primeira causa do primeiro castigo, e, como disse e mostrou Nossa Senhora aos pastorzinhos, muitas almas se perdiam pelos pecados no começo do século XX. Que dirá hoje?

A nossa reparação oferecida a Deus deve ser de coração, de alma e de corpo. Deus está a espera daqueles que queiram se doar pela salvação do seu próximo. O próprio Jesus nos disse: Não tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos! (Jo 15,13). É isto que Deus espera de nós: Dar a vida por seus amigos!…Dar a vida pela conversão e salvação das almas e do mundo! Ser uma luz para os outros que andam nas trevas e que estão morrendo sem fé e sem esperança. Cada ato de amor oferecido a Deus pela salvação do próximo e do mundo é uma reparação por tantos pecados e blasfêmias cometidos contra a sua Majestade Divina. Cada suor derramado pela implantação do reino de amor de Cristo no coração e nas almas, são espinhos tirados do Coração da Virgem Mãe, pois ela é consolada, quando vê os seus filhos que estavam mortos espiritualmente, sendo ressuscitados para o amor e para a graça divina.

O nosso jejum, o nosso sacrifício e a nossa penitência se tornam poderosos, cheios de frutos e das graças de Deus quando são oferecidos com um coração limpo e renovado, com um espírito novo em Deus. Não adianta querermos mudar o mundo se não mudamos o nosso interior primeiramente, e o primeiro passo que devemos dar diante de Deus é o do arrependimento, pedindo perdão dos nossos pecados. Este é o primeiro ato de reparação que fazemos a Deus, quando começamos o nosso caminho de conversão, renunciando ao pecado e ao mundo; deste ato surgirão muitos outros que se complementarão e se transformarão em luz e graça para as nossas vidas. Se queremos que os nossos atos de reparação sejam perfeitos e agradáveis ao Senhor devemos pedir o auxílio e a graça daquela que mais amou e reparou a Majestade Divina, devemos recorrer à Virgem Santa Imaculada, perfeita oferenda de amor que tanto alegrou o Coração de Deus. Em união com a Virgem Maria , a reparação nunca terá presunção, falsidade ou pecado. Nenhuma imperfeição acompanha o que é feito em união com ela. Os que fazem reparação com a Virgem Imaculada, os fazem com sua fé. O que eles executam imperfeitamente, por distração, cansaço ou outra coisa, torna-se perfeito através da Virgem Maria. Precisamos pedir à Santíssima Virgem, sinceramente e de todo o coração, então ela rezará conosco. Quem tem amor-próprio não conseguirá jamais reparar, pois o amor próprio busca somente aos interesses pessoais, enquanto o amor ao próximo busca os interesses de Deus, pela salvação do mundo.

Publicado em A.R.R.P.I – Santuário de Itapiranga.

Julho é o mês dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor

O mês de julho, na tradição católica, é especialmente dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta devoção destaca o sacrifício redentor de Cristo e a importância do seu sangue derramado para a salvação da humanidade. Celebrar o Preciosíssimo Sangue é reconhecer o profundo mistério da redenção e a grandeza do amor de Deus pelos seus filhos. Quando olhamos a imagem do Sagrado Coração de Jesus observamos que Jesus aponta para o seu coração. O coração de Jesus é a fonte de amor e Jesus expressou esse amor doando todo o seu sangue para nos resgatar. Sangue é vida!

Origem da Devoção

A devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo tem raízes profundas na história da Igreja. Desde os primeiros tempos do cristianismo, o sangue de Cristo foi venerado como o preço da redenção da humanidade. Um dos primeiros a ter a devoção ao preciosíssimo sangue de Jesus foi São Gaspar de Búfalo. Ele propagou fortemente essa devoção, tendo a aprovação da Santa Sé. Foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue (CPPS) em 1815.

No entanto, a formalização desta devoção como um mês específico dedicado ao Preciosíssimo Sangue ocorreu no século XIX. O Papa Pio IX, em 1849, instituiu oficialmente a festa do Preciosíssimo Sangue em resposta à turbulência política da época e às ameaças contra a Igreja. Em 1969, o Papa Paulo VI incorporou a festa ao Calendário Litúrgico Geral, estabelecendo o primeiro domingo de julho como o dia da sua celebração.

Significado Teológico

O Preciosíssimo Sangue de Cristo é um símbolo poderoso do sacrifício redentor de Jesus na cruz. Segundo a doutrina católica, o sangue de Cristo foi derramado para expiar os pecados da humanidade, oferecendo salvação e reconciliação com Deus. Este sacrifício é central para a fé cristã e é celebrado na Eucaristia, onde os fiéis participam do corpo e sangue de Cristo. Através do seu sangue, Jesus estabelece uma nova aliança, superando a antiga aliança baseada nos sacrifícios de animais, e oferecendo uma redenção eterna.

Práticas Devocionais

Durante o mês de julho, os católicos são incentivados a aprofundar a sua devoção ao Preciosíssimo Sangue de várias maneiras. Entre as práticas mais comuns estão a participação na Santa Missa, a recitação do Terço do Preciosíssimo Sangue, a realização de novenas e a meditação sobre as Estações da Cruz. Essas práticas ajudam os fiéis a refletir sobre o sacrifício de Cristo e a renovar o compromisso com a vida cristã. A oração “Anima Christi”, que pede especificamente a proteção do sangue de Cristo, também é frequentemente recitada durante este mês.

Reflexão Espiritual

A devoção ao Preciosíssimo Sangue não é apenas uma lembrança do sofrimento de Cristo, mas também um chamado à transformação pessoal. Os fiéis são convidados a refletir sobre o significado do sacrifício de Jesus nas suas vidas, a reconhecer os seus pecados e a procurar a misericórdia divina. O sangue de Cristo, como fonte de vida e redenção, inspira os católicos a viverem de maneira mais plena e comprometida com os valores do Evangelho. Esta devoção promove uma espiritualidade de gratidão, humildade e renovação constante.

Importância para a Igreja

A devoção ao Preciosíssimo Sangue de Cristo fortalece a identidade e a unidade da Igreja. Ela lembra aos fiéis que todos são redimidos pelo mesmo sacrifício e chamados a viver em comunhão com Deus e com os outros. Adicionalmente, esta devoção destaca a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja, onde o mistério da redenção é renovado e celebrado continuamente. O mês de julho, dedicado ao Preciosíssimo Sangue, oferece uma oportunidade para a Igreja renovar a sua missão de testemunhar o amor redentor de Cristo ao mundo.

Conclusão

O mês de julho, dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor, é um período de profunda reflexão e renovação espiritual para os católicos. Através desta devoção, os fiéis são lembrados do imenso amor de Cristo, manifestado no seu sacrifício redentor. Celebrar o Preciosíssimo Sangue é uma oportunidade para os cristãos aprofundarem a sua fé, renovarem o seu compromisso com a vida cristã e unirem-se mais intimamente à missão da Igreja. Ao refletir sobre o sacrifício de Cristo, os fiéis são inspirados a viver de maneira mais plena e comprometida, testemunhando o amor redentor de Deus nas suas vidas diárias.

Publicado em Via Crucis.

Hoje a Igreja celebra a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus

REDAÇÃO CENTRAL, 01 Jan. 23 / 12:01 am (ACI).- A solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (Theotokos) é a mais antiga que se conhece no Ocidente. Nas Catacumbas ou antiquíssimos subterrâneos de Roma, onde se reuniam os primeiros cristãos para celebrar a Santa Missa, encontram-se pinturas com esta inscrição.

Segundo um antigo testemunho escrito no século III, os cristãos do Egito se dirigiam a Maria com a seguinte oração: “Sob seu amparo nos acolhemos, Santa Mãe de Deus: não desprezeis a oração de seus filhos necessitados; livra-nos de todo perigo, oh sempre Virgem gloriosa e bendita” (Liturgia das Horas).

No século IV, o termo Theotokos era usado frequentemente no Oriente e Ocidente porque já fazia parte do patrimônio da fé da Igreja.

Entretanto, no século V, o herege Nestório se atreveu a dizer que Maria não era Mãe de Deus, afirmando: “Então Deus tem uma mãe? Pois então não condenemos a mitologia grega, que atribui uma mãe aos deuses”.

Nestório havia caído em um engano devido a sua dificuldade para admitir a unidade da pessoa de Cristo e sua interpretação errônea da distinção entre as duas naturezas – divina e humana – presentes Nele.

Os bispos, por sua parte, reunidos no Concílio de Éfeso (ano 431), afirmaram a subsistência da natureza divina e da natureza humana na única pessoa do Filho. Por sua vez, declararam: “A Virgem Maria sim é Mãe de Deus porque seu Filho, Cristo, é Deus”.

Logo, acompanhados pelo povo e levando tochas acesas, fizeram uma grande procissão cantando: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém”.

São João Paulo II, em novembro de 1996, refletiu sobre as objeções expostas por Nestório para que se compreenda melhor o título “Maria, Mãe de Deus”.

“A expressão Theotokos, que literalmente significa ‘aquela que gerou Deus’, à primeira vista pode resultar surpreendente; suscita, com efeito, a questão sobre como é possível que uma criatura humana gere Deus. A resposta da fé da Igreja é clara: a maternidade divina de Maria refere-se só a geração humana do Filho de Deus e não, ao contrário, à sua geração divina”, disse o papa.

“O Filho de Deus foi desde sempre gerado por Deus Pai e é-Lhe consubstancial. Nesta geração eterna Maria não desempenha, evidentemente, nenhum papel. O Filho de Deus, porém, há dois mil anos, assumiu a nossa natureza humana e foi então concebido e dado à luz por Maria”, acrescentou.

Do mesmo modo, afirmou que a maternidade da Maria “não se refere a toda a Trindade, mas unicamente à segunda Pessoa, ao Filho que, ao encarnar-se, assumiu dela a natureza humana”. Além disso, “uma mãe não é Mãe apenas do corpo ou da criatura física saída do seu seio, mas da pessoa que ela gera”, disse são João Paulo II.

Por fim, é importante recordar que Maria não é só Mãe de Deus, mas também nossa porque assim quis Jesus Cristo na cruz, quando a confiou a São João. Por isso, ao começar o novo ano, peçamos a Maria que nos ajude a ser cada vez mais como seu Filho e iniciemos o ano saudando a Virgem Maria.

Saudação à Mãe de Deus

Salve, ó Senhora santa, Rainha santíssima,
Mãe de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita igreja,
eleita pelo santíssimo Pai celestial,
que vos consagrou por seu santíssimo
e dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito!
Em vós residiu e reside toda a plenitude
da graça e todo o bem!
Salve, ó palácio do Senhor! Salve,
ó tabernáculo do Senhor!
Salve, ó morada do Senhor!
Salve, ó manto do Senhor!
Salve, ó serva do Senhor!
Salve, ó Mãe do Senhor,
e salve vós todas, ó santas virtudes
derramadas, pela graça e iluminação
do Espírito Santo,
nos corações dos fiéis
transformando-os de infiéis
em servos fiéis de Deus!

Publicado em ACI Digital.

O consumismo e o verdadeiro espírito do Natal

Natal é Jesus. Assim gostaria de começar esse texto, para que já fique explícito desde o começo qual é o verdadeiro sentido dessa festa que se aproxima. Sentido esse que fica muitas vezes em segundo plano nas celebrações, dando lugar a um consumismo desenfreado que cega o espírito que deveríamos ter nessa época.

consumismo

Isso não é novo. Todos sabemos que nessa época o comércio fica aberto até mais tarde para que possamos comprar aquelas coisas de última hora. Conhecemos a correria para comprar o tender, o peru, o presente daquela pessoa que tínhamos esquecido, etc….

Também não é novidade que existe uma reação à tudo isso. Podemos ver nos jornais, revistas e internet uma grande quantidade de pessoas que criticam todo esse consumismo que vemos nessas épocas. Mas aqui percebo um grande problema que estamos vivendo atualmente. Em vários desses artigos, os autores pregam um retorno à essência do Natal, que é o sentimento de família, a magia que ronda em torno a figura do Papai Noel, as luzes que enfeitam essa época “mágica”, a inocente alegria das crianças esperando o bom velhinho descer pela chaminé e outras coisas desse tipo.

“Natal é Jesus. E não se pode confundir isso apenas com sentimentos positivos”.

Por isso comecei o texto dessa maneira. Natal é Jesus. E não se pode confundir isso apenas com sentimentos positivos. Celebramos nessa data um acontecimento real. Deus veio ao mundo em um frágil menino, filho de Nossa Senhora de Nazaré. E é isso que devemos, como católicos, anunciar para o mundo inteiro.

O mundo está descontente. Esse exemplo do consumismo de Natal é bem gráfico. Se percebe intuitivamente que estamos celebrando mal essa festa, mas não se percebe qual é a Verdade que mostra como celebrá-la bem. De uma maneira mais geral, podemos dizer que o mundo muitas vezes está triste, cansado e procura sua alegria em coisas que não podem dar, porque a alegria verdadeira de todo mundo está em encontrar-se com Deus.

“Os presentes e a festa fazem parte de tudo isso. É um tempo de verdadeira alegria, mas que precisa ser entendida, para não perder o foco”. 

Mas encontrar-se com Ele não é tão simples assim. Ele não veio cheio de pompa, em um castelo imponente. Ele veio frágil, em uma manjedoura. Só o encontramos se ficamos atentos aos sinais dele em nossa vida, como os pastores que receberam a visita dos anjos e os reis magos que seguiram a estrela que os guiava. É preciso fazer silêncio e ficar atento. Exatamente o contrário do que muitas vezes fazemos nessas épocas.

Os presentes e a festa fazem parte de tudo isso. É um tempo de verdadeira alegria, mas que precisa ser entendida, para não perder o foco. Os reis magos trouxeram presentes para o menino Jesus. Presentes valiosos inclusive, ouro, incenso e mirra. Mas o fizeram sabendo porque o faziam. Tinham encontrado Jesus e essa era a alegria de cada um deles.

Mas realmente não importa se não podemos comprar nada nessa época. Existe uma música que é muito bonita, a canção do pequeno tamborileiro, que conta a história de um garotinho que havia encontrado a Jesus que tinha acabado de nascer em Belém, mas como era muito pobre, só podia tocar para Ele o seu velho tambor.

gesu-bambino

Muitos pensariam talvez que esse não é um presente digno de Deus, mas conta a música que quando Ele ouviu o toque do tambor, sorriu para o pequeno tamborileiro. Pensemos se com as nossas atitudes nesse Natal, estamos fazendo, nós também, com que Jesus sorria ou não.

Publicado em A12 Redação.

13 DE OUTUBRO: DIA MUNDIAL DA COMUNHÃO REPARADORA

 Hoje, dia 13 de outubro, é o dia mundial da comunhão reparadora. Nossa Senhora fez este pedido quando apareceu a Fantanelle -Itália,  à Pierina Gilli, no dia 06 de agosto do ano de 1967, quando se festejava naquele tempo a Festa da Trasnfiguração do Senhor.

Já em Fátima, a Santíssima Virgem havia ensinado na sua terceira aparição na Cova da Iria a 13 de julho de 1917, aos três pastorzinhos Lúcia, Francisco e Jacinta uma oração a ser rezada diariamente quando fizéssemos sacrifícios e penitências pelos pecadores:

Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!

Os insistentes apelos da Mãe de Deus à reparação nos coloca numa posição de filhos que devem consolar o seu Coração Materno, que é transpassado de dor pelos pecados dos homens ingratos. Ofereçamos à Santíssima Mãe as nossas orações, o nosso amor, as nossas penitências e sacrifícios deste dia, como um verdadeiro ato de reparação e de amor, a fim de que muitos espinhos dolorosos que perfuram o seu amantíssimo Coração sejam tirados. Supliquemos constantemente e diariamente a conversão dos pecadores, começando por nós mesmos, a viver uma vida de acordo com a vontade de Deus, afastando-nos de tudo aquilo que possa desagradar e ofender o seu Sagrado Coração, não fazendo assim Nossa Senhora sofrer, pois não tem maior sofrimento para a Virgem Santa do que ver seu Filho Divino tão ultrajado e ofendido pelos pecados do mundo.

Os pecados que determinaram os castigos da Primeira Guerra Mundial foram:

1. A imoralidade dos costumes;

2. A decadência do clero, devida ao liberalismo e a tendência à boa vida, mesmo no clero mais conservador;

3. E -evidentemente – a heresia no clero mais progressista, isto é, o Mordenismo, condenado por São Pio X, em 1908.

Dissemos que  os pecados foram a primeira causa do primeiro castigo, e, como disse e mostrou Nossa Senhora aos pastorzinhos, muitas almas se perdiam pelos pecados no começo do século XX. Que dirá hoje?

A nossa reparação oferecida a Deus deve ser de coração, de alma e de corpo. Deus está a espera daqueles que queiram se doar pela salvação do seu próximo. O próprio Jesus nos disse: Não tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos! (Jo 15,13). É isto que Deus espera de nós: Dar a vida por seus amigos!…Dar a vida pela conversão e salvação das almas e do mundo! Ser uma luz para os outros que andam nas trevas e que estão morrendo sem fé e sem esperança. Cada ato de amor oferecido a Deus pela salvação do próximo e do mundo é uma reparação por tantos pecados e blasfêmias cometidos contra a sua Majestade Divina. Cada suor derramado pela implantação do reino de amor de Cristo no coração e nas almas, são espinhos tirados do Coração da Virgem Mãe, pois ela é consolada, quando vê os seus filhos que estavam mortos espiritualmente, sendo ressuscitados para o amor e para a graça divina.

O nosso jejum, o nosso sacrifício e a nossa penitência se tornam poderosos, cheios de frutos e das graças de Deus quando são oferecidos com um coração limpo e renovado, com um espírito novo em Deus. Não adianta querermos mudar o mundo se não mudamos o nosso interior primeiramente, e o primeiro passo que devemos dar diante de Deus é o do arrependimento, pedindo perdão dos nossos pecados. Este é o primeiro ato de reparação que fazemos a Deus, quando começamos o nosso caminho de conversão, renunciando ao pecado e ao mundo; deste ato surgirão muitos outros que se complementarão e se transformarão em luz e graça para as nossas vidas. Se queremos que os nossos atos de reparação sejam perfeitos e agradáveis ao Senhor devemos pedir o auxílio e a graça daquela que mais amou e reparou a Majestade Divina, devemos recorrer à Virgem Santa Imaculada, perfeita oferenda de amor que tanto alegrou o Coração de Deus. Em união com a Virgem Maria , a reparação nunca terá presunção, falsidade ou pecado. Nenhuma imperfeição acompanha o que é feito em união com ela. Os que fazem reparação com a Virgem Imaculada, os fazem com sua fé. O que eles executam imperfeitamente, por distração, cansaço ou outra coisa, torna-se perfeito através da Virgem Maria. Precisamos pedir à Santíssima Virgem, sinceramente e de todo o coração, então ela rezará conosco. Quem tem amor-próprio não conseguirá jamais reparar, pois o amor próprio busca somente aos interesses pessoais, enquanto o amor ao próximo busca os interesses de Deus, pela salvação do mundo.

Publicado em A.R.R.P.I – Santuário de Itapiranga.

As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus

O mês de junho é um mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, o coração humano e divino transpassado de amor pela humanidade, conheça um pouco mais dessa devoção e das 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus para a humanidade.

Festa do Sagrado Coração

A festa do Sagrado coração de Jesus foi instituída oficialmente no calendário litúrgico pelo bem-aventurado Papa Pio IX, em 1856, após a aparição de Jesus à Santa Margarida Maria Alacoque em 1675.

Ela tinha visões onde Jesus mostrava Seu coração ferido, porém, inflamado de amor pela humanidade.

Do Sagrado Coração de Jesus transpassado pela lança, jorraram sangue e água para lavar os pecados da humanidade e cumprir as escrituras.

(…)

Devoção ao Sagrado Coração

“O Sagrado Coração de Jesus é também símbolo legítimo daquela imensa caridade que moveu o nosso Salvador a celebrar, com o derramamento do Seu sangue, o Seu místico matrimônio com a Igreja: sofreu a paixão por amor à Igreja que Ele devia unir a si como esposa” (Papa Pio IX).

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma devoção bastante difundida na Igreja, tendo como devotos São João Paulo II, o Papa emérito Bento XVI e diversos santos na história da Igreja.

Aparição à Santa Margarida Maria

Quando apareceu à Santa Margarida Maria Alacoque, Jesus pediu que fossem feitos atos reparadores ao Seu Sagrado Coração:

“Eis este coração que tanto tem amado os homens. Não recebo da maior parte senão ingratidões, desprezos, ultrajes, sacrilégios e indiferenças. Eis que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento (Corpus Christi) seja dedicada a uma festa especial para honrar o Meu coração, comungando, neste dia, e dando-lhe a devida reparação por meio de um ato de desagravo para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares.

Prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino amor sobre os que tributem essa divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada”.

As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus

Em sua aparição, Jesus fez 12 promessas à humanidade. Essas 12 promessas do Sagrado coração de Jesus são parte importante da devoção devoção.

Quais são as 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus:

1° Promessa: “A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração”;

2° Promessa: “Eu darei aos devotos de Meu Coração todas as graças necessárias a seu estado”;

3° Promessa: “Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias”;

4° Promessa: “Eu os consolarei em todas as suas aflições”;

5° Promessa: “Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte”;

6° Promessa: “Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos”;

7° Promessa: “Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias”;

8° Promessa: “As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção”;

9° Promessa: “As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição”;

10° Promessa: “Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos”;

11° Promessa: “As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração”;

12° Promessa: “A todos os que comunguem, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna”.

Ato de Reparação

Reze o Ato de reparação ao Sagrado Coração de Jesus:

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é por eles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados na Vossa presença, para Vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o Vosso amorosíssimo coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós mais de uma vez cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a Vossa misericórdia, prontos a expiar não só as próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não Vos querendo como pastor e guia, ou, conculcando as promessas do batismo, sacudiram o suavíssimo jugo da Vossa santa lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-Vos, mais particularmente da licença dos costumes e imodéstia do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra Vós e Vossos Santos, dos insultos ao Vosso Vigário e a todo o Vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino amor e, enfim, dos atentados e rebeldias das nações contra os direitos e o Magistério da Vossa Igreja.

Oh! Se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades!

Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, Vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação, que Vós oferecestes ao eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre nossos altares.

Ajudai-nos Senhor, com o auxílio da Vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a vivência da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nosso próximo, impedir, por todos os meios, novas injúrias de Vossa divina Majestade e atrair ao Vosso serviço o maior número de almas possíveis.

Recebei, ó benigníssimo Jesus, pelas mãos de Maria santíssima reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes, até à morte, no fiel cumprimento de nossos deveres e no Vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à pátria bem-aventurada, onde Vós com o Pai e o Espírito Santo viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.

Publicado em Aliança de de Misericórdia.

Junho: mês do Sagrado Coração de Jesus

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Neste mês de junho, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, somos convidados pela Igreja a contemplar e experimentar, nesta devoção, o infinito amor de Deus por nós.

“Na encíclica «Deus caritas est», citei a afirmação da primeira carta de São João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem e cremos nele» para sublinhar que, na origem da vida cristã, está o encontro com uma Pessoa (cf. n.1). Dado que Deus se manifestou da maneira mais profunda por meio da encarnação de Seu Filho, fazendo-se «visível» n’Ele.

Na relação com Cristo, podemos reconhecer quem é verdadeiramente Deus (cf. encíclica «Haurietis aquas», 29,41; encíclica «Deus caritas est», 12-15). Mais ainda, dado que o amor de Deus encontrou sua expressão mais profunda na entrega que Cristo fez de sua vida por nós na Cruz. Ao contemplarmos seu sofrimento e morte, podemos reconhecer, de maneira cada vez mais clara, o amor sem limites de Deus por nós: «tanto amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que crer nele não pereça, mas que tenha vida eterna» (João 3,16).

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Por outro lado, esse mistério do amor de Deus por nós não constitui só o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda verdadeira espiritualidade e devoção cristã. Portanto, é importante sublinhar que o fundamento dessa devoção é tão antigo como o próprio cristianismo. De fato, só se pode ser cristão dirigindo o olhar à Cruz de nosso Redentor, «a quem transpassaram» (João 19, 37; cf. Zacarias 12, 10).

A encíclica «Haurietis aquas» lembra que a ferida do lado e as dos pregos foram para numeráveis almas os sinais de um amor que transformou, cada vez mais incisivamente, sua vida (cf. número 52). Reconhecer o amor de Deus no Crucificado se converteu para elas em uma experiência interior, o que as levou a confessar junto a Tomé: «Meu Senhor e meu Deus!» (João 20,28), permitindo-lhes alcançar uma fé mais profunda na acolhida sem reservas do amor de Deus (cf. encíclica «Haurietis aquas», 49).

Experimentar o amor de Deus

O significado mais profundo desse culto ao amor de Deus só se manifesta quando se considera mais atentamente sua contribuição não só ao conhecimento, mas também, e sobretudo, à experiência pessoal desse amor na entrega confiada a seu serviço (cf. encíclica «Haurietis aquas», 62). Obviamente, experiência e conhecimento não podem separar-se: um faz referência ao outro. Também é necessário sublinhar que um autêntico conhecimento do amor de Deus só é possível no contexto de uma atitude de oração humilde e de disponibilidade generosa.

Partindo dessa atitude interior, o olhar posto no lado transpassado da lança se transforma em silenciosa adoração. O olhar no lado transpassado do Senhor, do qual saem «sangue e água» (cf. Gv 19, 34), ajuda-nos a reconhecer a multidão de dons de graça que daí procedem (cf. encíclica «Haurietis aquas», 34-41) e nos abre a todas as demais formas de devoção cristã que estão compreendidas no culto ao Coração de Jesus.

A fé é um dom que vem do amor

A fé, compreendida como fruto do amor de Deus experimentado, é uma graça, um dom divino. O homem, no entanto, poderá experimentar a fé como uma graça só na medida em que ele a aceita dentro de si como um dom, e procura vivê-lo. O culto do amor de Deus, ao que convidava aos fiéis a encíclica «Haurietis aquas» (cf. ibidem, 72), deve nos ajudar a recordar incessantemente que Ele carregou com este sofrimento voluntariamente «por nós», «por mim».

Quando praticamos este culto, não só reconhecemos com gratidão o amor de Deus, mas continuamos nos abrindo a esse amor, de maneira que a nossa vida vai ficando cada vez mais modelada por ele. Deus, que derramou seu amor «em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (cf. Romanos 5, 5), convida-nos, incansavelmente, a acolher seu amor. O convite a entregar-se totalmente ao amor salvífico de Cristo (cf. ibidem, n. 4) tem como primeiro objetivo a relação com Deus. Por esse motivo, esse culto totalmente orientado ao amor de Deus que se sacrifica por nós tem uma importância insubstituível para nossa fé e para nossa vida no amor.”

(Trecho da Carta de Bento XVI ao padre Peter-Hans Kolvenbach, Companhia de Jesus.)

Frede Silvério de Oliveira (agente da Pascom)

Publicado em Paróquia São José – Ressaquinha – MG.

Santa Teresa d’Ávila

Santa Teresa de Jesus nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, com o nome de Teresa de Ahumada. Em sua autobiografia, ela menciona alguns detalhes da sua infância: o nascimento “de pais virtuosos e tementes a Deus”, em uma grande família, com nove irmãos e três irmãs. Ainda jovem, com pelo menos 9 anos, leu a vida dos mártires, que inspiram nela o desejo de martírio, tanto que chegou a improvisar uma breve fuga de casa para morrer como mártir e ir para o céu (cf. Vida 1, 4): “Eu quero ver Deus”, disse a pequena aos seus pais. Alguns anos mais tarde, Teresa falou de suas leituras da infância e afirmou ter descoberto a verdade, que se resume em dois princípios fundamentais: por um lado, que “tudo o que pertence a este mundo passa”; por outro, que só Deus é para “sempre, sempre, sempre”, tema que recupera em seu famoso poema: “Nada te perturbe, nada te espante; tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!”. Ficando órfã aos 12 anos, pediu à Virgem Santíssima que fosse sua mãe (cf. Vida 1,7).

Se, na adolescência, a leitura de livros profanos a levou às distrações da vida mundana, a experiência como aluna das freiras agostinianas de Santa Maria das Graças, de Ávila, e a leitura de livros espirituais, em sua maioria clássicos da espiritualidade franciscana, ensinaram-lhe o recolhimento e a oração. Aos 20 anos de idade, entrou para o convento carmelita da Encarnação, sempre em Ávila. Três anos depois, ela ficou gravemente doente, tanto que permaneceu por quatro dias em coma, aparentemente morta (cf. Vida 5, 9). Também na luta contra suas próprias doenças, a santa vê o combate contra as fraquezas e resistências ao chamado de Deus.

Em 1543, ela perdeu a proximidade da sua família: o pai morre e todos os seus irmãos, um após o outro, migram para a América. Na Quaresma de 1554, aos 39 anos, Teresa chega o topo de sua luta contra suas próprias fraquezas. A descoberta fortuita de “um Cristo muito ferido” marcou profundamente a sua vida (cf. Vida 9). A santa, que naquele momento sente profunda consonância com o Santo Agostinho das “Confissões”, descreve assim a jornada decisiva da sua experiência mística: “Aconteceu que…de repente, experimentei um sentimento da presença de Deus, que não havia como duvidar de que estivesse dentro de mim ou de que eu estivesse toda absorvida n’Ele” (Vida 10, 1).

Paralelamente ao amadurecimento da sua própria interioridade, a santa começa a desenvolver, de forma concreta, o ideal de reforma da Ordem Carmelita: em 1562, funda, em Ávila, com o apoio do bispo da cidade, Dom Álvaro de Mendoza, o primeiro Carmelo reformado, e logo depois recebe também a aprovação do superior geral da Ordem, Giovanni Battista Rossi.

Nos anos seguintes, continuou a fundação de novos Carmelos, um total de dezessete. Foi fundamental seu encontro com São João da Cruz, com quem, em 1568, constituiu, em Duruelo, perto de Ávila, o primeiro convento das Carmelitas Descalças. Em 1580, recebe de Roma a ereção a Província Autônoma para seus Carmelos reformados, ponto de partida da Ordem Religiosa dos Carmelitas Descalços. Teresa termina sua vida terrena justamente enquanto está se ocupando com a fundação.

Em 1582, de fato, tendo criado o Carmelo de Burgos e enquanto fazia a viagem de volta a Ávila, ela morreu, na noite de 15 de outubro, em Alba de Tormes, repetindo humildemente duas frases: “No final, morro como filha da Igreja” e “Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos”. Uma existência consumada dentro da Espanha, mas empenhada por toda a Igreja. Beatificada pelo Papa Paulo V, em 1614, e canonizada por Gregório XV, em 1622, foi proclamada “Doutora da Igreja” pelo Servo de Deus Paulo VI, em 1970. Teresa de Jesus não tinha formação acadêmica, mas sempre entesourou ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Como escritora, sempre se ateve ao que tinha experimentado pessoalmente ou visto na experiência de outros (cf. Prefácio do “Caminho de Perfeição”), ou seja, a partir da experiência.

Teresa consegue tecer relações de amizade espiritual com muitos santos, especialmente com São João da Cruz. Ao mesmo tempo, é alimentada com a leitura dos Padres da Igreja, São Jerônimo, São Gregório Magno, Santo Agostinho. Entre suas principais obras, deve ser lembrada, acima de tudo, sua autobiografia, intitulada “Livro da Vida”, que ela chama de “Livro das Misericórdias do Senhor”. Escrito no Carmelo de Ávila, em 1565, conta o percurso biográfico e espiritual, por escrito, como diz a própria Teresa, para submeter a sua alma ao discernimento do “Mestre dos espirituais”, São João de Ávila. O objetivo é manifestar a presença e a ação de um Deus misericordioso em sua vida: Para isso, a obra muitas vezes inclui o diálogo de oração com o Senhor. É uma leitura fascinante, porque a santa não apenas narra, mas mostra como reviver a profunda experiência do seu amor com Deus. Em 1566, Teresa escreveu o “Caminho da perfeição”, chamado por ela de “Admoestações e conselhos” que dava às suas religiosas. As destinatárias são as doze noviças do Carmelo de São José, em Ávila. Teresa lhes propõe um intenso programa de vida contemplativa ao serviço da Igreja, em cuja base estão as virtudes evangélicas e a oração. Entre os trechos mais importantes, destaca-se o comentário sobre o Pai Nosso, modelo de oração.

A obra mística mais famosa de Santa Teresa é o “Castelo Interior”, escrito em 1577, em plena maturidade. É uma releitura do seu próprio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, uma codificação do possível desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo. Teresa refere-se à estrutura de um castelo com sete “moradas”, como imagens da interioridade do homem, introduzindo, ao mesmo tempo, o símbolo do bicho da seda que renasce em uma borboleta, para expressar a passagem do natural ao sobrenatural. A santa se inspira na Sagrada Escritura, especialmente no “Cântico dos Cânticos”, para o símbolo final dos “dois esposos”, que permite descrever, na sétima “morada”, o ápice da vida cristã em seus quatro aspectos: trinitário, cristológico, antropológico e eclesial.

À sua atividade fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica o “Livro das fundações”, escrito entre 1573 e 1582, no qual fala da vida do nascente grupo religioso. Como na autobiografia, a história é dedicada principalmente a evidenciar a ação de Deus na fundação dos novos mosteiros.

Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Em nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa nos ensina a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua ação; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe em nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente.

Papa Bento XVI

Publicado em Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.

Nossa Senhora de Fátima – 13 de Maio

O mês de maio é o “mês de Maria” ou o “mês Mariano” e Nossa Senhora de Fátima é celebrada este mês, no Brasil e no mundo.

Em 13 de maio de 1917, Nossa Senhora fez sua primeira aparição na pequena cidade de Fátima, em Portugal, a três humildes pastores. Eles a descreveram como “uma senhora mais brilhante do que o sol.”  Todos os meses, até outubro, sempre no dia 13 de cada mês, aparecia aos pequenos pastores: Lúcia, na época com 10 anos, Francisco com 7 e Jacinta, com 6 anos de idade.  Nessas aparições, deixou uma mensagem de fé, de amor a Jesus e um pedido de conversão.

Os três pastorinhos que viram Nossa Senhora de Fátima em 1917
Os três pastorinhos de Fátima

“Rezem o Rosário todos os dias para alcançar a paz no mundo e o fim da guerra”.  E em todas as aparições, repetia a importância e o poder da oração do santo Rosário, ensinando que após cada mistério, rezassem: “Meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu, especialmente as mais necessitadas’”. 

Sua última aparição aconteceu no dia 13 de outubro naquele mesmo ano, perante uma multidão que havia comparecido ao local. Na ocasião, aconteceu o “milagre do sol”, quando todos afirmaram que o céu mudou de cor e que o sol com grande brilho, mas sem ofuscar a vista, se aproximou e afastou da terra por algumas vezes.  O fenômeno durou cerca de 10 minutos e foi relatado por inúmeras pessoas presentes no local, mas também por aquelas que estavam distantes do local das aparições. Naquele dia chovia muito e no momento do milagre, muitos foram os que ajoelharam ou se jogaram no chão. Mas, as roupas, que se encontravam encharcadas pela chuva e pela lama, secaram prodigiosamente minutos depois.

As atitudes e mensagens transmitidas por Maria, sempre conduzem a seu Filho Amado. Ao rezar o terço, meditamos sobre as passagens da vida de Jesus. Ela nunca aponta para si mesma, mas para os desígnios de Deus e para que conheçamos melhor o Filho de Deus Encarnado.

Em 1917, o mundo estava em guerra. E, neste ano de 2021, enfrentamos novamente uma situação de guerra, combatendo o coronavírus, inimigo invisível, causando tantas mortes no mundo inteiro. Rezar o terço neste mês de maio é ainda mais necessário. Devemos pedir pelo fim da pandemia, pelos doentes, pelos agonizantes, pelos necessitados e por todos que sofrem neste grave momento da humanidade.

O culto à Nossa Senhora de Fátima é uma das mais significativas devoções marianas.  Nas palavras do Papa Francisco: “No dia 13 de maio, dia que celebramos a nossa mãe celestial, com o nome de Nossa Senhora de Fátima, devemos confiarmo-nos a ela, para que possamos continuar a nossa jornada com alegria e generosidade”.

Ave Maria! Bendita sois vós, nossa Mãe, entre as mulheres.
Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós, que recorremos a vós!

Por Fátima Emerson, membro do Apostolado da Oração.

Publicado em Catedral de São João Batista | Nova Friburgo.

Páscoa 2022

Que alegria podermos renovar a cada ano a celebração da PÁSCOA – a RESSURREIÇÃO de Nosso Senhor Jesus Cristo, que antecipa e garante a nossa Ressurreição. É por isso que a Igreja VIVE esta celebração com um longo tempo de preparação, que chamamos de Quaresma e Semana Santa.

Nos Atos dos Apóstolos encontramos a expressão: “Anunciamo-vos a Boa Nova: a promessa feita a nossos pais, Deus a realizou plenamente para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus” (At 13,32-33).

E ainda São Paulo, na carta aos Coríntios, escreve: “Eu vos transmiti… o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze” (1Cor 15,3-4).

É por isso que a maior festa que celebramos como cristãos católicos é a Festa da Páscoa. Nenhuma outra festa a sobrepuja. A Páscoa é a festa das festas. É a garantia definitiva de que toda Palavra de Deus, de que todas as promessas de Deus, haverão de se cumprir. O enviado do Pai, o Emanuel, o Deus conosco, o Servo de Javé, o Filho do Homem, viveu a nossa vida, sofreu o sofrimento injusto da condenação e da morte, mas “DEUS O RESSUSCITOU”. Ele é o alfa e o ômega, o princípio e o fim, o primogênito de toda a criatura.

Jesus ressuscitado é a garantia de nossa ressurreição e a CERTEZA DE NOSSA FÉ. O que cremos é verdadeiro e é garantido pela Palavra santa de Deus. O que cremos e afirmamos em nossa vida, com nossos lábios e com nossas obras é garantido pela presença do Espírito Santo que nos faz clamar: “o Ressuscitado Vive. Ele é Nosso Senhor. Ele é o Cristo de Deus”.

Foi na força da Páscoa que a Igreja ganhou a força necessária para o seu testemunho de Jesus em todos os tempos e em todas as latitudes da terra. Foi à luz da Páscoa de Jesus que os mártires entregaram suas vidas para confessar o nome de Jesus e garantirem a construção do Reino de Deus. Foi à luz da Páscoa que os confessores da fé levaram o evangelho aos mais diferentes povos e assim, a Igreja pôde se inculturar nas mais diversas culturas e experiências humanas. Foi na força da Páscoa que o Batismo, em nome de Jesus, foi constituindo homens e mulheres de fé, comunidades de discípulos missionários intrépidos no anúncio da Trindade Santa. Foi na alegria da Páscoa que a Igreja foi vivenciando a caridade, o amor, a educação, o cuidado com as pessoas e os povos, obedecendo ao mandato de Jesus: “Ide por todo o mundo(…)” (Mc 16, 15).

A Páscoa é, pois, a realidade maior de nossa fé. São Paulo já confessava: “se Jesus não ressuscitou, vã é a nossa fé” (1Cor 15, 14). É na ressurreição de Jesus que se assenta a certeza de nossa ressurreição pessoal e a vitória da vida sobre a morte e todo o pecado. Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, fez a sua parte. Agora, iluminados pela ressurreição d’Ele  somos chamados a fazer a nossa parte. Que as palavras da Escritura ressoem em nós e que elas possam construir em nosso coração e em nossa alma a alegria inefável de dizer: FELIZ PÁSCOA.

Neste tempo e neste ano, peçamos a Deus, pela intercessão de sua Mãe e nossa, que possamos fazer crescer em nós a fé na Ressurreição da carne, para que por nossas atitudes e obras, possamos um dia gozar da vida plena com o Ressuscitado.

FELIZ PÁSCOA!

Anunciemos, especialmente, às crianças, aos adolescentes e aos jovens, nossos filhos e filhas, nossos amigos e amigas, que Jesus Vive, que Ele é a certeza de nossas vidas, que Nele encontramos a força para crer, viver, amar e servir. E continuemos a rezar e interceder junto a Deus pela PAZ no mundo sendo verdadeiros EDUCADORES da justiça e da paz. “Sinodalidamente” comprometamo-nos com a escuta e a participação dos irmãos e irmãs.

Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB

Bispo Diocesano de São José dos Campos

Publicado em Diocese de São José dos Campos (diocese.sjc.org.br).

A Vigília Pascal faz do Sábado Santo uma noite de luz

EIS A LUZ DE CRISTO

A Semana Santa é a Semana das semanas! Neste tempo, vivemos a intensidade do Mistério Pascal que é constituído pela Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. É certo que, a cada domingo, dia do Senhor, nós revivemos e celebramos esse mistério. Além disso, também é certo que, em cada Santa Missa, celebramos vivamente o Mistério Pascal. mas todo o ano decorre desta Semana Santa. A Vigília Pascal é uma Fonte da graça de Deus. Nesta Semana, o nosso coração é alimentado pela força do amor do Pai.

O Sábado Santo é precedido pelo Domingo de Ramos, em que acompanhamos Jesus no Triunfo e na Paixão. Ele é acolhido em Jerusalém como um Rei, com hinos, ramos nas mãos; por onde Ele ia passando roupas eram jogadas pelo chão e havia muita euforia. Na mesma liturgia, é narrada a Paixão do Senhor. O Triunfo e a Paixão de Jesus nos faz pensar nos nossos altos e baixos ao longo da vida. Em Jesus encontramos sabedoria e discernimento para louvarmos a Deus nas conquistas e confiarmos n’Ele nas horas amargas.

A Vigília Pascal faz do Sábado Santo uma noite de luz-artigo (1)

A Vigília Pascal faz parte do Tríduo Pascal

O Sábado Santo é chamado de Vigília Pascal. Na Igreja e na Liturgia Católica, antes de todas as grandes solenidades, há uma celebração de véspera ou vigília. A Vigília Pascal antecede o dia da Páscoa, o Domingo da Ressurreição de Jesus.

A Vigília Pascal faz parte também do Tríduo Pascal, onde vivemos com profundidade os passos de Jesus rumo ao Calvário, ao Sepulcro e à Ressurreição. Este Tríduo começa com a Quinta-feira Santa, pela conhecida “Missa do Lava-pés”, por meio da qual Jesus instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio, com uma recomendação: “Fazei isso em minha memória” (Lc 22,19). A Eucaristia e o Sacerdócio nasceram do coração de Jesus, em torno de uma mesa, para que se fosse cumprida uma promessa do Senhor: “Eis que estarei convosco, todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20). Tanto pela Eucaristia, como pelo Sacerdócio, o Senhor continua no meio de nós!

Na Sexta-feira Santa, até a natureza silencia-se. O Cordeiro é imolado. Jesus, morre na Cruz, rezando: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46)! E aí Jesus entrega toda a Sua história e missão. Jesus entrega a Igreja e toda a humanidade. Jesus nos entrega ao Pai. Com essa entrega, Ele coloca em prática o Seu ensinamento: “Ninguém tem maior amor do que Aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).

(…)

A cada dia mais um passo e mais próximo do ápice

Diante da Vigília Pascal, é como se a Igreja e cada fiel estivessem escalando uma alta montanha: cada dia mais um passo e mais próximo do ápice! A cada celebração do Tríduo Pascal, mais perto do cume, do lugar mais alto. Depois dessa caminhada, com o coração aberto e os olhos bem atentos no Senhor, chegamos à grande noite do Sábado Santo, da Vigília Pascal.

O Sábado Santo é celebrado ao escurecer do dia, à noite. Até as luzes da Igreja são apagadas. Todo o povo se reúne na escuridão. Esta Liturgia é muito rica nos sinais, nos gestos e símbolos. É na Vigília Pascal que acontece a bênção do fogo. O Círio Pascal, uma vela bem grande, é aceso no fogo novo, trazendo o ano que estamos vivendo e duas letras do alfabeto grego, ou seja, o Alfa e o Ômega, que representam Jesus, nossa Luz, Princípio e Fim de tudo e de todos, Senhor do tempo e da história!

Partes fundamentais da Vigília Pascal

A Vigília Pascal tem quatro partes fundamentais: Liturgia da Luz, da Palavra, do Batismo e da Eucaristia. É comum crianças e adultos serem batizados nesta celebração, quando todos renovam sua fé e confiança no Deus Altíssimo. A Palavra de Deus recorda toda caminhada do povo de Israel, aguardando o Messias, e apresenta Jesus como o verdadeiro Messias, Salvador. O Povo de Deus, pede a intercessão dos santos para que continuem perseverantes no seguimento de Jesus, que trouxe ao mundo uma Boa Notícia e alimenta-se da Eucaristia, remédio santo que cura as enfermidades do corpo e da alma.

(…)

A Vigília Pascal é uma celebração solene e com uma catequese muito profunda. Quando participamos, cheios de atenção e desejo de nos encontrarmos com o Senhor, ficamos maravilhados com a beleza e o esplendor em torno de Jesus, nossa Luz. A Vigília Pascal transforma a noite mais clara que o dia, e nos impulsiona a irmos ao encontro do Senhor Ressuscitado, para vê-Lo e acreditar na vitória da vida sobre a morte. A Ressurreição de Jesus torna o Sábado Santo uma Noite de Luz!

Publicado por Equipe Formação Portal Canção Nova.

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

As Lições de Quinta-feira Santa

Aqui começa o Tríduo Pascal, a preparação para a grande celebração da Páscoa, a Vitória de Jesus Cristo sobre a morte, o pecado, o sofrimento e o inferno.

Este é o dia em que a Igreja celebra a instituição dos grandes Sacramentos da Ordem e da Eucaristia. Jesus é o grande e eterno Sacerdote; mas quis precisar de ministros sagrados, retirados do meio do povo, para levar ao mundo a Salvação que Ele conquistou com a sua Morte e Ressurreição.

Jesus desejou ardentemente celebrar aquela hora: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer” (Lc 22,15).

Na celebração da Páscoa, após instituir o Sacramento da Eucaristia, ele disse aos Discípulos: “Fazei isto em memória de Mim”. Com essas palavras Ele instituiu o Sacerdócio cristão: “Pegando o cálice, deu graças e disse: Tomai este cálice e distribui-o entre vós. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 17-19).

Na noite em que foi traído, mais nos amou; bebeu o cálice da Paixão até a última e amarga gota. São João disse que: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou” (Jo 13,1).

Depois que Jesus passou por toda a terrível paixão e morte de Cruz, ninguém mais tem o direito de duvidar do amor de Deus por cada pessoa.

Aos mesmos discípulos ele vai dizer depois no Domingo da Ressurreição: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,23). Estava assim instituída também a sagrada Confissão, o sacramento da Penitência; o perdão dos pecados dos homens que Ele tinha acabado de conquistar com o seu Sangue.

(…)

Na noite da Ceia Pascal o Senhor lavou os pés dos discípulos, fez esse gesto marcante, que era realizado pelos servos, para mostrar que no seu Reino “o último será o primeiro”, e que o cristão deve ter como meta servir e não ser servido. Quem não vive para servir não serve para viver. Quem não vive para servir não é feliz, porque a autêntica felicidade, que o tempo não apaga, as crises não destroem e o vento não leva, é a que nasce do serviço ao outro, desinteressadamente.

Nesta mesma noite Jesus fez várias promessas importantíssimas à Igreja que institui sobre Pedro e os Apóstolos. Prometeu-lhes o Espírito Santo, e a garantia de que ela seria guiada por Ele a “toda a verdade”. Sem isto a Igreja não poderia guardar intacto o “depósito da fé”, que São Paula chamou de “sã doutrina”. Sem a assistência permanente do Espírito Santo desde Pentecostes, ela não poderia ter chegado até hoje e não poderia cumprir sua missão de levar a salvação a todos os homens de todas as nações.

“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós” (Jo 14, 16-17).

Que promessa maravilhosa: o Espírito da Verdade permanecerá convosco e em vós. Como pode alguém ter a coragem de dizer que um dia a Igreja errou o caminho. Seria preciso que o Espírito da Verdade a tivesse abandonado.

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 25-26).

Na última Ceia o Senhor deixou à Igreja essa grande promessa: O Espírito Santo “ensinar-vos-á todas as coisas”. É por isso que São Paulo disse a Timóteo que “a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3, 15). Quem desafiar a verdade de doutrina e de fé ensinada pela Igreja, vai escorregar pelas trevas do erro.

E na mesma santa Ceia, o Senhor lhes diz: “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade…” (Jo 16, 12-13).

Jesus sabia que aqueles homens simples não tinham condições de compreender toda a teologia cristã; mas assegura-lhes que o Paráclito lhes ensinaria tudo, ao longo do tempo, até os nossos dias de hoje. E o Sagrado Magistério dirigido pelo Papa continua assistido pelo Espírito de Jesus.

São essas Promessas, feitas à Igreja na Santa Ceia, que dão a ela a estabilidade e a infalibilidade em matéria de fé e de costumes. Portanto, não só o Senhor instituiu os Sacramentos da Eucaristia e da Ordem, na Santa Ceia, mas colocou as bases para a firmeza permanente da Sua Igreja. Assim, ele concluiu a obra que o Pai lhe confiou, antes de consumar sua missão na Cruz.

Publicado por Prof. Felipe Aquino.