O humano vem sendo substituído pelo artifício, e nem mesmo os sentimentos, as emoções estão fora de seu alcance. O mundo virtual está mudando, em sentido geral, a noção do que é viver em uma perspectiva ampla… A Ciência tem se mostrado em muitos campos, um bem para a Humanidade. Mas sabemos que, em geral, oculta conteúdos nefastos ao longo de seu desenvolvimento. Este blog é uma tentativa, e ao mesmo tempo, uma proposta de autopreservação tanto emocional quanto espiritual. Quanto aos visitantes do blog "Castelo Interior", penso que o legado de Santa Teresa, bem como as contribuições da cristandade podem propiciar este "cuidado interior". Aliás, um cuidado vital que envolve nossas mentes, nossas almas. O título do blog é uma reverência à vida e à obra de Santa Teresa de Jesus (Ávila). Suas leituras me inspiraram, e mais que isto, continuam me ensinando a viver neste tempo caótico, a interpretá-lo à luz da Fé. A partir do que compreendi de seus escritos "Castelo Interior" e "Livro da Vida", e os mais breves (estou no início de "Caminho da Perfeição"), me lancei à proposta de uma "mescla" entre Jornalismo, Literatura (suas Obras, por excelência, através da análise de estudiosos carmelitanos descalços, principalmente), com abertura para textos clássicos católicos, e artigos universais e relevantes, segundo a ótica da doutrina católica. Por fim, acredito que a produção de Santa Teresa de Ávila evidenciará o quanto sua produção nos insere em uma inevitável espiral de espiritualidade. Seu tempo, como o nosso, estava impregnado de perigos extremos – tanto para o corpo, quanto para a alma. Entretanto, esta Doutora da Igreja deixou-nos, em seus três principais escritos, a essência de seu pensamento: "Nada te turbe, nada te espante. Tudo se pasa. Dios no se muda. La paciencia todo lo alcanza. Quien a Dios tiene nada le falta. Sólo Dios basta!" (Santa Teresa de Jesus). Este blog foi criado em 2007 e não tem fins comerciais.
O Cardeal Raymond Burke convoca os católicos do mundo inteiro a nove semanas de oração até 10 de dezembro, centenário da Grande Promessa do Imaculado Coração de Maria. Julio Loredo explica como o apelo de Fátima revela a chave para compreender a crise e a esperança na Igreja.
Fonte: Canal Visto de Roma (Apresentação de Júlio Loredo – IPCO).
Nossa Senhora de Akita é uma das aparições mais impressionantes do século XX: três mensagens de Maria a uma religiosa a partir de uma imagem de madeira que suava sangue e chorava. Suas advertências sobre os últimos tempos nos lembram a necessidade da penitência e da oração.
As revelações de Nossa Senhora à Ir. Agnes Sasagawa são compostas por três mensagens, comunicadas em diferentes meses do ano de 1973. E ocorreram em um convento em Akita, no Japão, da onde vem o nome da devoção.
Além das mensagens -que são o núcleo da manifestação mariana- houve também alguns acontecimentos extraordinários.
A irmã Agnes recebeu uma ferida de origem sobrenatural em forma de cruz na sua mão direita e foi curada de forma inexplicável da surdez que tinha.
Mas por outro lado, a imagem da Virgem ofereceu um testemunho importante do sentimento que acompanhava as manifestações marianas. A escultura esculpida em madeira suou sangue e chorou em 101 ocasiões durante seis anos, desde 4 de janeiro de 1975.
As mensagens da Virgem de Akita foram aprovadas em 22 de abril de 1984 por John Shojiro, bispo de Niigata, Japão. Mas ainda falta o reconhecimento da Santa Sé. (*)
Como toda revelação privada, nenhum católico está obrigado a acreditar nelas. E para ser crível, precisa sempre estar em sintonia com -e nunca negar- o Evangelho, a Tradição Apostólica e o Magistério da Igreja.
Quando a Virgem de Akita advertiu sobre os últimos tempos da Igreja e do mundo
Primeira mensagem (6 de julho de 1973): Uma cura milagrosa e a oração de reparação
Nesta primeira manifestação, a Virgem de Akita disse à Ir. Agnes:
“Filha minha, minha noviça, tens obedecido bem ao abandonar tudo para seguir-me. Dói a enfermidade dos teus ouvidos? Tua surdez acabará, pode ter certeza. Te faz sofrer a ferida na tua mão? Reza em reparação pelos pecados dos homens“.
Além disso, Nossa Senhora ensinou à religiosa uma oração para pedir perdão pelos pecados que ofendem gravemente a Deus:
“Sacratíssimo Coração de Jesus, verdadeiramente presente na Santa Eucaristia, te consagro meu corpo e alma para ser inteiramente uma com Teu coração, sacrificado a cada instante em todos os altares do mundo e dando louvores ao Pai, implorando pela vinda do Teu Reino. Rogo que recebas esta humilde oferenda do meu ser. Usa-me como quiseres para a glória do Pai e a salvação das almas. Santíssima Mãe de Deus, não permitas que jamais me separe do teu Divino Filho. Rogo-te que me defendas e protejas como teu filho especial. Amém”.
Segunda mensagem (3 de agosto de 1973): A advertência do próximo castigo
“Muitos homens neste mundo afligem o Senhor. Desejo que as almas O consolem para suavizar a ira do Pai Celestial”, disse a Virgem de Akita à Ir. Agnes.
“A fim de que o mundo conheça Sua ira, o Pai Celestial está se preparando para infligir um grande castigo à toda a humanidade. Com meu Filho, intervi tantas vezes para apaziguar a ira do Pai. Preveni a vinda de calamidades ao oferecer os sofrimentos do Filho na Cruz, Seu Precioso Sangue e as almas amadas que o consolam formando uma coorte de almas vítimas. Oração, penitência e sacrifícios corajosos podem suavizar a raiva do Pai“.
Terceira e última mensagem (13 de outubro de 1973): A tribulação da Igreja
A última revelação da Virgem de Akita volta a advertir sobre o castigo que será enviada à humanidade, caso ela não se converta.
“Como lhes disse, se os homens não se arrependem e melhoram, o Pai infligirá um terrível castigo à toda a humanidade. Será um castigo maior que o dilúvio, como nunca antes se viu. Fogo cairá do céu e acabará com grande parte da humanidade, tanto bons quanto maus, sem perdoar nem sacerdotes nem fiéis. Os sobreviventes ficarão tão desolados que invejarão os mortos. As únicas armas que restarão serão o Rosário e o Sinal que meu Filho deixou. Recitem todos os dias as orações do Rosário. Com o Rosário, rezem pelo Papa, pelos bispos e pelos sacerdotes”.
Além disso, a Virgem de Akita mostra sua preocupação pelas divisões, provas e perseguições que atravessarão a Igreja.
“A obra do diabo se infiltrará inclusive na Igreja de tal maneira que se verá cardeais se opondo a cardeais, bispos contra bispos. Os sacerdotes que me veneram serão depreciados e encontrarão oposição de seus companheiros (…) Igrejas e altares saqueados; a Igreja estará cheia daqueles que aceitam compromissos e o demônio pressionará a muitos sacerdotes e almas consagradas para que deixem o serviço ao Senhor.
O demônio será especialmente implacável contra as almas consagradas a Deus. O pensamento da perda de tantas almas é a causa da minha tristeza. Se os pecados aumentam em número e gravidade, não haverá perdão para eles”.
(*) Observação adicional minha: Em junho de 1988, o então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Cardeal Ratzinger, proferiu julgamento definitivo sobre os eventos e mensagens de Akita como “confiáveis e dignos de fé”.
Conheça mais sobre a festa que pára as cidades do Brasil e do mundo: a solenidade de Corpus Christi, sua liturgia e como aumentar sua devoção.
Redação Minha Biblioteca Católica (19.06.2025)
Seja numa pequena capela no interior do Brasil ou na mais imponente Basílica Romana. Dentro de cada igreja há um trono reservado ao Rei dos Reis, sacramentado na Eucaristia. Eis o mistério da fé. O Deus Todo-Poderoso se deixa ser tocado num pedaço de pão e em um pouco de vinho. Aos olhos de quem não crê, isso é uma tremenda loucura. Mas para quem enxerga o mundo sob a ótica da fé católica, é algo mais que extraordinário.
Tanto é assim, que o Santíssimo Sacramento merece uma solenidade especial. E é aí que entra a Solenidade de Corpus Christi. Vamos refletir um pouco sobre esse dia tão importante cujo preceito deve ser cumprido na quinta-feira ou na quarta-feira a partir das vésperas.
O que é a Solenidade de Corpus Christi?
A Solenidade de Corpus Christi tem por objetivo exaltar o imensurável Amor divino ao nos dar por pura misericórdia a Eucaristia. Deveria ser inato a todo fiel católico uma reverência ímpar a Jesus sacramentado. Afinal, todos somos exortados a viver a Missa pelo menos todos os Domingos e dias santos de guarda. Dizemos viver porque, se muitos católicos nem vão à Igreja, um número ainda menor tem real dimensão do que acontece na Missa.
Todas as vezes que estamos em uma celebração ou visitamos o sacrário, devemos sair do passivo e perigoso pensamento de que ali acontece algo ordinário. Rotina não é sinônimo de ordinário. Ou seja, quem tem a rotina de viver a Missa e visitar o Santíssimo Sacramento está criando uma rotina extraordinária.
E aí está um ponto fundamental da Solenidade de Corpus Christi. Hinos, bençãos, procissão, leituras… Toda estrutura festiva pensada para que sempre tenhamos em mente que a Eucaristia é uma dádiva que jamais conseguiremos entender, por nossa própria razão, o tamanho.
O que o Papa Urbano IV, Liège e Bolsena/Orvieto têm em comum? Eles estão diretamente conectados à origem da Solenidade de Corpus Christi.
1) Liège Nessa cidade da Bélgica havia uma mulher chamada Juliana, que na época era Priora da Abadia de Cornillon. Seria canonizada em 1599 pelo Papa Clemente VIII. Santa Juliana tinha visões da Lua com uma faixa escura que a atravessava. A Lua representava a Igreja e a faixa a ausência de uma solenidade que exaltasse o Santíssimo Sacramento.
Santa Juliana comunicou essa visão a várias figuras do alto clero, inclusive a Jaques Pantaleão, que viria a se tornar, em 1261, o Papa Urbano IV.
2) Bolsena/Orvieto Passava por Bolsena um sacerdote chamado Pedro de Praga que carregava uma inquietação em seu coração: não conseguia crer firmemente na presença real de Cristo na Eucaristia. Enquanto celebrava a Missa, durante o ato de consagração, a hóstia em suas mãos começou a sangrar e manchou o corporal. O Papa Urbano IV, que estava em Orvieto, tomou conhecimento do ocorrido e, profundamente comovido, decidiu instituir a Solenidade de Corpus Christi. Até hoje o corporal é preservado e reverenciado na Catedral de Orvieto.
Não bastasse essa história maravilhosa, há a cereja do bolo. O Papa Urbano IV pediu a um certo dominicano que fizesse hinos específicos para essa solenidade. Os hinos? Tantum Ergo e Lauda Sion Salvatorem. O dominicano? Santo Tomás de Aquino.
A liturgia da Solenidade de Corpus Christi
Começamos com a leitura do livro do Deuteronômio, na passagem em que Moisés exorta o povo dizendo que o próprio Deus os alimentou com o maná. Isso é uma clara prefiguração da Sagrada Eucaristia, da qual quem se alimenta não tem mais fome.
Na segunda leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios já vemos como a realidade do sacramento já era firme logo nos primeiros anos da Igreja. Pois como diz São Paulo “O cálice da bênção, o cálice que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão.” 1
No Evangelho de São João, ouvimos do próprio Cristo: ‘Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo’. Interessantíssima é a indignação dos judeus que se perguntavam como isso seria possível. Ou seja, essa é uma realidade de fé que intrigava até quem a ouvia diretamente de Jesus. Ela só se torna cristalina para quem enxerga o mundo com os olhos da fé.
Mas a riqueza desta Solenidade não se encontra somente nas leituras. O Papa João XXII publicou, no ano de 1317, o dever de levar Nosso Senhor sacramentado pelas vias públicas. É um momento único do nosso ano litúrgico, que deve ser vivido com muita piedade, entoando os hinos eucarísticos, enquanto Nosso Senhor passa pelas ruas abençoando o mundo.
No Brasil e em Portugal, há ainda um bonito costume de ornar as ruas por onde o Santíssimo passará, com tapetes feitos de serragem e outros materiais que formam imagens relacionadas à nossa fé. O sentido é fazer uma homenagem à entrada de Jesus em Jerusalém recebido com ramos.
Tapetes de Corpus Christi em Curitiba (PR). Foto: Pedro Ribas/SMCS
Como aumentar a devoção ao Corpo de Cristo?
Precisamos fazer com que todos os dias sejam uma espécie de “solenidade particular” de Corpus Christi. Afinal, mesmo naquela missa de meio de semana, sem música e pompas, somos agraciados com o mesmo mistério. Então vão aqui algumas dicas:
1) A Missa começa em casa. Quando você sair de sua casa, prepare seu coração para o que irá acontecer. Reze por alguns momentos entregando a Missa da qual irá participar.
2)Ativamente, pense: Jesus ESTÁ VERDADEIRAMENTE na Eucaristia. Não deixe que essa realidade se transforme em uma mera ideia.
3)Visite mais vezes o sacrário. Enquanto estamos correndo com nossos afazeres diários, Cristo repousa no sacrário, esperando o momento em que uma alma se toque disso e vá até Ele. Com certeza, em algum momento da semana, temos a possibilidade de entrar em uma igreja, nos ajoelhar e, em poucos minutos, conversar com Nosso Senhor.
4)Não se distraia após a comunhão. Por alguns minutos, você se torna um sacrário vivo. Jesus bate na porta da cela do seu coração, fazendo referência a Santa Catarina de Sena. Então, entre em profundo recolhimento nesse momento.
5) Reze a oração “Alma de Cristo”. Uma oração simples, maravilhosa e que molda a alma.
6)Participe de adorações. Alguns santuários são de adoração perpétua, mas nem todos os lugares possuem essa graça. A primeira quinta-feira do mês costuma ser dedicada à exposição e bênção solene do Santíssimo. Caso isso não ocorra na sua paróquia, converse com o Padre para tentar encaixar esse momento tão importante na rotina!
Você já ouviu falar dos Milagres Eucarísticos? Saiba mais sobre ele neste artigo.
«Oh! se conhecesses o mistério da cruz!, disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. «Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna…»
Quanto agrada a Jesus Cristo que nós nos lembremos continuamente de sua paixão e da morte ignominiosa que por nós sofreu, muito bem se deduz de haver ele instituído o Santíssimo Sacramento do altar com o fito de conservar sempre viva em nós a memória do amor que nos patenteou, sacrificando-se na cruz por nossa salvação. Já sabemos que na noite anterior à sua morte ele instituiu este sacramento de amor e depois de ter dado seu corpo aos discípulos, disse-lhes – e na pessoa deles a nós todos – que ao receberem a santa comunhão se recordassem do quanto ele por nós padeceu: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beber de deste cálice, anunciareis a morte do Senhor” (1 Cor 11, 26). Por isso a santa Igreja, na missa, depois da consagração, ordena ao celebrante que diga em nome de Jesus Cristo: “Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em memória de mim”. E São Tomás escreve: “Para que permanecesse sempre viva entre nós a memória de tão grande benefício, deixou seu corpo para ser tomado como alimento” (Op. 57). E continua o santo a dizer que por meio de um tal sacramento se conserva a memória do amor imenso que Jesus Cristo nos demonstrou na sua paixão
Se alguém padecesse por seu amigo injúrias e ferimentos e soubesse que o amigo, quando se falava sobre tal acontecimento nem sequer nisso queria pensar e até costumava dizer: falemos de outra coisa – que dor não sentiria vendo o desconhecimento de um tal ingrato? Ao contrário, quanto se consolaria se soubesse que o amigo reconhece dever-lhe uma eterna obrigação e que disso sempre se recorda e se lhe refere sempre com ternura e lágrimas? Por isso é que todos os santos, sabendo a satisfação que causa a Jesus Cristo quem se recorda continuamente de sua paixão, estão quase sempre ocupados em meditar as dores e os desprezos que sofreu o amantíssimo Redentor em toda a sua vida e particularmente na sua morte. Santo Agostinho escreve que as almas não podem se ocupar com coisa mais salutar que meditar cotidianamente na paixão do Senhor. Deus revelou a um santo anacoreta que não há exercício mais próprio para inflamar os corações com o amor divino do que o meditar na morte de Jesus Cristo. E a Santa Gertrudes foi revelado, segundo Blósio, que todo aquele que contempla com devoção o crucifixo é tantas vezes olhado amorosamente por Jesus quantas ele o contempla. Ajunta Blósio que o meditar ou ler qualquer coisa sobre a paixão traz-nos maior bem que qualquer outro exercício de piedade. Por isso escreve São Boaventura: “A paixão amável que diviniza quem a medita” (Stim. div. amor, p. 1. c. 1). E falando das chagas do crucifixo, diz que são chagas que ferem os mais duros corações e inflamam no amor divino as almas mais geladas.
O SALVADOR
Adão peca e se rebela contra Deus e sendo ele o primeiro homem, pai de todos os homens, perdeu-se com todo o gênero humano. A injúria foi feita a Deus, motivo por que nem Adão nem os outros homens, com todos os sacrifícios, mesmo oferecendo sua própria vida, poderiam dar uma digna satisfação à Majestade divina; para aplacá-la plenamente era necessário que uma pessoa divina satisfizesse a justiça divina. E eis que o Filho de Deus, movido à compaixão pelos homens, arrastado pelos extremos de sua misericórdia, se oferece a revestir-se da carne humana e a morrer pelos homens, para assim dar a Deus uma completa satisfação por todos os seus pecados e obter-lhes a graça divina que perderam.
Desce, pois, o amoroso Redentor a esta terra e fazendo-se homem quer curar os danos que o pecado causara ao homem. Portanto, quer não só com seus ensinamentos, mas também com os exemplos de sua santa vida, induzir os homens a observar os preceitos divinos e por essa maneira conseguir a vida eterna. Para esse fim Jesus Cristo renunciou a todas as honras, às delícias e riquezas de que podia gozar neste mundo e que lhe eram devidas como ao Senhor do mundo, e escolhe uma vida humilde, pobre e atribulada até morrer de dor sobre uma cruz. Foi um grande erro dos judeus pensar que o Messias devia vir à terra para triunfar de todos os seus inimigos com o poder das armas e, depois de os ter debelado e adquirido o domínio do mundo inteiro, deveria tornar opulentos e gloriosos os seus sequazes. Mas se o Messias fosse qual os judeus o desejavam, príncipe soberano e honrado de todos os homens como senhor de todo o mundo, não seria o Redentor prometido por Deus e predito pelos profetas. É o que ele mesmo declara quando responde a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36). Por esse motivo repreende São Fulgêncio a Herodes por ter tão grande temor de ser privado do seu reino pelo Salvador, quando ele não viera para vencer o rei pela guerra, mas a conquistá-lo com sua morte (Serm. 5 de Epiph.).
Dois foram os erros dos judeus a respeito do Redentor esperado: o primeiro foi que, quando os profetas falavam dos bens espirituais e eternos, eles o interpretavam dos bens terrenos e temporais. “E a fé reinará nos teus tempos; a sabedoria e a ciência serão as riquezas da salvação; o temor do Senhor esse é o teu tesouro” (Is 33, 6). Eis os bens prometidos pelo Redentor, a fé, a ciência das virtudes, o santo temor, eis as riquezas da prometida salvação. Além disso, promete que dará remédio aos penitentes, perdão aos pecadores e liberdade aos cativos dos demônios: “Enviou-me para evangelizar os mansos, para curar os contritos de coração e pregar remissão aos cativos e soltura aos encarcerados” (Is 61, 1).
O outro erro dos judeus foi que pretenderam entender da primeira vinda do Salvador o que fora predito pelos profetas da segunda vinda, para julgar o mundo no fim dos séculos. Assim, escreve Davi do futuro Messias que ele deverá vencer os príncipes da terra e abater a soberba de muitos e com a força da espada subjugar toda a terra (Sl 109,6). E o profeta Jeremias escreve: “A espada do Senhor devorará a terra de um extremo a outro” (Lm 12, 12). Isso, porém, entende-se da segunda vinda, quando vier como juiz a condenar os malvados. Falando, porém, da primeira vinda, na qual deveria consumar a obra da redenção, mui claramente predisseram os profetas que o Redentor levaria neste mundo uma vida pobre e desprezada. Eis o que escreve o profeta Zacarias, falando da vida abjeta de Jesus Cristo: “Eis que o teu rei virá a ti, justo e salvador; ele é pobre e vem montado sobre uma jumenta e sobre o potrinho da jumenta” (Zc 9, 9).
Esta profecia realizou-se plenamente quando Jesus entrou em Jerusalém, assentado sobre um jumento, sendo recebido com todas as honras, como o Messias desejado, segundo o testemunho de São João (Jo 12,14). Também sabemos que ele foi pobre desde o seu nascimento, tendo vindo a este mundo em Belém, lugar desprezado, e numa manjedoura: “E tu, Belém Efrata, tu és pequenina entre os milhares de Judá, mas de ti é que há de sair aquele que há de reinar em Israel e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade” (Mq 5, 2). E essa profecia foi assinalada por São Mateus (2,6) e São João (7, 42). Além disso, escreve o profeta Oséias: “Do Egito chamarei o meu Filho” (11, 1), o que se realizou quando Jesus Cristo, como menino, foi levado para o Egito, onde permaneceu sete anos como estranho no meio de gente bárbara, dos parentes e dos amigos, devendo viver necessariamente mui pobremente. Continuou, depois de voltar à Judéia, a levar uma vida pobre. Ele mesmo predisse pela boca de Davi que pobre deveria ser durante toda a sua vida e atribulado pelas fadigas: “Eu sou pobre e vivo em trabalhos desde a minha mocidade” (Sl 87,16).
A EXPIAÇÃO
Deus não podia ver plenamente satisfeita a sua justiça com os sacrifícios oferecidos pelos homens, mesmo sacrificando-lhe suas vidas e, por isso, dispôs que seu próprio Filho tomasse um corpo humano e fosse a digna vítima que o reconciliasse com os homens e lhes obtivesse a salvação. “Não quiseste hóstia nem oblação, mas tu me formaste um corpo” (Hb 10, 5). E o Filho unigênito se ofereceu voluntariamente a sacrificar-se por nós e desceu à terra para completar o sacrifício com sua morte e assim realizar a redenção do homem: “Eis, aqui venho para fazer, ó Deus, a tua vontade, como está escrito de mim no princípio do livro” (Hb 10, 7).
Pergunta o Senhor, referindo-se ao pecador: “Que importará que eu vos fira de novo?” (Is 1, 5). Isso dizia Deus, para nos dar a entender que, por mais que punisse os seus ofensores, suas penas não seriam suficientes para reparar a sua honra ultrajada, e por isso enviou seu próprio Filho a satisfazer pelos pecados dos homens, visto que ele podia dar uma digna reparação à justiça divina. Depois declarou por Isaías, falando de Jesus feito vítima para expiar nossas culpas: “Eu o feri por causa dos crimes de meu povo” (53, 8), e não se contentou com uma pequena satisfação, mas quis vê-lo abatido pelos tormentos: “E o Senhor quis quebrantá-lo na sua enfermidade” (Is 53, 10). Ó meu Jesus, ó vítima de amor, consumida de dores na cruz para pagar os meus pecados, desejaria morrer de dor, pensando quantas vezes vos tenho desprezado depois de tanto me haverdes amado. Não permitais que eu continue a viver tão ingrato a tão grande bondade. Atraí-me todo a vós: fazei-o pelos merecimentos desse sangue que derramastes por mim!
Quando o Verbo divino se ofereceu para remir os homens, de duas maneiras se podia fazer essa redenção: uma por meio do gozo e da glória, outra das penas e dos vitupérios. Ele, porém, que com sua vinda não só pretendia livrar o homem da morte eterna, mas também ganhar a si o amor de todos os corações humanos, repeliu o caminho do gozo e da glória e escolheu o das penas e dos vitupérios (Hb 10, 34). A fim, portanto, de satisfazer por nós a justiça divina e juntamente para inflamar-nos com seu santo amor, quis qual criminoso sobrecarregar-se de todas as nossas culpas e, morrendo sobre uma cruz, obter-nos a graça e a vida feliz. É justamente o que exprime Isaías quando afirma: “Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as nossas dores” (Is 53, 4).
Disso encontram-se duas figuras claras no Antigo Testamento: a primeira era a cerimônia usada todos os anos do “bode expiatório” sobre o qual o sumo pontífice entendia impor todos os pecados do povo e por isso todos, cumulando-o de maldições, o enxotavam para a floresta para servir aí de objeto à ira divina (Lv 16, 5). Esse bode figurava nosso Redentor, que quis espontaneamente sobrecarregar-se com todas as maldições a nós devidas por nossos pecados (Gl 3, 13), feito por nós maldição, para nos obter as bênçãos divinas. E assim escreve o Apóstolo em outro lugar: “Aquele que desconhecia o pecado, fê-lo por nós, para que nós fôssemos feitos justiça de Deus nele” (2 Cor 5, 21). Como explicam Santo Ambrósio e Santo Anselmo, aquele que era a mesma inocência, fê-lo pecado; revestiu-se com as vestes do pecador e quis tomar sobre si as penas devidas a nós pecadores, para nos obter o perdão e nos tornar justos aos olhos de Deus.
A segunda figura do sacrifício que Jesus Cristo ofereceu por nós a seu eterno Pai na cruz, foi a “serpente de bronze” suspensa em um poste, que curava os hebreus mordidos pela serpente de fogo, quando para ela olhavam (Nm 21, 8). Assim escreve São João: “Como Moisés suspendeu a serpente no deserto, assim importa que seja levantado o Filho do homem, para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 14).
À LUZ DAS PROFECIAS
É preciso refletir que no capítulo 2.º da “Sabedoria” está predita a morte ignominiosa de Jesus Cristo. Ainda que as palavras desse capítulo possam se referir à morte de qualquer homem justo, contudo, afirma Tertuliano, São Cipriano, São Jerônimo e muitos outros santos Padres, que de modo especial quadram à morte de Cristo: Aí se diz no versículo 18: “Se realmente é o verdadeiro filho de Deus, ele o amparará e o livrará das mãos dos contrários”. Essas palavras correspondem perfeitamente ao que diziam os judeus, quando Jesus estava na cruz: “Confiou em Deus: livre-o agora, se o ama; pois disse que era filho de Deus” (Mt 27, 43). Continua o sábio a dizer: “Façamos-lhe perguntas por meio de ultrajes e tormentos… e provemos a sua paciência. Condenemo-lo a uma morte a mais infame” (Sb 2, 19-20). Os judeus escolheram para Jesus Cristo a morte da cruz, que era a mais ignominiosa, para que seu nome ficasse para sempre aviltado e não fosse mais relembrado, segundo um outro testemunho de Jeremias: “Ponhamos madeira no seu pão e exterminemo-lo da terra dos viventes e não haja mais memória de seu nome” (Jr 11, 19). Ora, como podem dizer hoje em dia os judeus ser falso que Jesus fosse o Messias prometido, por ter sido arrebatado deste mundo por uma morte torpíssima, quando seus mesmos profetas haviam predito que ele deveria ter uma morte tão vil?
Jesus aceitou, porém, semelhante morte porque morria para pagar os nossos pecados: também por esse motivo quis qual pecador ser circuncidado, ser resgatado quando foi apresentado ao templo, receber o batismo de penitência de São João. Na sua paixão, finalmente quis ser pregado na cruz para pagar por nossos licenciosas liberdades, com a sua nudez reparar a nossa avareza, com os opróbrios a nossa soberba, com a sujeição aos carnífices a nossa ambição de dominar, com os espinhos os nossos maus pensamentos, com o fel a nossa intemperança e com as dores do corpo os nossos prazeres sensuais. Deveríamos por isso continuamente agradecer com lágrimas de ternura ao eterno Pai por ter entregue seu Filho inocente à morte para livrar-nos da morte eterna. “O qual não poupou seu próprio Filho, mas entregou-o por todos nós: como não nos deu também com ele todas as coisas?” (Rom 8, 32). Assim fala São Paulo e o próprio Jesus diz, segundo São João (3, 16): “Tanto Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito”. Daí exclamar a santa Igreja no sábado santo: “Ó admirável dignação de vossa piedade para conosco! Ó inestimável excesso de vossa caridade! Para resgatar o escravo, entregastes o vosso Filho”. Ó misericórdia infinita, ó amor infinito de nosso Deus, ó santa fé! Quem isto crê e confessa, como poderá viver ser arder em santo amor para com esse Deus tão amante e tão amável?
Ó Deus eterno, não olheis para mim, carregado de pecados, olhai para vosso Filho inocente, pregado numa cruz, e que vos oferece tantas dores e suporta tantos ludíbrios para que tenhais piedade de mim. Ó Deus amabilíssimo e meu verdadeiro amigo, por amor, pois, desse Filho que vos é tão caro, tende piedade de mim. A piedade que desejo é que me concedais o vosso santo amor. Ah, atraí-me inteiramente a vós do meio do lodo de minhas torpezas. Consumi, ó fogo devorador, tudo o que vedes de impuro na minha alma e a impede de ser toda vossa.
NOSSO FIADOR
Agradeçamos ao Pai e agradeçamos igualmente ao Filho que quis tomar a nossa carne e juntamente os nossos pecados para dar a Deus com sua paixão e morte uma digna satisfação. Diz o Apóstolo que Jesus Cristo se fez nosso fiador, obrigando-se a pagar as nossas dívidas (Hb 7, 22). Como mediador entre Deus e os homens, estabeleceu um pacto com Deus por meio do qual se obrigou a satisfazer por nós a divina justiça e em compensação prometeu-nos da parte de Deus a vida eterna. Já com muita antecedência o Eclesiástico nos advertia que não nos esquecêssemos do benefício deste divino fiador, que, para obter a salvação, quis sacrificar a sua vida (Eclo 29, 20). E para mais nos assegurar do perdão, diz São Paulo, foi que Jesus Cristo apagou com seu sangue o decreto de nossa condenação, que continha a sentença da morte eterna contra nós, e a afixou à cruz, na qual, morrendo, satisfez por nós a justiça divina (Col 2, 14). Ah, meu Jesus, por aquele amor que vos obrigou a dar a vida e o sangue no Calvário por mim, fazei-me morrer a todos os afetos deste mundo, fazei que eu me esqueça de tudo para não pensar senão em vos amar e dar-vos gosto. Ó meu Deus, digno de infinito amor, vós me amastes sem reserva e eu quero também amar-vos sem reserva. Eu vos amo, meu sumo Bem, eu vos amo, meu amor, meu tudo.
Em suma, tudo o que nós podemos ter de bens, de salvação, de esperança, tudo possuímos em Jesus Cristo e nos seus merecimentos, como disse São Pedro: “E não há em outro nenhuma salvação, nem foi dado aos homens um outro nome debaixo dos céus em que nós devemos ser salvos” (At 4, 12). Assim para nós não há esperança de salvação senão nos merecimentos de Jesus Cristo. Donde São Tomás, com todos os teólogos, conclui que depois da promulgação do Evangelho nós devemos crer explicitamente, por necessidade não só de preceito, como também de meio, que somente por meio de nosso Redentor nos é possível a salvação.
Todo o fundamento de nossa salvação está, portanto, na redenção humana do Verbo divino, operado na terra. É preciso, pois, refletir que ainda que as ações de Jesus Cristo feitas no mundo, sendo ações de uma pessoa divina, eram de um valor infinito, de maneira que a mínima delas bastava para satisfazer a justiça divina por todos os pecados dos homens, contudo só a morte de Jesus foi o grande sacrifício com o qual se completou a nossa redenção, motivo pelo qual as Sagradas Escrituras se atribui a redenção do homem principalmente à morte por ele sofrida na cruz: “Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2, 8). Razão por que escreve o Apóstolo que, quando tomamos a sagrada eucaristia, nos devemos recordar da morte do Senhor: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste vinho, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Cor 11,26). Por que é que diz da morte e não da encarnação, do nascimento, da ressurreição? Porque foi esse tormento, o mais doloroso de Jesus Cristo, que completou a redenção.
Por isso dizia S. Paulo: “Não julgueis que eu sabia alguma coisa entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Cor 2,2). Muito bem sabia o apóstolo que Jesus Cristo nascera numa gruta, que habitara por trinta anos uma oficina que ressuscitara e subira aos céus. Por que então escreve que não sabia outra coisa senão Jesus crucificado? Porque a morte sofrida por Jesus na cruz era o que mais o movia a amá-lo e o induzia a prestar obediência a Deus, a exercer a caridade para com o próximo, a paciência nas adversidades, virtudes praticadas e ensinadas particularmente por Jesus Cristo na cátedra da cruz. São Tomás escreve: “Em qualquer tentação encontra-se na cruz o auxílio; aí a obediência para com Deus, aí a caridade para com o próximo, aí a paciência nas adversidades, donde assevera Agostinho: A cruz não foi só o patíbulo do mártir, como também a cátedra do mestre”. (In c. 12 ad Heb.).
À SOMBRA DA CRUZ
Almas devotas, procuremos ao menos imitar a esposa dos Cânticos, que dizia: “Eu assentei-me à sombra daquele que tanto desejei” (Cânt 2, 3). Oh! que doce repouso as almas que amam a Deus encontram nos tumultos deste mundo e nas tentações do inferno e mesmo nos temores dos juízos de Deus, contemplando a sós em silêncio o nosso amado Redentor agonizando na cruz, gotejando seu sangue divino de todos os seus membros já feridos e rasgados pelos açoites, pelos espinhos e pelos cravos. Oh! como a vista de Jesus crucificado afugenta de nossas mentes todos os desejos de honras mundanas, das riquezas da terra e dos prazeres dos sentidos! Daquela cruz emana uma vibração celeste, que docemente nos desprende dos objetos terrenos e acende em nós um santo desejo de sofrer e morrer por amor daquele que quis sofrer tanto e morrer por amor de nós.
Ó Deus, se Jesus Cristo não fosse o que ele é, Filho de Deus e verdadeiro Deus nosso criador e supremo senhor, mas um simples homem, quem não sentiria compaixão vendo um jovem de nobre linhagem, inocente e santo, morrer à força de tormentos sobre um madeiro infame, para pagar, não os seus delitos, mas os de seus mesmos inimigos e assim libertá-los da morte em perspectiva? E como é possível que não ganhe os afetos de todos os corações um Deus que morre num mar de desprezos e de dores por amor de suas criaturas? Como poderão essas criaturas amar outra coisa fora de Deus? Como pensar em outra coisa que em ser gratos para com esse tão amante benfeitor? “Oh! se conhecesses o mistério da cruz!”. disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna, certamente não te empenharias em persuadir-me a renegá-lo; pelo contrário, tu mesmo abandonarias tudo o que possuis e esperas nesta terra para comprazeres e contentares um Deus que tanto te amou. Assim já procederam tantos santos e tantos mártires que abandonaram tudo por Jesus Cristo. Que vergonha para nós, quantas tenras virgenzinhas renunciaram a casamentos principescos, riquezas reais e todas as delícias terrenas e voluntariamente sacrificaram sua vida para testemunhar qualquer gratidão pelo amor que lhes demonstrou este Deus crucificado.
Como explicar então que a muitos cristãos a Paixão de Cristo faz tão pouca impressão? Isso provém do pouco que consideram nos padecimentos sofridos por Jesus Cristo por nosso amor. Ah, meu Redentor, também eu estive no número desses ingratos. Vós sacrificastes vossa vida sobre uma cruz, para que não me perdesse, e eu tantas vezes quis perder-vos, ó bem infinito, perdendo a vossa graça! Ora, o demônio, com a recordação de meus pecados, pretenderia tornar-me dificílima a salvação, mas a vista de vós crucificado, meu Jesus, me assegura que não me repelireis de vossa face se eu me arrepender de vos haver ofendido e quiser vos amar. Oh! sim, eu me arrependo e quero amar-vos com todo o meu coração. Detesto aqueles malditos prazeres que me fizeram perder a vossa graça. Amo-vos, ó amabilidade infinita, e quero amar-vos sempre e a recordação de meus pecados servirá para me inflamar ainda mais no vosso amor, que viestes em busca de mim quando eu de vós fugia. Não, não quero mais separar-me de vós, nem deixar mais de vos amar, ó meu Jesus. Maria, refúgio dos pecadores, vós que tanto participastes das dores de vosso Filho na sua morte, suplicai-lhe que me perdoe e me conceda a graça de o amar.
Fonte: “Reflexões sobre a Paixão de Jesus Cristo expostas às almas devotas”
Tradução: Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R.
Publicado em Blog Quadrante (Quadrante Editora é uma entidade sem fins lucrativos, que iniciou as atividades no ano de 1964, em São Paulo, com a publicação do livro Caminho, de São Josemaria Escrivá).
A Festa da Apresentação de Jesus no Templo, quarenta dias depois do seu nascimento,apresenta diante de nossos olhos um momento particular da vida da Sagrada Família: segundo a Lei mosaica, o Menino Jesus é levado por Maria e José ao Templo de Jerusalém para ser oferecido ao Senhor (cf. Lc 2, 22- 24). Simeão e Ana, inspirados por Deus, reconhecem naquele Menino o Messias tão esperado e profetizam sobre Ele. Estamos na presença de um mistério, ao mesmo tempo simples e solene, no qual a Santa Igreja celebra Cristo, o Consagrado do Pai, primogênito da nova humanidade. É um dos casos em que o tempo litúrgico reflete o histórico, porque, hoje, completam-se, precisamente, quarenta dias desde a Solenidade do Natal do Senhor. O tema de Cristo Luz, que caracterizou o ciclo das festas natalinas e culminou na Solenidade da Epifania, é retomado e prolongado na festa de hoje. No encontro, entre o velho Simeão e Maria, jovem mãe, Antigo e Novo Testamento unem-se, de maneira admirável, em ação de graças pelo dom da Luz, que resplandeceu nas trevas, impedindo-as de prevalecer: Cristo Senhor, Luz para iluminar os povos e glória do seu povo de Israel (Lc 2, 32). No Oriente, esta Festa é chamada de Festa do Encontro: com efeito, Simeão e Ana, que encontram Jesus no Templo e reconhecem n’Ele o Messias, tão esperado, representam a humanidade que encontra o seu Senhor na Igreja. Trata-se de um belo encontro de Deus, que vem nos salvar, com a criatura humana, necessitada de salvação, pois se encontrava sujeita à escravidão, por medo da morte (Hb 2, 15). Contemplamos este mistério, na oração do Rosário, nos mistérios Gozosos. É, portanto, um mistério de alegria: chegou-nos a Salvação, chegou-nos o Salvador!
O encontro de Jesus, com Simeão e Ana, no templo de Jerusalém, aparece como o símbolo de uma realidade muito maior e universal: a humanidade encontra seu Deus na Igreja. Ouvimos do Profeta Malaquias (Ml 3, 1- 4) que prenunciava esse encontro: “ Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu Templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que desejais.” No Templo, Simeão reconheceu, como Messias esperado, a Jesus e o proclamou Salvador e luz do mundo. Compreendeu que, doravante, o destino de cada homem se decidia de acordo com a atitude assumida em relação a ele; Jesus será causa ou de ruína ou de ressurreição. Lendo as coisas mais em profundidade, compreendemos que, naquele momento, é o próprio Deus quem apresenta o seu Filho Unigênito aos homens, mediante as palavras do velho Simeão e da profetiza Ana. De fato, Simeão proclama Jesus como “salvação” da humanidade, como “luz” de todos os povos e “sinal de contradição”, porque revelará os pensamentos dos corações (Lc 2, 29 – 35). Nossa Senhora preparou o seu coração, como, somente Ela, e podia fazê-lo, para apresentar o seu Filho a Deus Pai e oferecer-se, Ela mesma, com Ele. Ao fazê-lo, renovava o seu faça-se (SIM) e punha, uma vez mais, a sua vida nas mãos de Deus. Jesus foi apresentado ao Pai pelas mãos de Maria. Nunca se fez, nem se tornaria a fazer, uma oblação semelhante, naquele Templo.
A primeira pessoa que se une a Cristo, no caminho da obediência, da fé provada e do sofrimento partilhado, é a sua mãe, Maria. O texto evangélico mostra-nos Maria no gesto de oferecer o Filho: uma oferenda incondicional que a envolve em primeira pessoa: Maria é a Mãe d’Aquele que é “glória do seu povo, Israel” e “luz que ilumina as nações” (cf. Lc 2, 32.34). E ela mesma, na sua alma imaculada, deverá ser trespassada pela espada do sofrimento, mostrando, assim, que o seu papel, na história da salvação, não termina no Mistério da Encarnação, mas completa-se na amorosa e dolorosa participação na Morte e na Ressurreição do seu Filho. Levando o Filho a Jerusalém, a Virgem Mãe oferece-o a Deus como verdadeiro Cordeiro, que tira os pecados do mundo: apresenta-o a Simeão e a Ana, como anúncio de redenção; apresenta-o a todos como luz para um caminho seguro pela via da verdade e do amor.
As palavras, que neste encontro, vêm aos lábios do idoso Simeão – “Os meus olhos viram a tuasalvação” (Lc 2,30) – encontraram eco no coração da profetiza Ana. Estas pessoas justas e piedosas, envolvidas pela luz de Cristo, podem contemplar, no Menino Jesus, “a consolação deIsrael” (Lc 2, 25). A sua expectativa transforma-se, assim, em luz que ilumina a História. Simeão é portador de uma antiga esperança, e o Espírito do Senhor fala ao seu coração: por isso pode contemplar aquele que muitos profetas e reis tinham desejado ver, Cristo, luz que ilumina as nações. Reconhece, naquele Menino, o Salvador, mas intui, no espírito, que, em seu redor, jogar-se-á o destino da humanidade, e que deverá sofrer muito por parte de quantos o rejeitarão; proclama a sua identidade e a missão de Messias com as palavras que formam um dos hinos da Igreja nascente, do qual irradia toda a exultação comunitária e escatológica da expectativa salvífica realizada. Ana é “profetiza”, mulher sábia e piedosa que interpreta o sentido profundo dos acontecimentos históricos e da mensagem de Deus, neles escondido. Por isso, pode “louvar a Deus” e falar “do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (Lc 2, 38).
A festa de hoje convida-nos a entregar ao Senhor, uma vez mais, a nossa vida, os pensamentos, as obras…, todo o nosso ser. E podemos fazê-lo de muitas maneiras. A liturgia, desta festa, quer manifestar, com efeito, que a vida do cristão é como uma oferenda ao Senhor, traduzida na procissão dos círios acesos que se consomem pouco a pouco, enquanto iluminam o ambiente. Cristo é profetizado como a Luz que tira da escuridão o mundo sumido em trevas. Com este sinal visível, pretende-se significar que a Igreja encontra, na fé, Aquele que é “a luz dos homens” e acolhe-o com todo o arrebatamento da sua fé para levar esta “luz” ao mundo.
Seus pais maravilharam-se do que se dizia d’Ele. Maria, que guardava, no seu coração, a mensagem do Anjo e dos pastores, escuta, novamente, admirada, a profecia de Simeão sobrea missão universal do seu Filho: a criança, que sustenta nos seus braços, é a Luz enviada por Deus Pai, para iluminar todas as nações: é a glória do seu povo. É um mistério ligado à oferenda, feita no Templo, e que nos recorda que a nossa participação, na missão de Cristo, que nos foi conferida no Batismo, está estritamente ligada à nossa entrega pessoal. A festa da Apresentação do Senhor é um convite a darmo-nos, sem medida, a “arder diante de Deus, como essa luz que se coloca no castiçal para iluminar os homens que andam em trevas; como essas lamparinas que se queimam junto do altar e se consomem alumiando até se gastarem”. (São Josemaría Escrivá, Forja, 44). Meu Deus, dizemos, hoje, ao Senhor, a minha vida é para Ti; não a quero se não for para gastá-la junto de Ti. Para que outracoisa haveria de querê-la?
São Bernardo recorda-nos que “está proibido apresentar-se ao senhor de mãos vazias.” Simeão abençoou os pais do Menino e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (Lc 2, 34-35). Jesus traz a salvação a todos os homens; no entanto, para alguns, será sinal de contradição, porque se obstinam em rejeitá-Lo.
O Evangelista São Lucas narra, também, que Simeão, depois de se referir ao Menino, dirigiu-se, inesperadamente, à Maria, vinculando, de certo modo, a profecia relativa ao Filho com outra que se relacionava com a mãe: “ uma espada atravessará a tua alma”. Com essas palavras do ancião, o nosso olhar desloca-se do Filho para a Mãe, de Jesus para Maria. É admirável o mistério deste vínculo pelo qual Ela se uniu a Cristo, àquele Cristo que é sinal de contradição. Essas palavras, dirigidas à Virgem, anunciavam que ela estaria intimamente unida à obra redentora do seu Filho. A espada, a que Simeão se refere, expressa a participação de Maria nos sofrimentos do Filho; é uma dor indescritível, que atravessa a sua alma. O Senhor sofreu, na Cruz, pelos nossos pecados; e esses mesmos pecados, de cada um de nós, forjaram a espada de dor da nossa Mãe.
Podemos servir-nos das palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, invocando Maria, como intercessora: “Minha Rainha, seguindo o vosso exemplo, também eu, queria oferecer, hoje, a Deus, o meu pobre coração…Oferecei-me, como coisa vossa, ao Pai Eterno, em união com Jesus, e pedi-lhe que, pelos méritos do seu Filho, e em vossa graça, me aceite e me tome por seu”.
Por meio de Maria, o Senhor acolherá uma vez mais a entrega que lhe fizermos de tudo o que somos e temos.
O Natal de Nosso Senhor Jesus recorda-nos que Deus está presente em todas as situações. Pensamos que Ele está ausente ou nas quais achamos que Ele não pode estar. A nossa fé estimula-nos a viver o tempo natalino com maior serenidade e esperança! Deus está aqui, tão presente que, talvez ou com certeza, nos convida a rever nossos costumes; convida-nos a lembrar que, assim como Ele veio para nos salvar, também nós, através d’Ele, só podemos nos salvar se caminharmos juntos, se aprendermos a cuidar uns dos outros. Somos convidados a ser uma “manjedoura”, onde os outros possam se alimentar do pão da amizade, do amor, da misericórdia, da esperança.
Um convite
O Senhor oferece-se a nós para que possamos dar seu testemunho com a nossa vida. Como cristãos, somos convidados a assumir a esperança desta humanidade desnorteada e solitária, a sermos sentinelas da nova manhã, para que as trevas deste tempo sejam rompidas pela Luz, que vem do Senhor Jesus.
Minha oração
“Ó Senhor que vos revelastes tão pequenino e frágil, um Deus escondido na humanidade, porém, não menos poderoso. Concedei a nós a sabedoria para te encontrar nesses mistérios e a certeza da tua presença no meio de nós, todos os dias. Salvai-nos de nossas mazelas e durezas tornando-nos mais humildes e humanos assim como tu o fizeste. Amém.”
Um Santo Natal para você e para a sua família!
Publicado emCatólico Orante (extraído de “Santo do Dia” – Comunidade Canção Nova). Obs.: Conteúdo editado.
Quem quiser celebrar bem a festa do Natal precisa, a exemplo de Santa Isabel, receber Nossa Senhora em sua casa, isto é, abraçar fervorosamente a devoção à Virgem Santíssima, pela qual nos aproximamos cada vez mais da graça de Cristo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Lc 1, 39-45)
Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”.
Neste 4º Domingo do Advento, a Igreja proclama o Evangelho da Visitação, que é narrado em São Lucas, capítulo 1, versículos de 39 a 45. Esse mistério, que meditamos no Santo Rosário, relata como Maria, após receber o anúncio do Anjo Gabriel e já grávida de Jesus, parte apressadamente para a região montanhosa da Judeia a fim de visitar sua parenta Isabel — grávida de São João Batista.
Mas o que, afinal, esse Evangelho ensina-nos para a vida espiritual? Antes de tudo, recordemos que a primeira parte do Advento convida-nos à penitência e à mudança de vida. Por isso, os Evangelhos destacam tantas vezes as exortações de São João Batista: “Convertei-vos”, um claro chamado à mudança de vida, ao Batismo, à penitência, ao abandono completo do pecado — essa é a nova vida em Cristo. Entretanto, a partir de 17 de dezembro, o Advento entra em uma segunda fase, voltada diretamente para o Natal e a presença de Cristo. Nesse período, a figura central deixa de ser João Batista e passa a ser a Virgem Maria. É como se, nesse tempo final — especialmente marcado por práticas como a novena de Natal —, a Igreja, junto com Maria, estivesse grávida, aguardando a chegada do Salvador.
Acompanhamos, neste período, a presença da Virgem Maria: Nossa Senhora da Expectação, que está grávida, aguardando o nascimento de Jesus. Mas, afinal, o que isso significa espiritualmente? O que Maria pode trazer para a nossa vida espiritual? O Evangelho oferece-nos luzes importantes sobre essa realidade. Ele narra que, ao ouvir a saudação de Maria, Isabel sentiu a criança saltar em seu ventre e ficou cheia do Espírito Santo.
A saudação de Nossa Senhora traz duas consequências marcantes. Primeiro, Isabel recebe uma efusão do Espírito Santo assim que ouviu Maria. Segundo, a criança em seu ventre, São João Batista, salta de alegria, como a própria Isabel explica no versículo 44: “Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre”. Não se trata de um simples movimento físico do bebê, mas de uma reação espiritual, percebida por Isabel, cheia do Espírito Santo, como um sinal da presença divina.
Além disso, o Espírito Santo, derramado abundantemente no coração de Isabel, permite que ela reconheça Maria como a mãe do Salvador. Isso é algo extraordinário, pois Maria estava nas primeiras semanas de gravidez, quando não há qualquer sinal externo de gestação. Ainda assim, Isabel, cheia do Espírito Santo, solta um grito de louvor. O Evangelho apresenta a cena de forma intensa e dramática, mostrando que Isabel bradou com força e entusiasmo: “Bendita és tu entre as mulheres!” (Lc 1, 42).
A frase que repetimos tantas vezes no terço, quando pronunciada pela primeira vez, foi um brado cheio do Espírito Santo. Isabel, transbordando de fé e entusiasmo, proclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres!” (Lc 1, 42). Não foi apenas uma declaração, senão uma verdadeira profissão de fé, efusiva e cheia do Espírito — algo análogo ao que aconteceu em Pentecostes. Aliás, a Visitação, de fato, é um pentecostes. E é algo extraordinário perceber como o Evangelho de São Lucas destaca, de forma emblemática, a presença constante do Espírito Santo.
São Lucas é o único autor do Novo Testamento que narra o Pentecostes, descrito nos Atos dos Apóstolos, que também é de sua autoria. Desde o início do seu Evangelho, porém, a presença do Espírito Santo já se destaca. No anúncio do anjo a Maria, ele declara: “O Espírito Santo virá sobre ti” (Lc 1, 35). Ali acontece o primeiro pentecostes, na própria Anunciação. Maria é a primeira a ser plena do Espírito Santo, um momento que os Santos Padres chamam de “protopentecostes”.
Quando Maria parte apressadamente para a região montanhosa da Judeia para visitar Isabel, sua saudação provoca um segundo pentecostes. Pela graça do Espírito Santo, Isabel recebe a revelação e, com os olhos da fé, reconhece a gravidez de Maria. Mais do que isso, ela percebe quem Maria está carregando: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Isabel reconhece que Maria não traz em seu ventre um homem comum, mas o próprio Senhor, e exclama: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?”. Assim, Isabel professa sua fé em Jesus e na maternidade divina de Maria.
Observemos a realização do Espírito Santo: Ele nos faz reconhecer a presença de Cristo em Maria e a grandeza da própria Virgem. Reconhecer que Nossa Senhora é bendita não tem ligação alguma com idolatria. Muitas pessoas têm certa preocupação com a veneração a Maria, temendo que isso seja um exagero — mas é fundamental perceber a obra do Espírito Santo nesse Evangelho. Isso porque é Ele quem nos leva a reconhecer tanto o Filho quanto a Mãe. E é nesse contexto que acontece o primeiro milagre na ordem da graça: São João Batista é purificado, é perdoado de seus pecados ainda no ventre de Isabel.
A tradição ensina-nos que, ao ouvir a saudação de Maria, São João Batista recebeu naquele momento a graça extraordinária de ser purificado. Esse evento oferece-nos elementos essenciais para refletir e aplicar à nossa vida o Evangelho da Visitação — especialmente neste período de preparação para o Natal.
Como podemos, então, fazer uma boa preparação para celebrar o Santo Natal? Primeiramente, acolhamos a Virgem Maria em nossa casa. No Evangelho, lemos que Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. No entanto, acolher Maria em nossa casa significa, sobretudo, recebê-la em nosso coração. Recordemos o que Jesus fez com o discípulo amado aos pés da Cruz: confiou Maria como mãe a todos nós.
Quando Jesus quis salvar a sua Igreja ao morrer na cruz, qual foi o passo concreto que Ele deu antes da sua morte? Ele nos entregou a Virgem Maria. Ele disse: “Filho, eis aí a tua mãe”. Nós também precisamos acolher a Virgem Maria em nossa casa, como está escrito no capítulo 19 de São João: “João então acolheu a mãe de Jesus em sua casa”. Porém, mais do que apenas em sua casa, João a recebeu na intimidade do seu coração, como está registrado: “idios”, que significa algo que é próprio, pessoal. João acolheu Maria em sua intimidade.
É isso que precisamos fazer para celebrar bem esse Santo Natal. Ao acolher Maria em nossa casa, fazemos como Santa Isabel, que recebe a salvação no seu lar. Ao receber a Virgem Maria em nosso coração, como o Apóstolo João aos pés da Cruz, a salvação também entra em nossa casa. É a mesma realidade. Precisamos abrir nosso coração para a Virgem Maria, porque Nossa Senhora, aqui, é causa instrumental da nossa salvação.
Vamos entender o que isso significa. Vamos explicar tendo como referência o ministério dos padres. O que é um padre? Ora, um padre é uma causa instrumental da salvação. Eu posso ser causa instrumental da salvação de duas maneiras diferentes. Por exemplo: posso ser causa instrumental como os demônios, ou como os Apóstolos. São coisas bem distintas. Imaginemos um padre em pecado mortal, alguém que vive uma vida afastada de Deus. Ele ainda é causa instrumental de salvação para as pessoas? Certamente. Deus o usa, apesar do seu pecado, assim como usa os demônios, apesar deles. O demônio não quer fazer a vontade de Deus; mas Deus, em sua sabedoria, é tão grandioso que consegue superar a malícia do diabo.
O diabo pensa que está atrapalhando o Reino de Deus, mas Deus permite que ele aja e cause destruição. No entanto, o mal que o diabo faz é usado por Deus como ocasião para obter um bem maior, a salvação das pessoas. Dessa forma, o diabo torna-se também um instrumento de Deus — mas sem fazê-lo de forma consciente e livre. É um instrumento quase inerte, porque, apesar da vontade rebelde do diabo e da sua recusa em reconhecer o Criador, Deus ainda o usa, assim como usamos uma vassoura para varrer o chão — um instrumento sem vontade própria.
O Apóstolo, por sua vez, é um instrumento consciente e livre, o que o torna diferente. Deus pode usar um padre que busca a santidade, que deseja agradar a Deus e seguir o seu caminho de uma forma mais profunda. Quanto mais o padre santifica-se, tornando-se dócil e maleável nas mãos de Deus, e quanto mais ele morre para suas próprias vontades, caprichos e desejos, mais Deus poderá usá-lo como um instrumento eficaz para a sua obra salvadora.
Ou seja, o padre é causa instrumental de salvação na vida dos outros. É claro que um sacerdote santo, como São João da Cruz, por exemplo, que celebramos na semana passada, no dia 14, é um instrumento valiosíssimo nas mãos de Deus. Por outro lado, um padre que vive em estado de pecado mortal, que não se converte e acaba sendo condenado, pode também ser usado por Deus, mas de forma muito imperfeita e inadequada — de forma análoga ao modo como Deus usa os demônios.
Estou dizendo tudo isso para explicar que a Virgem Maria também é instrumento de Deus. Se um padre santo, como São João da Cruz, é instrumento de Deus, imaginemos a Virgem Maria, que não conheceu o pecado, cuja vontade perfeita está totalmente submissa à vontade de Deus, e cujo coração não tem outro desejo senão amar a Deus e fazer com que a vontade dele tome forma humana neste mundo. Assim, Maria é um instrumento excelente, apto de forma suprema, nas mãos de Nosso Senhor.
Se por meio da palavra do sacerdote Cristo faz-se carne na Eucaristia, pela palavra de Maria, ao dizer “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1, 38), também acontece a Encarnação — foi principalmente por sua palavra que o Verbo faz-se carne. Reflitamos: quantas vezes em nossa vida nós clamamos “Ave Maria”? Deixemos que, hoje, seja ela a nos saudar, a trazer o Espírito Santo à nossa vida.
Há um episódio bonito na vida de São Bernardo que mostra como ele, grande devoto de Nossa Senhora, cantava fervorosamente as glórias de Maria. Todos os dias, ao passar diante de uma imagem de Nossa Senhora em seu mosteiro, ele dizia com devoção “Ave Maria” antes de seguir seu caminho. Ele fazia isso todos os dias, até que, em um belo dia, para sua surpresa, ao dizer “Ave Maria”, a imagem respondeu: “Ave Bernardo”.
Isso é um grande incentivo para que ouçamos essa saudação da Virgem Maria e, com nossa vida, permitamos que ela diga também a nós: “Ave”. Assim como a criança no ventre de Isabel saltou de alegria, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, recebamos também o Espírito Santo para celebrar um Natal verdadeiro, acolhendo a presença de Cristo em nossas vidas.
A presença de Cristo não é uma simples visita; Ele vem para transformar e salvar, assim como salvou São João Batista e trouxe vida nova e mudança para Santa Isabel.
Além disso, também precisamos observar a humildade e a caridade de Nossa Senhora, que, apressadamente, foi visitar Isabel para servir, levar a salvação e a graça — o Príncipe da graça, o Salvador do mundo. Ela sabia que a criança que carregava era infinitamente mais importante do que a criança que Isabel carregava, mas, mesmo assim, foi humildemente servir à sua parenta.
No entanto, Nossa Senhora foi até lá para servir, para amar e, principalmente, para levar o serviço da graça, trazendo Jesus e o Espírito Santo. Aceitemos o convite para também vivermos isso. Nossa Senhora tem pressa de entrar na nossa casa, no nosso lar, de saudar a nossa família, de, em suma, levar Jesus até nós. E como reagiremos? Vamos reagir como Isabel, enchendo-nos do Espírito Santo e abrindo nossa casa, nossa vida e nosso coração para Jesus? Ou reagiremos como Herodes, que, ao receber a notícia da Encarnação do Filho de Deus, agitou-se e, cheio de ódio, ordenou que perseguissem o Filho de Deus recém-nascido?
Como nos colocaremos para receber Jesus? Que a devoção à Virgem Maria, especialmente nestes dias de preparação para o Natal, seja um verdadeiro instrumento de conversão em nossa vida, para que Jesus realmente entre em nosso coração. Que ela nos ajude na transformação que Deus quer realizar em nós. Mas, para isso, precisamos abrir nossa casa para ela. Deixemos de temer a devoção a Nossa Senhora. Se nós permitirmos que ela entre em nossa casa, ela trará o Espírito Santo e o Menino Jesus. Ela será um instrumento eficaz de verdadeira mudança de vida para nós e para nossa família.
Que, neste período de preparação para o Natal, a Virgem Maria seja presença constante em nossa vida espiritual. Rezemos o terço, entreguemo-nos a ela e meditemos os mistérios da nossa salvação. Não sejamos soberbos ao dizer que não precisamos de Maria. Deus a usa como instrumento, assim como fez para trazer o Espírito Santo a Isabel e a salvação a São João Batista.
Ao nos abrirmos a Maria, abrimos também nosso coração a Jesus. Que Ele nasça verdadeiramente em nós e em nossas famílias, ao acolhermos a Virgem Maria, que, cheia do Espírito Santo, traz-nos a graça de Cristo.
O mês de julho, na tradição católica, é especialmente dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta devoção destaca o sacrifício redentor de Cristo e a importância do seu sangue derramado para a salvação da humanidade. Celebrar o Preciosíssimo Sangue é reconhecer o profundo mistério da redenção e a grandeza do amor de Deus pelos seus filhos. Quando olhamos a imagem do Sagrado Coração de Jesus observamos que Jesus aponta para o seu coração. O coração de Jesus é a fonte de amor e Jesus expressou esse amor doando todo o seu sangue para nos resgatar. Sangue é vida!
Origem da Devoção
A devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo tem raízes profundas na história da Igreja. Desde os primeiros tempos do cristianismo, o sangue de Cristo foi venerado como o preço da redenção da humanidade. Um dos primeiros a ter a devoção ao preciosíssimo sangue de Jesus foi São Gaspar de Búfalo. Ele propagou fortemente essa devoção, tendo a aprovação da Santa Sé. Foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue (CPPS) em 1815.
No entanto, a formalização desta devoção como um mês específico dedicado ao Preciosíssimo Sangue ocorreu no século XIX. O Papa Pio IX, em 1849, instituiu oficialmente a festa do Preciosíssimo Sangue em resposta à turbulência política da época e às ameaças contra a Igreja. Em 1969, o Papa Paulo VI incorporou a festa ao Calendário Litúrgico Geral, estabelecendo o primeiro domingo de julho como o dia da sua celebração.
Significado Teológico
O Preciosíssimo Sangue de Cristo é um símbolo poderoso do sacrifício redentor de Jesus na cruz. Segundo a doutrina católica, o sangue de Cristo foi derramado para expiar os pecados da humanidade, oferecendo salvação e reconciliação com Deus. Este sacrifício é central para a fé cristã e é celebrado na Eucaristia, onde os fiéis participam do corpo e sangue de Cristo. Através do seu sangue, Jesus estabelece uma nova aliança, superando a antiga aliança baseada nos sacrifícios de animais, e oferecendo uma redenção eterna.
Práticas Devocionais
Durante o mês de julho, os católicos são incentivados a aprofundar a sua devoção ao Preciosíssimo Sangue de várias maneiras. Entre as práticas mais comuns estão a participação na Santa Missa, a recitação do Terço do Preciosíssimo Sangue, a realização de novenas e a meditação sobre as Estações da Cruz. Essas práticas ajudam os fiéis a refletir sobre o sacrifício de Cristo e a renovar o compromisso com a vida cristã. A oração “Anima Christi”, que pede especificamente a proteção do sangue de Cristo, também é frequentemente recitada durante este mês.
Reflexão Espiritual
A devoção ao Preciosíssimo Sangue não é apenas uma lembrança do sofrimento de Cristo, mas também um chamado à transformação pessoal. Os fiéis são convidados a refletir sobre o significado do sacrifício de Jesus nas suas vidas, a reconhecer os seus pecados e a procurar a misericórdia divina. O sangue de Cristo, como fonte de vida e redenção, inspira os católicos a viverem de maneira mais plena e comprometida com os valores do Evangelho. Esta devoção promove uma espiritualidade de gratidão, humildade e renovação constante.
Importância para a Igreja
A devoção ao Preciosíssimo Sangue de Cristo fortalece a identidade e a unidade da Igreja. Ela lembra aos fiéis que todos são redimidos pelo mesmo sacrifício e chamados a viver em comunhão com Deus e com os outros. Adicionalmente, esta devoção destaca a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja, onde o mistério da redenção é renovado e celebrado continuamente. O mês de julho, dedicado ao Preciosíssimo Sangue, oferece uma oportunidade para a Igreja renovar a sua missão de testemunhar o amor redentor de Cristo ao mundo.
Conclusão
O mês de julho, dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor, é um período de profunda reflexão e renovação espiritual para os católicos. Através desta devoção, os fiéis são lembrados do imenso amor de Cristo, manifestado no seu sacrifício redentor. Celebrar o Preciosíssimo Sangue é uma oportunidade para os cristãos aprofundarem a sua fé, renovarem o seu compromisso com a vida cristã e unirem-se mais intimamente à missão da Igreja. Ao refletir sobre o sacrifício de Cristo, os fiéis são inspirados a viver de maneira mais plena e comprometida, testemunhando o amor redentor de Deus nas suas vidas diárias.
A Sexta-feira Santa de 2024 tem um grande significado para os católicos de todo o mundo. Como um dos eventos mais importantes do calendário cristão, ela comemora a crucificação e a morte de Jesus Cristo. Esse dia solene é observado durante a Semana Santa, que antecede o Domingo de Páscoa.
Para os católicos, a Sexta-feira Santa é um momento de profunda reflexão e penitência. Muitos vão à missa e participam de várias cerimônias religiosas para honrar o sacrifício de Jesus. É um dia de jejum e abstinência, simbolizando humildade e arrependimento.
Em 2024, a Sexta-feira Santa cairá em 29 de março. É uma ocasião para os católicos se reunirem como uma comunidade, oferecendo orações e meditando sobre o sofrimento e o sacrifício final de Cristo. Esse dia oferece uma oportunidade para que os fiéis contemplem suas próprias vidas, busquem o perdão e renovem sua fé.
Se você é um católico devoto ou simplesmente está interessado em aprender mais sobre tradições religiosas, este artigo explorará o significado da Sexta-feira Santa em 2024 e o que ela significa para os católicos. Junte-se a nós e mergulhe na rica história e na importância espiritual desse dia santo.
A importância da Sexta-feira Santa para os católicos
A Sexta-feira Santa em 2024 é um dos dias mais importantes do calendário litúrgico católico. É um momento em que os fiéis são chamados a refletir sobre o amor e o sacrifício de Jesus Cristo por toda a humanidade. Neste dia, os católicos recordam a crucificação de Jesus e sua morte no Calvário, como uma expressão suprema de amor e redenção.
Para os católicos, a Sexta-feira Santa é vista como um dia de profundo luto e contemplação. É um tempo para se voltarem para dentro de si mesmos, examinarem suas vidas e se arrependerem de seus pecados. Através da meditação sobre o sofrimento de Jesus, os fiéis são convidados a renovar sua fé e se aproximar mais de Deus.
Os eventos bíblicos que levaram à Sexta-feira Santa
A Sexta-feira Santa tem suas raízes nos eventos descritos no Novo Testamento da Bíblia. Segundo a narrativa, Jesus foi traído por um de seus discípulos, Judas Iscariotes, e preso pelas autoridades judaicas. Ele foi então entregue a Pilatos, o governador romano da Judeia, que cedeu às pressões populares e condenou Jesus à crucificação.
Jesus foi torturado, humilhado e crucificado ao lado de dois criminosos. Durante sua crucificação, ele pronunciou sete frases finais, conhecidas como “as Sete Palavras”. Essas palavras expressavam sua compaixão, perdão e entrega ao Pai. A morte de Jesus na cruz é considerada pelos católicos como o sacrifício supremo para a salvação da humanidade.
Tradições e costumes associados à Sexta-feira Santa
A Sexta-feira Santa é um dia de profunda observância e devoção para os católicos. Durante este dia, várias tradições e costumes são seguidos para lembrar o sofrimento e sacrifício de Jesus. Alguns desses costumes incluem:
1. Procissões – Em muitos lugares, procissões são organizadas para relembrar a Via Sacra, o caminho que Jesus percorreu carregando a cruz até o local de sua crucificação. Os fiéis seguem essa rota, parando em cada uma das estações da Via Sacra para refletir sobre os eventos da Paixão de Cristo.
2. Encenações da Paixão – Em algumas comunidades, encenações ao vivo da Paixão de Cristo são realizadas, recriando os eventos que levaram à crucificação de Jesus. Estas representações ajudam os fiéis a visualizarem e se conectarem emocionalmente com a história da Paixão.
3. Leitura da Paixão – Durante a liturgia da Sexta-feira Santa, a Paixão de Cristo é lida em voz alta, muitas vezes envolvendo a participação de múltiplos leitores. Essa leitura detalhada dos eventos bíblicos permite que os fiéis se aprofundem na compreensão do sofrimento de Jesus.
4. Veneração da Cruz – Durante a liturgia da Sexta-feira Santa, a cruz é apresentada aos fiéis para ser venerada. Os católicos se aproximam da cruz, beijam-na ou tocam-na como um ato de reverência e gratidão pelo sacrifício de Jesus.(…) Através dessas tradições e costumes, os católicos buscam se conectar de forma mais profunda com o significado espiritual da Sexta-feira Santa.
Orações e serviços da Sexta-feira Santa
Durante a Sexta-feira Santa, os católicos têm a oportunidade de participar de orações e serviços especiais que são realizados em suas igrejas. Essas celebrações são projetadas para ajudar os fiéis a se envolverem em uma experiência espiritual mais profunda e significativa.
A liturgia da Sexta-feira Santa é composta por três partes principais: a Liturgia da Palavra, a Adoração da Cruz e a Comunhão. Durante a Liturgia da Palavra, são lidos os trechos das escrituras que narram a Paixão de Cristo. Os fiéis são convidados a refletir sobre esses eventos e a meditar sobre seu significado espiritual.
Na Adoração da Cruz, a cruz é solenemente apresentada aos fiéis para veneração. Este é um momento de profunda reverência e gratidão pelo sacrifício de Jesus. Os fiéis são convidados a se aproximar da cruz e a expressar sua devoção através de gestos como beijá-la ou tocá-la.
Após a Adoração da Cruz, a Comunhão é distribuída aos fiéis. A comunhão é considerada pelos católicos como a participação no corpo e sangue de Jesus Cristo, oferecendo uma experiência de união espiritual com Cristo e com a comunidade da igreja.
Jejum e abstinência na Sexta-feira Santa
A Sexta-feira Santa é um dia de jejum e abstinência para os católicos. O jejum envolve a restrição da quantidade e do tipo de alimentos consumidos durante o dia. Os católicos adultos saudáveis são encorajados a fazer apenas uma refeição completa e a evitar lanches entre as refeições.
A abstinência, por sua vez, refere-se à restrição de certos alimentos, especialmente carne. Durante a Sexta-feira Santa, os católicos são chamados a se abster de comer carne vermelha ou qualquer tipo de carne de animais quentes sangrando (como aves e mamíferos). Peixe e alimentos à base de vegetais são geralmente consumidos em seu lugar. Recomendamos. Essas práticas de jejum e abstinência são consideradas uma forma de sacrifício, assim como um sinal de respeito pelo sofrimento de Jesus na cruz. Ao se absterem de certos alimentos, os católicos são convidados a direcionar sua atenção para a oração e a reflexão espiritual.
Símbolos da Sexta-feira Santa e seus significados
A Sexta-feira Santa é rica em símbolos que ajudam os católicos a compreender e se conectar com o significado espiritual deste dia sagrado. Alguns dos símbolos mais comuns incluem:
1. A Cruz – A cruz é o símbolo central da Sexta-feira Santa, representando o sacrifício e a redenção de Jesus. Ela é um lembrete visual do amor incondicional de Deus e do sofrimento de Jesus pela humanidade.
2. A Coroa de Espinhos – A coroa de espinhos é um símbolo da paixão e sofrimento de Jesus. Ela representa a coroação de Jesus pelos soldados romanos, que zombaram dele e o torturaram antes de sua crucificação.
3. O Sudário – O sudário é um tecido que foi usado para envolver o corpo de Jesus após sua crucificação. Ele é um símbolo da morte de Jesus e é frequentemente representado com a imagem de seu rosto.
4. Os Cravos – Os cravos são símbolos dos pregos que foram usados para prender Jesus na cruz. Eles representam a dor e o sofrimento extremos que Jesus suportou por amor à humanidade.
Esses símbolos são usados nas igrejas e nas representações da Paixão de Cristo para ajudar os fiéis a visualizar e se conectar emocionalmente com os eventos da Sexta-feira Santa.
A observância da Sexta-feira da Paixão em 2024
Em 2024, a Sexta-feira Santa será celebrada no dia 29 de março. Assim como em todos os anos, os católicos em todo o mundo irão se reunir para observar este dia sagrado.
As celebrações da Sexta-feira Santa podem variar de acordo com as tradições locais e culturais. No entanto, a essência da observância permanece a mesma: honrar o sacrifício de Jesus e refletir sobre o significado espiritual da Paixão.
Independentemente da forma como a Sexta-feira Santa é observada em diferentes regiões, seu propósito fundamental é o mesmo: convidar os fiéis a se voltarem para Deus e a renovarem sua fé através da contemplação do amor incondicional demonstrado por Jesus Cristo. Recomendamos.
Tradições da Sexta-feira da Paixão ao redor do mundo
As tradições da Sexta-feira Santa variam de país para país, refletindo as diferentes culturas e costumes locais. Alguns exemplos notáveis incluem:
1. Procissões da Semana Santa na Espanha – A Espanha é conhecida por suas impressionantes procissões da Semana Santa, especialmente em cidades como Sevilha e Málaga. Essas procissões envolvem grandes estátuas religiosas sendo carregadas pelas ruas, enquanto os fiéis seguem em silêncio.
2. A Via Crucis no Coliseu em Roma – Todos os anos, o Papa lidera a Via Crucis no Coliseu em Roma, relembrando a Via Sacra percorrida por Jesus. Esta é uma das maiores celebrações da Sexta-feira Santa no mundo católico.
3. Os Tapetes de Flores na Guatemala – Em algumas cidades da Guatemala, as ruas são decoradas com elaborados tapetes de flores em comemoração à Sexta-feira Santa. Esses tapetes coloridos são meticulosamente criados pelos moradores locais para a passagem das procissões.
Essas são apenas algumas das muitas tradições únicas e significativas associadas à Sexta-feira Santa ao redor do mundo.
Conclusão
A Sexta-feira Santa em 2024 será uma oportunidade para os católicos se reunirem como comunidade e refletirem sobre o sacrifício de Jesus Cristo. É um dia de profunda observância e devoção, que convida os fiéis a se voltarem para dentro de si mesmos, a buscarem perdão e a renovarem sua fé.
Ao participar de orações, serviços religiosos e tradições específicas da Sexta-feira Santa, os católicos são convidados a se conectar de forma mais profunda com o significado espiritual deste dia sagrado.
Se você é um católico devoto ou simplesmente tem interesse em aprender mais sobre tradições religiosas, a Sexta-feira Santa em 2024 oferece uma oportunidade única para mergulhar na rica história e importância espiritual deste dia santo. Junte-se a nós e permita-se imergir nessa experiência de fé e reflexão. A Sexta-feira Santa em 2024 espera por você.
Segunda-feira, 08 de Janeiro de 2024 – Tempo: Natal – Ciclo do Natal
Batismo de Cristo1481-1483. Por Perugino, na Capela Sistina, no Vaticano. (Wikipédia)
Evangelho do dia: São Marcos 1, 7-11
Primeira leitura: Isaías 42, 1-4.6-7 Leitura do Livro do Profeta Isaías:
Assim fala o Senhor: 1’Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minh’alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. 2Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. 3Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. 4Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos.’ 6’Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, 7para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas.
– Palavra do Senhor – Graças a Deus
Salmo 28 (29)
– Filhos de Deus, tributai ao Senhor, tributai-lhe a glória e o poder! Dai-lhe a glória devida ao seu nome; adorai-o com santo ornamento!
R: Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!
– Eis a voz do Senhor sobre as águas, sua voz sobre as águas imensas! Eis a voz do Senhor com poder! Eis a voz do Senhor majestosa.
R: Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!
– Sua voz no trovão reboando! No seu templo os fiéis bradam: ‘Glória!’ É o Senhor que domina os dilúvios, o Senhor reinará para sempre!
R: Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!
Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos 1, 7-11
– Aleluia, Aleluia, Aleluia! – Abriram-se os céus e fez-se ouvir a voz do Pai: Eis meu Filho muito amado; escutai-o, todos vós! (Mc 9,7);
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos:
Naquele tempo, 7João Batista pregava, dizendo: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. 8Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo”. 9Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia, e foi batizado por João no rio Jordão. 10E Logo, ao sair da água, viu o céu se abrindo, e o Espírito, como pomba, descer sobre ele. 11E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”.
– Palavra da Salvação – Glória a Vós, Senhor
Comentário do dia por São Jerônimo (347-420), Presbítero, Doutor da Igreja Homilias sobre o evangelho de Marcos 1C, SC 494
O batismo de Jesus
«Foi batizado por João no rio Jordão». Grande é a sua misericórdia: Aquele que não tinha cometido qualquer pecado é batizado como se fosse pecador. No batismo do Senhor, são redimidos todos os pecados; mas ele é apenas uma prefiguração do batismo do Salvador, porque a verdadeira remissão dos pecados reside no sangue de Cristo, no mistério da Trindade.
«Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se». Tudo isto foi escrito para nós. Pois antes de recebermos o batismo, nós tínhamos os olhos fechados, não podíamos ver as realidades celestes.
E viu «o Espírito, como uma pomba, descer sobre Ele. E dos céus ouviu-se uma voz: “Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência”». Vemos aqui o mistério da Trindade: Jesus é batizado, o Espírito Santo desce sob a aparência de pomba e o Pai fala do alto do céu.
«Viu os céus rasgarem-se». A expressão «viu» mostra que os outros não tinham visto. Não se imagine que foram os céus que, simples e materialmente, se abriram; nós próprios, que estamos agora aqui, segundo a diversidade dos nossos méritos, vemos os céus abertos ou fechados. Uma fé total vê os céus abertos; mas uma fé que duvida vê-os fechados.
«Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele» (Jo 1,32). Vede o que diz a Escritura: que permanecia, isto é, que não Se ia embora. O Espírito Santo desceu sobre Cristo e permaneceu; enquanto sobre os homens desce, mas não permanece. Com efeito, esperamos que o Espírito Santo permaneça em nós, quando odiamos o nosso irmão e temos maus pensamentos? Se temos bons pensamentos, saibamos que o Espírito Santo habita em nós; mas, se temos maus pensamentos, isso é sinal de que o Espírito Santo Se retirou de nós. É por isso que Ele diz acerca do Salvador: «Aquele sobre quem vires descer o Espírito e permanecer, é Ele» (Jo 1,33).
No Dia Universal da Paz (1 de janeiro) o calendário dos santos se abre com a festa de Maria Santíssima no ministério de sua Maternidade Divina.
Primeira festa mariana que apareceu na Igreja ocidental, a festa de Maria Santíssima, substituiu o costume pagão das dádivas e começou a ser celebrada em Roma, no século IV.
A Solenidade da Santa Maria, Mãe de Deus, é um momento especial no calendário litúrgico em que a Igreja Católica se reúne para celebrar e honrar a singularidade e a importância da Virgem Maria como Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Neste dia sagrado, voltamos nosso olhar para a humildade e a submissão de Maria diante do plano divino de Deus. Ela, escolhida desde toda a eternidade para ser a Mãe do Salvador, aceitou com fé inabalável a missão que lhe foi confiada. Sua resposta ao anjo Gabriel, “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1:38), reflete sua total entrega à vontade de Deus.
Maria desempenha um papel singular na história da salvação, sendo a ponte entre o divino e o humano, uma vez que ela trouxe o Filho de Deus ao mundo. Na maternidade divina, ela não apenas concebeu Jesus, mas também O nutriu, educou e esteve ao Seu lado ao longo de Sua vida terrena. Sua fidelidade e amor incondicional são um exemplo inspirador para todos nós.
Além disso, ao ser proclamada Mãe de Deus, Maria recebe a mais alta das honras, pois seu filho, Jesus, é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Nessa dualidade, vemos a união íntima entre o divino e o humano, enfatizando a centralidade de Cristo na nossa fé.
Na Solenidade da Santa Maria, Mãe de Deus, somos convidados a contemplar o mistério da encarnação e a reconhecer o papel único de Maria nesse grande mistério. Através da sua maternidade divina, Maria é uma intercessora poderosa, e podemos confiar nela como nossa Mãe espiritual, pedindo sua ajuda e proteção.
Que neste dia solene possamos renovar nosso amor e devoção a Maria, buscando seguir o seu exemplo de fé, humildade e submissão à vontade de Deus. Que ela interceda por nós, seus filhos, diante do trono divino, e que possamos experimentar a graça e a bênção de seu materno cuidado em nossas vidas.
No dia Mundial da Paz, celebrar a Santidade Maternal de Maria é celebrar Jesus, Reis dos Reis e nosso Salvador. Oremos à mãe de Jesus para abençoar nosso ano novo!
No dia 1º de janeiro? Na epifania? Na festa da candelária? Talvez a resposta lhe surpreenda
Todos sabem que o Natal começa na noite do dia 24 de dezembro. Mas você sabe quando termina o período do Natal para os católicos?
Qual destas opções você acha ser a correta?
( ) 26 de dezembro ( ) 1º de janeiro ( ) 6 de janeiro (Epifania) ( ) 2 de fevereiro (Candelária) ( ) Todas as anteriores ( ) Nenhuma das anteriores
Muitos acham que o período do Natal acaba no dia 2 de fevereiro, na festa da Candelária. Celebrada 40 dias após o Natal, esta data era tradicionalmente o fim oficial do período natalino. Mas este período, ainda que continue sendo observado na forma extraordinária (do rito latino), já não é um período litúrgico no rito ordinário (ainda que, no Vaticano, por exemplo, os enfeites de Natal sejam mantidos até esse dia, N. do E.).
Isso não tira a importância da festa da Candelária, que recorda a purificação de Maria e a apresentação de Jesus no templo. O nome “candelária” deriva da referência de Simeão a Jesus como luz dos povos.
Então, será que o Natal acaba no dia 1º de janeiro? Sendo este dia o último da Oitava de Natal, e dado que cada dia da Oitava de Natal é celebrado como o dia do Natal, faz sentido que o período natalino termine no dia 1º de janeiro, solenidade da Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus. Porém, ainda que a festa do Natal acabe nesse dia, o período do Natal continua.
Será, então, na Epifania (6 de janeiro – ou domingo entre os dias 2 e 8 de janeiro), referindo-se à adoração dos Reis Magos? A revisão de 1969 do calendário romano geral deixou a festa da Epifania como parte do período natalino. Então, esta resposta também é incorreta.
A única alternativa correta é: “nenhuma das anteriores”.
Quando, então, acaba o Natal?
Segundo as normas universais do ano litúrgico e do calendário, o período do Natal começa nas primeiras Vésperas do Natal do Senhor e vai até o domingo depois da Epifania (ou domingo depois do dia 6 de janeiro, dependendo do país).
O domingo depois da Epifania é a festa do Batismo do Senhor.
Portanto, o Natal termina com as segundas Vésperas do dia do Batismo do Senhor; a primeira missa do Tempo Comum será no dia seguinte. Ainda que a Oitava da Epifania tenha sido eliminada oficialmente, continua fazendo parte do período natalino, situando o Tempo Comum após o Batismo do Senhor.
Por que, então, você não mantém a decoração de Natal até o dia do Batismo do Senhor? Os vizinhos talvez estranhem isso, mas pode ser uma oportunidade de reintroduzi-los no significado do esplêndido período da Epifania e no verdadeiro e completo sentido do Natal para os católicos!
Quaresma nos motiva a não fazermos as pazes com nossas paixões desenfreadas, ou atitudes anticristãs, um convite a buscarmos o bem, e principalmente a combatermos o mal que muitas vezes tenta nos desconfigurar da “imagem e semelhança de Deus” que fomos criados. Todos nós cristãos somos chamados à conversão contínua para alcançarmos a “estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4,13).
No contexto social são intensos os preparativos para se comemorar as festas de significados relevantes. Quanto mais importante é a festa, mais tempo reservamos para as preparações, e nessas preparações já começamos a experimentar a alegria do que iremos comemorar.
De maneira análoga, porém, mistagógica, a Igreja propõe aos fiéis católicos um caminho de santidade a ser preparado e percorrido por um longo período, em dois ciclos que possuem uma dinâmica própria de celebração, são eles: o ciclo do Natal e o ciclo da Páscoa. Ambos os ciclos têm “o seu momento forte” da celebração propriamente dita, porém, precedido pela vivência da preparação, e sucedido por um prolongamento, chamado Mistério pascal.
O período de quarenta dias, compreendido entre a Quarta-feira de Cinzas e a Quinta-feira Santa pela manhã, é um tempo forte na vida da Igreja, tempo em que percorremos o caminho para a Páscoa, a celebração do “Grande Sacramento Pascal”, da Morte e Ressurreição de Jesus e nossa. A solenidade da Páscoa ultrapassa todas as outras do ano litúrgico. É a maior de todas as festas cristãs, portanto, requer uma esmerada preparação. Seu objetivo, não se restringe apenas a um momento circunscrito do plano da salvação, mas o abrange em sua plenitude.Nesses quarenta dias a Liturgia da Palavra leva-nos a fazermos memória dos quarenta anos do povo de Deus no deserto, a revivermos os quarenta dias que Jesus passou no deserto, preparando-se para a sua missão outorgada pelo Pai.
É um tempo de aprimorada escuta da Palavra de Deus, de oração mais intensa, de jejum com firme propósito de mudança de vida. Tempo de reconciliação com Deus e com os irmãos, tempo de esmola (caridade), de partilha, de gestos solidários, de atenção aos pobres e necessitados.
A Quaresma nos motiva a renunciarmos nossas paixões desenfreadas, ou atitudes anticristãs, um convite a não somente a buscarmos o bem, mas a combatermos o mal que muitas vezes tenta nos desconfigurar da “imagem e semelhança de Deus”. Todos nós cristãos somos chamados à conversão contínua para atingirmos a “estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4,13).
Para melhor vivenciarmos esse rico Tempo litúrgico, a Igreja nos oferece celebrações relevantes para a nossa conversão, são elas: Quarta-feira de Cinzas, através da qual abrimos esse tempo de preparação pascal: “Convertei-vos, e crede no Evangelho!” Depois temos cinco Domingos da Quaresma, quando nos reunimos para celebrar a presença viva do Senhor que nos mostra o caminho para a vitória definitiva da Páscoa. E então vem o Domingo de Ramos, no qual lembramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde ele sofrerá a Paixão e mergulhará na morte, para depois ressuscitar vitorioso. Ainda como parte da Quaresma, celebramos na Quinta-feira Santa, pela manhã, a Missa dos Santos Óleos.
Peçamos ao Senhor que nos conceda a graça da perseverança e fidelidade ao seu plano de amor por nós, que nos conduz ao caminho da nossa salvação.
Oremos: Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Perguntas para a reflexão:
O que significa para você a Quaresma?
O que você costuma fazer no Tempo da Quaresma?
O que lembra para você o Tempo da Quaresma?
Como viver hoje o Tempo da Quaresma, na família, na comunidade, individualmente?
Texto: Zilbete Gonzaga | Revisão de Texto: Padre César Almeida Siqueira, sdb | Imagens: Internet | Design Imagem Capa: Ricardo Campolim – Pascom
Publicado em Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora (Salesianos)
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a esperança é a “virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna”[1]. Na sua Encíclia Spe Salvi, o Papa Emérito Bento XVI apresenta a esperança como uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens intercambiar os termos ‘fé’ e ‘esperança’[2].
É sob a luz da Encíclica de Bento XVI que meditaremos sobre a esperança cristã. O documento apresenta uma estrutura muito simples: a primeira questão (2,15) evidencia o nexo entre fé e esperança; a segunda (16-23) afronta a problemática da redução da esperança na idade moderna em fé no progresso da ciência e da política. Na parte central (24-31), o Papa propõe a verdadeira fisionomia da esperança cristã, revisitando na parte conclusiva três lugares de aprendizado e exercício da mesma: 1) a oração (32-34), descrita como exercício quotidiano do desejo, no dilatar-se dia após dia, das exigências estruturais do coração; 2) a ação e em particular o sofrimento do homem (35-40), que não é obstáculo, ameaça ou privação da exigência de felicidade inerente em cada um, mas ponto privilegiado para participar do drama do mundo; 3) o Juízo final, antecipado quotidianamente no drama do homem entre justiça e misericórdia diante do enigma do mal e do pecado (41-48); por fim, apresenta Maria como estrela de esperança, porque pelo seu sim abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo, e se tornou a Arca da Aliança viva, onde Deus se fez carne, tornou-se um de nós e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (49-50).
Esperança e salvação
A questão do nexo decisivo entre fé e esperança é apresentada, antes de tudo, em uma prospectiva histórica. No paganismo – no qual a esperança é desconhecida e os falsos deuses são adorados – os homens encontram-se num mundo escuro e diante de um futuro obscuro. Com o advento do cristianismo, entra na história um anúncio extraordinário: o homem não está destinado a cair no nada, o homem que encontra Cristo tem um futuro, a vida não termina no vazio. Bento XVI declara que o anúncio cristão é, portanto, “performativo”:
“Somente quando o futuro é certo como realidade positiva, é que se torna vivível também o presente. Sendo assim, podemos agora dizer: o cristianismo não era apenas uma ‘boa nova’, ou seja, uma comunicação de conteúdos até então ignorados. Em linguagem atual, dir-se-ia: a mensagem cristã não era só ‘informativa’, mas ‘performativa’. Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova.” (n. 2)
Desta forma, fica claro o nexo entre esperança e salvação. Compreendemos assim que a salvação não é algo produzido por nós, mas nos é oferecida, exatamente porque a esperança nos foi doada. O cristianismo é um encontro com Cristo, com o Deus vivente, “que transforma a partir de dentro a vida e o mundo” (n. 4). A nossa esperança e o nosso modo de olhar o futuro estão todos apoiados sobre esta Presença. A fé é um encontro real com este Deus, é o reconhecimento desta Presença sobre a qual posso apoiar todo o passo para o futuro. Os ritos e mitos pagãos não tinham condições de mudar a existência humana, cada um representava uma força cósmica, no campo do não real. O cristianismo apresenta, ao contrário, um Deus pessoal e, com Ele, uma nova prospectiva:
“Não são os elementos e as leis do cosmo que governam o mundo e o homem, mas um Deus pessoal (…). A vida não é um simples produto das leis da casualidade da matéria, mas em tudo e contemporaneamente acima de tudo tem uma vontade pessoal, tem um Espírito que em Jesus se revelou como Amor.” (n. 5)
É perceptível como no nosso tempo esta realidade revolucionária e causa de grande libertação nos primeiros séculos perdeu o seu vigor. Perguntamo-nos o porquê? Como resposta o papa introduz uma questão exegética em torno de Hb 11,1: “A fé é hypostasis das coisas que se esperam e prova das coisas que não se veem”, onde hypostasis significa fundamento (substantia), aquilo que está embaixo. Para os Padres da Igreja e para os teólogos da Idade Média, estava claro que a fé na pessoa de Jesus Cristo era a “substância”, a consistência última de todas as coisas que se espera.
O Papa cita S. Tomás de Aquino e observa que a fé é um “habitus”, “uma predisposição constante do espírito, em virtude do qual a vida eterna tem início em nós e a razão é levada a consentir naquilo que não vê” (n. 7). Esta presença daquilo que virá cria a certeza. A fé é realmente um olhar novo sobre as coisas, por força de uma realidade presente, Cristo. A tradução errada – feita por Lutero – do termo “hypostasis” (substantia), não no seu sentido original, objetivo, qual realidade presente em nós, mas em sentido subjetivo, de “permanecer firmes”, passa a conceber a fé não mais como realidade (substantia), mas como uma qualidade moral; a fé deixa de ser um dado de fato, uma prova, e passa a ser uma mera disposição do sujeito.
Razão e liberdade
O mundo hodierno vive uma crise de esperança e daquela dimensão cósmica da esperança, porque a esperança nos une aos outros, precisamente porque esperar não pode ser somente para mim. A redução da fé ao campo subjetivo restringe o desejo ao horizonte limitado do indivíduo solitário.
Se perdermos a referência segura da nossa fé/esperança, se falta algo seguro no presente, no qual possamos nos apoiar, procuraremos apoio nas inseguranças. Dessa forma, os homens do nosso tempo têm caminhado em percursos ilusórios, não porque negativos em si mesmos, mas porque têm a pretensão de substituir a via para o verdadeiro conhecimento e felicidade. Assim, chega-se a absolutizar a ciência e a política: a razão é reduzida à razão científica e a liberdade à autonomia de escolha e ao poder.
“No que diz respeito aos dois grandes temas ‘razão’ e ‘liberdade’, aqui é possível apenas acenar às questões relacionadas com eles. Sem dúvida, a razão é o grande dom de Deus ao homem, e a vitória da razão sobre a irracionalidade é também um objetivo da fé cristã. Mas, quando é que a razão domina verdadeiramente? Quando se separou de Deus? Quando ficou cega a Deus? A razão inteira reduz-se à razão do poder e do fazer? Se o progresso, para ser digno deste nome necessita do crescimento moral da humanidade, então a razão do poder e do fazer deve de igual modo urgentemente ser integrada mediante a abertura da razão às forças salvíficas da fé, ao discernimento entre o bem e o mal. Somente assim é que se torna uma razão verdadeiramente humana. Torna-se humana apenas se for capaz de indicar o caminho à vontade, e só é capaz disso se olhar para além de si própria. Caso contrário, a situação do homem, devido à discrepância entre a capacidade material e a falta de juízo do coração, torna-se uma ameaça para ele e para a criação” (n. 23).
Verdadeira esperança
Somente o amor redime o homem. Já a experiência de amor humano dá ao homem um sentido novo à sua vida, mas o amor humano é frágil e pode ser destruído com a morte; somente o amor de Deus, amor incondicionado, que “nem a morte nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá destruir” (cf. Rm 8,38-39).
Neste sentido, é verdade que quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef 2,12). A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus, o Deus que nos amou e ama ainda agora, “até ao fim”, “até à plena consumação” (cf. Jo13,1 e 19,30).
Quem é atingido pelo amor começa a intuir em que consistiria propriamente a “vida”. Começa a intuir o significado da palavra de esperança que encontramos no rito do Batismo: da fé espero a “vida eterna” – a vida verdadeira que, inteiramente e sem ameaças, em toda a sua plenitude é simplesmente vida. Jesus, que disse de Si mesmo ter vindo ao mundo para que tenhamos a vida e a tenhamos em plenitude, em abundância (cf. Jo 10,10), também nos explicou o que significa “vida”: “A vida eterna consiste nisto: que Te conheçam a Ti, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17,3). A vida, no verdadeiro sentido, não a possui cada um em si próprio sozinho, nem mesmo por si só: aquela é uma relação. E a vida na sua totalidade é relação com Aquele que é a fonte da vida. Se estivermos em relação com Aquele que não morre, que é a própria vida e o próprio amor, então estamos na vida. Então “vivemos” (n. 27).
DESTAQUES:
“Compreendemos assim que a salvação não é algo produzido por nós, mas nos é oferecida, exatamente porque a esperança nos foi doada.”
“A fé é realmente um olhar novo sobre as coisas, por força de uma realidade presente, Cristo.”
“Se estivermos em relação com Aquele que não morre, que é a própria vida e o próprio amor, então estamos na vida. Então ‘vivemos.’”
REDAÇÃO CENTRAL, 01 Jan. 23 / 12:01 am (ACI).- A solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (Theotokos) é a mais antiga que se conhece no Ocidente. Nas Catacumbas ou antiquíssimos subterrâneos de Roma, onde se reuniam os primeiros cristãos para celebrar a Santa Missa, encontram-se pinturas com esta inscrição.
Segundo um antigo testemunho escrito no século III, os cristãos do Egito se dirigiam a Maria com a seguinte oração: “Sob seu amparo nos acolhemos, Santa Mãe de Deus: não desprezeis a oração de seus filhos necessitados; livra-nos de todo perigo, oh sempre Virgem gloriosa e bendita” (Liturgia das Horas).
No século IV, o termo Theotokos era usado frequentemente no Oriente e Ocidente porque já fazia parte do patrimônio da fé da Igreja.
Entretanto, no século V, o herege Nestório se atreveu a dizer que Maria não era Mãe de Deus, afirmando: “Então Deus tem uma mãe? Pois então não condenemos a mitologia grega, que atribui uma mãe aos deuses”.
Nestório havia caído em um engano devido a sua dificuldade para admitir a unidade da pessoa de Cristo e sua interpretação errônea da distinção entre as duas naturezas – divina e humana – presentes Nele.
Os bispos, por sua parte, reunidos no Concílio de Éfeso (ano 431), afirmaram a subsistência da natureza divina e da natureza humana na única pessoa do Filho. Por sua vez, declararam: “A Virgem Maria sim é Mãe de Deus porque seu Filho, Cristo, é Deus”.
Logo, acompanhados pelo povo e levando tochas acesas, fizeram uma grande procissão cantando: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém”.
São João Paulo II, em novembro de 1996, refletiu sobre as objeções expostas por Nestório para que se compreenda melhor o título “Maria, Mãe de Deus”.
“A expressão Theotokos, que literalmente significa ‘aquela que gerou Deus’, à primeira vista pode resultar surpreendente; suscita, com efeito, a questão sobre como é possível que uma criatura humana gere Deus. A resposta da fé da Igreja é clara: a maternidade divina de Maria refere-se só a geração humana do Filho de Deus e não, ao contrário, à sua geração divina”, disse o papa.
“O Filho de Deus foi desde sempre gerado por Deus Pai e é-Lhe consubstancial. Nesta geração eterna Maria não desempenha, evidentemente, nenhum papel. O Filho de Deus, porém, há dois mil anos, assumiu a nossa natureza humana e foi então concebido e dado à luz por Maria”, acrescentou.
Do mesmo modo, afirmou que a maternidade da Maria “não se refere a toda a Trindade, mas unicamente à segunda Pessoa, ao Filho que, ao encarnar-se, assumiu dela a natureza humana”. Além disso, “uma mãe não é Mãe apenas do corpo ou da criatura física saída do seu seio, mas da pessoa que ela gera”, disse são João Paulo II.
Por fim, é importante recordar que Maria não é só Mãe de Deus, mas também nossa porque assim quis Jesus Cristo na cruz, quando a confiou a São João. Por isso, ao começar o novo ano, peçamos a Maria que nos ajude a ser cada vez mais como seu Filho e iniciemos o ano saudando a Virgem Maria.
Saudação à Mãe de Deus
Salve, ó Senhora santa, Rainha santíssima, Mãe de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita igreja, eleita pelo santíssimo Pai celestial, que vos consagrou por seu santíssimo e dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito! Em vós residiu e reside toda a plenitude da graça e todo o bem! Salve, ó palácio do Senhor! Salve, ó tabernáculo do Senhor! Salve, ó morada do Senhor! Salve, ó manto do Senhor! Salve, ó serva do Senhor! Salve, ó Mãe do Senhor, e salve vós todas, ó santas virtudes derramadas, pela graça e iluminação do Espírito Santo, nos corações dos fiéis transformando-os de infiéis em servos fiéis de Deus!