Sábado Santo: dia de recolhimento e espera

Nesse dia, os fiéis são convidados a refletir e esperar, seguindo o exemplo de Maria, a mãe de Jesus, enquanto também recordam a perplexidade dos apóstolos diante da morte de Cristo.

Papa Francisco na celebração da Vigília Pascal   (Vatican Media)

Descrito pelos Padres da Igreja como “o mais longo dos dias”, o Sábado Santo propõe uma espera silenciosa, que revive a angústia dos discípulos após a crucificação. A reforma litúrgica realizada por Pio XII restaurou esse dia como tempo de recolhimento, no qual cada cristão reflete sobre a morte de Cristo e sobre a finitude da existência humana. Nesse momento, a fé é posta à prova: o Messias morreu, e o desfecho permanece desconhecido. Só resta confiar que o vazio interior será um dia preenchido.

Cristo permanece em ação

Mesmo em silêncio, Cristo não deixa de agir. Segundo uma antiga tradição, Ele desce à morada dos mortos, atravessa as sombras da morte e resgata a humanidade. Vai ao encontro de Adão — figura que representa todos os homens —, o desperta e anuncia a salvação, oferecida a todos. Assim, constrói uma ponte entre o túmulo e o Reino dos Céus. Com a Cruz em mãos, vence a morte por meio da própria morte.

O padre Diogo Shishito, da Diocese de Mogi das Cruzes (SP), doutorando em Liturgia na Universidade Sant’Anselmo, em Roma, nos convida a contemplar o silêncio fecundo deste dia, repleto de sentido e esperança.

(…)

“O que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos.”

Assim começa uma homilia do século IV que a Igreja retoma no Ofício das Leituras em cada Sábado Santo e da qual nasce o costume de chamar esse dia como o “Dia do Grande Silêncio”. De fato, diante do Mistério Pascal de Jesus, o silenciar parece ser natural para a nossa pequenez humana, uma vez que não se encontram palavras para expressar o misto de surpresa e gratidão que move interiormente quem se coloca diante de tamanha Graça.

O Silêncio é o lugar da ação do Espírito Santo

O silêncio parece apresentar-se como único caminho para aqueles que são inundados de um amor sem igual manifestado na entrega sem reservas do Deus feito homem que, ao dar seu último suspiro no alto da cruz, rasgou de cima abaixo o véu que separava a habitação divina da sua criatura predileta. É o silêncio de quem faz espaço para acolher algo de novo e nunca antes presenciado no tempo. O silêncio de quem, admirado, não encontra no elenco das reações uma atividade capaz de responder ao que se apresenta diante de seus olhos. Mas o silêncio, diferentemente do que muitas vezes se pensa, não é vazio.

No silêncio se encontra aquele espaço necessário entre uma ação e outra que nos permite comunicar a multiforme expressão de vida presente em cada um de nós. O silêncio é a pausa sem a qual a comunicação não seria possível, pois é ela que separa as palavras e dá clareza ao discurso. Só com o silêncio se pode passar de um conceito a outro, de uma ideia à outra. O grande silêncio desse dia faz passar da morte à Vida, do tempo à eternidade. Por isso podemos dizer que o Silêncio é o lugar da ação do Espírito Santo. Quando o Verbo cala, o Espírito trabalha no germinar de uma realidade nova.

Fé e expectativa

No alto da Cruz, com o calar-se do Verbo divino, a Palavra Eterna transformou-se em silêncio, produzindo na humanidade um sentimento de expectativa… Uma espera que brota da fé, que nasce da confiança sem reservas na promessa feita pelo próprio Senhor de que estaria conosco sempre. Para os Discípulos, que não sabiam como seriam as coisas depois da cruz e não imaginavam que a ressurreição se daria, esse silêncio certamente produziu dúvidas e medos, mas também é certo que, assim como quando um discurso é interrompido, fica a expectativa de como seria sua continuidade, no coração de cada um deles brotava também a esperança de que o Senhor, de algum modo, daria sentido àquilo que eles não conseguiam entender ainda.

Esperar com Maria

Olhando para Maria, que sabia com clareza que Jesus é o Filho de Deus, podemos pensar que o silêncio que brota da morte do Senhor tenha levado seu pensamento à doce espera da sua chegada, àquele silêncio de contemplação da surpreendente ação divina que realiza o que aos critérios humanos parecia impossível, de maneira que aquele silêncio se tornasse mais uma vez um ato de espera do próximo passo na história da Salvação. Para a Igreja, no entanto, esse silêncio é memorial da nossa fé, é a ação que reconhece a grandeza do mistério pascal de Cristo e abre espaço para o agir transformador de Deus que faz germinar, a partir dos nossos limites, o amor gerador de uma nova realidade. O amor verdadeiro daquele que nos amou até o fim e que manifestou a sua graça à humanidade quando estava ainda imersa no pecado.

O túmulo está vazio — a morte foi vencida, e a vida triunfa eternamente.

O túmulo está vazio — a morte foi vencida, e a vida triunfa eternamente.   (©gabriffaldi – stock.adobe.com)

O Senhor venceu a morte

De fato, por suas qualidades, uma pessoa pode ser admirada, mas só pelas suas limitações que pode ser acolhida e amada. É fácil acolher alguém quando tudo vai de acordo com o que nos agrada; somente quando o outro se mostra diferente do que gostaríamos é que a acolhida de suas inconstâncias se torna amor. Imbuídos da certeza da ressurreição, cada um de nós é chamado, através do silêncio, a abrir espaço para que o Senhor transforme em nosso interior as situações de morte fazendo brotar a vida nova e eterna que é Dele e da qual podemos participar pela sua misericórdia.

Peçamos então que o nosso silenciar possa de verdade dar espaço à ação silenciosa do Espírito Santo, que revigora em nós a graça dos que têm a vida escondida com Cristo em Deus e que o ressoar do esperado Aleluia dessa noite santa renove em nosso interior a força de ser no mundo uma voz que proclama o centro da nossa fé: o Senhor venceu a morte e está vivo no meio de nós.

Por Thulio Fonseca.

Publicado em Vatican News.

REFLEXÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO

Por Santo Afonso Maria de Ligório

«Oh! se conhecesses o mistério da cruz!, disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. «Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna…»

Quanto agrada a Jesus Cristo que nós nos lembremos continuamente de sua paixão e da morte ignominiosa que por nós sofreu, muito bem se deduz de haver ele instituído o Santíssimo Sacramento do altar com o fito de conservar sempre viva em nós a memória do amor que nos patenteou, sacrificando-se na cruz por nossa salvação. Já sabemos que na noite anterior à sua morte ele instituiu este sacramento de amor e depois de ter dado seu corpo aos discípulos, disse-lhes – e na pessoa deles a nós todos – que ao receberem a santa comunhão se recordassem do quanto ele por nós padeceu: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beber de deste cálice, anunciareis a morte do Senhor” (1 Cor 11, 26). Por isso a santa Igreja, na missa, depois da consagração, ordena ao celebrante que diga em nome de Jesus Cristo: “Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em memória de mim”. E São Tomás escreve: “Para que permanecesse sempre viva entre nós a memória de tão grande benefício, deixou seu corpo para ser tomado como alimento” (Op. 57). E continua o santo a dizer que por meio de um tal sacramento se conserva a memória do amor imenso que Jesus Cristo nos demonstrou na sua paixão

Se alguém padecesse por seu amigo injúrias e ferimentos e soubesse que o amigo, quando se falava sobre tal acontecimento nem sequer nisso queria pensar e até costumava dizer: falemos de outra coisa – que dor não sentiria vendo o desconhecimento de um tal ingrato? Ao contrário, quanto se consolaria se soubesse que o amigo reconhece dever-lhe uma eterna obrigação e que disso sempre se recorda e se lhe refere sempre com ternura e lágrimas? Por isso é que todos os santos, sabendo a satisfação que causa a Jesus Cristo quem se recorda continuamente de sua paixão, estão quase sempre ocupados em meditar as dores e os desprezos que sofreu o amantíssimo Redentor em toda a sua vida e particularmente na sua morte. Santo Agostinho escreve que as almas não podem se ocupar com coisa mais salutar que meditar cotidianamente na paixão do Senhor. Deus revelou a um santo anacoreta que não há exercício mais próprio para inflamar os corações com o amor divino do que o meditar na morte de Jesus Cristo. E a Santa Gertrudes foi revelado, segundo Blósio, que todo aquele que contempla com devoção o crucifixo é tantas vezes olhado amorosamente por Jesus quantas ele o contempla. Ajunta Blósio que o meditar ou ler qualquer coisa sobre a paixão traz-nos maior bem que qualquer outro exercício de piedade. Por isso escreve São Boaventura: “A paixão amável que diviniza quem a medita” (Stim. div. amor, p. 1. c. 1). E falando das chagas do crucifixo, diz que são chagas que ferem os mais duros corações e inflamam no amor divino as almas mais geladas.

O SALVADOR

Adão peca e se rebela contra Deus e sendo ele o primeiro homem, pai de todos os homens, perdeu-se com todo o gênero humano. A injúria foi feita a Deus, motivo por que nem Adão nem os outros homens, com todos os sacrifícios, mesmo oferecendo sua própria vida, poderiam dar uma digna satisfação à Majestade divina; para aplacá-la plenamente era necessário que uma pessoa divina satisfizesse a justiça divina. E eis que o Filho de Deus, movido à compaixão pelos homens, arrastado pelos extremos de sua misericórdia, se oferece a revestir-se da carne humana e a morrer pelos homens, para assim dar a Deus uma completa satisfação por todos os seus pecados e obter-lhes a graça divina que perderam.

Desce, pois, o amoroso Redentor a esta terra e fazendo-se homem quer curar os danos que o pecado causara ao homem. Portanto, quer não só com seus ensinamentos, mas também com os exemplos de sua santa vida, induzir os homens a observar os preceitos divinos e por essa maneira conseguir a vida eterna. Para esse fim Jesus Cristo renunciou a todas as honras, às delícias e riquezas de que podia gozar neste mundo e que lhe eram devidas como ao Senhor do mundo, e escolhe uma vida humilde, pobre e atribulada até morrer de dor sobre uma cruz. Foi um grande erro dos judeus pensar que o Messias devia vir à terra para triunfar de todos os seus inimigos com o poder das armas e, depois de os ter debelado e adquirido o domínio do mundo inteiro, deveria tornar opulentos e gloriosos os seus sequazes. Mas se o Messias fosse qual os judeus o desejavam, príncipe soberano e honrado de todos os homens como senhor de todo o mundo, não seria o Redentor prometido por Deus e predito pelos profetas. É o que ele mesmo declara quando responde a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36). Por esse motivo repreende São Fulgêncio a Herodes por ter tão grande temor de ser privado do seu reino pelo Salvador, quando ele não viera para vencer o rei pela guerra, mas a conquistá-lo com sua morte (Serm. 5 de Epiph.).

Dois foram os erros dos judeus a respeito do Redentor esperado: o primeiro foi que, quando os profetas falavam dos bens espirituais e eternos, eles o interpretavam dos bens terrenos e temporais. “E a fé reinará nos teus tempos; a sabedoria e a ciência serão as riquezas da salvação; o temor do Senhor esse é o teu tesouro” (Is 33, 6). Eis os bens prometidos pelo Redentor, a fé, a ciência das virtudes, o santo temor, eis as riquezas da prometida salvação. Além disso, promete que dará remédio aos penitentes, perdão aos pecadores e liberdade aos cativos dos demônios: “Enviou-me para evangelizar os mansos, para curar os contritos de coração e pregar remissão aos cativos e soltura aos encarcerados” (Is 61, 1).

O outro erro dos judeus foi que pretenderam entender da primeira vinda do Salvador o que fora predito pelos profetas da segunda vinda, para julgar o mundo no fim dos séculos. Assim, escreve Davi do futuro Messias que ele deverá vencer os príncipes da terra e abater a soberba de muitos e com a força da espada subjugar toda a terra (Sl 109,6). E o profeta Jeremias escreve: “A espada do Senhor devorará a terra de um extremo a outro” (Lm 12, 12). Isso, porém, entende-se da segunda vinda, quando vier como juiz a condenar os malvados. Falando, porém, da primeira vinda, na qual deveria consumar a obra da redenção, mui claramente predisseram os profetas que o Redentor levaria neste mundo uma vida pobre e desprezada. Eis o que escreve o profeta Zacarias, falando da vida abjeta de Jesus Cristo: “Eis que o teu rei virá a ti, justo e salvador; ele é pobre e vem montado sobre uma jumenta e sobre o potrinho da jumenta” (Zc 9, 9).

Esta profecia realizou-se plenamente quando Jesus entrou em Jerusalém, assentado sobre um jumento, sendo recebido com todas as honras, como o Messias desejado, segundo o testemunho de São João (Jo 12,14). Também sabemos que ele foi pobre desde o seu nascimento, tendo vindo a este mundo em Belém, lugar desprezado, e numa manjedoura: “E tu, Belém Efrata, tu és pequenina entre os milhares de Judá, mas de ti é que há de sair aquele que há de reinar em Israel e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade” (Mq 5, 2). E essa profecia foi assinalada por São Mateus (2,6) e São João (7, 42). Além disso, escreve o profeta Oséias: “Do Egito chamarei o meu Filho” (11, 1), o que se realizou quando Jesus Cristo, como menino, foi levado para o Egito, onde permaneceu sete anos como estranho no meio de gente bárbara, dos parentes e dos amigos, devendo viver necessariamente mui pobremente. Continuou, depois de voltar à Judéia, a levar uma vida pobre. Ele mesmo predisse pela boca de Davi que pobre deveria ser durante toda a sua vida e atribulado pelas fadigas: “Eu sou pobre e vivo em trabalhos desde a minha mocidade” (Sl 87,16).

A EXPIAÇÃO

Deus não podia ver plenamente satisfeita a sua justiça com os sacrifícios oferecidos pelos homens, mesmo sacrificando-lhe suas vidas e, por isso, dispôs que seu próprio Filho tomasse um corpo humano e fosse a digna vítima que o reconciliasse com os homens e lhes obtivesse a salvação. “Não quiseste hóstia nem oblação, mas tu me formaste um corpo” (Hb 10, 5). E o Filho unigênito se ofereceu voluntariamente a sacrificar-se por nós e desceu à terra para completar o sacrifício com sua morte e assim realizar a redenção do homem: “Eis, aqui venho para fazer, ó Deus, a tua vontade, como está escrito de mim no princípio do livro” (Hb 10, 7).

Pergunta o Senhor, referindo-se ao pecador: “Que importará que eu vos fira de novo?” (Is 1, 5). Isso dizia Deus, para nos dar a entender que, por mais que punisse os seus ofensores, suas penas não seriam suficientes para reparar a sua honra ultrajada, e por isso enviou seu próprio Filho a satisfazer pelos pecados dos homens, visto que ele podia dar uma digna reparação à justiça divina. Depois declarou por Isaías, falando de Jesus feito vítima para expiar nossas culpas: “Eu o feri por causa dos crimes de meu povo” (53, 8), e não se contentou com uma pequena satisfação, mas quis vê-lo abatido pelos tormentos: “E o Senhor quis quebrantá-lo na sua enfermidade” (Is 53, 10). Ó meu Jesus, ó vítima de amor, consumida de dores na cruz para pagar os meus pecados, desejaria morrer de dor, pensando quantas vezes vos tenho desprezado depois de tanto me haverdes amado. Não permitais que eu continue a viver tão ingrato a tão grande bondade. Atraí-me todo a vós: fazei-o pelos merecimentos desse sangue que derramastes por mim!

Quando o Verbo divino se ofereceu para remir os homens, de duas maneiras se podia fazer essa redenção: uma por meio do gozo e da glória, outra das penas e dos vitupérios. Ele, porém, que com sua vinda não só pretendia livrar o homem da morte eterna, mas também ganhar a si o amor de todos os corações humanos, repeliu o caminho do gozo e da glória e escolheu o das penas e dos vitupérios (Hb 10, 34). A fim, portanto, de satisfazer por nós a justiça divina e juntamente para inflamar-nos com seu santo amor, quis qual criminoso sobrecarregar-se de todas as nossas culpas e, morrendo sobre uma cruz, obter-nos a graça e a vida feliz. É justamente o que exprime Isaías quando afirma: “Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as nossas dores” (Is 53, 4).

Disso encontram-se duas figuras claras no Antigo Testamento: a primeira era a cerimônia usada todos os anos do “bode expiatório” sobre o qual o sumo pontífice entendia impor todos os pecados do povo e por isso todos, cumulando-o de maldições, o enxotavam para a floresta para servir aí de objeto à ira divina (Lv 16, 5). Esse bode figurava nosso Redentor, que quis espontaneamente sobrecarregar-se com todas as maldições a nós devidas por nossos pecados (Gl 3, 13), feito por nós maldição, para nos obter as bênçãos divinas. E assim escreve o Apóstolo em outro lugar: “Aquele que desconhecia o pecado, fê-lo por nós, para que nós fôssemos feitos justiça de Deus nele” (2 Cor 5, 21). Como explicam Santo Ambrósio e Santo Anselmo, aquele que era a mesma inocência, fê-lo pecado; revestiu-se com as vestes do pecador e quis tomar sobre si as penas devidas a nós pecadores, para nos obter o perdão e nos tornar justos aos olhos de Deus.

A segunda figura do sacrifício que Jesus Cristo ofereceu por nós a seu eterno Pai na cruz, foi a “serpente de bronze” suspensa em um poste, que curava os hebreus mordidos pela serpente de fogo, quando para ela olhavam (Nm 21, 8). Assim escreve São João: “Como Moisés suspendeu a serpente no deserto, assim importa que seja levantado o Filho do homem, para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 14).

À LUZ DAS PROFECIAS

É preciso refletir que no capítulo 2.º da “Sabedoria” está predita a morte ignominiosa de Jesus Cristo. Ainda que as palavras desse capítulo possam se referir à morte de qualquer homem justo, contudo, afirma Tertuliano, São Cipriano, São Jerônimo e muitos outros santos Padres, que de modo especial quadram à morte de Cristo: Aí se diz no versículo 18: “Se realmente é o verdadeiro filho de Deus, ele o amparará e o livrará das mãos dos contrários”. Essas palavras correspondem perfeitamente ao que diziam os judeus, quando Jesus estava na cruz: “Confiou em Deus: livre-o agora, se o ama; pois disse que era filho de Deus” (Mt 27, 43). Continua o sábio a dizer: “Façamos-lhe perguntas por meio de ultrajes e tormentos… e provemos a sua paciência. Condenemo-lo a uma morte a mais infame” (Sb 2, 19-20). Os judeus escolheram para Jesus Cristo a morte da cruz, que era a mais ignominiosa, para que seu nome ficasse para sempre aviltado e não fosse mais relembrado, segundo um outro testemunho de Jeremias: “Ponhamos madeira no seu pão e exterminemo-lo da terra dos viventes e não haja mais memória de seu nome” (Jr 11, 19). Ora, como podem dizer hoje em dia os judeus ser falso que Jesus fosse o Messias prometido, por ter sido arrebatado deste mundo por uma morte torpíssima, quando seus mesmos profetas haviam predito que ele deveria ter uma morte tão vil?

Jesus aceitou, porém, semelhante morte porque morria para pagar os nossos pecados: também por esse motivo quis qual pecador ser circuncidado, ser resgatado quando foi apresentado ao templo, receber o batismo de penitência de São João. Na sua paixão, finalmente quis ser pregado na cruz para pagar por nossos licenciosas liberdades, com a sua nudez reparar a nossa avareza, com os opróbrios a nossa soberba, com a sujeição aos carnífices a nossa ambição de dominar, com os espinhos os nossos maus pensamentos, com o fel a nossa intemperança e com as dores do corpo os nossos prazeres sensuais. Deveríamos por isso continuamente agradecer com lágrimas de ternura ao eterno Pai por ter entregue seu Filho inocente à morte para livrar-nos da morte eterna. “O qual não poupou seu próprio Filho, mas entregou-o por todos nós: como não nos deu também com ele todas as coisas?” (Rom 8, 32). Assim fala São Paulo e o próprio Jesus diz, segundo São João (3, 16): “Tanto Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito”. Daí exclamar a santa Igreja no sábado santo: “Ó admirável dignação de vossa piedade para conosco! Ó inestimável excesso de vossa caridade! Para resgatar o escravo, entregastes o vosso Filho”. Ó misericórdia infinita, ó amor infinito de nosso Deus, ó santa fé! Quem isto crê e confessa, como poderá viver ser arder em santo amor para com esse Deus tão amante e tão amável?

Ó Deus eterno, não olheis para mim, carregado de pecados, olhai para vosso Filho inocente, pregado numa cruz, e que vos oferece tantas dores e suporta tantos ludíbrios para que tenhais piedade de mim. Ó Deus amabilíssimo e meu verdadeiro amigo, por amor, pois, desse Filho que vos é tão caro, tende piedade de mim. A piedade que desejo é que me concedais o vosso santo amor. Ah, atraí-me inteiramente a vós do meio do lodo de minhas torpezas. Consumi, ó fogo devorador, tudo o que vedes de impuro na minha alma e a impede de ser toda vossa.

NOSSO FIADOR

Agradeçamos ao Pai e agradeçamos igualmente ao Filho que quis tomar a nossa carne e juntamente os nossos pecados para dar a Deus com sua paixão e morte uma digna satisfação. Diz o Apóstolo que Jesus Cristo se fez nosso fiador, obrigando-se a pagar as nossas dívidas (Hb 7, 22). Como mediador entre Deus e os homens, estabeleceu um pacto com Deus por meio do qual se obrigou a satisfazer por nós a divina justiça e em compensação prometeu-nos da parte de Deus a vida eterna. Já com muita antecedência o Eclesiástico nos advertia que não nos esquecêssemos do benefício deste divino fiador, que, para obter a salvação, quis sacrificar a sua vida (Eclo 29, 20). E para mais nos assegurar do perdão, diz São Paulo, foi que Jesus Cristo apagou com seu sangue o decreto de nossa condenação, que continha a sentença da morte eterna contra nós, e a afixou à cruz, na qual, morrendo, satisfez por nós a justiça divina (Col 2, 14). Ah, meu Jesus, por aquele amor que vos obrigou a dar a vida e o sangue no Calvário por mim, fazei-me morrer a todos os afetos deste mundo, fazei que eu me esqueça de tudo para não pensar senão em vos amar e dar-vos gosto. Ó meu Deus, digno de infinito amor, vós me amastes sem reserva e eu quero também amar-vos sem reserva. Eu vos amo, meu sumo Bem, eu vos amo, meu amor, meu tudo.

Em suma, tudo o que nós podemos ter de bens, de salvação, de esperança, tudo possuímos em Jesus Cristo e nos seus merecimentos, como disse São Pedro: “E não há em outro nenhuma salvação, nem foi dado aos homens um outro nome debaixo dos céus em que nós devemos ser salvos” (At 4, 12). Assim para nós não há esperança de salvação senão nos merecimentos de Jesus Cristo. Donde São Tomás, com todos os teólogos, conclui que depois da promulgação do Evangelho nós devemos crer explicitamente, por necessidade não só de preceito, como também de meio, que somente por meio de nosso Redentor nos é possível a salvação.

Todo o fundamento de nossa salvação está, portanto, na redenção humana do Verbo divino, operado na terra. É preciso, pois, refletir que ainda que as ações de Jesus Cristo feitas no mundo, sendo ações de uma pessoa divina, eram de um valor infinito, de maneira que a mínima delas bastava para satisfazer a justiça divina por todos os pecados dos homens, contudo só a morte de Jesus foi o grande sacrifício com o qual se completou a nossa redenção, motivo pelo qual as Sagradas Escrituras se atribui a redenção do homem principalmente à morte por ele sofrida na cruz: “Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2, 8). Razão por que escreve o Apóstolo que, quando tomamos a sagrada eucaristia, nos devemos recordar da morte do Senhor: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste vinho, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Cor 11,26). Por que é que diz da morte e não da encarnação, do nascimento, da ressurreição? Porque foi esse tormento, o mais doloroso de Jesus Cristo, que completou a redenção.

Por isso dizia S. Paulo: “Não julgueis que eu sabia alguma coisa entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Cor 2,2). Muito bem sabia o apóstolo que Jesus Cristo nascera numa gruta, que habitara por trinta anos uma oficina que ressuscitara e subira aos céus. Por que então escreve que não sabia outra coisa senão Jesus crucificado? Porque a morte sofrida por Jesus na cruz era o que mais o movia a amá-lo e o induzia a prestar obediência a Deus, a exercer a caridade para com o próximo, a paciência nas adversidades, virtudes praticadas e ensinadas particularmente por Jesus Cristo na cátedra da cruz. São Tomás escreve: “Em qualquer tentação encontra-se na cruz o auxílio; aí a obediência para com Deus, aí a caridade para com o próximo, aí a paciência nas adversidades, donde assevera Agostinho: A cruz não foi só o patíbulo do mártir, como também a cátedra do mestre”. (In c. 12 ad Heb.).

À SOMBRA DA CRUZ

Almas devotas, procuremos ao menos imitar a esposa dos Cânticos, que dizia: “Eu assentei-me à sombra daquele que tanto desejei” (Cânt 2, 3). Oh! que doce repouso as almas que amam a Deus encontram nos tumultos deste mundo e nas tentações do inferno e mesmo nos temores dos juízos de Deus, contemplando a sós em silêncio o nosso amado Redentor agonizando na cruz, gotejando seu sangue divino de todos os seus membros já feridos e rasgados pelos açoites, pelos espinhos e pelos cravos. Oh! como a vista de Jesus crucificado afugenta de nossas mentes todos os desejos de honras mundanas, das riquezas da terra e dos prazeres dos sentidos! Daquela cruz emana uma vibração celeste, que docemente nos desprende dos objetos terrenos e acende em nós um santo desejo de sofrer e morrer por amor daquele que quis sofrer tanto e morrer por amor de nós.

Ó Deus, se Jesus Cristo não fosse o que ele é, Filho de Deus e verdadeiro Deus nosso criador e supremo senhor, mas um simples homem, quem não sentiria compaixão vendo um jovem de nobre linhagem, inocente e santo, morrer à força de tormentos sobre um madeiro infame, para pagar, não os seus delitos, mas os de seus mesmos inimigos e assim libertá-los da morte em perspectiva? E como é possível que não ganhe os afetos de todos os corações um Deus que morre num mar de desprezos e de dores por amor de suas criaturas? Como poderão essas criaturas amar outra coisa fora de Deus? Como pensar em outra coisa que em ser gratos para com esse tão amante benfeitor? “Oh! se conhecesses o mistério da cruz!”. disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna, certamente não te empenharias em persuadir-me a renegá-lo; pelo contrário, tu mesmo abandonarias tudo o que possuis e esperas nesta terra para comprazeres e contentares um Deus que tanto te amou. Assim já procederam tantos santos e tantos mártires que abandonaram tudo por Jesus Cristo. Que vergonha para nós, quantas tenras virgenzinhas renunciaram a casamentos principescos, riquezas reais e todas as delícias terrenas e voluntariamente sacrificaram sua vida para testemunhar qualquer gratidão pelo amor que lhes demonstrou este Deus crucificado.

Como explicar então que a muitos cristãos a Paixão de Cristo faz tão pouca impressão? Isso provém do pouco que consideram nos padecimentos sofridos por Jesus Cristo por nosso amor. Ah, meu Redentor, também eu estive no número desses ingratos. Vós sacrificastes vossa vida sobre uma cruz, para que não me perdesse, e eu tantas vezes quis perder-vos, ó bem infinito, perdendo a vossa graça! Ora, o demônio, com a recordação de meus pecados, pretenderia tornar-me dificílima a salvação, mas a vista de vós crucificado, meu Jesus, me assegura que não me repelireis de vossa face se eu me arrepender de vos haver ofendido e quiser vos amar. Oh! sim, eu me arrependo e quero amar-vos com todo o meu coração. Detesto aqueles malditos prazeres que me fizeram perder a vossa graça. Amo-vos, ó amabilidade infinita, e quero amar-vos sempre e a recordação de meus pecados servirá para me inflamar ainda mais no vosso amor, que viestes em busca de mim quando eu de vós fugia. Não, não quero mais separar-me de vós, nem deixar mais de vos amar, ó meu Jesus. Maria, refúgio dos pecadores, vós que tanto participastes das dores de vosso Filho na sua morte, suplicai-lhe que me perdoe e me conceda a graça de o amar.

Fonte: “Reflexões sobre a Paixão de Jesus Cristo expostas às almas devotas”

Tradução: Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R.

Publicado em Blog Quadrante (Quadrante Editora é uma entidade sem fins lucrativos, que iniciou as atividades no ano de 1964, em São Paulo, com a publicação do livro Caminho, de São Josemaria Escrivá).

Imagem: Relógio da Paixão (Pinterest).

Quinta-feira Santa: liturgia e significado da celebração

Confira as particularidades da liturgia da Quinta-feira Santa, que marca o início do Tríduo Pascal com a instituição da Eucaristia.

Confira as particularidades da liturgia da Quinta-feira Santa, o primeiro dia do Tríduo Pascal.

Bem sabemos que o Tríduo Pascal é o momento central de todo nosso calendário litúrgico. A liturgia da Quinta-feira Santa possui, como cada dia deste Tríduo, aspectos essenciais que devem ser observados para uma correta e boa vivência de nossa Páscoa com o Senhor.

O que exatamente nós comemoramos na Quinta-feira Santa?

Na Quinta-feira Santa, primeiro dia de nosso Tríduo Pascal, já tendo encerrado o Tempo da Quaresma nas vésperas deste dia, a Igreja celebra a solene liturgia da Ceia do Senhor (in Cena Domini). Nesta noite, Cristo Jesus, reunido com seus Apóstolos, celebra a Páscoa judaica e inaugura a Nova e Eterna Páscoa, através da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio.

Essa liturgia já aparece consolidada pelo século V, em Jerusalém, como uma memória da ação do Senhor antes da ceia figurada no lava-pés, realizado até hoje. Na verdade, o rito de lava-pés iniciou-se como uma liturgia separada da Santa Missa, mas foi incorporada a ela aos poucos. 

Entenda o que é o Tríduo Pascal em sua totalidade.

Narrativa Bíblica da Quinta-feira Santa

São João narra, de modo poético e teológico, a ação litúrgica que ocorre na Ceia do Senhor. Do capítulo 13 ao 17 há uma unidade, com discursos de despedida de Jesus, além da ação solene do lava-pés, que Cristo realiza nesta noite. Após a entrada de Jesus em Jerusalém, montado em um jumentinho e sendo aclamado com ramos e hosanas, Jesus, antes da festa da Páscoa, sabendo que chegava hora de passar deste mundo ao Pai, “depois de ter amado os seus do mundo, amou-os até o fim.” 1

Antes de mais nada, Jesus levanta-se e lava os pés de cada um dos discípulos, e ordena:“Se eu, que sou o mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Eu vos dei o exemplo para que façais o que eu fiz” 2.

Jesus, como modelo de entrega, pede para que os discípulos façam como Ele fez. Bem sabemos que essa entrega não se dá somente no lavar os pés, no serviço da caridade e humildade — características essenciais da Igreja — mas na própria dimensão da oferta de vida do Apóstolos, até o sacrifício de si mesmos.

João prossegue com um discurso longo e cheio de significado, a fim de dar bases teológicas tanto para a Eucaristia e o Sacerdócio, bem como para a oferta na Cruz. O complemento desta noite é narrado nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), onde é descrito, detalhadamente, a instituição da Eucaristia.

“Enquanto ceavam, Jesus tomou o pão, pronunciou a bênção, o partiu e o deu a seus discípulos dizendo: Tomai e comei, isto é o meu corpo. Tomando a taça, pronunciou a ação de graças e deu-a, dizendo: bebei todos dela, porque este é o meu sangue da aliança, que se derrama por todos para o perdão dos pecados.” 3

Os paralelos desta cena são descritos, de modo semelhante, em todos os Evangelhos 4. Além disso, esta noite está testemunhada, ainda, por São Paulo em sua carta aos Coríntios, datada de 56 d.C , tendo chegado até Ele, certamente, através da Tradição oral.

“Pois eu recebi do Senhor o que vos transmiti: O Senhor, na noite em que era entregue, tomou o pão, dando graças o partiu, e disse: Isto é o meu corpo que se entrega por vós. Fazei isto em memória de mim. Da mesma forma, depois de cear, tomou a taça e disse: Essa taça é a nova aliança selada com o meu sangue. Fazei isto cada vez que a bebeis, em memória de mim.” 5

Aprofunde-se no mistério da Eucaristia, o pulsar do coração de Cristo.

A liturgia da Quinta-feira Santa

A liturgia da Quinta-feira Santa possui a particularidade de, depois de toda Quaresma (com raríssimas exceções), trazer certa solenidade na ação litúrgica, pelo caráter que esta celebração possui. A liturgia inicia-se, de certa forma, solene e vibrante e vai, aos poucos, assumindo um tom mais introspectivo e sóbrio até o fim deste primeiro dia do Tríduo Pascal.

Cor litúrgica da Quinta-feira Santa

A cor litúrgica deste dia é o dourado/branco. Mesmo que estejamos dentro do Tríduo Pascal, na iminência da morte de Cristo, na Quinta-feira Santa celebra-se, solenemente, a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. Por isso, a Igreja se reveste de cores festivas e solenes. Neste dia, há flores, sinos; há solenidade e júbilo, com cantos mais festivos (até o momento do glória).

Canta-se o glória na Quinta-feira Santa?

Se tratando de um dia solene e festivo, por ocasião da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, canta-se o Glória (ordinariamente ausente em todo o tempo da Quaresma). Neste canto, tocam-se os sinos e sinetas, que ficarão silenciados até o canto do Glória da Vigília Pascal, no sábado à noite. Até o canto do Glória da Quinta-feira Santa, canta-se as músicas de forma jubilar e solene. A partir de então, deve-se buscar entoar os cantos de modo mais sóbrio, com os instrumentos sendo usados somente para sustentar o canto.

O lava-pés

Após a homilia desta liturgia, onde são expostos os principais mistérios da Quinta-feira Santa (instituição da Sagrada Eucaristia e do sacerdócio, e o mandamento do Amor), ocorre a liturgia do lava-pés. Trata-se de um rito antigo (século V), que foi incorporado à Santa Missa in cena Domini, e que é opcional. Em geral, mesmo sendo eletivo, sempre é realizado pelo símbolo que carrega em sua celebração. 

Os 12 escolhidos para este momento se dirigem ao local preparado no presbitério ou próximo a ele, e o sacerdote realiza o ato de lava pés. Trata-se de uma liturgia que recorda o gesto feito por Cristo nesta noite, e que convida a Igreja a tomar parte desta ação em sua essência de ser Serva. Não deve ser feito como se fosse um teatro ou encenação. Trata-se de uma verdadeira liturgia.

gesto do lava pés, tradicionalmente realizado na quinta-feira santa.
Gesto do lava-pés. Foto: Canção Nova.

A instituição do sacerdócio

Cristo Jesus, ao instituir a Eucaristia nesta noite, dando-se à humanidade nas espécies do pão e do vinho, deixa um mandato aos Apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. Na verdade, Eucaristia e Sacerdócio estão essencialmente vinculados. Ao instituir a Eucaristia, Jesus institui o sacramento da Ordem que, pela autoridade divina, tem a potestade de consagrar o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. É um dia de alegria para a Igreja, pois por estes dois sacramentos está assegurada a nós a presença real de Cristo no meio da humanidade.

Jesus, sabendo que sua hora estava chegando, entrega-se, na Quinta-feira Santa, de modo litúrgico e incruento. A mesma oferta do dom de si na Cruz, Cristo a faz na sua entrega livre e generosa nas espécies do Corpo e do Sangue, pela consagração do pão e do vinho. O modo de perpetuar este sacramento da presença real de Cristo na Eucaristia, é fazer, de homens eleitos, partícipes do único sacerdócio de Cristo, que, pela autoridade divina, consagram, até hoje, a Eucaristia.

Saiba mais sobre a importância do sacerdote para a Igreja.

Transladação do Santíssimo

Ao final da liturgia da Quinta-feira Santa, ocorre a Transladação da Eucaristia para uma capela montada, fora do presbitério ou da Igreja. As reservas eucarísticas, separadas para a comunhão da Sexta-feira Santa, não ficam no sacrário central do presbitério. A Igreja leva, em procissão solene, e as deposita num sacrário dignamente ornado, a fim de que se possa permanecer em vigília com o Senhor durante toda a noite, ou, ao menos, por algumas horas. Essa adoração se faz de modo sóbrio, sem solenidade.

Após o translado do Santíssimo, todas as toalhas do altar, bem como as flores e todo o decoro da arrumação da Igreja, são recolhidos. É o chamado desnudamento do Altar onde, em silêncio e profunda compenetração, a Igreja entra em agonia com o Senhor pelo momento derradeiro de seu sacrifício na Cruz.

transladação do santíssimo sacramento, na quinta-feira santa

A Quinta-feira Santa na nossa vida espiritual

A Quinta-feira Santa abre, de modo solene e com uma profundidade espiritual sem tamanho, nosso Tríduo Pascal. Para bem compreendermos o mistério da Eucaristia e do Sacerdócio, bem como da entrega do Senhor na Cruz, devemos participar, com fervor e ativamente, desta liturgia.

Só possuímos o dom da Eucaristia por causa desta noite Santa. O dom do Sacerdócio só existe por bondade de Deus que quer perpetuar o sacrifício de Cristo pelos séculos dos séculos. É a noite em que a Igreja contempla, em Nosso Senhor, a sua essência, que está na caridade sem reservas, no Sacramento do Amor que Ele instituiu. O lava-pés, mais que uma encenação, é uma verdadeira ação litúrgica, e deve ser vivida como tal, tendo diante dos olhos o exemplo de humildade de nosso Deus, que se rebaixa para nos servir, livremente. Cristo ordenou: o que Ele fez, nós devemos repetir uns nos outros.

Enfim, viver a Quinta-feira Santa, devotamente, é o meio pelo qual temos de adentrar o mistério de Cristo integralmente. Viver com o Senhor a sua Santa Ceia o Lava-pés, e permanecer com Ele, em vigília, de quinta para sexta-feira, é o mínimo que podemos fazer em retribuição a tamanho sacrifício que o Senhor oferece pela nossa salvação.

Deixamos aqui uma meditação guiada, especial de Quinta-feira Santa, para ajudar você na vivência dessa grande solenidade:

Referências

  1. João 13, 1[]
  2. João 13, 13-14[]
  3. Mateus 26, 26-29[]
  4. Mt 26, 17-30; Mc 14, 12-26; Jo 13, 21-30; Lc 22, 7-23[]
  5. I Coríntios 11, 23-25[]

Publicado em Minha Biblioteca Católica.

A Paixão do Senhor segundo São Lucas – Homilia Dominical (Domingo de Ramos da Paixão do Senhor)

O Domingo de Ramos marca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, mas também é o único domingo dedicado a uma meditação especial sobre sua Paixão, que, neste ano, é narrada pelo Evangelho de São Lucas.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 22, 14 -23, 56)

Neste domingo, celebramos o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, que marca o início da Semana Santa. Chegamos, portanto, ao final dos quarenta dias de jejum e penitência, a Quaresma — período especialíssimo para vivermos, com verdadeira devoção, a Paixão de Cristo. 

O Domingo de Ramos marca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, mas também é o único domingo dedicado a uma meditação especial sobre sua Paixão. Embora a Sexta-feira Santa seja a ocasião própria para isso, ela não é um dia de preceito e não há Missa propriamente, apenas a Celebração da Adoração da Cruz. Como nem todos participam das celebrações do Tríduo Pascal, a Igreja garante que, pelo menos no Domingo de Ramos, os fiéis ouçam a narrativa da Paixão de Nosso Senhor.

Neste ano, seguimos o relato de São Lucas sobre a Paixão, que possui detalhes singulares. A descrição começa na Última Ceia, onde Jesus institui a Eucaristia, entregando-se completamente. São Pedro, entusiasmado, acredita estar pronto para agir de modo semelhante a Jesus. Essa cena nos convida a refletir sobre nossa atitude ao comungar: ao receber a Eucaristia, não apenas nos aproximamos de Jesus, mas somos chamados a nos doar como Ele. Frequentemente, como Pedro, acreditamos estar preparados, sem perceber nossas fragilidades.

No Evangelho de São Lucas, Jesus nos desmascara, mas também nos assegura que está rezando por nós. Pedro, cheio de entusiasmo, declara: “Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte” (Lc 22, 33). Porém, Jesus o adverte: “Simão, Simão, olha que Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo. Eu, porém, rezei por ti, Pedro, para que a tua fé não se apague. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32). Nosso Senhor também diz a Pedro que, antes que o galo cante, por três vezes o Apóstolo o negaria. Apesar disso, Jesus já intercede por ele, para que sua fé não se apague e, depois de convertido, fortaleça os irmãos. Esse diálogo exclusivo de Lucas nos mostra que Jesus nos escolhe para uma missão, mas também conhece nossas quedas. Diferente de nós, que muitas vezes rompemos alianças por causa de traições, Jesus já prevê nossas falhas e, mesmo assim, reza por nossa conversão, esperando que voltemos a Ele.

De fato, é maravilhoso saber que Nosso Senhor reza por nós. Ao comungarmos, oferecemos nossa vida a Ele, que conhece nossa fraqueza e já intercede por nós. Assim, mesmo nossas quedas podem se tornar oportunidade de fortalecer os irmãos, pois, uma vez restaurados, somos chamados a confirmar a fé dos outros. Assim como rezou por Pedro, Jesus reza por cada um de nós.

Após a Última Ceia, Jesus segue com Pedro ao Horto das Oliveiras e pede que os Apóstolos orem para não caírem em tentação. Ele próprio se afasta e, de joelhos, começa a rezar. São Lucas destaca detalhes únicos dessa agonia: o suor de Jesus se torna como gotas de sangue e um anjo é enviado a fim de consolá-lo. Enquanto Cristo enfrenta sua grande provação, Pedro e os outros Apóstolos, em vez de rezarem, dormem. Essa cena nos ensina que, assim como Jesus pediu oração aos Apóstolos, Ele também nos chama a vigiar e a orar, mesmo quando nos sentimos sozinhos.

Podemos contemplar a imensa solidão de Jesus no Horto das Oliveiras, carregando o peso dos pecados do mundo e suando sangue em sua agonia. Ele esperava o consolo da oração dos Discípulos, mas encontrou apenas o silêncio. No entanto, sua súplica não ficou sem resposta: Deus enviou um anjo para confortá-lo. Esse detalhe, único no relato de Lucas, lembra-nos que também não estamos sozinhos em nossas angústias. Mesmo quando o mundo parece nos abandonar, Deus nos ampara.

Embora Lucas não mencione, podemos imaginar que Maria, mesmo sem estar no Horto das Oliveiras em pessoa, acompanhava tudo em oração. O anjo que consolou Jesus talvez não tenha sido fruto das orações de Pedro, que dormia, mas das súplicas da Virgem Santíssima. Assim como muitas mães intercedem por seus filhos à distância, Maria, em espírito, pode ter enviado esse anjo para fortalecer seu Filho em sua missão. Este é um belo papel materno: sustentar os filhos com a oração, mesmo quando não é possível estar fisicamente ao lado deles.

Após a prisão de Jesus, Pedro o negou três vezes no palácio do sumo sacerdote. Ao perceber sua traição, o Apóstolo sai e chora amargamente, como relata o versículo 62: “Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente” — “flevit amare”. Naquele momento, o choro de Pedro revela que ele enfrentava a tentação do desespero, como Judas. A diferença foi a oração de Jesus, que o sustentou e ajudou-o a reencontrar seu caminho.

À vista dessa realidade, precisamos recordar, especialmente a quem se sente desanimado ou afastado de Jesus neste Domingo da Paixão: Ele está rezando por nós — “ad interpellandum pro nobis”. Nos momentos de solidão e angústia, a Virgem Maria intercede e envia os anjos para nos consolar. Nunca estamos sozinhos. Mesmo em meio às nossas dores, Cristo está diante de Deus, sempre vivo, intercedendo por nós. Diante da grande tragédia redentora da Paixão, reconheçamos também nossas próprias dores e sofrimentos, sabendo que estamos unidos a Ele em sua Paixão.

Então, Jesus é conduzido ao tribunal, onde é condenado pelos sumos sacerdotes e, em seguida, levado a Pilatos. Este, ao saber que Ele é galileu, recusa-se a julgá-lo e envia-o a Herodes, que o interroga insistentemente, mas Jesus permanece em silêncio. Frustrado, Herodes devolve-o a Pilatos, que declara: “Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei” (Lc 23, 15-16). No entanto, a fraqueza de Pilatos, que busca agradar a multidão e preservar sua própria posição, resulta na condenação injusta do inocente. O povo, inflamado, clama em uníssono: “Crucifica-o!”.

Na crucificação, São Lucas nos apresenta uma cena singular: enfatiza que Jesus foi pregado na Cruz entre dois malfeitores. No Calvário, ao ser despojado das suas vestes e transpassado pelos pregos, Jesus não apenas disse, mas “ia dizendo”: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). O uso do tempo verbal imperfeito indica que essa oração foi repetida por um certo período, tornando-se uma súplica contínua. Mel Gibson, em “A Paixão de Cristo”, captou essa nuance ao mostrar Jesus repetindo o pedido de perdão enquanto sofria. Esse detalhe, exclusivo do Evangelho de São Lucas, revela-nos a profundidade do amor e da misericórdia de Cristo, preparando o cenário para o extraordinário diálogo com o Bom Ladrão.

Somente São Lucas nos transmite esse diálogo marcante na Cruz. Um dos malfeitores blasfema contra Jesus, desafiando-o a provar seu poder: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23, 39). Em vez de demonstrar humildade e fé diante da morte, ele transforma sua súplica em tentação e desafio. O outro, identificado pela tradição como Dimas, repreende-o: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas Ele não fez nada de mal” (Lc 23, 41). Nesse ato de contrição, o Bom Ladrão reconhece tanto a própria culpa quanto a inocência de Nosso Senhor. Esse reconhecimento da verdade ilumina seu coração, levando-o a pronunciar uma súplica cheia de esperança: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Em resposta, Cristo realiza a primeira canonização da história, garantindo-lhe: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). 

O Bom Ladrão, ao olhar para Jesus na Cruz, vê um homem condenado à morte, alguém que em breve morrerá e será sepultado. Todavia, ao reconhecer seu próprio pecado e a inocência de Cristo, recebe a luz da fé. Diante daquele que, aos olhos do mundo, parecia derrotado, ele enxerga um rei e suplica: “Senhor Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino” (Lc 23, 42). Qualquer um que testemunhasse aquela cena veria apenas um homem humilhado e moribundo, mas o Bom Ladrão reconhece ali a fonte da graça. Por isso, recebe a promessa extraordinária de Jesus: “Em verdade eu te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso”. À vista disso, como nos recorda o “Dies irae”, quem não perde o temor de ser condenado ao ver a salvação do Bom Ladrão? 

Jesus finalmente morre na Cruz, pronunciando suas últimas palavras, registradas apenas por São Lucas: “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito” (Lc 23, 46). Essa frase ressoa profundamente, sendo repetida tantas vezes na Sexta-feira Santa. O Evangelho de São Lucas, em seu início, apresenta Jesus, ainda menino, no Templo, dizendo a Maria: “Não sabíeis que eu devo cuidar das coisas do meu Pai?” (Lc 2, 49) e encerra-se com essa entrega total ao Pai. A primeira e a última palavra de Cristo é “Pai”, revelando a confiança absoluta do Filho. Enquanto o mundo gritava que Deus o havia abandonado, Jesus responde entregando-se inteiramente ao amor do Pai, como se dissesse: “O Pai não me abandonou, sou eu quem me abandono aos seus braços”.

Este Evangelho tão rico e repleto de ensinamentos nos convida a uma profunda reflexão. Estamos no tempo favorável da conversão, na Semana Santa, e não devemos deixar passar a Páscoa sem buscar a Confissão e a reconciliação com Nosso Senhor. Assim como Cristo rezou por Pedro, Ele também intercede por nós em nossas fraquezas. Se, a exemplo do Bom Ladrão, reconhecermos nossos pecados e a inocência de Cristo, ouviremos d’Ele a mesma promessa: “Estarás comigo no paraíso”. Entreguemo-nos, portanto, ao Pai, confiando-lhe nossa vida e nossos sofrimentos — assim como Jesus se entregou na sua Cruz.

Publicado em padrepauloricardo.orgChristo Nihil Præponere (“A nada dar mais valor do que a Cristo”) – (11.04.2025).

A devoção dos cinco primeiros sábados do mês ao Imaculado Coração de Maria

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05 de abril de 2025 (Primeiro sábado do mês de abril)*

Além de ser um ano jubilar, 2025 marca o centenário do pedido de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, uma das videntes de Fátima, para a instituição da devoção dos cinco primeiros sábados como reparação pelas ofensas feitas ao Seu Imaculado Coração.

Oito anos após as aparições da Virgem aos três pastorinhos de Fátima, Maria teria reaparecido à Irmã Lúcia no convento de Pontevedra, na Espanha, no dia 10 de dezembro de 1925. Durante essa aparição, a Virgem Maria teria solicitado a instituição da devoção dos cinco primeiros sábados como reparação pelas ofensas feitas ao Seu Imaculado Coração.

Ela teria dito à irmã Lúcia: “Olha, minha filha, o meu Coração cercado de espinhos com que os homens ingratos me ferem a todo o momento com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, procura consolar-me e digo que prometo assistir na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação, a todos os que, no primeiro sábado de cinco meses seguidos, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem um terço e me fizerem companhia durante quinze minutos, meditando nos mistérios do Rosário, com o fim de me fazerem reparações.”

Desde séculos, o sábado é um dia da semana dedicado à Maria. Segundo uma tradição antiga atribuída ao monge beneditino Alcuíno (735-804), conselheiro de Carlos Magno, a liturgia consagra os sábados à Virgem Maria. Em 1905, o Papa Pio X concedeu indulgências para os fiéis que praticassem uma devoção mariana aos primeiros sábados de doze meses consecutivos em honra da Imaculada Conceição. Em 1917, durante a aparição de 13 de julho em Fátima, a Virgem menciona pela primeira vez “os primeiros sábados”: “Para evitar a guerra, Eu virei pedir a consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora dos Primeiros Sábados”. Essa devoção foi difundida pela Irmã Lúcia, mas ainda não obteve uma aprovação oficial da Igreja Católica.

Um ato de reparação

Em que consiste exatamente essa devoção? Ela envolve quatro gestos, a serem realizados no primeiro sábado de cada mês durante cinco meses consecutivos: confessar-se, comungar, rezar um terço e meditar por quinze minutos sobre os quinze mistérios do rosário. Esses quatro atos devem ser realizados com o intuito de reparar as ofensas feitas ao Imaculado Coração de Maria.

A devoção dos cinco primeiros sábados é, acima de tudo, um ato de reparação: os cinco sábados são necessários para reparar os cinco tipos de ofensas e blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria. Essas ofensas incluem as blasfêmias contra a Imaculada Conceição, contra sua virgindade, contra sua maternidade divina, contra aqueles que tentam incutir nos corações das crianças indiferença, desprezo ou ódio por Maria, e finalmente, as ofensas contra as santas imagens de Maria.

A prática dessa devoção também teria o poder de garantir a salvação pessoal. A Virgem promete assistir na hora da morte todos aqueles que realizarem plenamente a devoção dos cinco sábados.

Uma devoção necessária para alcançar a paz

Além da reparação das ofensas e da salvação pessoal, há um terceiro aspecto fundamental ligado a essa devoção: a paz no mundo. Em uma carta datada de 19 de março de 1939, a Irmã Lúcia escreveu ao Padre Aparício que “da prática da devoção dos Primeiros Sábados, unida à consagração ao Imaculado Coração de Maria, depende a guerra ou a paz do mundo.” Em tempos tão conturbados por diversos conflitos, a Aliança Salve Corda, uma iniciativa laica lançada em 2016 por Régis de Lassus, convida a redescobrir essa devoção e a formar ou participar de grupos locais e autônomos, chamados “Cidades do 1º sábado do mês”, onde os membros se encontram a cada primeiro sábado para cumprir as quatro solicitações da Virgem Maria.

Além disso, por ocasião do Jubileu e do Centenário da devoção, os primeiros sábados de cada mês serão solenemente celebrados em 2025 em um grande santuário mariano. Uma peregrinação local será organizada e os fiéis do mundo inteiro são convidados a se unir realizando os atos solicitados a partir de seu local de residência, em união com o santuário. Doze santuários foram escolhidos, cada um relacionado a um dos doze mistérios do Rosário.

Publicado em Aleteia.

* Acréscimo meu. Também fiz o acréscimo “ao Imaculado Coração de Maria” no título publicado pela Aleteia.

Observações: (1) A Memória do Imaculado Coração de Maria se deu no primeiro sábado de 2025, em 04 de janeiro. (Fonte: Internet) (2) “Em 25 de março de 2022, o papa Francisco consagrou a Rússia ao Imaculado Coração ao lado da Ucrânia, com os dois países explicitamente mencionados em meio à Invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, durante a Guerra Russo-Ucraniana.” (Fonte: Wikipédia).

Leia também:

Fátima, os primeiros sábados e a consagração da Rússia (Aleteia): “Muitos esquecem que Nossa Senhora de Fátima pediu que a devoção dos primeiros sábados fosse amplamente observada para garantir a conversão da Rússia“.

Ucrânia (Aleteia).

Reze a Via Sacra de Santo Afonso Maria de Ligório

14.03.2025

Que nesta Quaresma possamos viver essa meditação com fervor, renovando nosso coração para celebrar com alegria a Páscoa do Senhor!

A Via Sacra é uma das práticas espirituais mais profundas da Igreja, especialmente durante a Quaresma, quando somos chamados a contemplar os sofrimentos de Cristo. Dentre as diversas formas de meditar esse caminho de dor e amor, uma das mais conhecidas e ricas espiritualmente é a Via Sacra composta por Santo Afonso Maria de Ligório.

Esse grande santo e doutor da Igreja nos deixou uma série de meditações que nos ajudam a refazer espiritualmente a via dolorosa de Jesus, levando-nos a um encontro íntimo com o Seu amor redentor.

Convidamos você a rezar e meditar cada estação com Santo Afonso, unindo-se ao sacrifício de Cristo e permitindo que essa experiência transforme seu coração.

Como Rezar a Via Sacra de Santo Afonso?

A Via Sacra tradicionalmente possui 14 estações, cada uma representando um momento do caminho de Cristo até o Calvário. Ao meditar essa devoção, você pode:

– Escolher um local tranquilo para rezar com recolhimento.
– Meditar cada estação com as orações de Santo Afonso.
– Fazer essa oração diante de um crucifixo, em uma igreja ou ao ar livre.
– Oferecer a Via Sacra por uma intenção especial, como pela sua conversão ou pela conversão de alguém.

Meditação das 14 Estações com Santo Afonso Maria de Ligório

Oração inicial. — Senhor Jesus Cristo, vós com tanto amor entrastes nesta via para morrerdes por mim; eu porém tantas vezes vos desprezei! Agora, de toda a minha alma vos amo e, porque vos amo, arrependo-me do fundo do coração de ter-vos ofendido. Perdoai-me e permiti que vos acompanhe nesta via. Vós, por amor a mim, caminhais para o lugar em que por mim haveis de morrer, e eu também, por amor a vós, desejo acompanhar-vos para convosco morrer, amantíssimo Redentor. Ó meu Jesus, desejo convosco viver e morrer!

🔹 1ª Estação: Jesus é condenado à morte

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como Jesus Cristo, já flagelado e coroado de espinhos, foi por fim injustamente condenado à morte por Pilatos.

Oração. — Ó Jesus adorável, não foi Pilatos, mas minha vida iníqua que vos condenou à morte. Pelo mérito deste tão penoso itinerário, no qual entrais rumo ao monte Calvário, peço-vos que benignamente me acompanheis no caminho pelo qual minha alma se dirige à eternidade. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, mais do que a mim mesmo, e do fundo do coração me arrependo de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente me separe de vós. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes. O que vos for agradável também o será para mim.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

A morrer crucificado,
Teu Jesus é condenado
Por teus crimes, pecador.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 2ª Estação: Jesus carrega a cruz

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como Jesus Cristo, levando a Cruz aos ombros, lembrava-se no caminho de oferecer por nós ao Pai eterno a morte que havia de sofrer.

Oração. — Ó amabilíssimo Jesus, abraço todas as adversidades que, por vossa vontade, hei de tolerar até a morte e, pelo duro sofrimento que suportastes carregando a Cruz, peço-vos que me deis forças para que também eu possa carregar, com ânimo forte e paciente, minha própria cruz. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, e arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que novamente me separe de ti. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Com a Cruz é carregado,
E do peso acabrunhado,
Vai morrer por teu amor.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 3ª Estação: Jesus cai pela primeira vez

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos a primeira queda de Jesus sob o peso da Cruz. Tinha Ele a carne, por causa da cruenta flagelação, ferida de muitos modos e a cabeça coroada de espinhos; derramara ainda tanto sangue, que mal podia mover os pés por falta de forças. E porque era oprimido pelo grave peso da Cruz e açulado sem clemência pelos soldados, por isso aconteceu-lhe de cair muitas vezes por terra ao longo do caminho.

Oração. — Ó meu Jesus, não é o peso da Cruz, mas o dos meus pecados que de tantas dores vos cobre. Rogo-vos, por esta vossa primeira queda, que me protejais de toda queda em pecado. Amo-vos, ó Jesus, de todo o meu coração; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não me permitais novamente cair em pecado. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Pela Cruz tão oprimido,
Cai Jesus, desfalecido,
Pela tua salvação.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 4ª Estação: Jesus encontra Sua Mãe

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como deve ter sido o encontro, neste caminho, do Filho e da Mãe. Jesus e Maria se olharam entre si, e os olhares mudos que trocaram foram outras tantas setas a atravessar o coração amante de ambos.

Oração. — Ó amantíssimo Jesus, pela dor acerba que experimentastes neste encontro, tornai-me, eu vos peço, verdadeiramente devoto de vossa Mãe santíssima. E vós, ó minha dolorosa Rainha, intercedei por mim e alcançai-me uma tal memória dos suplícios de vosso Filho, que minha mente esteja para sempre detida na piedosa contemplação deles. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não me permitais novamente pecar contra vós. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

De Maria lacrimosa,
No encontro lastimosa,
Vê a imensa compaixão.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 5ª Estação: Simão Cireneu ajuda Jesus a carregar a cruz

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como os judeus obrigaram Simão de Cirene a carregar a Cruz atrás do Senhor, vendo Jesus quase expirar a cada passo devido ao cansaço e temendo, por outra parte, que morresse no caminho aquele que queriam ver pregado à Cruz.

Oração. — Ó dulcíssimo Jesus, não quero, como o Cirineu, repudiar a Cruz. De bom grado a abraço e tomo sobre mim; abraço especialmente a morte que para mim estabelecestes, com todas as dores que ela trará consigo. Uno minha morte à vossa e, assim unida, ofereço-a a vós em sacrifício. Vós morrestes por amor a mim; quero também eu morrer por amor a vós, com a intenção de vos agradar. Vós, porém, ajudai-me com a vossa graça. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, e arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Em extremo desmaiado,
Teve auxílio, tão cansado,
Recebendo o Cireneu.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 6ª Estação: Verônica enxuga o rosto de Jesus

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como aquela santa mulher Verônica, vendo Jesus abatido pelas dores, com o rosto banhado em suor e sangue, estendeu-lhe um pano em que, purificada a face, Ele deixou impressa sua imagem.

Oração. — Ó meu Jesus, formosa era antes a vossa face; mas agora não aparece assim, tão deformada está por feridas e sangue! Ai de mim, como era formosa também minha alma, quando recebi a vossa graça pelo Batismo: mas, pecando, tornei-a disforme. Vós somente, meu Redentor, lhe podeis restituir a antiga beleza. Para que o façais, rogo-vos pelo mérito de vossa Paixão. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

O seu rosto ensanguentado,
Por Verônica enxugado,
Eis, no pano, apareceu.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos a segunda queda de Jesus sob o peso da Cruz, na qual se lhe aprofundam todas as chagas da venerável cabeça e de todo o corpo, e se renovam todas as angústias do doloroso Senhor.

Oração. — Ó mansíssimo Jesus, quantas vezes me concedestes o perdão! Eu, porém, recaí nos mesmos pecados e renovei minhas ofensas contra vós. Pelo mérito desta vossa nova queda, ajudai-me a perseverar em vossa graça até a morte. Fazei, em todas as tentações que avançarão contra mim, que em vós sempre me refugie. Amo-vos de todo o meu coração, ó Jesus, meu Amor; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Outra vez desfalecido,
Pelas dores abatido,
Cai por terra o Salvador.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 8ª Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como estas mulheres, vendo Jesus morto de cansaço e coberto de sangue, são tocadas de comiseração e choram copiosamente. Mas, voltando-se a elas, Ele diz: “Não choreis por mim; antes, chorai por vós mesmas e por vossos filhos”.

Oração. — Ó doloroso Jesus, choro os pecados que cometi contra vós, não só pelas penas de que me fizeram digno, mas sobretudo pela tristeza que vos causaram a vós, que tanto me amastes. Ao choro me move menos o inferno que o amor a vós. Ó meu Jesus, amo-vos mais do que a mim mesmo; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Das mulheres piedosas,
De Sião filhas chorosas,
É Jesus consolador.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 9ª Estação: Jesus cai pela terceira vez

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos a terceira queda de Cristo sob o peso da Cruz. Caiu porque era demasiada a sua fraqueza e excessiva a crueldade dos algozes, que lhe queriam acelerar a marcha, embora Ele mal pudesse dar um passo.

Oração. — Ó Jesus tão maltratado, pelo mérito desta falta de forças que quisestes padecer no caminho do Calvário, confortai-me, eu vos peço, com tanto vigor, que já não tenha respeito algum às opiniões dos homens e domine minha natureza viciosa: porque ambas as coisas foram a causa por que desprezei outrora a vossa amizade. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, de todo o meu coração; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Cai, terceira vez, prostrado,
Pelo peso redobrado
Dos pecados e da Cruz.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 10ª Estação: Jesus é despojado de Suas vestes

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos com que violência arrancaram as vestes a Cristo. Como o traje interior estivesse muito pegado à carne, aberta pelos flagelos, os carnífices, ao puxarem-lha, rasgaram-lhe também a pele. Tenhamos compaixão de Nosso Senhor e lhe falemos assim:

Oração. — Ó inocentíssimo Jesus, pelo mérito da dor que padecestes nesta espoliação, ajudai-me, eu vos peço, a despir-me de todo afeto às coisas criadas e, com toda a inclinação de minha vontade, converter-me somente a vós, que sois tão digno do meu amor. Amo-vos de todo o meu coração; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Dos vestidos despojado,
Por algozes maltratado,
Eu vos vejo, meu Jesus.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 11ª Estação: Jesus é pregado na cruz

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como Jesus é arremessado sobre a Cruz e, de braços estendidos, oferece sua vida ao Pai eterno em sacrifício pela nossa salvação. Os carnífices o pregam à Cruz e, depois de erguerem esta, deixam-no levantado num infame patíbulo, abandonado a uma morte cruel.

Oração. — Ó Jesus tão desprezado, pregai meu coração aos vossos pés, para que, com vínculo de amor, eu permaneça sempre a vós ligado e jamais seja de vós separado. Amo-vos mais do que a mim mesmo, arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Sois por mim na Cruz pregado,
Insultado, blasfemado,
Com cegueira e com furor.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 12ª Estação: Jesus morre na cruz

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos Jesus preso à nossa Cruz. Após três horas de luta, consumido enfim pelas dores, Ele deu o corpo à morte e, de cabeça inclinada, entregou o espírito.

Oração. — Ó Jesus morto, movido por íntimos afetos de piedade, beijo esta Cruz em que vós, por minha causa, cumpristes o curso de vossa vida. Pelos pecados cometidos, mereci uma morte infeliz; mas vossa morte é minha esperança. Pelos méritos de vossa morte, concedei-me, peço-vos, que, abraçado aos vossos pés e abrasado de amor por vós, eu entregue um dia meu espírito. Amo-vos de todo o meu coração; arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Por meus crimes padecestes,
Meu Jesus, por mim morrestes,
Oh, quão grande é minha dor!
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 13ª Estação: Jesus é descido da cruz e entregue a Maria

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como dois dos discípulos de Jesus, José e Nicodemos, o tiram exânime da Cruz e o colocam nos braços de sua Mãe dolorosa, que recebe o Filho morto com grande amor e o abraça ternamente.

Oração. — Ó Mãe das Dores, pelo amor com que amais o vosso Filho, recebei-me como servo vosso e rogai a Ele por mim. E vós, ó meu Redentor, porque por mim morrestes, fazei, benignamente, com que eu vos ame; a vós somente desejo nem quero nada fora de vós. Amo-vos, ó Jesus, meu Amor, e arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

Do madeiro vos tiraram
E à Mãe vos entregaram
Com que dor e compaixão!
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

🔹 14ª Estação: Jesus é sepultado

℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.

Contemplemos como os discípulos levam Jesus exânime ao lugar da sepultura. Triste, a Mãe os acompanha e com as próprias mãos acomoda o corpo do Filho à sepultura. Fecha-se este, enfim, e todos vão-se embora.

Oração. — Ó Jesus sepultado, beijo esta pedra que vos acolheu; mas, após três dias, haveis de ressurgir! Por vossa ressurreição, fazei-me, eu vos peço, ressurgir glorioso convosco no último dia e ir para o Céu, onde, unido a vós para sempre, vos hei de louvar e amar por toda a eternidade. Amo-vos e arrependo-me de ter-vos ofendido. Não permitais que eu novamente vos ofenda. Dai-me amor perpétuo a vós e fazei de mim o que quiserdes.

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória.

No sepulcro vos deixaram,
Sepultado, vos choraram,
Magoado o coração.
Meu Jesus, por vossos passos,
Recebei em vossos braços
A mim, pobre pecador.

A Graça da Via Sacra na Nossa Vida

Rezar a Via Sacra de Santo Afonso Maria de Ligório é uma experiência profunda de união com os sofrimentos de Cristo. Ao meditar cada estação, aprendemos que a dor e o sofrimento não são o fim, mas o caminho para a ressurreição.

Esta oração nos ensina a confiar na misericórdia de Deus, a carregar nossas cruzes com amor e a permanecer fiéis a Cristo, mesmo nas dificuldades.

Que nesta Quaresma possamos viver essa meditação com fervor, renovando nosso coração para celebrar com alegria a Páscoa do Senhor!

Publicado em Paróquia Coração de Maria – Londrina – PR.

Cinco pontos básicos para entender a Quaresma e como ela é vivida

A Quaresma é um período litúrgico de oração e penitência para se preparar para o Tríduo Pascal, que celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo.

São Leão Magno afirma que os dias da Quaresma “nos convidam de forma veemente ao exercício da caridade; se quisermos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos ter um interesse muito especial na aquisição dessa virtude, que contém em si todas as outras e cobre uma infinidade de pecados”.

1. As três práticas da Quaresma

A primeira prática da Quaresma é a oração, condição indispensável para o encontro com Deus. Por meio dela, o cristão se comunica com o Senhor, permite que a graça entre em seu coração e, como a Virgem Maria, se abre à ação do Espírito Santo, dando uma resposta livre e generosa (Lc 1,38).

A segunda é a mortificação, que inclui o jejum e a abstinência. Ela deve ser vivida diariamente. Significa oferecer a Cristo os momentos que causam desconforto e aceitar a adversidade com humildade e alegria.

A terceira é a esmola ou, de forma mais ampla, a caridade. São João Paulo II explica que ela está enraizada “nas profundezas do coração humano: cada pessoa sente o desejo de estar em contato com os outros, e ele se realiza plenamente quando é dado livremente aos outros”.

2. Jejum e abstinência

O jejum consiste em comer apenas uma refeição completa ao dia, e a abstinência se refere a não comer carne. Ambos os sacrifícios reconhecem a necessidade de realizar trabalhos para o bem da igreja e dos irmãos e em reparação dos pecados.

Nesta prática, as necessidades terrenas também são deixadas de lado a fim de redescobrir a sede de Deus. “Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).

O jejum é obrigatório dos 18 aos 59 anos de idade, e não proíbe a ingestão de um pouco de alimento pela manhã e à noite.

Além da Quarta-feira de Cinzas e da Sexta-feira Santa, a abstinência deve ser observada todas as sextas-feiras do ano e é obrigatória a partir dos 14 anos de idade.

3. Início e fim da Quaresma

A Quarta-feira de Cinzas indica o início dos 40 dias de preparação para a Páscoa. Nesse dia, o padre abençoa e impõe as cinzas extraídas das palmas abençoadas no Domingo de Ramos do ano anterior.

 As cinzas são um sinal de humildade e lembram o cristão de sua origem e seu fim. Elas são impostas na testa com o sinal da cruz e pronunciando as palavras bíblicas: “Lembre-se de que você é pó e ao pó voltará” ou “Arrependa-se e creia no Evangelho”.

A Quaresma termina na noite da Quinta-feira Santa. Nesse dia, a igreja comemora a Última Ceia de que o Senhor participou com seus apóstolos antes de ser crucificado na Sexta-feira Santa.

4. Duração da Quaresma

A Quaresma dura 40 dias. Esse é um número especial na Bíblia, pois o número quatro simboliza o universo material e, seguido de zeros, faz alusão ao tempo de vida na Terra, com suas provações e dificuldades.

Além disso, os 40 dias lembram os dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública.

5. A cor litúrgica da Quaresma

A cor litúrgica dessa época é o roxo, que significa luto e penitência. É um período de reflexão, conversão espiritual e preparação para o mistério pascal.

Publicado em Agência Católica de Informação – ACI Digital.

A Agência Católica de Informação – ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Leia também: ACI Digital – Cinco passagens da Bíblia para viver bem a Quaresma

O que você deve saber sobre a Quarta-feira de Cinzas

2 de mar de 2025 às 01:00

Daqui alguns dias a igreja viverá a Quaresma de 2025, por isso compartilhamos com você algumas informações fundamentais para entender a importância da Quarta Festa de Cinzas e, assim, viver adequadamente esse tempo litúrgico de preparação para a Páscoa.

1. O que é a Quarta-feira de Cinzas?

É o primeiro dia da Quaresma, ou seja, dos 40 dias nos quais a igreja chama os fiéis a se converterem e a se prepararem verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo durante a Semana Santa. Este ano será celebrada no dia 05 de março*.

A Quarta-feira de Cinzas é uma celebração que está no Missal Romano, o qual explica que no final da Missa, abençoa-se e impõe-se as cinzas obtidas da queima dos ramos usados no Domingo de Ramos do ano anterior.

2. Como nasceu a tradição de impor as cinzas?

A tradição de impor as cinzas remonta à Igreja primitiva. Naquela época, as pessoas colocavam as cinzas sobre a cabeça e se apresentavam diante da comunidade com um “hábito penitencial” para receber o Sacramento da Reconciliação na Quinta-feira Santa.

A Quaresma adquiriu um sentido penitencial para todos os cristãos por volta do ano 400 d.C. e, a partir do século XI, a Igreja de Roma passou a impor as cinzas no início deste tempo.

3. Por que se impõe as cinzas?

A cinza é um símbolo. Sua função está descrita em um importante documento da Igreja, mais precisamente no artigo 125 do Diretório sobre a piedade popular e a liturgia:

“O começo dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Próprio dos antigos ritos nos quais os pecadores convertidos se submetiam à penitência canônica, o gesto de cobrir-se com cinza tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Este não era um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal. Deve-se ajudar os fiéis, que vão receber as Cinzas, para que aprendam o significado interior que este gesto tem, que abre a cada pessoa a conversão e ao esforço da renovação pascal”.

4. O que as cinzas simbolizam e o que recordam?

A palavra cinza, que provém do latim “cinis”, representa o produto da combustão de algo pelo fogo. Esta adotou desde muito cedo um sentido simbólico de morte, expiração, mas também de humildade e penitência.

A cinza, como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn 2,7); “até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19).

5. Onde podemos conseguir as cinzas?

Para a cerimônia devem ser queimados os restos dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estes recebem água benta e logo são aromatizados com incenso.

6. Como se impõe as cinzas?

Este ato acontece durante a Missa, depois da homilia, e está permitido que os leigos ajudem o sacerdote. As cinzas são impostas na fronte, em forma de cruz, enquanto o ministro pronuncia as palavras Bíblicas: “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”.

Depois de receber as cinzas, o fiel deverá retirar-se em silêncio, meditando na frase proferida.

7. O que devem fazer quando não há sacerdote?

Quando não há sacerdote, a imposição das cinzas pode ser realizada sem Missa, de forma extraordinária. Entretanto, é recomendável que antes do ato participem da liturgia da palavra.

É importante recordar que a bênção das cinzas, como todo sacramental, somente pode ser feita por um sacerdote ou um diácono.

8. Quem pode receber as cinzas?

Qualquer pessoa pode receber este sacramental, inclusive os não católicos. Como explica o Catecismo (1670 ss.), “sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela”.

9. A imposição das cinzas é obrigatória?

A Quarta-feira de Cinzas não é dia de preceito e, portanto, não é obrigatória. Não obstante, nesse dia muitas pessoas costumam participar da Santa Missa, algo que sempre é recomendável.

10. Quanto tempo é necessário permanecer com a cinza na fronte?

Quanto tempo a pessoa quiser. Não existe um tempo determinado.

11. O jejum e a abstinência são necessários?

O jejum e a abstinência são obrigatórios durante a Quarta-feira de Cinzas, como também na Sexta-feira Santa, para as pessoas maiores de 18 e menores de 60 anos. Fora desses limites, é opcional. Nesse dia, os fiéis podem ter uma refeição “principal” uma vez durante o dia.

A abstinência de comer carne é obrigatória a partir dos 14 anos. Todas as sextas-feiras da Quaresma também são de abstinência obrigatória. Às sextas-feiras do ano também são dias de abstinência. O gesto, dependendo da determinação da Conferência Episcopal de cada país, pode ser substituído por outro tipo de mortificação ou oferecimento como a oração do terço.

Publicado em Agência Católica de Informação – ACI Digital.

*Na matéria publicada pela ACI Digital (cfe. o registro acima – 02.03.2025), erroneamente, está escrito 14 de fevereiro. Friso que o correto é 05.03.2025.

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Imagem ilustrativa

O significado e a origem das cinzas de Quaresma

O que fazer depois de receber as cinzas no início da Quaresma

Cinco pontos básicos para entender a Quaresma e como ela é vivida

1 de mar de 2025 às 13:00

A Quaresma é um período litúrgico de oração e penitência para se preparar para o Tríduo Pascal, que celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo.

São Leão Magno afirma que os dias da Quaresma “nos convidam de forma veemente ao exercício da caridade; se quisermos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos ter um interesse muito especial na aquisição dessa virtude, que contém em si todas as outras e cobre uma infinidade de pecados”.

1. As três práticas da Quaresma

A primeira prática da Quaresma é a oração, condição indispensável para o encontro com Deus. Por meio dela, o cristão se comunica com o Senhor, permite que a graça entre em seu coração e, como a Virgem Maria, se abre à ação do Espírito Santo, dando uma resposta livre e generosa (Lc 1,38).

A segunda é a mortificação, que inclui o jejum e a abstinência. Ela deve ser vivida diariamente. Significa oferecer a Cristo os momentos que causam desconforto e aceitar a adversidade com humildade e alegria.

A terceira é a esmola ou, de forma mais ampla, a caridade. São João Paulo II explica que ela está enraizada “nas profundezas do coração humano: cada pessoa sente o desejo de estar em contato com os outros, e ele se realiza plenamente quando é dado livremente aos outros”.

2. Jejum e abstinência

O jejum consiste em comer apenas uma refeição completa ao dia, e a abstinência se refere a não comer carne. Ambos os sacrifícios reconhecem a necessidade de realizar trabalhos para o bem da igreja e dos irmãos e em reparação dos pecados.

Nesta prática, as necessidades terrenas também são deixadas de lado a fim de redescobrir a sede de Deus. “Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).

O jejum é obrigatório dos 18 aos 59 anos de idade, e não proíbe a ingestão de um pouco de alimento pela manhã e à noite.

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Além da Quarta-feira de Cinzas e da Sexta-feira Santa, a abstinência deve ser observada todas as sextas-feiras do ano e é obrigatória a partir dos 14 anos de idade.

3. Início e fim da Quaresma

A Quarta-feira de Cinzas indica o início dos 40 dias de preparação para a Páscoa. Nesse dia, o padre abençoa e impõe as cinzas extraídas das palmas abençoadas no Domingo de Ramos do ano anterior.

 As cinzas são um sinal de humildade e lembram o cristão de sua origem e seu fim. Elas são impostas na testa com o sinal da cruz e pronunciando as palavras bíblicas: “Lembre-se de que você é pó e ao pó voltará” ou “Arrependa-se e creia no Evangelho”.

A Quaresma termina na noite da Quinta-feira Santa. Nesse dia, a igreja comemora a Última Ceia de que o Senhor participou com seus apóstolos antes de ser crucificado na Sexta-feira Santa.

4. Duração da Quaresma

A Quaresma dura 40 dias. Esse é um número especial na Bíblia, pois o número quatro simboliza o universo material e, seguido de zeros, faz alusão ao tempo de vida na Terra, com suas provações e dificuldades.

Além disso, os 40 dias lembram os dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública.

5. A cor litúrgica da Quaresma

A cor litúrgica dessa época é o roxo, que significa luto e penitência. É um período de reflexão, conversão espiritual e preparação para o mistério pascal.

Publicado em Agência Católica de Informação – ACI Digital.

A Agência Católica de Informação – ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Leia também: ACI Digital – Cinco passagens da Bíblia para viver bem a Quaresma

Festa da Apresentação do Senhor – Homilia do Mons. José Maria Pereira

(…)

A Festa da Apresentação de Jesus no Templo, quarenta dias depois do seu nascimento,apresenta diante de nossos olhos um momento particular da vida da Sagrada Família: segundo a Lei mosaica, o Menino Jesus é levado por Maria e José ao Templo de Jerusalém para ser oferecido ao Senhor (cf. Lc 2, 22- 24). Simeão e Ana, inspirados por Deus, reconhecem naquele Menino o Messias tão esperado e profetizam sobre Ele. Estamos na presença de um mistério, ao mesmo tempo simples e solene, no qual a Santa Igreja celebra Cristo, o Consagrado do Pai, primogênito da nova humanidade. É um dos casos em que o tempo litúrgico reflete o histórico, porque, hoje, completam-se, precisamente, quarenta dias desde a Solenidade do Natal do Senhor. O tema de Cristo Luz, que caracterizou o ciclo das festas natalinas e culminou na Solenidade da Epifania, é retomado e prolongado na festa de hoje. No encontro, entre o velho Simeão e Maria, jovem mãe, Antigo e Novo Testamento unem-se, de maneira admirável, em ação de graças pelo dom da Luz, que resplandeceu nas trevas, impedindo-as de prevalecer: Cristo Senhor, Luz para iluminar os povos e glória do seu povo de Israel (Lc 2, 32). No Oriente, esta Festa é chamada de Festa do Encontro: com efeito, Simeão e Ana, que encontram Jesus no Templo e reconhecem n’Ele o Messias, tão esperado, representam a humanidade que encontra o seu Senhor na Igreja. Trata-se de um belo encontro de Deus, que vem nos salvar, com a criatura humana, necessitada de salvação, pois se encontrava sujeita à escravidão, por medo da morte (Hb 2, 15). Contemplamos este mistério, na oração do Rosário, nos mistérios Gozosos. É, portanto, um mistério de alegria: chegou-nos a Salvação, chegou-nos o Salvador!

O encontro de Jesus, com Simeão e Ana, no templo de Jerusalém, aparece como o símbolo de uma realidade muito maior e universal: a humanidade encontra seu Deus na Igreja. Ouvimos do Profeta Malaquias (Ml 3, 1- 4) que prenunciava esse encontro: “ Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu Templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que desejais.” No Templo, Simeão reconheceu, como Messias esperado, a Jesus e o proclamou Salvador e luz do mundo. Compreendeu que, doravante, o destino de cada homem se decidia de acordo com a atitude assumida em relação a ele; Jesus será causa ou de ruína ou de ressurreição. Lendo as coisas mais em profundidade, compreendemos que, naquele momento, é o próprio Deus quem apresenta o seu Filho Unigênito aos homens, mediante as palavras do velho Simeão e da profetiza Ana. De fato, Simeão proclama Jesus como “salvação” da humanidade, como “luz” de todos os povos e “sinal de contradição”, porque revelará os pensamentos dos corações (Lc 2, 29 – 35). Nossa Senhora preparou o seu coração, como, somente Ela, e podia fazê-lo, para apresentar o seu Filho a Deus Pai e oferecer-se, Ela mesma, com Ele. Ao fazê-lo, renovava o seu faça-se (SIM) e punha, uma vez mais, a sua vida nas mãos de Deus. Jesus foi apresentado ao Pai pelas mãos de Maria. Nunca se fez, nem se tornaria a fazer, uma oblação semelhante, naquele Templo.

A primeira pessoa que se une a Cristo, no caminho da obediência, da fé provada e do sofrimento partilhado, é a sua mãe, Maria. O texto evangélico mostra-nos Maria no gesto de oferecer o Filho: uma oferenda incondicional que a envolve em primeira pessoa: Maria é a Mãe d’Aquele que é “glória do seu povo, Israel” e “luz que ilumina as nações” (cf. Lc 2, 32.34). E ela mesma, na sua alma imaculada, deverá ser trespassada pela espada do sofrimento, mostrando, assim, que o seu papel, na história da salvação, não termina no Mistério da Encarnação, mas completa-se na amorosa e dolorosa participação na Morte e na Ressurreição do seu Filho. Levando o Filho a Jerusalém, a Virgem Mãe oferece-o a Deus como verdadeiro Cordeiro, que tira os pecados do mundo: apresenta-o a Simeão e a Ana, como anúncio de redenção; apresenta-o a todos como luz para um caminho seguro pela via da verdade e do amor.

As palavras, que neste encontro, vêm aos lábios do idoso Simeão – “Os meus olhos viram a tuasalvação” (Lc 2,30) – encontraram eco no coração da profetiza Ana. Estas pessoas justas e piedosas, envolvidas pela luz de Cristo, podem contemplar, no Menino Jesus, “a consolação deIsrael” (Lc 2, 25). A sua expectativa transforma-se, assim, em luz que ilumina a História. Simeão é portador de uma antiga esperança, e o Espírito do Senhor fala ao seu coração: por isso pode contemplar aquele que muitos profetas e reis tinham desejado ver, Cristo, luz que ilumina as nações. Reconhece, naquele Menino, o Salvador, mas intui, no espírito, que, em seu redor, jogar-se-á o destino da humanidade, e que deverá sofrer muito por parte de quantos o rejeitarão; proclama a sua identidade e a missão de Messias com as palavras que formam um dos hinos da Igreja nascente, do qual irradia toda a exultação comunitária e escatológica da expectativa salvífica realizada. Ana é “profetiza”, mulher sábia e piedosa que interpreta o sentido profundo dos acontecimentos históricos e da mensagem de Deus, neles escondido. Por isso, pode “louvar a Deus” e falar “do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (Lc 2, 38).

A festa de hoje convida-nos a entregar ao Senhor, uma vez mais, a nossa vida, os pensamentos, as obras…, todo o nosso ser. E podemos fazê-lo de muitas maneiras. A liturgia, desta festa, quer manifestar, com efeito, que a vida do cristão é como uma oferenda ao Senhor, traduzida na procissão dos círios acesos que se consomem pouco a pouco, enquanto iluminam o ambiente. Cristo é profetizado como a Luz que tira da escuridão o mundo sumido em trevas. Com este sinal visível, pretende-se significar que a Igreja encontra, na fé, Aquele que é “a luz dos homens” e acolhe-o com todo o arrebatamento da sua fé para levar esta “luz” ao mundo.

Seus pais maravilharam-se do que se dizia d’Ele. Maria, que guardava, no seu coração, a mensagem do Anjo e dos pastores, escuta, novamente, admirada, a profecia de Simeão sobrea missão universal do seu Filho: a criança, que sustenta nos seus braços, é a Luz enviada por Deus Pai, para iluminar todas as nações: é a glória do seu povo. É um mistério ligado à oferenda, feita no Templo, e que nos recorda que a nossa participação, na missão de Cristo, que nos foi conferida no Batismo, está estritamente ligada à nossa entrega pessoal. A festa da Apresentação do Senhor é um convite a darmo-nos, sem medida, a “arder diante de Deus, como essa luz que se coloca no castiçal para iluminar os homens que andam em trevas; como essas lamparinas que se queimam junto do altar e se consomem alumiando até se gastarem”. (São Josemaría Escrivá, Forja, 44). Meu Deus, dizemos, hoje, ao Senhor, a minha vida é para Ti; não a quero se não for para gastá-la junto de Ti. Para que outracoisa haveria de querê-la?

São Bernardo recorda-nos que “está proibido apresentar-se ao senhor de mãos vazias.” Simeão abençoou os pais do Menino e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (Lc 2, 34-35). Jesus traz a salvação a todos os homens; no entanto, para alguns, será sinal de contradição, porque se obstinam em rejeitá-Lo.

O Evangelista São Lucas narra, também, que Simeão, depois de se referir ao Menino, dirigiu-se, inesperadamente, à Maria, vinculando, de certo modo, a profecia relativa ao Filho com outra que se relacionava com a mãe: “ uma espada atravessará a tua alma”. Com essas palavras do ancião, o nosso olhar desloca-se do Filho para a Mãe, de Jesus para Maria. É admirável o mistério deste vínculo pelo qual Ela se uniu a Cristo, àquele Cristo que é sinal de contradição. Essas palavras, dirigidas à Virgem, anunciavam que ela estaria intimamente unida à obra redentora do seu Filho. A espada, a que Simeão se refere, expressa a participação de Maria nos sofrimentos do Filho; é uma dor indescritível, que atravessa a sua alma. O Senhor sofreu, na Cruz, pelos nossos pecados; e esses mesmos pecados, de cada um de nós, forjaram a espada de dor da nossa Mãe.

Podemos servir-nos das palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, invocando Maria, como intercessora: “Minha Rainha, seguindo o vosso exemplo, também eu, queria oferecer, hoje, a Deus, o meu pobre coração…Oferecei-me, como coisa vossa, ao Pai Eterno, em união com Jesus, e pedi-lhe que, pelos méritos do seu Filho, e em vossa graça, me aceite e me tome por seu”.

Por meio de Maria, o Senhor acolherá uma vez mais a entrega que lhe fizermos de tudo o que somos e temos.

Publicado em Presbíteros.org.br.

Leia mais:

Viver Evangelizando: Apresentação do Senhor, festa das Luzes (imagem acima).

Solenidade da Epifania do Senhor – 5 de Janeiro de 2025

Celebramos a festa Litúrgica da Epifania do Senhor que significa manifestação. Deus fez-Se Homem, nasceu em Belém e manifestou-Se a todos os povos do mundo representados por um grupo de homens importantes que vieram de várias terras, guiados por uma estrela, até Belém, para O visitar e prestar-Lhe homenagem.

  1. A Luz de Deus brilha para nós

Deus incarnou para salvar todas as pessoas. De cem, interessam-Lhe cem, porque ama infinitamente a cada uma delas. Fez de cada um de nós filhos Seus e ama-nos infinitamente.

Por isso, a festa da Epifania é especialmente para nós, que fomos chamados a fazer parte da Igreja, vindos, não do mundo judaico, mas dos gentios. Estamos representados nestes homens corajosos que vieram das suas terras até Belém.

  • Cristo, sinal e razão da nossa alegria. Às vezes, quando falamos da situação do mundo e do seu afastamento de Deus, dos males que vemos, falamos em tais termos como se Deus tivesse sido definitivamente derrotado e posto fora do mundo; ou então, como se Ele tivesse desistido de nos salvar e nos tivesse abandonado nas mãos do Inimigo. É uma atitude contrária à fé, porque o nosso Deus não perde batalhas nem nos abandonará nunca nesta vida, sejam quais forem os nossos pecados.

O nascimento de Jesus inaugurou um tempo de alegria e otimismo que nunca mais terá fim. O profeta Isaías anima-nos a encarar com otimismo e alegria a nossa vida na terra. «Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor

  • A noite cobre o mundo à espera de Deus. De facto, a sensação que temos, quando olhamos o mundo. é de que uma grande escuridão o cobre. São muitos os que se desorientam caminho e na escolha dos verdadeiros bens.

Vale a pena guardar para ti bens que não te pertencem, se saciar a ambição com as coisas que nada valem é como tentar matar a sede com água salgada?

Vale a pena odiar, difamar e matar, se ao fim o ódio e o mal estar é ainda maior?

  • Somos estrelas na noite do mundo. O profeta imagina uma grande escuridão a cobrir o mundo e as multidões caminhando ao encontro da luz que brilha na cidade santa de Jerusalém, situada num alto.

«Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe, e as tuas filhas são trazidas nos braços.»

A luz de Cristo, da Verdade, da Alegria, do Amor, brilha na face da Igreja (Lumen Gentium). E como nós somos o rosto da Igreja no mundo, a luz de Cristo deve brilhar também no nosso rosto, nas nossas palavras e obras.

  • Acorrem os tesouros de Deus. Os homens procuram dinheiro e outros bens materiais com que possam assegurar estabilidade à sua vida.

Deus não precisa de dinheiro, porque foi Ele Quem criou todas as riquezas do mundo e pode criar ainda mais. Para Ele, a verdadeira fortuna são as pessoas a viverem na Sua amizade, e caminhando para uma eternidade feliz.

É à luz desta verdade que havemos de ler o texto sagrada do hoje: «a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá

  • Privilegiados de Deus. Não sabemos o que é passar séculos a suspirar pela vinda do Redentor e não ter humanamente a quem pedir ajuda.

A desorientação era de tal ordem, que a virtude se condenava e louvava-se o vício. Chegaram a adorar como deuses o deus dos ladrões, a deusa da sensualidade e outros.

Nós nascemos no tempo de Jesus que nos ilumina, anima e alimenta. Pede-nos apenas que aceitemos os Seus dons.

Vive connosco esta aventura de amor na terra e espera apenas que Lhe peçamos ajuda. Não precisamos de O ir procurar a terras distantes, como fazemos para os bens da terra, quando saímos do país à procura de melhores condições de vida.

  1. Com os Magos, vamos a Belém

Um corajoso grupo de homens, procedendo de terras distantes entre si, encaminhou-se para Belém, guiados por uma estrela. Foi a estrela que deu norte às suas vidas e acabou por juntá-los no mesmo ideal, quando estavam já próximos do berço do Salvador, mas sem o saberem.

  • Renunciar ao sofá e calçar as sapatilhas. Estes homens viviam bem, humanamente falando. Tinham bens e gastavam o seu tempo no estudo dos astros. Foi precisamente no seu trabalho de cada dia que o Senhor os desafiou.

Deus chama-nos, porque tem uma missão para cada um de nós. Se a não realizarmos, ficará por fazer.

Precisamos de andar perto de Deus, pela oração e sacramentos, para descobrirmos o que Ele quer de nós.

Além disso, precisamos de disponibilidade para fazer o que Deus quer de nós, espírito de sacrifício. Muitos e muitas dão cabo da sua fé, porque se deixam colar ao sofá. O Santo Padre desafia-nos a deixá-lo, e a caminhar ao encontro dos outros, com a sapatilhas calçadas.

  • Manifestamo-l’O pela nossa vida. Foi uma estrela que conduziu estes homens corajosos até junto do berço de Jesus. Cada um de nós tem de ser, de algum modo, esta estrela que guia as outras pessoas até junto de Jesus, para que O conheçam, amem e sigam.

Quando temos as mesmas dificuldades que todos os outros, ou possivelmente até maiores, porque não temos privilégios e, a pesar disso, somos capazes de sorrir e de ter esperança, levamos as pessoas à descoberta de Cristo que é o segredo da nossa esperança e alegria.

Quando, depois de ofendidos e prejudicados, somos capazes, a pesar disso, de perdoar e amar quem nos ofendeu ou prejudicou, somos a estrela que ilumina e guia.

Quando, a pesar de termos tanto ou mais trabalho do que os outros e encontramos tempo para rezar e frequentar os sacramentos, iluminamos o caminho dos que andam desorientados.

  • Modos de ser estrela. Em primeiro lugar, somo-lo pela vida que levamos, porque não rastejamos pela lama dos caminhos, mas brilhamos nas alturas da graça.

Fazemo-lo pela nossa perseverança na prática da vida cristã, e não apenas durante alguns momentos na vida. A estrela brilha continuamente.

Quando damos um bom conselho que orienta quem tinha perdido o sentido da vida, também desempenhamos este papel.

  • Recomeçar o caminho. Depois de realizados alguns esforços, alguns deixam-se cair com desânimo, logo que encontram as primeiras dificuldades. Talvez isto tenha acontecido connosco.

A Liturgia da Palavra deste Domingo anima-nos a recomeçar o nosso caminho até ao Céu.

Se o Senhor nos traz à memória o dia da primeira comunhão, a profissão de fé ou qualquer outro momento em que nos parecia que estávamos mais perto de Deus – vimos uma estrela – e agora nos parece que a vida não tem sentido, é porque Deus nos está a chamar.

  • Pedir ajuda. Os magos pediram ajuda a quem lhes foi possível fazê-lo e Deus serviu-se de um homem mau – Herodes – para voltar a colocá-los no caminho certo.

Nós não precisamos de recorrer a Herodes, porque Jesus Cristo fundou a Igreja e nela encontramos sempre ajuda para nos orientar. Peçamos ajuda aos pastores da Igreja ou a um amigo com bom critério, quando nos sentirmos desorientados no caminho do Céu.

  • Generosidade. Podemos, como os magos, oferecer o ouro do nosso trabalho, o incenso da nossa oração e a mirra dos sacrifícios que a vida nos pede para sermos fiéis ao Senhor.

Estas ofertas ao Menino aproximam-nos cada vez mais d’Ele, porque nos libertam das dificuldades que nos tolhem e fazem crescer a nossa amizade com Ele.

  • Encontrar Maria. Os Magos encontraram Maria e, com Ela, Jesus. Quando encontramos Maria no nosso caminho, pela visita a um Santuário Mariano, contemplação da sua imagem, reza do terço ou qualquer outra devoção, podemos ter a certeza de que junto d’Ela encontraremos Jesus e recobraremos a alegria e a coragem. Maria foi e será sempre o caminho mais fácil e seguro para Jesus.

Publicado em Paróquia São Luis – Faro – Diocese do Algarve – Portugal.

Santa Maria – Mãe de Deus: Solenidade – 1º de janeiro – o Dogma

A Virgem Maria é também chamada de Mãe de Deus. Mas como se dá a maternidade divina? Conheça a festa e o dogma de Maria Mãe de Deus.

Quarta-feira, dia 1º de janeiro do ano do Jubileu de 2025, a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e o dia mundial da paz. A Virgem Maria é também chamada de Mãe de Deus. Mas como se dá a maternidade divina? Conheça a festa e o dogma de Maria Mãe de Deus.

Nossa Senhora foi designada e preservada desde o ventre para assumir o papel sublime de ser a mãe de Jesus. O dogma da Imaculada Conceição, proclamado pela Igreja, ressalta essa escolha divina ao designar Maria como “a toda santa”. 1 Além desse dogma, a Igreja possui outros três referentes a Maria, incluindo o reconhecimento de sua Maternidade Divina.

Neste artigo, mergulharemos no significado do dogma da Maternidade Divina, abordando passagens bíblicas que destacam Maria como Mãe de Deus e seu o fundamento teológico. Além disso, veremos o papel da Virgem Maria também como mãe na nossa vida espiritual.

Conheça aqui os quatro dogmas marianos.

O que é o dogma da Mãe de Deus ou Maternidade Divina?

Todo fiel católico deve crer nos dogmas da Igreja, ou seja, nas verdades de fé. No Catecismo da Igreja Católica encontramos o que significa o dogma da Mãe de Deus e por que a Igreja crê nesse fato.A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida. Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou, com toda a verdade, Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: «Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne». 2

Desse modo, sendo Mãe de Jesus, que é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, Maria é também Mãe de Deus. Isto é o que afirma o dogma da Maternidade Divina.

O que é a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus?

A Solenidade de Maria, Mãe de Deus, é uma festa litúrgica que celebra o dogma da Maternidade Divina de Nossa Senhora. Durante esta solenidade, os fiéis recordam com alegria e reverência que a Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus. Pois concebeu e deu à luz o Filho de Deus, uma pessoa divina, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.

Esta solenidade destaca-se como um momento propício para mergulhar na relação íntima de Maria com a obra redentora do Pai, reconhecendo-a como a Mãe do Salvador e de todos nós. E Maria é parte integrante da realidade salvadora. Além disso, a solenidade é um dia santo de guarda, é preceito na fé católica, exigindo a participação dos fiéis na celebração da Santa Missa neste dia — ou na noite do dia anterior.

celebração da solenidade de Maria Mãe de Deus no vaticano.
Solenidade de Maria, Mãe de Deus na Basílica de São Pedro. Foto/divulgação: Vatican News.

Quando é celebrada Santa Maria, Mãe de Deus?

A Maternidade Divina de Maria, celebrada desde o século VII, teve sua festa litúrgica estabelecida pelo Papa Pio XI em 1931. Desde então, a Igreja celebra a Solenidade de Maria Mãe de Deus no dia primeiro de janeiro — que é ao mesmo tempo o dia da Oitava do Natal.Nós veneramos esta maternidade no primeiro dia do novo ano. É nosso desejo, de fato, que, nesta nova etapa do tempo humano, Maria continue a abrir a Cristo a via para a humanidade, do mesmo modo que lha abriu na noite do nascimento de Deus. 3

Saiba o que é a Oitava de Natal.

A Mãe de Deus na Bíblia

A Sagrada Escritura nos oferece diversas passagens que ressaltam o papel único de Maria como Mãe de Deus. No Evangelho de Lucas, durante a Visitação, Isabel, cheia do Espírito Santo, saúda Maria, reconhecendo-a como “a mãe do meu Senhor”. Essa saudação destaca não apenas a maternidade de Maria sobre Jesus, mas sua condição como Mãe do próprio Senhor.Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. 4

imagem da visitação, quando Isabel reconhece Maria como mãe de Deus.

O Catecismo da Igreja Católica também reforça este ponto no seu número 495:Chamada nos evangelhos «a Mãe de Jesus» 5, Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito Santo e desde antes do nascimento do seu Filho, como «a Mãe do meu Senhor» 6. Com efeito, Aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e que Se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é, verdadeiramente, Mãe de Deus («Theotokos»)

Em outra passagem presente no Evangelho de Mateus, a citação da profecia de Isaías 7 destaca que o nascimento de Jesus, por meio de Maria, é o cumprimento divino da promessa de Deus de estar conosco, encarnado na pessoa de Jesus:Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa “Deus está conosco”. 8

Não deve haver dúvidas, portanto, em relação à Maternidade Divina de Nossa Senhora. Se ela é Mãe de Jesus e[…] para nós, contudo, existe um só Deus, o Pai, de quem tudo procede e para o qual caminhamos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e para quem caminhamos. 9

Fundamento teológico do dogma da maternidade divina

O fundamento teológico do dogma da Maternidade Divina remonta ao Concílio de Éfeso em 431, quando a Igreja oficialmente proclamou essa verdade de fé. O contexto envolveu a refutação das ideias equivocadas de Nestório, que separava as naturezas humana e divina de Cristo, negando assim o título de “Mãe de Deus” a Maria.

Nesse contexto, São Cirilo de Jerusalém emergiu como um defensor notável, contestando e condenando as ideias de Nestório. Suas argumentações, notavelmente expressas em cartas, foram incorporadas na proclamação dogmática. Contudo, vale lembrar que quando a Igreja proclama um dogma, ela não está introduzindo algo novo, mas reconhecendo uma realidade já existente, garantindo que não haja mais mal-entendidos.

A tradição dessa maternidade divina encontra-se em orações antigas e escritos dos Padres da Igreja, como Orígenes no século terceiro. Os Santos Padres já reconheciam que Maria não era apenas o lugar de nascimento de Jesus, mas a verdadeira fonte da encarnação divina. Santo Tomás de Aquino e o Beato Duns Scotus, doutor mariano, por exemplo, ressaltam a dignidade única de Maria como Mãe de Deus.

Além disso, mesmo reformadores protestantes como Lutero e Calvino reconheceram a maternidade divina. O fundamento teológico permeia, portanto, as Escrituras, a Tradição da Igreja e o pensamento de diversos teólogos ao longo dos séculos.

A solenidade da Mãe de Deus e a nossa vida espiritual

Esta solenidade também é um convite profundo para explorarmos a íntima relação entre Maria e a nossa vida espiritual. Quando Jesus, na cruz, diz Eis aí a tua mãe 10, Ele não apenas confiou Maria a João, mas simbolicamente a todos nós, tornando-a Mãe da Igreja, composta pela cabeça, que é Cristo, e pelo corpo, que somos nós, seus membros.

São Paulo, ao chamar a Igreja de Corpo Místico de Cristo, destaca a união vital entre Cristo e os fiéis. São Luís Maria Grignion de Montfort, formulando essa questão, destaca a necessidade natural de uma mãe dar à luz tanto a cabeça quanto o corpo. Assim, Maria, como Mãe de Deus, é também nossa mãe, uma mãe que não só deu à luz a Cristo, nosso irmão, mas que, por extensão, acolhe-nos como filhos espirituais.

menina rezando diante da imagem de Maria, mãe de Deus e nossa mãe.

Maria é, portanto, nosso modelo de vida com Deus. Sua humildade, obediência e amor são um guia para nos aproximarmos de Cristo e nos assemelharmos a Ele — o que buscamos quando pensamos na santidade. Além disso, como mãe, ela intercede por nós diante do Pai, conhecendo o papel vital da mãe na vida dos filhos. Deus, ao nos dar Maria como mãe, reconhece nossa necessidade espiritual de orientação e cuidado materno.

Por isso, recorramos à Nossa Senhora, nossa mãe. Ela deseja ser uma presença viva na nossa vida espiritual e derramar muitas graças. Mas para isso precisamos invocá-la, pedir que ela esteja presente nos diversos momentos de nossa vida. Um meio devoto e eficaz de recorrer à Nossa Senhora é repetir várias vezes ao dia: Ave Maria!A esta invocação – Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores –, a Mãe de Deus sempre responde! Escuta os nossos pedidos, abençoa-nos com o seu Filho nos braços, traz-nos a ternura de Deus feito carne; numa palavra, dá-nos esperança. 11

Conheça os mistérios do terço e saiba como rezá-lo.

Referências

  1. CIC, 493[]
  2. CIC, 466[]
  3. Papa João Paulo II, Santa Missa para o XVII Dia Mundial da Paz Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, 1º de janeiro de 1984[]
  4. Lc 1,43-44[]
  5. Jo 2, 1; 19, 25[]
  6. Lc 1, 43[]
  7. 7, 14[]
  8. Mt 1, 22-23[]
  9. I Cor 8, 6[]
  10. João 19,26-27[]
  11. Papa Francisco, Santa Missa na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus LVI Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2023[]

Publicado em Minha Biblioteca Católica.

A expectação do parto da Virgem Maria (por Santo Afonso de Ligório)

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado!

À espera de Jesus!

Nestes dias que antecedem o Natal, Maria Santíssima vive a doce espera pelo Nascimento de Jesus! 

Unamos o nosso Coração ao Imaculado Coração da Santíssima Virgem. Esperemos, cheios de esperança por aquele que nos purifica de nossos pecados.

Meditemos nesta espera pelo Menino Jesus através destas ricas palavras de Santo Afonso de Ligório.

EXPECTAÇÃO DO PARTO DA VIRGEM MARIA

(Santo Afonso de Ligório)

Exspectabimus eum et savabit nos – Esperaremos por ele, e ele nos salvará (Is 25, 9)

Sumário. Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido seu divino Filho, que em comparação com ele os suspiros mais ardentes dos Patriarcas e dos Profetas pareciam frios. Todavia Jesus não quis antecipar seu nascimento; quis ser semelhante aos outros e ficar oculto no seio materno em recolhimento e em preparação de sua entrada no mundo. Oh! Que bela lição para nós, se a soubermos aproveitar.

I. Muito embora a divina Mãe reconhecesse perfeitamente a grande honra que lhe advinha por trazer um Deus no seu seio, e os grandes tesouros de graças que ia merecendo, dando abrigo a seu Senhor, todavia foram tão grandes e tão veementes os seus desejos de ver o Salvador nascido, que em comparação deles pareciam frios os ardentes desejos dos Patriarcas e dos Profetas, que durante quatro mil anos fizeram violência ao céu dizendo: Mitte quem missurus es (1) – Envia aquele que deves enviar. Esses desejos nasciam na Santíssima Virgem de um amor duplo. Em primeiro lugar amava com terníssimo afeto o seu divino Filho, e por isso desejava dar à luz para vê-lo, abraçá-lo e provar-lhe seu amor prestando-lhe toda sorte de serviços. Demais, o coração da Virgem estava possuído de amor ardente para com o próximo. Por esta razão, apesar de prever o modo inumano de que os homens haviam de acolher e tratar Jesus Cristo, anelava pelo momento de manifestar ao mundo o seu Salvador, e de enriquecer o universo com aquele Bem supremo e com as graças infinitas que ele queria comunicar a nossas almas.

Ó divina Mãe, graças vos sejam dadas por terdes desejado tanto dar-nos o vosso Jesus! Por piedade dai-m’o também a mim; fazei que, assim como nasceu corporalmente de vossas puríssimas entranhas, assim renasça espiritualmente pela graça em meu coração. Fazei que a minha alma abrasada no amor divino, procure comunicá-lo também ao próximo.

II. Mais ardente do que o desejo de Maria foi o de Jesus. Achando-se ainda no seio de Maria ansiava pela hora de seu nascimento, afim de realizar a obra da Redenção do gênero humano e cumprir a sua missão conforme à vontade de seu Pai celestial. Parece, por assim dizer, que desde então exclamou o que depois de crescido, falando de sua Paixão, disse aos discípulos: Ah! Como sofro, enquanto não vir realizado na cruz o batismo de sangue com que devo ser batizado. – Mas, apesar disso, não quis nascer antes do tempo, para assemelhar-se a todos os outros mortais.

Conservou-se ali escondido, como que em recolhimento e preparação para a sua futura entrada no mundo, empregando todos aqueles momentos preciosos em oração e contemplação. – Desta sorte quis ensinar-nos, que nos preparemos bem para o recebermos, que nos recolhamos frequentes vezes em nós mesmos em silêncio e recolhimento, longe dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens, e entregarmo-nos aos trabalhos do ministério. Aproveitemo-nos de tão belas lições que o divino Salvador nos dá desde de o vermos em breve nascido, aos dos Patriarcas, de São José, da Santíssima Virgem e da Igreja Católica.

O Adonai… veni ad redimendum nos in brachio extento (2) – Ó Adonai, Deus, vinde para nos remir pelo poder de vosso braço. Ó Deus, protetor fortíssimo e guia fiel de vosso povo, vinde remir o gênero humano com o vosso supremo poder! Vinde livrai-nos de tantas misérias nossas e subjugar com o vosso braço todo-poderoso os poderes das trevas, que demasiado reinaram sobre nós, e arruinaram as almas. “E Vós, ó Pai Eterno, que quisestes mediante a embaixada do Anjo, que o vosso Verbo tomasse carne no seio da Bem-aventurada Virgem Maria, dai que, venerando-a como verdadeira Mãe de Deus, possamos, pela sua intercessão, obter o vosso auxílio. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo (3).

Referências:
(1) Ex 4, 13
(2) Antif. mai. fer.
(3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 61-63)

Muitas mulheres grávidas têm como devoção Nossa Senhora da Expectação, pedindo que Maria interceda por elas em um bom parto. Que Maria, nosso auxílio seguro, rogue a Deus por todas as mulheres que, como ela, também estão esperando a chegada de seu filho; recebendo, desde já, cada bebê como também propriedade sua.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO BOM PARTO:

“Ó Maria Santíssima, vós, por um privilégio especial de Deus, fostes isenta da mancha do pecado original e, devido a este privilégio, não sofrestes os incômodos da maternidade, nem ao tempo da gravidez e nem no parto; mas compreendeis perfeitamente as angústias e aflições das pobres mães que esperam um filho, especialmente nas incertezas do sucesso ou insucesso do parto. Olhai para mim, vossa serva, que, na aproximação do parto, sofro angústias e incertezas. Dai-me a graça de ter um parto feliz. Fazei que meu bebê nasça com saúde, forte e perfeito. Eu vos prometo orientar meu filho sempre pelo caminho certo, o caminho que o vosso Filho, Jesus, traçou para todos os homens, o caminho do bem. Virgem, Mãe do Menino Jesus, agora me sinto mais calma e mais tranquila porque já sinto a vossa maternal proteção. Nossa Senhora do Bom Parto, rogai por mim!”

Publicado em VOCAÇÃO DE JESUS (“Por Cristo, com Cristo, em Cristo”.

Homilia Dominical | De onde vem a verdadeira alegria? (3º Domingo do Advento)

A verdadeira alegria consiste na paz de encontrar a realidade que se ama. Portanto, a alegria cristã resulta da certeza de amar a Deus e de ser amado por Ele, realidade que é experimentada por quem vive na graça de Deus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Lc 3, 10-18)

Naquele tempo, as multidões perguntavam a João: “Que devemos fazer?” João respondia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: “Mestre, que devemos fazer?” João respondeu: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?” João respondia: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!” O povo estava na expectativa e todos se perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga”. E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa-Nova.

Neste 3º Domingo do Advento, também chamado de Domingo Gaudete, a Igreja nos convida a meditar sobre o que é a verdadeira alegria e de que modo ela se realiza, não só na preparação para o Natal do Senhor, mas também em toda a nossa vida.

A verdadeira alegria consiste na paz de encontrar a realidade que se ama. Por isso, a alegria realmente cristã resulta da certeza de amar a Deus e de ser amado por Ele, realidade que é experimentada plenamente por quem vive na graça de Deus.

Ouça a homilia do Padre Paulo Ricardo para este domingo e perceba o que nos leva a alcançar a verdadeira alegria.

Publicado em padrepauloricardo.org.

São João da Cruz – Memória – 14 de dezembro

Origens

Juan de Yepes era seu nome de batismo. Nasceu em 1542, em Fontivaros, pertencente à província de Ávila, na Espanha. Seu pai, Gonzalo de Yepes, descendia de uma família tradicional e rica de Toledo. Porém, por ter se casado com uma jovem de família humilde, perdeu os direitos da herança. Catarina Alvarez, sua esposa e mãe de São João da cruz, era vista como sendo de classe inferior. Gonzalo, pai de São João da Cruz, faleceu ainda jovem, quando João ainda era uma criança. Por isso, a viúva, desprezada pela família do marido e obrigada a trabalhar para sobreviver, mudou-se com os filhos para a cidade de Medina.

Trabalho e vocação

Em Medina, João, já jovem, começou a trabalhar. Ele tentou algumas profissões. A última foi a de ajudante no hospital da cidade. À noite, João estudava gramática no colégio dos jesuítas. Sob a influência dos padres da Companhia de Jesus, a espiritualidade do jovem João de Yepes desabrochou. Por isso, aos vinte e um anos, ele entrou na Ordem Carmelita, procurando uma vida de oração profunda.

Estudos e caridade

Após o noviciado, João de Yepes foi transferido para a Universidade de Salamanca, com o objetivo de terminar o estudo da filosofia e da teologia. Mesmo cursando a Universidade, que exigia dele toda a dedicação aos estudos, João encontrava tempo para a caridade e fazia questão de visitar os doentes nos hospitais ou nas residências, onde prestava seu precioso serviço de enfermeiro.

Santa Tereza de Ávila cruza seu caminho

João foi ordenado sacerdote quando tinha vinte e cinco anos. Nessa ocasião, mudou seu nome para João da Cruz, pois já tinha o desejo de se aproximar dos sofrimentos da cruz de Cristo. Por causa disso, achava a Ordem dos Carmelitas muito suave, sem austeridade. Pensou, inclusive, em entrar numa congregação mais austera. Foi nessa ocasião que Madre Tereza de Ávila atravessou seu caminho. Na época, ela tinha autorização fundar conventos reformados da Ordem Carmelita. Tinha também autorização de todos os superiores da Espanha para intervir nos conventos masculinos. O entusiasmo de Santa Tereza contagiou o Padre João da Cruz e ele começou a trabalhar na reforma da Ordem Carmelita, voltando às origens da mesma, procurando reviver em todos o carisma fundante da Ordem e ajustando a disciplina.

Formador A partir de então, a Ordem Carmelita encarregou o Pe. João da Cruz na missão formador dos noviços. Por isso, ele assumiu o posto de reitor de um convento dedicado à formação e aos estudos dos novos carmelitas. Assim, ele contagiou um grande número de carmelitas e, por conseguinte, reformou vários conventos.

Barreiras e perseguições

Como era de se esperar, padre João da Cruz começou a enfrentar dificuldades dentro da Ordem. Conventos inteiros e vários superiores se opuseram às reformas quando ele começou a aplica-las efetivamente. Por isso, ele passou por sofrimentos insuportáveis se não fossem vistos com os olhos da fé. Chegou, por exemplo, a ficar preso durante nove meses num convento que recusava terminantemente a reforma proposta por ele. Tudo isso sem contar as perseguições que começaram a aparecer de todos os cantos.

Paciência, fé e louvor

Testemunhas dizem, no entanto, que Pe. João da Cruz fez jus ao nome que escolheu abraçando a cruz, os sofrimentos e as perseguições com alegria e louvor a Deus. E esta foi a grande marca de sua vida, além de seus escritos preciosos. São João da Cruz abraçou o sofrimento com prazer, desejando ao máximo, sofrer como Cristo e unir seus sofrimentos aos do Mestre, em sacrifício pela própria conversão e também da Igreja.

Doutor da Igreja

O espírito de sacrifício, o fugir das glórias humanas, a busca da humildade, a oração profunda e o conhecimento da Palavra de Deus renderam a São João da Cruz vários escritos de grande profundidade teológica e sabedoria divina. Dentre eles, destacam-se os livros Cântico Espiritual, Subida do Carmelo e Noite Escura. Por isso, ele foi aclamado Doutor da Igreja, equiparado a Santa Tereza de Ávila, também Doutora. Deixou uma grande obra escrita, que é lida, estudada e seguida até hoje por religiosos e leigos.

Apenas três pedidos a Deus

Os biógrafos de São João da Cruz relatam que ele sempre fazia três pedidos a Deus. Conta-se que ele pedia, insistentemente, três coisas a Deus. Primeiro, que ele tivesse forças para sofrer e trabalhar muito. Segundo, que ele não saísse deste mundo estando no cargo de superior de nenhuma comunidade. E, terceiro, que ele tivesse a graça de morrer humilhado e desprezado por todos, como aconteceu com Jesus. Isto fazia parte de sua mística: igualar-se ao máximo a Jesus no momento de sua paixão.

Três pedidos atendidos

Pouco antes de falecer, São João da Cruz passou, de fato, por grandes sofrimentos, advindos de calúnias e incompreensões. Foi destituído de todos os cargos que ocupava na Ordem Carmelita e passou os últimos meses de sua vida no abandono e na solidão. Antes de falecer, sofreu de uma terrível doença, sempre louvando e agradecendo a Deus por tudo. Faleceu no Convento de Ubeda, Espanha, no dia 14 de dezembro de 1591, tendo somente quarenta e nove anos. A reforma da Ordem Carmelita Descalça proposta por ele, por fim, tornou-se realidade. Pouco tempo após sua morte, São João da Cruz passou a ser venerado e seguido pelos seus confrades. Em 1952 foi aclamado como o Padroeiro dos Poetas da Espanha.

Oração a São João da Cruz (extraída do Primeiro dia da Novena)

“Glorioso São João da Cruz, que desde vossa infância fostes terno amante de Maria Santíssima e da cruz de seu Santíssimo Filho, merecendo por este amor ser protetor singular das almas aflitas e desconsoladas: Vos suplico, Pai meu, interponhais vossos rogos para com Mãe e Filho a fim de que me concedam viva fé, firme esperança, fervente caridade e terníssimo amor à cruz de meu Senhor, em cujo exercício viva e more amparado sempre de sua graça, e também consiga, se me convém, o que peço nesta novena. Amém.”

São João da Cruz, rogai por nós!

Publicado em IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA – Largo do Machado – Catete – Rio de Janeiro – RJ

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