A expectação do parto da Virgem Maria (por Santo Afonso de Ligório)

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado!

À espera de Jesus!

Nestes dias que antecedem o Natal, Maria Santíssima vive a doce espera pelo Nascimento de Jesus! 

Unamos o nosso Coração ao Imaculado Coração da Santíssima Virgem. Esperemos, cheios de esperança por aquele que nos purifica de nossos pecados.

Meditemos nesta espera pelo Menino Jesus através destas ricas palavras de Santo Afonso de Ligório.

EXPECTAÇÃO DO PARTO DA VIRGEM MARIA

(Santo Afonso de Ligório)

Exspectabimus eum et savabit nos – Esperaremos por ele, e ele nos salvará (Is 25, 9)

Sumário. Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido seu divino Filho, que em comparação com ele os suspiros mais ardentes dos Patriarcas e dos Profetas pareciam frios. Todavia Jesus não quis antecipar seu nascimento; quis ser semelhante aos outros e ficar oculto no seio materno em recolhimento e em preparação de sua entrada no mundo. Oh! Que bela lição para nós, se a soubermos aproveitar.

I. Muito embora a divina Mãe reconhecesse perfeitamente a grande honra que lhe advinha por trazer um Deus no seu seio, e os grandes tesouros de graças que ia merecendo, dando abrigo a seu Senhor, todavia foram tão grandes e tão veementes os seus desejos de ver o Salvador nascido, que em comparação deles pareciam frios os ardentes desejos dos Patriarcas e dos Profetas, que durante quatro mil anos fizeram violência ao céu dizendo: Mitte quem missurus es (1) – Envia aquele que deves enviar. Esses desejos nasciam na Santíssima Virgem de um amor duplo. Em primeiro lugar amava com terníssimo afeto o seu divino Filho, e por isso desejava dar à luz para vê-lo, abraçá-lo e provar-lhe seu amor prestando-lhe toda sorte de serviços. Demais, o coração da Virgem estava possuído de amor ardente para com o próximo. Por esta razão, apesar de prever o modo inumano de que os homens haviam de acolher e tratar Jesus Cristo, anelava pelo momento de manifestar ao mundo o seu Salvador, e de enriquecer o universo com aquele Bem supremo e com as graças infinitas que ele queria comunicar a nossas almas.

Ó divina Mãe, graças vos sejam dadas por terdes desejado tanto dar-nos o vosso Jesus! Por piedade dai-m’o também a mim; fazei que, assim como nasceu corporalmente de vossas puríssimas entranhas, assim renasça espiritualmente pela graça em meu coração. Fazei que a minha alma abrasada no amor divino, procure comunicá-lo também ao próximo.

II. Mais ardente do que o desejo de Maria foi o de Jesus. Achando-se ainda no seio de Maria ansiava pela hora de seu nascimento, afim de realizar a obra da Redenção do gênero humano e cumprir a sua missão conforme à vontade de seu Pai celestial. Parece, por assim dizer, que desde então exclamou o que depois de crescido, falando de sua Paixão, disse aos discípulos: Ah! Como sofro, enquanto não vir realizado na cruz o batismo de sangue com que devo ser batizado. – Mas, apesar disso, não quis nascer antes do tempo, para assemelhar-se a todos os outros mortais.

Conservou-se ali escondido, como que em recolhimento e preparação para a sua futura entrada no mundo, empregando todos aqueles momentos preciosos em oração e contemplação. – Desta sorte quis ensinar-nos, que nos preparemos bem para o recebermos, que nos recolhamos frequentes vezes em nós mesmos em silêncio e recolhimento, longe dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens, e entregarmo-nos aos trabalhos do ministério. Aproveitemo-nos de tão belas lições que o divino Salvador nos dá desde de o vermos em breve nascido, aos dos Patriarcas, de São José, da Santíssima Virgem e da Igreja Católica.

O Adonai… veni ad redimendum nos in brachio extento (2) – Ó Adonai, Deus, vinde para nos remir pelo poder de vosso braço. Ó Deus, protetor fortíssimo e guia fiel de vosso povo, vinde remir o gênero humano com o vosso supremo poder! Vinde livrai-nos de tantas misérias nossas e subjugar com o vosso braço todo-poderoso os poderes das trevas, que demasiado reinaram sobre nós, e arruinaram as almas. “E Vós, ó Pai Eterno, que quisestes mediante a embaixada do Anjo, que o vosso Verbo tomasse carne no seio da Bem-aventurada Virgem Maria, dai que, venerando-a como verdadeira Mãe de Deus, possamos, pela sua intercessão, obter o vosso auxílio. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo (3).

Referências:
(1) Ex 4, 13
(2) Antif. mai. fer.
(3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 61-63)

Muitas mulheres grávidas têm como devoção Nossa Senhora da Expectação, pedindo que Maria interceda por elas em um bom parto. Que Maria, nosso auxílio seguro, rogue a Deus por todas as mulheres que, como ela, também estão esperando a chegada de seu filho; recebendo, desde já, cada bebê como também propriedade sua.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO BOM PARTO:

“Ó Maria Santíssima, vós, por um privilégio especial de Deus, fostes isenta da mancha do pecado original e, devido a este privilégio, não sofrestes os incômodos da maternidade, nem ao tempo da gravidez e nem no parto; mas compreendeis perfeitamente as angústias e aflições das pobres mães que esperam um filho, especialmente nas incertezas do sucesso ou insucesso do parto. Olhai para mim, vossa serva, que, na aproximação do parto, sofro angústias e incertezas. Dai-me a graça de ter um parto feliz. Fazei que meu bebê nasça com saúde, forte e perfeito. Eu vos prometo orientar meu filho sempre pelo caminho certo, o caminho que o vosso Filho, Jesus, traçou para todos os homens, o caminho do bem. Virgem, Mãe do Menino Jesus, agora me sinto mais calma e mais tranquila porque já sinto a vossa maternal proteção. Nossa Senhora do Bom Parto, rogai por mim!”

Publicado em VOCAÇÃO DE JESUS (“Por Cristo, com Cristo, em Cristo”.

Homilia Dominical | Como reagiremos à visita de Maria? (4º Domingo do Advento) – Padre Paulo Ricardo – 22.12.2024

Quem quiser celebrar bem a festa do Natal precisa, a exemplo de Santa Isabel, receber Nossa Senhora em sua casa, isto é, abraçar fervorosamente a devoção à Virgem Santíssima, pela qual nos aproximamos cada vez mais da graça de Cristo.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Lc 1, 39-45)

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”.

Neste 4º Domingo do Advento, a Igreja proclama o Evangelho da Visitação, que é narrado em São Lucas, capítulo 1, versículos de 39 a 45. Esse mistério, que meditamos no Santo Rosário, relata como Maria, após receber o anúncio do Anjo Gabriel e já grávida de Jesus, parte apressadamente para a região montanhosa da Judeia a fim de visitar sua parenta Isabel — grávida de São João Batista.

Mas o que, afinal, esse Evangelho ensina-nos para a vida espiritual? Antes de tudo, recordemos que a primeira parte do Advento convida-nos à penitência e à mudança de vida. Por isso, os Evangelhos destacam tantas vezes as exortações de São João Batista: “Convertei-vos”, um claro chamado à mudança de vida, ao Batismo, à penitência, ao abandono completo do pecado — essa é a nova vida em Cristo. Entretanto, a partir de 17 de dezembro, o Advento entra em uma segunda fase, voltada diretamente para o Natal e a presença de Cristo. Nesse período, a figura central deixa de ser João Batista e passa a ser a Virgem Maria. É como se, nesse tempo final — especialmente marcado por práticas como a novena de Natal —, a Igreja, junto com Maria, estivesse grávida, aguardando a chegada do Salvador.

Acompanhamos, neste período, a presença da Virgem Maria: Nossa Senhora da Expectação, que está grávida, aguardando o nascimento de Jesus. Mas, afinal, o que isso significa espiritualmente? O que Maria pode trazer para a nossa vida espiritual? O Evangelho oferece-nos luzes importantes sobre essa realidade. Ele narra que, ao ouvir a saudação de Maria, Isabel sentiu a criança saltar em seu ventre e  ficou cheia do Espírito Santo.

A saudação de Nossa Senhora traz duas consequências marcantes. Primeiro, Isabel recebe uma efusão do Espírito Santo assim que ouviu Maria. Segundo, a criança em seu ventre, São João Batista, salta de alegria, como a própria Isabel explica no versículo 44: “Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre”. Não se trata de um simples movimento físico do bebê, mas de uma reação espiritual, percebida por Isabel, cheia do Espírito Santo, como um sinal da presença divina.

Além disso, o Espírito Santo, derramado abundantemente no coração de Isabel, permite que ela reconheça Maria como a mãe do Salvador. Isso é algo extraordinário, pois Maria estava nas primeiras semanas de gravidez, quando não há qualquer sinal externo de gestação. Ainda assim, Isabel, cheia do Espírito Santo, solta um grito de louvor. O Evangelho apresenta a cena de forma intensa e dramática, mostrando que Isabel bradou com força e entusiasmo: “Bendita és tu entre as mulheres!” (Lc 1, 42).

A frase que repetimos tantas vezes no terço, quando pronunciada pela primeira vez, foi um brado cheio do Espírito Santo. Isabel, transbordando de fé e entusiasmo, proclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres!” (Lc 1, 42). Não foi apenas uma declaração, senão uma verdadeira profissão de fé, efusiva e cheia do Espírito — algo análogo ao que aconteceu em Pentecostes. Aliás, a Visitação, de fato, é um pentecostes. E é algo extraordinário perceber como o Evangelho de São Lucas destaca, de forma emblemática, a presença constante do Espírito Santo.

São Lucas é o único autor do Novo Testamento que narra o Pentecostes, descrito nos Atos dos Apóstolos, que também é de sua autoria. Desde o início do seu Evangelho, porém, a presença do Espírito Santo já se destaca. No anúncio do anjo a Maria, ele declara: “O Espírito Santo virá sobre ti” (Lc 1, 35). Ali acontece o primeiro pentecostes, na própria Anunciação. Maria é a primeira a ser plena do Espírito Santo, um momento que os Santos Padres chamam de “protopentecostes”.

Quando Maria parte apressadamente para a região montanhosa da Judeia para visitar Isabel, sua saudação provoca um segundo pentecostes. Pela graça do Espírito Santo, Isabel recebe a revelação e, com os olhos da fé, reconhece a gravidez de Maria. Mais do que isso, ela percebe quem Maria está carregando: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Isabel reconhece que Maria não traz em seu ventre um homem comum, mas o próprio Senhor, e exclama: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?”. Assim, Isabel professa sua fé em Jesus e na maternidade divina de Maria.

Observemos a realização do Espírito Santo: Ele nos faz reconhecer a presença de Cristo em Maria e a grandeza da própria Virgem. Reconhecer que Nossa Senhora é bendita não tem ligação alguma com idolatria. Muitas pessoas têm certa preocupação com a veneração a Maria, temendo que isso seja um exagero — mas é fundamental perceber a obra do Espírito Santo nesse Evangelho. Isso porque é Ele quem nos leva a reconhecer tanto o Filho quanto a Mãe. E é nesse contexto que acontece o primeiro milagre na ordem da graça: São João Batista é purificado, é perdoado de seus pecados ainda no ventre de Isabel.

A tradição ensina-nos que, ao ouvir a saudação de Maria, São João Batista recebeu naquele momento a graça extraordinária de ser purificado. Esse evento oferece-nos elementos essenciais para refletir e aplicar à nossa vida o Evangelho da Visitação — especialmente neste período de preparação para o Natal.

Como podemos, então, fazer uma boa preparação para celebrar o Santo Natal? Primeiramente, acolhamos a Virgem Maria em nossa casa. No Evangelho, lemos que Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. No entanto, acolher Maria em nossa casa significa, sobretudo, recebê-la em nosso coração. Recordemos o que Jesus fez com o discípulo amado aos pés da Cruz: confiou Maria como mãe a todos nós.

Quando Jesus quis salvar a sua Igreja ao morrer na cruz, qual foi o passo concreto que Ele deu antes da sua morte? Ele nos entregou a Virgem Maria. Ele disse: “Filho, eis aí a tua mãe”. Nós também precisamos acolher a Virgem Maria em nossa casa, como está escrito no capítulo 19 de São João: “João então acolheu a mãe de Jesus em sua casa”. Porém, mais do que apenas em sua casa, João a recebeu na intimidade do seu coração, como está registrado: “idios”, que significa algo que é próprio, pessoal. João acolheu Maria em sua intimidade.

É isso que precisamos fazer para celebrar bem esse Santo Natal. Ao acolher Maria em nossa casa, fazemos como Santa Isabel, que recebe a salvação no seu lar. Ao receber a Virgem Maria em nosso coração, como o Apóstolo João aos pés da Cruz, a salvação também entra em nossa casa. É a mesma realidade. Precisamos abrir nosso coração para a Virgem Maria, porque Nossa Senhora, aqui, é causa instrumental da nossa salvação.

Vamos entender o que isso significa. Vamos explicar tendo como referência o ministério dos padres. O que é um padre? Ora, um padre é uma causa instrumental da salvação. Eu posso ser causa instrumental da salvação de duas maneiras diferentes. Por exemplo: posso ser causa instrumental como os demônios, ou como os Apóstolos. São coisas bem distintas. Imaginemos um padre em pecado mortal, alguém que vive uma vida afastada de Deus. Ele ainda é causa instrumental de salvação para as pessoas? Certamente. Deus o usa, apesar do seu pecado, assim como usa os demônios, apesar deles. O demônio não quer fazer a vontade de Deus; mas Deus, em sua sabedoria, é tão grandioso que consegue superar a malícia do diabo.

O diabo pensa que está atrapalhando o Reino de Deus, mas Deus permite que ele aja e cause destruição. No entanto, o mal que o diabo faz é usado por Deus como ocasião para obter um bem maior, a salvação das pessoas. Dessa forma, o diabo torna-se também um instrumento de Deus — mas sem fazê-lo de forma consciente e livre. É um instrumento quase inerte, porque, apesar da vontade rebelde do diabo e da sua recusa em reconhecer o Criador, Deus ainda o usa, assim como usamos uma vassoura para varrer o chão — um instrumento sem vontade própria.

O Apóstolo, por sua vez, é um instrumento consciente e livre, o que o torna diferente. Deus pode usar um padre que busca a santidade, que deseja agradar a Deus e seguir o seu caminho de uma forma mais profunda. Quanto mais o padre santifica-se, tornando-se dócil e maleável nas mãos de Deus, e quanto mais ele morre para suas próprias vontades, caprichos e desejos, mais Deus poderá usá-lo como um instrumento eficaz para a sua obra salvadora. 

Ou seja, o padre é causa instrumental de salvação na vida dos outros. É claro que um sacerdote santo, como São João da Cruz, por exemplo, que celebramos na semana passada, no dia 14, é um instrumento valiosíssimo nas mãos de Deus. Por outro lado, um padre que vive em estado de pecado mortal, que não se converte e acaba sendo condenado, pode também ser usado por Deus, mas de forma muito imperfeita e inadequada — de forma análoga ao modo como Deus usa os demônios.

Estou dizendo tudo isso para explicar que a Virgem Maria também é instrumento de Deus. Se um padre santo, como São João da Cruz, é instrumento de Deus, imaginemos a Virgem Maria, que não conheceu o pecado, cuja vontade perfeita está totalmente submissa à vontade de Deus, e cujo coração não tem outro desejo senão amar a Deus e fazer com que a vontade dele tome forma humana neste mundo. Assim, Maria é um instrumento excelente, apto de forma suprema, nas mãos de Nosso Senhor.

Se por meio da palavra do sacerdote Cristo faz-se carne na Eucaristia, pela palavra de Maria, ao dizer “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1, 38), também acontece a Encarnação — foi principalmente por sua palavra que o Verbo faz-se carne. Reflitamos: quantas vezes em nossa vida nós clamamos “Ave Maria”? Deixemos que, hoje, seja ela a nos saudar, a trazer o Espírito Santo à nossa vida.

Há um episódio bonito na vida de São Bernardo que mostra como ele, grande devoto de Nossa Senhora, cantava fervorosamente as glórias de Maria. Todos os dias, ao passar diante de uma imagem de Nossa Senhora em seu mosteiro, ele dizia com devoção “Ave Maria” antes de seguir seu caminho. Ele fazia isso todos os dias, até que, em um belo dia, para sua surpresa, ao dizer “Ave Maria”, a imagem respondeu: “Ave Bernardo”.

Isso é um grande incentivo para que ouçamos essa saudação da Virgem Maria e, com nossa vida, permitamos que ela diga também a nós: “Ave”. Assim como a criança no ventre de Isabel saltou de alegria, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, recebamos também o Espírito Santo para celebrar um Natal verdadeiro, acolhendo a presença de Cristo em nossas vidas.

A presença de Cristo não é uma simples visita; Ele vem para transformar e salvar, assim como salvou São João Batista e trouxe vida nova e mudança para Santa Isabel.

Além disso, também precisamos observar a humildade e a caridade de Nossa Senhora, que, apressadamente, foi visitar Isabel para servir, levar a salvação e a graça — o Príncipe da graça, o Salvador do mundo. Ela sabia que a criança que carregava era infinitamente mais importante do que a criança que Isabel carregava, mas, mesmo assim, foi humildemente servir à sua parenta.

No entanto, Nossa Senhora foi até lá para servir, para amar e, principalmente, para levar o serviço da graça, trazendo Jesus e o Espírito Santo. Aceitemos o convite para também vivermos isso. Nossa Senhora tem pressa de entrar na nossa casa, no nosso lar, de saudar a nossa família, de, em suma, levar Jesus até nós. E como reagiremos? Vamos reagir como Isabel, enchendo-nos do Espírito Santo e abrindo nossa casa, nossa vida e nosso coração para Jesus? Ou reagiremos como Herodes, que, ao receber a notícia da Encarnação do Filho de Deus, agitou-se e, cheio de ódio, ordenou que perseguissem o Filho de Deus recém-nascido? 

Como nos colocaremos para receber Jesus? Que a devoção à Virgem Maria, especialmente nestes dias de preparação para o Natal, seja um verdadeiro instrumento de conversão em nossa vida, para que Jesus realmente entre em nosso coração. Que ela nos ajude na transformação que Deus quer realizar em nós. Mas, para isso, precisamos abrir nossa casa para ela. Deixemos de temer a devoção a Nossa Senhora. Se nós permitirmos que ela entre em nossa casa, ela trará o Espírito Santo e o Menino Jesus. Ela será um instrumento eficaz de verdadeira mudança de vida para nós e para nossa família.

Que, neste período de preparação para o Natal, a Virgem Maria seja presença constante em nossa vida espiritual. Rezemos o terço, entreguemo-nos a ela e meditemos os mistérios da nossa salvação. Não sejamos soberbos ao dizer que não precisamos de Maria. Deus a usa como instrumento, assim como fez para trazer o Espírito Santo a Isabel e a salvação a São João Batista.

Ao nos abrirmos a Maria, abrimos também nosso coração a Jesus. Que Ele nasça verdadeiramente em nós e em nossas famílias, ao acolhermos a Virgem Maria, que, cheia do Espírito Santo, traz-nos a graça de Cristo.

Publicado em padrepauloricardo.org.

São João da Cruz – Memória – 14 de dezembro

Origens

Juan de Yepes era seu nome de batismo. Nasceu em 1542, em Fontivaros, pertencente à província de Ávila, na Espanha. Seu pai, Gonzalo de Yepes, descendia de uma família tradicional e rica de Toledo. Porém, por ter se casado com uma jovem de família humilde, perdeu os direitos da herança. Catarina Alvarez, sua esposa e mãe de São João da cruz, era vista como sendo de classe inferior. Gonzalo, pai de São João da Cruz, faleceu ainda jovem, quando João ainda era uma criança. Por isso, a viúva, desprezada pela família do marido e obrigada a trabalhar para sobreviver, mudou-se com os filhos para a cidade de Medina.

Trabalho e vocação

Em Medina, João, já jovem, começou a trabalhar. Ele tentou algumas profissões. A última foi a de ajudante no hospital da cidade. À noite, João estudava gramática no colégio dos jesuítas. Sob a influência dos padres da Companhia de Jesus, a espiritualidade do jovem João de Yepes desabrochou. Por isso, aos vinte e um anos, ele entrou na Ordem Carmelita, procurando uma vida de oração profunda.

Estudos e caridade

Após o noviciado, João de Yepes foi transferido para a Universidade de Salamanca, com o objetivo de terminar o estudo da filosofia e da teologia. Mesmo cursando a Universidade, que exigia dele toda a dedicação aos estudos, João encontrava tempo para a caridade e fazia questão de visitar os doentes nos hospitais ou nas residências, onde prestava seu precioso serviço de enfermeiro.

Santa Tereza de Ávila cruza seu caminho

João foi ordenado sacerdote quando tinha vinte e cinco anos. Nessa ocasião, mudou seu nome para João da Cruz, pois já tinha o desejo de se aproximar dos sofrimentos da cruz de Cristo. Por causa disso, achava a Ordem dos Carmelitas muito suave, sem austeridade. Pensou, inclusive, em entrar numa congregação mais austera. Foi nessa ocasião que Madre Tereza de Ávila atravessou seu caminho. Na época, ela tinha autorização fundar conventos reformados da Ordem Carmelita. Tinha também autorização de todos os superiores da Espanha para intervir nos conventos masculinos. O entusiasmo de Santa Tereza contagiou o Padre João da Cruz e ele começou a trabalhar na reforma da Ordem Carmelita, voltando às origens da mesma, procurando reviver em todos o carisma fundante da Ordem e ajustando a disciplina.

Formador A partir de então, a Ordem Carmelita encarregou o Pe. João da Cruz na missão formador dos noviços. Por isso, ele assumiu o posto de reitor de um convento dedicado à formação e aos estudos dos novos carmelitas. Assim, ele contagiou um grande número de carmelitas e, por conseguinte, reformou vários conventos.

Barreiras e perseguições

Como era de se esperar, padre João da Cruz começou a enfrentar dificuldades dentro da Ordem. Conventos inteiros e vários superiores se opuseram às reformas quando ele começou a aplica-las efetivamente. Por isso, ele passou por sofrimentos insuportáveis se não fossem vistos com os olhos da fé. Chegou, por exemplo, a ficar preso durante nove meses num convento que recusava terminantemente a reforma proposta por ele. Tudo isso sem contar as perseguições que começaram a aparecer de todos os cantos.

Paciência, fé e louvor

Testemunhas dizem, no entanto, que Pe. João da Cruz fez jus ao nome que escolheu abraçando a cruz, os sofrimentos e as perseguições com alegria e louvor a Deus. E esta foi a grande marca de sua vida, além de seus escritos preciosos. São João da Cruz abraçou o sofrimento com prazer, desejando ao máximo, sofrer como Cristo e unir seus sofrimentos aos do Mestre, em sacrifício pela própria conversão e também da Igreja.

Doutor da Igreja

O espírito de sacrifício, o fugir das glórias humanas, a busca da humildade, a oração profunda e o conhecimento da Palavra de Deus renderam a São João da Cruz vários escritos de grande profundidade teológica e sabedoria divina. Dentre eles, destacam-se os livros Cântico Espiritual, Subida do Carmelo e Noite Escura. Por isso, ele foi aclamado Doutor da Igreja, equiparado a Santa Tereza de Ávila, também Doutora. Deixou uma grande obra escrita, que é lida, estudada e seguida até hoje por religiosos e leigos.

Apenas três pedidos a Deus

Os biógrafos de São João da Cruz relatam que ele sempre fazia três pedidos a Deus. Conta-se que ele pedia, insistentemente, três coisas a Deus. Primeiro, que ele tivesse forças para sofrer e trabalhar muito. Segundo, que ele não saísse deste mundo estando no cargo de superior de nenhuma comunidade. E, terceiro, que ele tivesse a graça de morrer humilhado e desprezado por todos, como aconteceu com Jesus. Isto fazia parte de sua mística: igualar-se ao máximo a Jesus no momento de sua paixão.

Três pedidos atendidos

Pouco antes de falecer, São João da Cruz passou, de fato, por grandes sofrimentos, advindos de calúnias e incompreensões. Foi destituído de todos os cargos que ocupava na Ordem Carmelita e passou os últimos meses de sua vida no abandono e na solidão. Antes de falecer, sofreu de uma terrível doença, sempre louvando e agradecendo a Deus por tudo. Faleceu no Convento de Ubeda, Espanha, no dia 14 de dezembro de 1591, tendo somente quarenta e nove anos. A reforma da Ordem Carmelita Descalça proposta por ele, por fim, tornou-se realidade. Pouco tempo após sua morte, São João da Cruz passou a ser venerado e seguido pelos seus confrades. Em 1952 foi aclamado como o Padroeiro dos Poetas da Espanha.

Oração a São João da Cruz (extraída do Primeiro dia da Novena)

“Glorioso São João da Cruz, que desde vossa infância fostes terno amante de Maria Santíssima e da cruz de seu Santíssimo Filho, merecendo por este amor ser protetor singular das almas aflitas e desconsoladas: Vos suplico, Pai meu, interponhais vossos rogos para com Mãe e Filho a fim de que me concedam viva fé, firme esperança, fervente caridade e terníssimo amor à cruz de meu Senhor, em cujo exercício viva e more amparado sempre de sua graça, e também consiga, se me convém, o que peço nesta novena. Amém.”

São João da Cruz, rogai por nós!

Publicado em IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA – Largo do Machado – Catete – Rio de Janeiro – RJ

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A Imaculada Conceição de Maria no Advento

No Advento eterno, antes da criação do mundo, a Imaculada Conceição de Maria já estava no desígnio amoroso de Deus para a humanidade. É significativo refletir sobre esta verdade, especialmente no Tempo do Advento e na proximidade da Solenidade da Imaculada Conceição. A este respeito, o Papa São João Paulo II nos ensina que existe um Advento primordial e eterno em Deus, que está se cumprindo na história da humanidade.

Este Advento eterno, que é o projeto de Deus para a humanidade, realiza-se em três fases na história da salvação. No primeiro Advento, tem início a Criação do mundo, que tem como centro e ápice o gênero humano, ainda em plena harmonia com o Criador. O segundo, começa com a queda de Adão e termina na primeira vinda de Jesus Cristo. O terceiro e último, tem início naquele que chamamos de Tempo da Igreja, que vivemos hoje e que culminará com a segunda e definitiva vinda do Senhor.

Desde o Advento primordial, Maria foi escolhida, predestinada, para ser a Mãe do Verbo Eterno. Em vista dessa suprema dignidade, foi também concedida à Mãe de Deus a maravilhosa graça da Imaculada Conceição [Dogma]*. A graça da Imaculada, que celebramos com toda a Igreja no Tempo do Advento, diz respeito não somente a Santíssima Virgem, mas também à escolha de Deus a respeito de cada um de nós desde toda a eternidade.

A Imaculada Conceição no Advento primordial

Na carta aos Efésios, o apóstolo São Paulo nos dá uma belíssima imagem do Advento: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos”. Esta não é ainda a imagem do Advento da vinda de Jesus Cristo, mas “trata-se daquele Advento eterno cujo início se encontra em Deus mesmo, ‘antes da constituição do mundo’, porque já a ‘constituição do mundo’ foi o primeiro passo da Vinda de Deus ao homem, o primeiro ato do Advento”.

Créditos: by Getty Images / Sidney de Almeida/cancaonova.com

Neste primeiro Advento, todo o mundo visível foi criado para o homem como demonstra o livro do Gênesis. Mas “o início do Advento em Deus é o Seu eterno projeto de criação do mundo e do homem, projeto nascido do amor. Este amor se manifesta com a eterna opção do homem em Cristo, Verbo Encarnado”. Em Cristo, fomos escolhidos por Deus, antes da constituição do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos.

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“Neste eterno Advento está presente Maria. Entre todos os homens que o Pai escolheu em Cristo, Ela foi-o de modo particular e excepcional, porque foi escolhida em Cristo para ser Mãe de Cristo”. E assim Ela, melhor do que qualquer outra pessoa entre os homens “predestinados pelo Pai” para a dignidade de filhos e filhas adotivos, foi predestinada de modo especialíssimo para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que o Pai nos deu no Filho Bem-amado.

A Virgem Maria

A glória sublime da especialíssima graça de Deus é a Maternidade do Verbo eterno e, em consideração desta, a Mãe de Deus obteve em Cristo também a graça da Imaculada Conceição. Sendo assim, a Virgem Maria está presente naquele primeiro e eterno Advento da Palavra com a dignidade de Mãe de Deus e da sua Imaculada Conceição, segundo o desígnio de Amor do Pai na criação do mundo e no projeto de salvação da humanidade.

Publicado em Formação Canção Nova.

* Grifo meu.

Tempo do Advento: Preparar a Vinda do Senhor

O Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós. O Advento é um tempo no qual a Igreja convida os seus filhos a vigiar, a estar despertos para receber a Cristo que passa, a Cristo que vem. Editorial sobre este tempo do ano litúrgico.

“Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos.” Essas palavras da oração coleta do primeiro domingo do Advento iluminam com grande eficácia o caráter peculiar desse tempo, em que se dá início ao Ano litúrgico. Imitando a atitude das virgens prudentes da parábola evangélica, que souberam preparar o azeite para as bodas do Esposo [1], a Igreja convida os seus filhos a vigiar, a estar despertos para receber a Cristo que passa, a Cristo que vem.

Tempo de presença

Ao dizer adventus, os cristãos afirmavam, simplesmente, que Deus está aqui: o Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós.

O desejo de sair ao encontro, de preparar a vinda do Senhor[2], nos coloca diante do termo grego parusia, que o latim traduz como adventus, de onde surge a palavra Advento. De fato, adventus pode ser traduzido como “presença”, “chegada”, “vinda”. Não se trata, portanto, de uma palavra inventada pelos cristãos: era usada na Antiguidade em âmbito não cristão para designar a primeira visita oficial de um personagem importante – o rei, o imperador ou um de seus funcionários – por motivo da sua tomada de posse. Também podia indicar a vinda da divindade, que sai da sua ocultação para se manifestar com força, o que se celebra no culto. Os cristãos adotaram o termo para expressar a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei que entrou nesta pobre “província”, nossa terra, para visitar a todos, um Rei que convida a participar na festa do seu Advento todos os que creem n’Ele, a todos que estão certos de sua presença entre nós.

Ao dizer adventus, os cristãos afirmavam, simplesmente, que Deus está aqui: o Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós. Mesmo que não possamos vê-lo ou tocá-lo, como ocorre com as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem nos visitar de muitas formas: na leitura da Sagrada Escritura, nos sacramentos, especialmente na Eucaristia, no ano litúrgico, na vida dos santos, em tantos episódios, mais ou menos comuns, da vida cotidiana, na beleza da criação… Deus nos ama, conhece nosso nome, tudo o que é nosso lhe interessa e está sempre presente junto de nós. Esta segurança da sua presença, que a liturgia do Advento nos sugere discretamente, mas com constância ao longo destas semanas, não esboça uma nova imagem do mundo ante nossos olhos? “Essa certeza, que procede da fé, faz-nos olhar o que nos cerca sob uma nova luz, e leva-nos a perceber que, permanecendo tudo como antes, tudo se torna diferente, porque tudo é expressão do amor de Deus.”[3]

Uma memória agradecida

O Advento nos convida a pararmos, em silêncio, para captar a presença de Deus. São dias para voltar a considerar, com palavras de São Josemaria, que “Deus está junto de nós continuamente. – Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um Pai amoroso – quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos -, ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando… e perdoando” [4].

Se esta realidade inundar a nossa vida, se a consideramos com frequência no tempo do Advento, nos sentiremos animados a dirigir-lhe a palavra com a confiança na oração, e muitas vezes durante o dia, lhe apresentaremos os sofrimentos que nos entristecem, a impaciência e as perguntas que brotam de nosso coração. Este é um momento oportuno para que cresça em nós a segurança de que Ele nos escuta sempre. “A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado!” [5]

Compreendemos também como os acontecimentos às vezes inesperados de cada dia são gestos personalíssimos que Deus nos dirige, sinais do seu olhar atento sobre cada um de nós. Acontece que costumamos estar muito atentos aos problemas, às dificuldades, e às vezes mal nos restam forças para perceber tantas coisas belas e boas que vêm do Senhor. O Advento é um tempo para considerar, com mais frequência, como Ele nos protegeu, guiou e ajudou nas vicissitudes de nossa vida, para louvá-lo por tudo o que fez e continua fazendo por nós.

Esse estar despertos e vigilantes perante os detalhes de nosso Pai no céu floresce em ações de graças. Nasce assim em nós uma memória do bem que nos ajuda inclusive na hora escura das dificuldades, dos problemas, da doença, da dor. “A alegria evangelizadora – escreve o Papa – refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos pedir.” [6] O Advento nos convida a escrever, por dizer de alguma forma, um diário interior deste amor de Deus por nós. “Acredito que vós e eu – dizia São Josemaria – ao pensarmos nas circunstâncias que acompanharam a nossa decisão de nos esforçarmos por viver integralmente a fé, daremos muitas graças ao Senhor e teremos a convicção sincera – sem falsas humildades – de que não houve nisso mérito algum da nossa parte.” [7]

Deus vem

A alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos pedir (Papa Francisco)

Dominus veniet![8] Deus vem! Esta breve exclamação que abre o tempo do Advento ressoa especialmente ao longo destas semanas, e depois, durante todo o ano litúrgico. Deus vem! Não se trata simplesmente de que Deus tenha vindo, de algo do passado, nem tampouco é um simples anúncio de que Deus virá, em um futuro que poderia não ter excessiva transcendência para nosso hoje e agora. Deus vem: se trata de uma ação sempre em andamento, está acontecendo, acontece agora e continuará a acontecer conforme passe o tempo. A todo momento, “Deus vem”: em cada instante da história, o Senhor continua dizendo: “Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho”[9].

O Advento nos convida a tomar consciência desta verdade e a atuar de acordo com ela. “Já é hora de despertardes do sono”, “ficai atentos”, “o que vos digo, digo a todos: vigiai!”[10]. São chamadas da Sagrada Escritura nas leituras do primeiro domingo do Advento que nos lembram dessas constantes vindas, adventus, do Senhor. Nem ontem, nem amanhã, mas hoje, agora. Deus não está só no céu, desinteressado de nós e da nossa história; na realidade, Ele é o Deus que vem. A meditação atenta dos textos da liturgia do Advento nos ajuda a preparar-nos, para que a sua presença não passe despercebida.

Para os Padres da Igreja, a “vinda” de Deus -continua e conatural com seu próprio ser- se concentra nas duas principais vindas de Cristo: a de sua encarnação e a da sua volta glorioso no fim da história.[11] O tempo do Advento se desenvolve entre esses dois polos. Nos dias iniciais se sublinha a espera da última vinda do Senhor no fim dos tempos. E, à medida que se aproxima o Natal, abre-se caminho à memória do acontecimento em Belém, no qual se reconhece a plenitude dos tempos. “Por essas duas razões o Advento se manifesta como tempo de uma espera piedosa e alegre” [12].

O prefácio I do Advento sintetiza esse duplo motivo: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez, para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” [13].

Dias de espera e esperança

Um aspecto fundamental do Advento é, portanto, a espera, mas uma espera que o Senhor converte em esperança. A experiência nos mostra que passamos a vida esperando: quando somos crianças queremos crescer, na juventude aspiramos a um amor grande, que nos preencha, quando somos adultos buscamos a realização profissional, o sucesso determinante para o resto de nossa vida, quando chegamos à idade avançada aspiramos ao merecido descanso. No entanto, quando essas esperanças se cumprem, ou quando fracassam, percebemos que isso, na realidade, não era tudo. Precisamos de uma esperança que vá além do que podemos imaginar, que nos surpreenda. Assim, mesmo que existam esperanças maiores ou menores que dia a dia nos mantêm no caminho, na verdade, sem a grande esperança – a que nasce do Amor que o Espírito Santo pôs em nosso coração[14] e aspira a esse Amor-, todas as outras não bastam.

O Advento nos anima a perguntar “O que esperamos?”, “Qual é a nossa esperança?” Ou, de modo ainda mais profundo, “Que sentido tem meu presente, meu hoje e agora?” “Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso” [15].

Um presépio para nosso Deus

Nosso tempo presente tem um sentido porque o Messias, esperado por séculos, nasce em Belém. Juntamente com Maria e José, com a assistência dos nossos Anjos da Guarda, lhe esperamos com o desejo renovado. Cristo, ao vir entre nós, nos oferece o dom do seu amor e da sua salvação. Para os cristãos a esperança está animada por uma certeza: o Senhor está presente ao longo de toda nossa vida, no trabalho e nos afãs cotidianos, nos acompanha e um dia enxugará também nossas lágrimas. Um dia, não tão distante, tudo encontrará o seu cumprimento no reino de Deus, reino de justiça e de paz. “O tempo do Advento nos restitui o horizonte da esperança, uma esperança que não decepciona porque é fundada na Palavra de Deus. Uma esperança que não decepciona, simplesmente porque o Senhor não decepciona nunca!” [16]

O Advento é um tempo de presença e de espera do eterno, um tempo de alegria, de uma alegria íntima que nada pode eliminar: “eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria” [17]. O gozo no momento da espera é uma atitude profundamente cristã, que vemos plasmada na Santíssima Virgem: Ela, desde o momento da Anunciação, esperou “com amor de mãe” [18] a vinda de seu Filho, Jesus Cristo. Por isso, Ela também nos ensina a aguardar ansiosamente a chegada do Senhor, ao mesmo tempo que nos preparamos interiormente para esse encontro, com o desejo de “construir com o coração um presépio para nosso Deus” [19].

Juan José Silvestre

[1] Cfr. Mt 25, 1ss.

[2] Cfr. Tes 5, 23.

[3] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 144.

[4] São Josemaria, Caminho, n. 267.

[5] Missal Romano, I Domingo do Advento, Antífona de entrada. Cf. Sal 24 (25) 1-2.

[6] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24-XI-2013, n. 13.

[7] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 1.

[8] Cfr. Missal Romano, Feria III (terça-feira) das semanas I-III do Advento, Antífona de entrada. Cfr. Za 14, 5.

[9] Jo 5, 17.

[10] Rm 13, 11; Lc 21, 36; Mc 13, 37.

[11] Cfr. São Cirilo de Jerusalém, Catequese 15, 1: PG 33, 870 (II Leitura do Ofício de Leituras do I Domingo do Advento).

[12] Calendário Romano, Normas universais sobre o ano litúrgico e sobre o calendário, n. 39.

[13] Missal Romano, Prefácio I do Advento.

[14] Cfr. Rom 5, 5

[15] Bento XVI, Homilia I Véspera do I Domingo do Advento, 28-XI-2009.

[16] Francisco, Ângelus, 1-XII-2013.

[17] Jo 16, 22.

[18] Missal Romano, Prefácio II do Advento.

[19] Notas de uma meditação, 25-XII-1973 (AGP, biblioteca, P09, p. 199). Publicado em Álvaro del Portillo, Caminar con Jesús. Al compás del año litúrgico, Ed. Cristiandad, Madrid 2014, p. 21.

Publicado em Opus Dei.

Nossa Senhora das Graças e da Medalha Milagrosa – Memória – 27 de novembro

Conheça a história de Nossa Senhora das Graças, desde suas aparições à jovem Catarina até o seu papel nas nossas vidas

Conheça a história de Nossa Senhora das Graças, desde suas aparições à jovem Catarina até o seu papel nas nossas vidas.

Na Cruz, além de nos dar a salvação, Cristo nos deixou a Virgem Maria, Sua mãe, como nossa mãe, por meio das palavras dirigidas ao discípulo João: “Eis aí tua mãe” 1. Desse modo, Maria é nossa mãe, por isso podemos confiar a ela todas as nossas preocupações 2 — essa é a vontade de Deus.

Neste artigo, você vai conhecer um pouco sobre as aparições de Nossa Senhora das Graças à Santa Catarina Labouré. A Virgem Maria é a medianeira das graças de Deus, e isso nos é apresentado nas Escrituras — embora estas citem brevemente a Virgem. Na nossa vida, portanto, não poderia ser diferente, cabe a nós invocar Maria e crer que ela intercede age em nosso favor junto de Deus.

O que é a festa de Nossa Senhora das Graças?

A Festa de Nossa Senhora das Graças celebra a aparição da Virgem Maria à Santa Catarina Labouré, em 1830, em Paris. Nessa revelação, Maria pediu a criação da Medalha Milagrosa, simbolizando abundantes graças para aqueles que a usam com fé. Essa festividade destaca a generosidade de Deus, manifestada através da intercessão de Nossa Senhora — a tesoureira das graças divinas. Além disso, é um convite para mergulharmos ainda mais na devoção mariana e na busca incessante pela graça de Deus em nossas vidas, sobretudo para alcançarmos o nosso destino final, que é o Céu.

Quando a [Festa] de Nossa Senhora das Graças é celebrada?

A festa de Nossa Senhora das Graças é celebrada em 27 de novembro. Essa data especial marca o momento da primeira aparição da Virgem Maria à Santa Catarina Labouré. Desse modo, os católicos ao redor do mundo dedicam esse dia para honrar a Virgem e agradecer as graças concedidas pelas mãos de Nossa Senhora.

A história de Nossa Senhora das Graças

Santa Catarina Labouré, a vidente de Nossa Senhora das Graças

Catarina Labouré, a vidente de Nossa Senhora das Graças.
Santa Catarina Labouré. Fonte: The Basilica Shrine

Catarina Labouré, nascida em 2 de maio de 1806, dedicou-se à vida religiosa após a morte de sua mãe. Sendo assim, a jovem ingressou na Ordem das Filhas da Caridade em 1830, aos 23 anos, mas desde a infância, destacava-se pela devoção e seriedade com a qual vivia a fé. Suas visões eram frequentes, desde os primeiros dias de vida religiosa. Embora as mais conhecidas — e extraordinárias — sejam as aparições de Nossa Senhora das Graças, Catarina de Labouré costumava ver Jesus Cristo em frente ao Santíssimo e, por três vezes, viu também São Vicente de Paulo, o fundador da Ordem, sobre o relicário contendo seu coração incorrupto.

Conheça a cronologia da vida da Virgem.

A primeira visão

Na noite de 18 de julho de 1830, véspera da Festa de São Vicente de Paulo, Catarina Labouré foi despertada por seu anjo da guarda, que se manifestou como uma criança luminosa. Dessa forma, orientada pelo anjo, Catarina dirigiu-se à capela, onde a Santíssima Virgem Maria a aguardava. A jovem hesitou a princípio, mas foi assegurada de que todos estavam dormindo. E, ao adentrar a capela, testemunhou uma luminosidade extraordinária, como se preparada para a Missa da meia-noite. 3

Ao alcançar o santuário, Catarina se ajoelhou, testemunhando a aparição da Santíssima Virgem. A Mãe Celestial sentou-se graciosamente na cadeira próxima ao Evangelho. Catarina, tomada pela emoção, ajoelhou-se ao lado dela, vivenciando os momentos mais doces de sua vida. Em seguida, o anjo revelou que a Virgem Maria desejava falar com Catarina. Assim, Nossa Senhora confiou-lhe uma missão divina em meio a tempos difíceis na França e no mundo. Além disso, prometeu a proteção divina e a efusão de graças para todos que as buscarem com confiança e fervor. 4

Deus deseja encarregar-te de uma missão. Tu serás contraditada, mas não temas, pois terás a graça para fazer o que é necessário. […] Os tempos são maus na França e no mundo. Vem ao pé do altar. Graças serão derramadas sobre todos, grandes e pequenos, especialmente aqueles que procurarem por elas. Terás a proteção de Deus e de São Vicente. Eu sempre terei os olhos em ti. […] 4

A segunda visão

A segunda aparição da Virgem à Santa Catarina Labouré foi a que consolidou a criação da Medalha Milagrosa e fortaleceu a devoção à intercessão de Nossa Senhora das Graças. Ela aconteceu a 27 de novembro, durante a meditação comunitária na capela.

A Virgem Maria se revelou em uma visão esplêndida. Vestida de branco, com um véu delicado, ela segurava uma bola dourada simbolizando o mundo, adornada com anéis representando as graças divinas. A Virgem explicou que as pedras nos anéis eram símbolos das graças que ela derrama sobre aqueles que as solicitam. O globo dourado desapareceu, dando lugar a uma moldura oval com a inscrição “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. 5

A visão disse então: “Manda gravar uma medalha de acordo com este modelo. Todos aqueles que a usarem receberão grandes graças; eles devem usá-la em volta do pescoço. Abundarão graças para aqueles que a usarem com confiança”. 6

A Medalha Milagrosa, conforme o pedido de Nossa Senhora à Santa Catarina Labouré.

[…]

A terceira visão

Na terceira aparição de Nossa Senhora das Graças a Catarina Labouré, a visão ocorreu de maneira semelhante à segunda, mas com a Virgem Maria posicionada acima e atrás do sacrário, no lugar agora ocupado por uma estátua que reproduz a cena. 6 Assim, ela reforçou a importância da criação da Medalha Milagrosa e o propósito de graças abundantes para aqueles que a usassem com confiança.

Catarina, após enfrentar desafios para a produção e distribuição das medalhas, testemunhou a rápida aceitação da Medalha Milagrosa como um objeto de devoção e fonte de graças extraordinárias. Sem dúvida, a terceira aparição consolidou a missão celestial de Nossa Senhora das Graças e sua intercessão contínua na vida dos fiéis que buscam as graças e a proteção da Virgem.

imagem de Nossa Senhora das Graças na capela da Medalha Milagrosa, em Paris.
Presbitério da Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, em Paris

Você sabe quais são os dogmas marianos? Confira aqui.

Nossa Senhora das Graças na Bíblia

Nossa Senhora das Graças encontra um eco significativo nas Bodas de Caná, um episódio onde Maria desempenha um papel fundamental na mediação da graça divina. Durante uma festa de casamento em Caná (João 2, 1-11), Maria percebe a falta de vinho — que simboliza a necessidade humana. E com compaixão materna, ela intercede junto Jesus, dizendo aos servos: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Sendo assim, a observação ativa da Virgem demonstra a confiança na capacidade de seu filho de atender às necessidades humanas.

Essa intercessão resulta no milagre da transformação da água em vinho, revelando a generosidade e a abundância da graça divina. Portanto, nessa narrativa bíblica, Maria emerge como dispensadora e mediadora da graça, antecipando o papel de Nossa Senhora das Graças na tradição católica. Assim como nas Bodas de Caná, onde a intercessão de Maria conduziu à manifestação da graça abundante, os devotos veem Nossa Senhora da Medalha Milagrosa como um canal de graças, o que fortalece a fé na intercessão materna e na obtenção das bênçãos divinas através dela.

[…]

Nossa Senhora das Graças nas nossas vidas

Embora as aparições de Nossa Senhora sejam grandiosas e tragam uma mensagem à humanidade, elas também se destinam especialmente a cada um de nós. Nossa Senhora das Graças desempenha nas nossas vidas o papel sublime de medianeira de todas as graças. Essa designação está enraizada na tradição católica, refletindo a crença de que Maria intercede junto a Deus em favor da humanidade — de cada um de nós que a invoca em particular.

Maria, ao ser coroada com o título de Nossa Senhora das Graças, é vista como a dispensadora generosa das graças divinas. Seu papel como medianeira destaca-se, portanto, na devoção cotidiana quando nós confiamos nela como intercessora que canaliza as graças necessárias para as diversas situações de nossas vidas. Da mesma forma que respondeu ao chamado divino nas Bodas de Caná, Nossa Senhora das Graças continua a desempenhar um papel ativo, guiando e proporcionando graças abundantes àqueles que buscam sua intercessão maternal.

Além disso, muitos santos destacaram o papel da Virgem Maria como mediadora das graças divinas. São Maximiliano Kolbe, por exemplo, descreveu-a como um instrumento nas mãos de Deus para a distribuição das graças. O Papa Bento XVI também proclamou que “não há fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora”. 7

A mediação de Maria faz parte do patrimônio da fé cristã e é a partir desta verdade, tão presente nos ensinamentos dos santos como também no Magistério ordinário da Igreja, que a porção dos fiéis pode unir-se mais eficazmente contra os desvios mundanos, a fim de alcançar a coroa do Céu. 8

Reze a Novena a Nossa Senhora das Graças.

Referências

  1. Jo 19, 26[]
  2. CIC, 2677[]
  3. Joan Carroll Cruz, Aparições de Nossa Senhora. Tradução: Eduardo Levy — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2022., p.105[]
  4. Joan Carroll Cruz, Aparições de Nossa Senhora. Tradução: Eduardo Levy — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2022., p.106[][]
  5. Joan Carroll Cruz, Aparições de Nossa Senhora. Tradução: Eduardo Levy — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2022., p.107[]
  6. Joan Carroll Cruz, Aparições de Nossa Senhora. Tradução: Eduardo Levy — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2022., p.108[][]
  7. Bento XVI, Homilia, 11 de Maio de 2007[]
  8. VATICAN NEWS, Mediação de Maria, parte do patrimônio da fé cristã[]

Publicado em Minha Biblioteca Católica (24.11.2024) – Redação Minha Biblioteca Católica (O maior clube de leitores católicos do Brasil.)

Leia também:

Minha Biblioteca Católica – A vida de Santa Catarina Labouré – Conheça a vida de Santa Catarina Labouré, a freira a quem apareceu Nossa Senhora das Graças pedindo a confecção da Medalha Milagrosa.

Memória de Santa Teresa de Ávila

*Santa Teresa em glória, de Pietro Novelli

Teresa nasceu em Ávila, na Espanha, em 1515, numa família
numerosa, com nove irmãos e três irmãs, filha de pais virtuosos e tementes a
Deus.

Ainda menina, com menos de 9 anos, tem a oportunidade de ler
a vida de alguns mártires que lhe inspiram o desejo do martírio, a tal ponto
que improvisa uma breve fuga de casa para morrer mártir e subir ao Céu.

Alguns anos depois, Teresa falará da suas leituras da infância e afirmará que nelas descobriu a verdade, que resume com dois princípios fundamentais: por um lado, ‘o fato de que tudo o que pertence ao mundo daqui, passa e por outro, que só Deus é ‘para sempre’, tema que retorna na celebre poesia: ‘Nada te perturbe, nada te espante;  tudo passa. Deus não muda; a paciência tudo
alcança; quem possui a Deus, nada lhe falta, só Deus basta!’.

Se na adolescência a leitura de livros profanos a tinha levado às distrações de uma vida mundana, a experiência como aluna das monjas agostinianas de Santa Maria das Graças de Ávila e a leitura de livros espirituais, sobretudo clássicos de espiritualidade franciscana, ensinam-lhe o recolhimento e a oração.

Com vinte anos entra no mosteiro carmelita da Encarnação, ainda em Ávila; na vida religiosa assume o nome de Teresa de Jesus.

Não é fácil resumir em poucas palavras a profunda e minuciosa espiritualidade de Santa Teresa. Gostaria de mencionar alguns pontos essenciais.

Em primeiro lugar, santa Teresa propõe as virtudes evangélicas como base de toda a vida cristã e humana: em especial, o desapego dos bens, ou pobreza evangélica, e isto, diz respeito a todos nós; o amor mútuo como elemento básico da vida comunitária e social; a humildade como amor à verdade e a determinação como fruto da audácia cristã.

Em segundo lugar, santa Teresa propõe uma profunda sintonia com as grandes figuras bíblicas e a escuta viva da Palavra de Deus. Ela sente-se em sintonia sobretudo com a esposa do Cântico dos Cânticos e com o apóstolo Paulo, mas também com o Cristo da Paixão e com Jesus Eucarístico.

Depois, a santa realça como a oração é essencial; orar, diz, ‘significa frequentar com amizade, porque frequentamos face a face Aquele que
sabemos que nos ama’.

Outro tema amado pela santa é a centralidade da humanidade de Cristo. Com efeito, para Teresa a vida cristã é relação pessoal com Jesus, que culmina na união com Ele pela graça, amor e imitação.

Daqui a importância que ela atribui à meditação da Paixão e à Eucaristia, como presença de Cristo na Igreja, pela vida de cada crente e como centro da liturgia.

Santa Teresa vive um amor incondicional à Igreja. Reforma a Ordem carmelita com a intenção de melhor servir e defender a ‘Santa Igreja Católica Romana’, disposta a dar a vida por ela.

Um último aspecto essencial da doutrina de Santa Teresa, que gostaria de frisar, é a perfeição, como aspiração de toda a vida cristã e sua meta final.

Por que ela é Mestra e Doutora?

Santa Teresa de Jesus é verdadeira mestra da vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Na nossa sociedade, muitas vezes carente de valores espirituais, santa Teresa ensina-nos a ser testemunhas indefesas de Deus, da sua presença e ação, ensina-nos a sentir realmente esta sede de Deus que existe na profundidade do nosso coração, este desejo de ver Deus, de O procurar, de dialogar com Ele e de ser seu amigo.

Esta é a amizade necessária para todos nós e que devemos buscar de novo, dia após dia. O exemplo desta santa, profundamente contemplativa e eficaz nas suas obras, leve-nos também a nós a dedicar cada dia o justo tempo à oração, a esta abertura a Deus, a este caminho para procurar Deus, para O ver, para encontrar a sua amizade e assim a vida verdadeira.

Santa Teresa de Avila,rogai por nós!

Publicado no Site: Padre Alexandre Fernandes – 15/10/2024.

*Imagem: Wikipédia.

13 DE OUTUBRO: DIA MUNDIAL DA COMUNHÃO REPARADORA

 Hoje, dia 13 de outubro, é o dia mundial da comunhão reparadora. Nossa Senhora fez este pedido quando apareceu a Fantanelle -Itália,  à Pierina Gilli, no dia 06 de agosto do ano de 1967, quando se festejava naquele tempo a Festa da Trasnfiguração do Senhor.

Já em Fátima, a Santíssima Virgem havia ensinado na sua terceira aparição na Cova da Iria a 13 de julho de 1917, aos três pastorzinhos Lúcia, Francisco e Jacinta uma oração a ser rezada diariamente quando fizéssemos sacrifícios e penitências pelos pecadores:

Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!

Os insistentes apelos da Mãe de Deus à reparação nos coloca numa posição de filhos que devem consolar o seu Coração Materno, que é transpassado de dor pelos pecados dos homens ingratos. Ofereçamos à Santíssima Mãe as nossas orações, o nosso amor, as nossas penitências e sacrifícios deste dia, como um verdadeiro ato de reparação e de amor, a fim de que muitos espinhos dolorosos que perfuram o seu amantíssimo Coração sejam tirados. Supliquemos constantemente e diariamente a conversão dos pecadores, começando por nós mesmos, a viver uma vida de acordo com a vontade de Deus, afastando-nos de tudo aquilo que possa desagradar e ofender o seu Sagrado Coração, não fazendo assim Nossa Senhora sofrer, pois não tem maior sofrimento para a Virgem Santa do que ver seu Filho Divino tão ultrajado e ofendido pelos pecados do mundo.

Os pecados que determinaram os castigos da Primeira Guerra Mundial foram:

1. A imoralidade dos costumes;

2. A decadência do clero, devida ao liberalismo e a tendência à boa vida, mesmo no clero mais conservador;

3. E -evidentemente – a heresia no clero mais progressista, isto é, o Mordenismo, condenado por São Pio X, em 1908.

Dissemos que  os pecados foram a primeira causa do primeiro castigo, e, como disse e mostrou Nossa Senhora aos pastorzinhos, muitas almas se perdiam pelos pecados no começo do século XX. Que dirá hoje?

A nossa reparação oferecida a Deus deve ser de coração, de alma e de corpo. Deus está a espera daqueles que queiram se doar pela salvação do seu próximo. O próprio Jesus nos disse: Não tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos! (Jo 15,13). É isto que Deus espera de nós: Dar a vida por seus amigos!…Dar a vida pela conversão e salvação das almas e do mundo! Ser uma luz para os outros que andam nas trevas e que estão morrendo sem fé e sem esperança. Cada ato de amor oferecido a Deus pela salvação do próximo e do mundo é uma reparação por tantos pecados e blasfêmias cometidos contra a sua Majestade Divina. Cada suor derramado pela implantação do reino de amor de Cristo no coração e nas almas, são espinhos tirados do Coração da Virgem Mãe, pois ela é consolada, quando vê os seus filhos que estavam mortos espiritualmente, sendo ressuscitados para o amor e para a graça divina.

O nosso jejum, o nosso sacrifício e a nossa penitência se tornam poderosos, cheios de frutos e das graças de Deus quando são oferecidos com um coração limpo e renovado, com um espírito novo em Deus. Não adianta querermos mudar o mundo se não mudamos o nosso interior primeiramente, e o primeiro passo que devemos dar diante de Deus é o do arrependimento, pedindo perdão dos nossos pecados. Este é o primeiro ato de reparação que fazemos a Deus, quando começamos o nosso caminho de conversão, renunciando ao pecado e ao mundo; deste ato surgirão muitos outros que se complementarão e se transformarão em luz e graça para as nossas vidas. Se queremos que os nossos atos de reparação sejam perfeitos e agradáveis ao Senhor devemos pedir o auxílio e a graça daquela que mais amou e reparou a Majestade Divina, devemos recorrer à Virgem Santa Imaculada, perfeita oferenda de amor que tanto alegrou o Coração de Deus. Em união com a Virgem Maria , a reparação nunca terá presunção, falsidade ou pecado. Nenhuma imperfeição acompanha o que é feito em união com ela. Os que fazem reparação com a Virgem Imaculada, os fazem com sua fé. O que eles executam imperfeitamente, por distração, cansaço ou outra coisa, torna-se perfeito através da Virgem Maria. Precisamos pedir à Santíssima Virgem, sinceramente e de todo o coração, então ela rezará conosco. Quem tem amor-próprio não conseguirá jamais reparar, pois o amor próprio busca somente aos interesses pessoais, enquanto o amor ao próximo busca os interesses de Deus, pela salvação do mundo.

Publicado em A.R.R.P.I – Santuário de Itapiranga.

São Miguel Arcanjo: O protetor da Santa Igreja – Memória – 29 de setembro

Sempre de zelo extremo na defesa da honra divina, São Miguel nunca deixa, igualmente, de proteger o Corpo Místico de Cristo, sobretudo nos momentos de maior perigo.

São Miguel esmaga o demônio - Igreja de São Miguel, Gante (Bélgica). foto: Francisco Lecaros

São Miguel esmaga o demônio – Igreja de São Miguel, Gante (Bélgica). foto: Francisco Lecaros

Redação (28/09/2024 08:46, Gaudium Press) Era ainda o começo da criação, e os Anjos encontravam-se no estado de prova. Transbordando de amor para com estas obras de suas mãos, Deus decidira, conforme é opinião estendida entre teólogos de renome, revelar-lhes os planos que levava em seu coração: a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e a eleição de uma criatura humana perfeitíssima como sua Mãe, a qual seria a Rainha não só dos homens, que ainda estavam por ser criados, mas de todo o universo, inclusive dos seres angélicos.

A sublime revelação constituiu um fator de divisão entre os puros espíritos: alguns a aceitaram, outros rejeitaram. Os revoltosos eram capitaneados pelo maior dos Anjos: Lúcifer. Este, não querendo submeter-se a uma natureza inferior à sua, vociferou: “Non serviam! – Não servirei!” Suas palavras mal acabavam de ecoar pelos Céus, quando São Miguel respondeu à afronta com um brado mil vezes mais possante: “Quis ut Deus?! – Quem é como Deus?!” À voz do Príncipe da Milícia Celeste, os Anjos bons se congregaram sob seu comando para expulsar do Paraíso aqueles que ousaram alçar-se contra os desígnios do Criador. A vitória revelou-se estrondosa.

Teólogos ilustres, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, situam esse grande confronto no primeiro dia criação, narrado no Gênesis: “Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas” (1, 4). Entretanto, basta continuarmos a leitura do Livro Sagrado para compreender que a guerra estava apenas começando…

Lúcifer e seus sequazes não se renderiam facilmente: eles queriam vingança e se serviriam do gênero humano – tão ligado à própria causa de sua revolta – para levá-la a cabo. Com efeito, a vitória não mais dependeria somente da força de ação dos espíritos angélicos, mas de como reagiria perante ela a fraqueza humana. E o ataque inicial infligido pelos anjos maus neste novo cenário traria como funesta consequência o pecado que acarretou a maldição para toda a humanidade.

No decorrer da História, as investidas do demônio contra a realização dos planos divinos não fizeram senão crescer. Tendo conquistado o consentimento de tantas almas às solicitações infernais, o inimigo se gabou dos vícios e pecados em que, por ele instigados, os homens se afundavam.

Durante todo este tempo, porém, São Miguel não ficou inerte.

Arcanjo de Israel… e do “Novo Israel”

Estava nas mãos desse “Grande Príncipe” (Dn 12, 1) a missão de ­custodiar a nação eleita. Tão excelente patrono foi o sustento dos patriarcas, a inspiração dos profetas, a consolação dos justos, enfim, a defesa dos filhos de Israel. Que privilégio, até mesmo para um Anjo, ter o encargo de guardar o povo do qual nasceria Maria Santíssima e, d’Ela, o “Primogênito de toda a criação” (Col 1, 15)!

Sim, que privilégio e, perdoe-nos São Miguel, que desgosto… Como imaginar que da mesma nação eleita surgiriam os sicários do Messias? Pois o impensável se deu: o Arcanjo viu seu Senhor ser crucificado e morto por aqueles dos quais era o custódio. Neste auge de maldade, o ­Patrono de Israel ainda estava ali, inspirando dor e arrependimento àqueles corações empedernidos.

Fez-se a escuridão em pleno dia, houve terríveis tremores de terra, o véu do Templo se rasgou. Por que não ver também nesses acontecimentos, a indignação de São Miguel contra o infame pecado de deicídio? Tais calamidades pareciam um eco, nesta terra, daquele brado que ressoara na abóbada celeste e fizera temer os anjos revoltosos, precipitando no abismo o espírito outrora “portador da luz”, Lúcifer. Com efeito, eram agora os judeus infiéis que, imitando a atitude do chefe dos demônios, clamavam: “Não servirei!” (Jr 2, 20). Assim como o anjo revoltado, as autoridades do povo deicida perderiam a honra de irradiar a luz da Divina Revelação ao mundo, e seriam lançadas nas trevas do erro, pois “um véu cobre-lhes o coração” (II Cor 3, 15).

No momento, porém, em que do lado aberto do Salvador jorrou sangue e água, nascia o povo da Eterna Aliança, o “Novo Israel”, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, da qual São Miguel se tornava o protetor.

Zeloso defensor da Santa Igreja

Hermas, personagem bastante singular, antigo escravo grego e irmão do Papa Pio I, escreveu uma das obras primevas da literatura cristã, chamada O Pastor.

Este livro muitíssimo apreciado – diríamos mesmo venerado – pelos ­fiéis dos primeiros tempos, está repleto de narrações de experiências místicas, numa das quais fica bem delineado o intimíssimo relacionamento entre São Miguel e a Santa Igreja ainda em seu nascedouro: “O Anjo grande e glorioso é Miguel, que detém o poder sobre este povo e que o governa. É ele quem dá a lei e a insere no coração dos que creem”.

Sem dúvida, o Corpo Místico de Cristo necessitava de um guardião possante para não abandonar a Lei Divina em face das batalhas que viriam. O demônio, levado por seu ódio implacável contra o Cristianismo, não perderia um instante e buscaria sufocá-lo logo em seus primeiros anos de vida.

Nas épocas antigas, a Igreja viu-se obrigada a se esconder nas catacumbas; ser cristão era considerado um crime abominável. Que o digam os romanos, os quais tinham por diversão lançar pessoas inocentes às feras ou condená-las às formas mais cruéis de suplício, enquanto uma assembleia febricitada se entretinha com o atroz espetáculo.

Imersa em tão terrível perseguição, era difícil crer que a Igreja resistiria por muito tempo… O demônio já estava quase cantando vitória, quando uma inesperada intervenção angélica veio frustrar os seus planos.

“Com este sinal vencerás!”

Corria o ano de 312. O trono do Império Romano vacilava entre dois homens: Constantino e Maxêncio. Embora ambos fossem pagãos, o primeiro deles nascera de uma mulher cristã: Santa Helena. Decidiu ele avançar contra Roma, a fim de tomá-la das mãos de seu rival.

Após vários dias de marcha forçada, seu pequeno exército de quarenta mil homens não estava nas condições mais favoráveis para iniciar combate contra um adversário numericamente muito superior.

Inseguro, o filho de Helena resolveu buscar o auxílio do alto: rezou ao Deus de sua mãe. Quando concluiu a oração, pôde divisar no céu uma imensa cruz luminosa, onde se lia esta frase em grego: “Com este sinal vencerás”. Na noite seguinte, a visão se repetiu em sonho e Constantino, percebendo que se tratava de um acontecimento sobrenatural, ordenou que se fizesse um estandarte em forma de cruz para liderar as fileiras de seu exército.

A batalha se deu no dia 28 de outubro e, não obstante os maus prognósticos, Constantino esmagou as tropas de Maxêncio.

Um ano depois, em 313, como sinal de gratidão pela milagrosa vitória, o soberano assinava o Edito de Milão, através do qual punha fim às perseguições contra a Igreja e concedia liberdade de culto aos cristãos. Finalmente, a Religião verdadeira podia respirar um ar diferente daquele das catacumbas.

Contudo, foi somente em 314 que Constantino pôde compreender por inteiro a causa de seu êxito. Em sonho, apareceu-lhe um homem envolto em luz a lhe dizer: “Eu sou o Arcanjo Miguel, o comandante da milícia celeste, o protetor da fé dos cristãos. Era eu que, enquanto tu combatias contra os ímpios tiranos, tornava as tuas armas vitoriosas”.

Uma Mulher vestida de sol

Haveria ainda inúmeros exemplos da infalível ação do Arcanjo ao longo da História, mas é impossível enumerá-los todos. Felizmente, o Espírito Santo nos concedeu um compêndio admirável a esse respeito, em uma cena descrita no Livro do Apocalipse.

No início do capítulo doze, São João relata uma visão grandiosa: aparece no firmamento uma ­Mulher vestida de sol, coroada com doze estrelas e tendo a lua sob os pés. Ela está grávida e geme em dores de parto. Surge então outro grande sinal: um Dragão, cor de fogo, que se põe em frente à Mulher, a fim de devorar seu filho logo que viesse à luz. Ela foge para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um refúgio. Imediatamente após essa descrição, o Apóstolo Virgem acrescenta: “Houve uma batalha no Céu. Miguel e seus Anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar no Céu para eles” (12, 7-8).

Trata-se de cenas muito enigmáticas – como, aliás, todo o Livro do Apocalipse –, mas chama a atenção o fato de São João as ter narrado juntas. O Dragão que persegue a Mulher é o mesmo que foi derrotado por São Miguel, e a luta entre os dois se dá em função dela: aquele a ataca, este a defende.

Quem será esta Mulher misteriosa? A própria Virgem Maria? Muitos o afirmam; é uma aplicação tradicional e belíssima, mas não a única. Alguns Padres da Igreja e escritores eclesiásticos encontraram razões para acrescentar outra interpretação: a que identifica a Mulher com a Santa Igreja.

Assim como Dama do Apocalipse foi perseguida pelo Dragão, a Igreja é atacada pelo demônio e seus asseclas. E, da mesma forma que São Miguel derrotou o monstro que ameaçava a Mulher, ele também se mostra de um zelo extremo no que tange à proteção da Esposa Mística de Cristo, sobretudo nos momentos de maior perigo.

Vitória final de São Miguel

Quando será a última batalha? Como será esse dia feliz, em que o Dragão se verá definitivamente precipitado no abismo?

No que diz respeito ao quando, não há o que dizer; o futuro a Deus pertence… Mas sobre o como, muitas revelações privadas nos proporcionam alguma ideia.

A esse propósito, é assaz elucidativo o que afirma a Beata Ana Catarina Emmerick, grande mística do século XIX. Por entre os véus simbólicos de que a narração está repleta, podemos discernir alguns contornos do que será o embate derradeiro:

“Eu vi novamente a Igreja de São Pedro com sua grande cúpula. Sobre ela resplandecia o Arcanjo São Miguel, vestido de cor vermelha, tendo uma grande bandeira de combate nas mãos. A terra era um imenso campo de batalha. […] A Igreja era de cor sangrenta, como a veste do Arcanjo. Ouvi que me diziam: ‘Terá um Batismo de sangue’. Quanto mais se prolongava o combate, mais se apagava a viva cor vermelha da Igreja, e ela se tornava mais transparente”.

Quase três anos depois, Ana Catarina Emmerick anotará uma nova revelação, na qual fornece mais detalhes sobre essa purificação da Igreja em plena refrega:

“Eu vi a Igreja de São Pedro totalmente destruída, exceto o coro e o altar-mor. São Miguel, armado e cingido, desceu à igreja e com sua espada impediu que nela entrassem muitos maus pastores, e os impeliu até um ângulo escuro […]. Tudo o que havia sido destruído na igreja foi reconstruído em poucos instantes, de sorte que se pudesse celebrar o culto divino. Vieram sacerdotes e leigos de todo o mundo trazendo pedras para reedificar os muros, já que os fundamentos não foram destruídos pelos demolidores”.

Na época das perseguições romanas, os inimigos da Santa Igreja buscavam destruí-la pela força, pelas armas e pela perseguição aberta. Em nossos dias, porém, seus métodos parecem mais inteligentes: sabem que não podem matá-la e procuram, então, desfigurá-la tanto quanto consigam.

Mas ela nada tem a temer, pois a seu lado está aquele cuja simples presença enche de pavor os inimigos do Altíssimo. O Arcanjo São Miguel, que venceu o demônio no prœlium magnum do Céu e soube derrotá-lo incontáveis vezes na terra, proverá também a vitória fina

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 249, setembro 2022. Por Lucas Rezende de Sousa.

Publicado em Gaudium Press.

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Nossa Senhora do Carmo – Memória – 16.07.2024

Doze chaves para usar o escapulário de Nossa Senhora do Carmo

16 de jul de 2024 às 01:00

“A devoção do Escapulário do Carmo fez descer sobre o mundo copiosa chuva de graças espirituais e temporais”, disse o papa Pio XII. Conheça aqui 12 chaves para quem usa este objeto religioso.

1. Não é um amuleto

Não é um amuleto nem nenhuma garantia automática de salvação ou uma dispensa para não viver as exigências da vida cristã. “Perguntas: e se eu quiser morrer com meus pecados? Eu te respondo, então morrerá em pecado, mas não morrerá com teu escapulário”, advertia São Cláudio de la Colombière.

2. Era uma veste

Escapulário vem do latim “scapulae” que significa “ombros” e originalmente era uma veste sobreposta que caia dos ombros, usada pelos monges no trabalho. Os carmelitas o assumiram como mostra de dedicação especial à Virgem, buscando imitar sua entrega a Cristo e ao próximo.

3. É um presente da Virgem

Segundo a tradição, o escapulário, tal como se conhece atualmente, foi dado pela própria Virgem Maria a São Simão Stock em 16 de julho de 1251. A Mãe de Deus lhe disse: “Deve ser um sinal e privilégio para ti e para todos os Carmelitas: Aquele que morrer usando o escapulário não sofrerá o fogo eterno”. Posteriormente, a Igreja estendeu este escapulário aos leigos.

4. É um mini hábito

É como um hábito carmelita em miniatura que todos os devotos podem portar como mostra de sua consagração à Virgem. Consiste em um cordão que se coloca no pescoço com duas peças pequenas de tecido cor de café. Uma das peças fica sobre o peito e a outra sobre as costas e se costuma usar sob a roupa.

5. É sinal de serviço

Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Igreja, dizia: “Assim como os homens ficam orgulhosos quando outros usam a sua insígnia, assim a Santíssima Virgem se alegra quando os seus filhos usam o escapulário como sinal de que se dedicam ao seu serviço e são membros da família da Mãe de Deus”.

6. Tem três significados

O amor e o amparo maternal de Maria, a pertença a Nossa Senhora e o suave jugo de Cristo que Ela nos ajuda a levar.

7. É um sacramental

É reconhecido pela Igreja como um sacramental, ou seja, um sinal que ajuda a viver santamente e a aumentar nossa devoção. O escapulário não comunica graças como fazem os Sacramentos, mas sim dispõe ao amor do Senhor e ao arrependimento se recebido com devoção.

8. Pode ser dado a um não católico

Certo dia, levaram a São Stock um ancião moribundo, que ao recuperar a consciência disse ao santo que não era católico, que usava o escapulário como promessa a seus amigos e que rezava uma Ave Maria diariamente. Antes de morrer, recebeu o batismo e a unção dos enfermos.

9. Foi visto em uma aparição de Fátima

Lúcia, a vidente de Nossa Senhora de Fátima, contou que na última aparição (outubro de 1917), Maria apareceu com o hábito carmelita e o escapulário na mão e voltou a pedir que seus verdadeiros filhos o levassem com reverência. Deste modo, pediu que aqueles que se consagrem a Ela o usem como sinal desta consagração.

10. O escapulário que não se danificou

O Beato Papa Gregório X foi enterrado com seu escapulário e 600 anos depois, quando abriram sua tumba, o objeto mariano estava intacto. Algo semelhante aconteceu com Santo Afonso Maria de Ligório. São João Bosco e São João Paulo II também o usavam e São Pedro Claver investia com o escapulário os que convertia e preparava.

11. Não é qualquer um que o pode impor

A imposição do escapulário deve ser feita preferivelmente em comunidade e que na celebração fique bem expresso o sentido espiritual e de compromisso com a Virgem. O primeiro escapulário deve ser abençoado por um sacerdote e posto sobre o devoto com a seguinte oração.

“Recebe este santo Escapulário como sinal da Santíssima Virgem Maria, Rainha do Carmelo, para que, com seus méritos, o uses sempre com dignidade, seja tua defesa em todas as adversidades e te conduza à vida eterna”.

Publicado em acidigital.

Julho é o mês dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor

O mês de julho, na tradição católica, é especialmente dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta devoção destaca o sacrifício redentor de Cristo e a importância do seu sangue derramado para a salvação da humanidade. Celebrar o Preciosíssimo Sangue é reconhecer o profundo mistério da redenção e a grandeza do amor de Deus pelos seus filhos. Quando olhamos a imagem do Sagrado Coração de Jesus observamos que Jesus aponta para o seu coração. O coração de Jesus é a fonte de amor e Jesus expressou esse amor doando todo o seu sangue para nos resgatar. Sangue é vida!

Origem da Devoção

A devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo tem raízes profundas na história da Igreja. Desde os primeiros tempos do cristianismo, o sangue de Cristo foi venerado como o preço da redenção da humanidade. Um dos primeiros a ter a devoção ao preciosíssimo sangue de Jesus foi São Gaspar de Búfalo. Ele propagou fortemente essa devoção, tendo a aprovação da Santa Sé. Foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue (CPPS) em 1815.

No entanto, a formalização desta devoção como um mês específico dedicado ao Preciosíssimo Sangue ocorreu no século XIX. O Papa Pio IX, em 1849, instituiu oficialmente a festa do Preciosíssimo Sangue em resposta à turbulência política da época e às ameaças contra a Igreja. Em 1969, o Papa Paulo VI incorporou a festa ao Calendário Litúrgico Geral, estabelecendo o primeiro domingo de julho como o dia da sua celebração.

Significado Teológico

O Preciosíssimo Sangue de Cristo é um símbolo poderoso do sacrifício redentor de Jesus na cruz. Segundo a doutrina católica, o sangue de Cristo foi derramado para expiar os pecados da humanidade, oferecendo salvação e reconciliação com Deus. Este sacrifício é central para a fé cristã e é celebrado na Eucaristia, onde os fiéis participam do corpo e sangue de Cristo. Através do seu sangue, Jesus estabelece uma nova aliança, superando a antiga aliança baseada nos sacrifícios de animais, e oferecendo uma redenção eterna.

Práticas Devocionais

Durante o mês de julho, os católicos são incentivados a aprofundar a sua devoção ao Preciosíssimo Sangue de várias maneiras. Entre as práticas mais comuns estão a participação na Santa Missa, a recitação do Terço do Preciosíssimo Sangue, a realização de novenas e a meditação sobre as Estações da Cruz. Essas práticas ajudam os fiéis a refletir sobre o sacrifício de Cristo e a renovar o compromisso com a vida cristã. A oração “Anima Christi”, que pede especificamente a proteção do sangue de Cristo, também é frequentemente recitada durante este mês.

Reflexão Espiritual

A devoção ao Preciosíssimo Sangue não é apenas uma lembrança do sofrimento de Cristo, mas também um chamado à transformação pessoal. Os fiéis são convidados a refletir sobre o significado do sacrifício de Jesus nas suas vidas, a reconhecer os seus pecados e a procurar a misericórdia divina. O sangue de Cristo, como fonte de vida e redenção, inspira os católicos a viverem de maneira mais plena e comprometida com os valores do Evangelho. Esta devoção promove uma espiritualidade de gratidão, humildade e renovação constante.

Importância para a Igreja

A devoção ao Preciosíssimo Sangue de Cristo fortalece a identidade e a unidade da Igreja. Ela lembra aos fiéis que todos são redimidos pelo mesmo sacrifício e chamados a viver em comunhão com Deus e com os outros. Adicionalmente, esta devoção destaca a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja, onde o mistério da redenção é renovado e celebrado continuamente. O mês de julho, dedicado ao Preciosíssimo Sangue, oferece uma oportunidade para a Igreja renovar a sua missão de testemunhar o amor redentor de Cristo ao mundo.

Conclusão

O mês de julho, dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor, é um período de profunda reflexão e renovação espiritual para os católicos. Através desta devoção, os fiéis são lembrados do imenso amor de Cristo, manifestado no seu sacrifício redentor. Celebrar o Preciosíssimo Sangue é uma oportunidade para os cristãos aprofundarem a sua fé, renovarem o seu compromisso com a vida cristã e unirem-se mais intimamente à missão da Igreja. Ao refletir sobre o sacrifício de Cristo, os fiéis são inspirados a viver de maneira mais plena e comprometida, testemunhando o amor redentor de Deus nas suas vidas diárias.

Publicado em Via Crucis.

Junho: mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus

Neste mês de junho, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, somos convidados, pela Igreja, a contemplar e experimentar, nesta devoção, o infinito amor de Deus por nós.

“Na encíclica Deus caritas est, citei a afirmação da primeira carta de São João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem e cremos nele» para sublinhar que, na origem da vida cristã, está o encontro com uma Pessoa (cf. n.1). Dado que Deus se manifestou da maneira mais profunda por meio da encarnação de Seu Filho, fazendo-se «visível» n’Ele.

Na relação com Cristo, podemos reconhecer quem é verdadeiramente Deus (cf. encíclica Haurietis aquas, 29,41; encíclica «Deus caritas est»,12-15). Mais ainda dado que o amor de Deus encontrou sua expressão mais profunda na entrega que Cristo fez de sua vida por nós na Cruz. Ao contemplarmos seu sofrimento e morte, podemos reconhecer, de maneira cada vez mais clara, o amor sem limites de Deus por nós: «tanto amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que crer nele não pereça, mas que tenha vida eterna» (João 3,16).

Junho: mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus

Foto ilustrativa: by Getty Images Sedmak

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Por outro lado, esse mistério do amor de Deus por nós não constitui só o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda verdadeira espiritualidade e devoção cristã. Portanto, é importante sublinhar que o fundamento dessa devoção é tão antigo como o próprio cristianismo. De fato, só se pode ser cristão dirigindo o olhar à Cruz de nosso Redentor, «a quem transpassaram» (João 19, 37; cf. Zacarias 12, 10).

A encíclica Haurietis aquas lembra que a ferida do lado e as dos pregos foram para numeráveis almas os sinais de um amor que transformou, cada vez mais incisivamente, sua vida (cf. número 52). Reconhecer o amor de Deus no Crucificado se converteu para elas em uma experiência interior, o que as levou a confessar junto a Tomé: «Meu Senhor e meu Deus!» (João 20,28), permitindo-lhes alcançar uma fé mais profunda na acolhida sem reservas do amor de Deus (cf. encíclica «Haurietis aquas», 49).

Experimentar o amor de Deus

O significado mais profundo desse culto ao amor de Deus só se manifesta quando se considera mais atentamente sua contribuição não só ao conhecimento, mas também, e sobretudo, à experiência pessoal desse amor na entrega confiada a seu serviço (cf. encíclica Haurietis aquas, 62). Obviamente, experiência e conhecimento não podem separar-se: um faz referência ao outro. Também é necessário sublinhar que um autêntico conhecimento do amor de Deus só é possível no contexto de uma atitude de oração humilde e de disponibilidade generosa.

Partindo dessa atitude interior, o olhar posto no lado transpassado da lança se transforma em silenciosa adoração. O olhar no lado transpassado do Senhor, do qual saem «sangue e água» (cf. Gv 19, 34), ajuda-nos a reconhecer a multidão de dons de graça que daí procedem (cf. encíclica Haurietis aquas, 34-41) e nos abre a todas as demais formas de devoção cristã que estão compreendidas no culto ao Coração de Jesus.

Leia mais:
.: Os melhores dons são aqueles que recebemos de Deus
.: As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus
.: Um coração consagrado a Jesus
.: Sagrado Coração: mais que uma devoção, uma espiritualidade

A fé é um dom que vem do amor

A fé, compreendida como fruto do amor de Deus experimentado, é uma graça, um dom divino. O homem, no entanto, poderá experimentar a fé como uma graça só na medida em que ele a aceita dentro de si como um dom, e procura vivê-lo. O culto do amor de Deus, ao que convidava aos fiéis a encíclica Haurietis aquas (cf. ibidem, 72), deve nos ajudar a recordar incessantemente que Ele carregou com este sofrimento voluntariamente «por nós», «por mim».

Quando praticamos este culto, não só reconhecemos com gratidão o amor de Deus, mas continuamos nos abrindo a esse amor, de maneira que a nossa vida vai ficando cada vez mais modelada por ele. Deus, que derramou seu amor «em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (cf. Romanos 5, 5), convida-nos, incansavelmente, a acolher seu amor. O convite a entregar-se totalmente ao amor salvífico de Cristo (cf. ibidem, n. 4) tem como primeiro objetivo a relação com Deus. Por esse motivo, esse culto totalmente orientado ao amor de Deus que se sacrifica por nós tem uma importância insubstituível para nossa fé e para nossa vida no amor.”

(Trecho da Carta de Bento XVI ao padre Peter-Hans Kolvenbach, Companhia de Jesus.)

Publicado em Canção Nova.

Uma visão e um milagre: a origem de “Corpus Christi” – 30.05.2024

Foi o próprio Jesus Cristo quem pediu à Igreja, quase um milênio atrás, que fosse instituída uma festa litúrgica em honra de seu Santíssimo Corpo e de seu Preciosíssimo Sangue.

A solenidade de Corpus Christi, que os católicos celebramos todos os anos na primeira quinta-feira após a Oitava de Pentecostes, não existiu na Igreja desde sempre. O marco de sua instituição é a bula Transiturus de hoc mundo, do Papa Urbano IV, publicada a 11 de agosto de 1264, e que pode ser lida com grande interesse no site do Vaticano.

Mais notável que esse decreto do Papa, no entanto, são seus antecedentes espirituais. A literatura normalmente aponta dois eventos principais que culminaram com a instituição da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo:

  1. uma visão de Santa Juliana de Liège, religiosa agostiniana belga, e
  2. um milagre eucarístico ocorrido na cidade de Bolsena, na Itália.

As ligações não são fruto de especulação histórica. O Papa que instituiu Corpus Christi conheceu pessoalmente ambos os acontecimentos. Daí a importância de os repassarmos, para entendermos qual o sentido da festa que ora celebramos e, ao mesmo tempo, colhermos disso abundantes frutos espirituais.

Primeiramente, Santa Juliana. O que viu essa mística para ensejar a instituição de uma festa litúrgica para a Igreja universal? O Papa Bento XVI, em uma catequese sobre essa santa, explica:

Com a idade de 16 anos [n.d.t.: por volta de 1209, portanto, ela] teve uma primeira visão, que depois se repetiu várias vezes nas suas adorações eucarísticas. A visão apresentava a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor levou-a a compreender o significado daquilo que lhe tinha aparecido. A lua simbolizava a vida da Igreja na terra, a linha opaca representava, ao contrário, a ausência de uma festa litúrgica, para cuja instituição se pedia a Juliana que trabalhasse de maneira eficaz: ou seja, uma festa em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento. […]

Pela boa causa da festa do Corpus Christi foi conquistado […] Tiago Pantaleão de Troyes, que conhecera a santa durante o seu ministério de arquidiácono em Liège. Foi precisamente ele que, tendo-se tornado Papa com o nome de Urbano IV, em 1264, instituiu a solenidade do Corpus Christi como festa de preceito para a Igreja universal […]. [1]

O chamado “Milagre de Bolsena-Orvieto”, por sua vez, foi realizado por Deus com um sentido bem particular: firmar a fé vacilante de um sacerdote.

Detalhe de “A Missa em Bolsena”, por Rafael.

Em 1263 — um ano antes, portanto, da instituição de Corpus Christi —, um padre alemão, chamado Pedro de Praga, parou na cidade de Bolsena depois de uma peregrinação à Cidade Eterna. A crônica geralmente o descreve como um padre piedoso, mas que tinha dificuldades para acreditar que Cristo estivesse realmente presente na Hóstia consagrada. Eis então o que lhe aconteceu:

Enquanto celebrava a Santa Missa sobre o túmulo de Santa Cristina, mal havia ele pronunciado as palavras da consagração, quando sangue começou a escorrer da Hóstia consagrada, gotejando em suas mãos e descendo sobre o altar e o corporal. O padre ficou imediatamente perplexo. A princípio, ele tentou esconder o sangue, mas então interrompeu a Missa e pediu para ser levado à cidade vizinha de Orvieto, onde o Papa Urbano IV então residia.

O Papa ouviu o relato do padre e o absolveu. Mandou então emissários para uma investigação imediata. Quando todos os fatos foram confirmados, ele ordenou ao bispo da diocese que trouxesse a Orvieto a Hóstia e o pano de linho contendo as manchas de sangue. Juntamente com arcebispos, cardeais e outros dignatários da Igreja, o Papa realizou uma procissão e, com grande pompa, introduziu as relíquias na catedral. O corporal de linho contendo as marcas de sangue ainda está reverentemente conservado e exposto na Catedral de Orvieto. [2]

Como se sabe, depois disso, o Papa pediu a ninguém menos que Santo Tomás de Aquino para compor os textos litúrgicos referentes a Corpus Christi, de cuja pena nasceram os mais belos hinos já escritos ao Santíssimo Sacramento, e que todos cantamos ainda hoje.

Mas o que tudo isso tem a ver conosco?

Em primeiro lugar, lembremo-nos dos três fins com que Jesus pediu essa festa a Santa Juliana: “aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento”. Todos atualíssimos. Pois a católica no sacramento da Eucaristia parece perder-se cada vez mais. Como consequência disso, multiplicam-se as profanações e os sacrilégios. O que deveria ser, então, alimento para fortalecer as almas, transforma-se em causa de sua própria condenação, para usar as palavras de São Paulo (cf. 1Cor 11, 29); e as pessoas, ao invés de melhorar, de crescer nas virtudes, só vão de mal a pior.

Por tudo isso, Corpus Christi é um dia de reparação. Reparação pela falta de fé generalizada em que se encontram nossos católicos, participando da Missa de qualquer modo e recebendo a Comunhão como se fosse um pedacinho qualquer de pão. Reparação porque, apesar de tantos milagres eucarísticos, como o de Bolsena, em que Deus parece gritar aos nossos ouvidos a verdade de sua presença real na Eucaristia, nós, ingratos, teimamos em não crer, não adorar, não esperar e não O amar. Reparação porque, a um Deus que deseja ardentemente se unir a nós, a nossa resposta tantas vezes é a frouxidão, a frieza, a indiferença.

“Corpus Christi” é uma festa “para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento”.

Reparemos, portanto, o Coração Eucarístico de Nosso Senhor, mas com um coração alegre e agradecido de nossa parte, porque é Ele mesmo quem nos torna possível essa graça. Foi o próprio Jesus Cristo quem pediu à Igreja, quase um milênio atrás, que fosse instituída a solenidade que hoje comemoramos, a festa litúrgica que faltava à “vida da Igreja na terra”.

E não nos espantemos que tenha demorado tanto tempo — 1200 anos! — para que os fiéis católicos começássemos a celebrá-la. A cada nova geração de cristãos, Deus suscita coisas novas em sua Igreja. Do mesmo modo, a cada Santa Missa de que participamos, Ele quer fazer coisas novas em nossa alma. Estejamos sempre atentos.

Referências

  1. Papa Bento XVI, Audiência Geral (17 de novembro de 2010).
  2. Joan Carroll Cruz, Eucharistic Miracles, Charlotte: Tan Books, 2010, p. 64 (tradução e adaptação nossa).

Publicado em Equipe Christo Nihil Praeponere (Padre Paulo Ricardo)

A Paixão de Cristo: uma Profunda Análise Católica

QUARESMA – 2024

A Paixão de Cristo é um dos eventos mais significativos e profundamente simbólicos da fé católica, representando o ápice do amor de Deus pela humanidade e o sacrifício redentor de Jesus Cristo. Este artigo visa explorar o significado e o simbolismo da Paixão de Cristo, destacando como esses eventos, descritos nos Evangelhos, continuam a influenciar e moldar a fé católica. 

Entendendo a Paixão de Cristo

A narrativa da Paixão de Cristo se desenrola em várias etapas, cada uma com seu significado teológico e espiritual profundo:

A Entrada em Jerusalém

A entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado como Messias, cumpre a profecia de Zacarias: “Alegra-te muito, filha de Sião! Exulta, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti; ele é justo e salvador” (Zacarias 9:9). Este momento simboliza a aceitação de Jesus de sua missão redentora e a expectativa messiânica do povo.

A Última Ceia

Durante a Última Ceia, Jesus institui a Eucaristia, dizendo: “E, tomando o pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim’. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é o novo pacto no meu sangue, que é derramado por vós'” (Lucas 22:19-20). Aqui, Jesus estabelece um novo pacto, marcando a transição da Antiga para a Nova Aliança.

A Oração no Jardim do Getsêmani

Confrontado com a realidade de sua iminente morte, Jesus ora intensamente no Getsêmani: “Pai, se quiseres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42). Este momento destaca a humanidade de Jesus, sua angústia e sua submissão total à vontade do Pai.

A Traição de Judas e o Julgamento

A traição de Judas e os julgamentos subsequentes perante as autoridades religiosas e Pilatos revelam tanto a injustiça humana quanto a integridade inabalável de Jesus: “Então, o levaram a Pilatos. E começaram a acusá-lo” (Lucas 23:1).

A Crucificação e Morte

Na crucificação, o amor supremo de Jesus é revelado: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Sua morte na cruz é o ponto culminante do amor redentor e da salvação oferecida à humanidade.

O Sepultamento

O sepultamento de Jesus marca a realidade de sua morte humana e prepara o cenário para o milagre da Ressurreição.

Simbolismo Teológico da Paixão

Cada aspecto da Paixão possui um significado teológico profundo. A entrada em Jerusalém mostra Jesus como o Messias esperado; a Última Ceia estabelece a Eucaristia como um pilar central da fé católica; o Getsêmani destaca a obediência e humanidade de Cristo; a traição e julgamento revelam as falhas humanas e a retidão de Cristo; a crucificação simboliza o amor sacrificial e a redenção dos pecados. Juntos, esses eventos formam um poderoso testemunho do plano de salvação de Deus e do amor infinito de Cristo pela humanidade.

A Paixão de Cristo não é apenas um relato histórico; é um convite contínuo à reflexão, transformação e renovação espiritual. Ela nos inspira a seguir o exemplo de amor, sacrifício e obediência de Jesus e a viver nossas vidas em resposta ao seu chamado de amor e serviço.

A Paixão na Liturgia e na Devoção Católica

A Paixão de Cristo ocupa um lugar central na liturgia e na devoção católica. A Semana Santa, culminando na Páscoa, é marcada por liturgias que rememoram os eventos da Paixão. A Via Sacra, uma meditação sobre as “Estações da Cruz”, ajuda os fiéis a se conectarem com o sacrifício de Cristo.

Reflexão e Identificação com o Sofrimento de Cristo

A contemplação da Paixão permite uma reflexão profunda sobre o significado do sofrimento e sacrifício em nossas vidas. Identificar-se com o sofrimento de Cristo conduz a uma compreensão mais profunda do amor sacrificial e da redenção, reforçando a crença na vitória sobre o pecado e a morte.

A Paixão e a Vida Cristã Contemporânea

A Paixão de Cristo vai além de um evento histórico; é um convite contínuo à transformação pessoal. Em um mundo marcado por desafios, a história da Paixão oferece uma mensagem de esperança e salvação.

A Paixão como Modelo de Amor e Serviço

A entrega de Jesus é um modelo para os cristãos em termos de amor, serviço e sacrifício, inspirando a viver vidas de compaixão, buscar justiça e oferecer misericórdia.

A Paixão na Educação da Fé

No ensino da fé católica, a Paixão é um ponto de referência constante para compreender o amor de Deus, a realidade do pecado e a promessa da redenção.

Conclusão

A Paixão de Cristo permanece como um símbolo poderoso e transformador na fé católica, encapsulando a essência do amor de Deus, e continua a moldar as práticas devocionais e a vida espiritual dos cristãos. Ao refletir sobre a Paixão, somos convidados a mergulhar mais profundamente em nossa jornada de fé, reconhecendo o amor incondicional de Deus e respondendo com uma vida de serviço, amor e dedicação total.

Publicado em Santos Católicos.

Liturgia Diária – 1ª Semana da Quaresma – Terça-feira (20/02/2024)

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Liturgia diária de Terça-feira, 20 de fevereiro de 2024. Homilia diária do evangelho, oração do dia de hoje.

Publicado por Mundo dos Católicos em 20/02/2024

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Liturgia Diária

Liturgia Diária de Terça-feira, 20 de fevereiro de 2024.

Leia diariamente a Liturgia do Dia aqui no Mundo dos Católicos. Reflita a Homilia do Dia do Evangelho e acompanhe a Liturgia de hoje aqui no Mundo dos Católicos.

1ª Leitura

Primeira leitura: Isaías 55, 10-11

Leitura do livro do Profeta Isaías:

Isto diz o Senhor: 10″Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra e fazê-la germinar e dar semente para o plantio e para a alimentação, 11assim a palavra que sair de minha boca não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi ao enviá-la”.

– Palavra do Senhor

– Graças a Deus

Salmo

Salmo 33 (34)

– O Senhor liberta os justos de todas as angústias.

– Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos o seu nome! Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu e de todos os temores me livrou.

– Contemplai a sua face e alegrai-vos, e vosso rosto não se cubra de vergonha! Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido, e o Senhor o libertou de toda angústia.

– O Senhor pousa seus olhos sobre os justos, e seu ouvido está atento ao seu chamado; mas ele volta a sua face contra os maus, para da terra apagar sua lembrança.

– Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta e de todas as angústias os liberta. Do coração atribulado ele está perto e conforta os de espírito abatido.

Evangelho do Dia

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 6, 7-15

– Glória a Cristo, Palavra eterna do Pai, que é amor!

– O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra da boca de Deus (Mt 4,4);

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus:

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7″Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. 13E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.

– Palavra da Salvação

– Glória a Vós, Senhor

Reflexão da Liturgia Diária

Lembre-se de que Jesus costumava sair sozinho às vezes e passar a noite inteira em oração. Assim, fica claro que Jesus é a favor de momentos de oração longos e sinceros, pois nos deu como lição o seu próprio exemplo. Mas há claramente uma diferença entre aquilo que nosso Senhor fez a noite toda e aquilo que Ele criticou os pagãos por fazerem quando eles “balbuciavam” com muitas palavras. Depois desta crítica à oração dos pagãos, Jesus dá-nos a oração do “Pai Nosso” como modelo da nossa oração pessoal.

A oração do Pai Nosso começa dirigindo-se a Deus de uma forma profundamente pessoal. Isto é, Deus não é apenas um ser cósmico todo-poderoso. Ele é pessoal, familiar – Ele é nosso Pai. Jesus continua a oração instruindo-nos a honrar nosso Pai, proclamando Sua santidade. Deus e somente Deus é o Santo do qual deriva toda a santidade da vida. Ao reconhecermos a santidade do Pai, devemos também reconhecê-Lo como Rei e procurar a Sua Realeza para as nossas vidas e para o mundo. Isto só é realizado quando Sua vontade perfeita é feita “na terra como no céu”. Esta oração perfeita termina reconhecendo que Deus é a fonte de todas as nossas necessidades diárias, incluindo o perdão dos nossos pecados e a proteção contra todo o mal.

Após a conclusão desta oração de perfeição, Jesus fornece um contexto no qual esta e todas as orações devem ser feitas. Ele diz: “Se você perdoar aos homens as suas transgressões, seu Pai celestial irá perdoar você. Mas se vocês não perdoarem aos homens, também o seu Pai não perdoará as suas transgressões.” A oração só será eficaz se permitirmos que ela nos mude e nos torne mais semelhantes ao Pai Celestial. Portanto, se quisermos que a nossa oração de perdão seja eficaz, devemos viver aquilo pelo que oramos. Devemos também perdoar os outros para que Deus nos perdoe.

Reflita, hoje, sobre esta oração perfeita, o Pai Nosso. Uma tentação é que podemos ficar tão familiarizados com esta oração que encobrimos o seu verdadeiro significado. Se isso acontecer, descobriremos que estamos orando mais como os pagãos que simplesmente balbuciam as palavras. Mas se entendermos com humildade e sinceridade cada palavra, então poderemos ter certeza de que nossa oração se tornará mais parecida com a de nosso Senhor. Santo Inácio de Loyola recomenda ponderar cada palavra dessa oração muito lentamente, uma palavra de cada vez. Tente orar desta forma, hoje, e permita que o Pai Nosso passe do balbucio para a comunicação autêntica com o Pai Celestial.

Oração do Dia

Pai Nosso, que estás nos céus, Santificado seja o Teu Nome. Venha o Teu Reino. Seja feita a Tua Vontade, assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. E perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles que nos ofenderam. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Amém. Jesus eu confio em vós.

A Liturgia Diária para os Católicos

Usada nas missas, a Liturgia Diária também pode ser usada em outras celebrações. E também pode ser utilizada em outros momentos como em Grupos de Meditação e Orações.

Apesar da igreja celebrar o Mistério de Cristo todos os dias, o ponto central é a missa dominical. É neste dia que os católicos devem ir obrigatoriamente à missa como forma de fé.

Deste modo, a Liturgia Diária é a ação do povo de Deus em unidade. Durante a celebração da missa católica, a Liturgia do Dia pode ser praticada por gestos, palavras ou sinais .

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