Fiéis são incentivados a retornar à mensagem de Fátima sobre a devoção dos Primeiros Sábados em seu centenário (10 de dezembro de 2025)

Centenas de milhares de fiéis reuniram-se no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, no dia 12 de maio de 2025, para rezar pelo recém-eleito Papa Leão XIV e pela paz mundial. Os peregrinos vieram ao santuário para participar das comemorações do 108º aniversário da primeira aparição de Maria a três crianças pastoras, em 13 de maio de 1917.
(Foto: OSV News/Pedro Nunes, Reuters)

(OSV News) ─ […] Nossa Senhora de Fátima – Nossa Mãe Santíssima […] em 1925 pediu aos fiéis que cumprissem a devoção dos Primeiros Sábados.

É um pedido que ─ em seu centenário, em 10 de dezembro ─ é frequentemente considerado “esquecido” entre os eventos sobrenaturais que cercam Fátima. Mas, após as aparições mais conhecidas de 1917, a Irmã Lúcia de Jesus Rosa dos Santos – uma das três videntes de Fátima, que mais tarde se tornou freira carmelita – revelou que Maria lhe apareceu duas vezes enquanto estava hospedada em um convento em Pontevedra, na Espanha, e pediu especificamente a prática.

Católicos do mundo todo foram convidados a dedicar o primeiro sábado do mês – por cinco meses consecutivos, daí o nome “Cinco Primeiros Sábados” – à confissão, à recepção da Sagrada Comunhão e ao rosário e meditação [por 15 minutos] sobre seus mistérios.

“Acredito que os aniversários de 100 anos são significativos porque ajudam a relembrar as novas gerações sobre as devoções que não desaparecem”, disse Barbara Ernster, gerente de comunicação e editora do Apostolado Mundial de Fátima EUA, à OSV News.

Embora não tenha havido qualquer investigação canônica, a devoção dos Primeiros Sábados foi aprovada pelo bispo de Leiria, Portugal, em 13 de setembro de 1939.

“Nossa Senhora pediu-nos que fizéssemos isto, e a mensagem de Fátima é atemporal”, disse Ernster, “porque é a mensagem do Evangelho. Nunca ficará desatualizada.”

Falando de Fátima — onde participava num programa e conferência do centenário, no âmbito do Apostolado Mundial — Ernster reforçou a mensagem de paz.

“Uma das coisas que Lúcia sempre dizia era que isso poderia ajudar a evitar guerras e contribuir para a paz mundial. E nos vemos agora em situações em que ouvimos falar de uma terceira guerra mundial – qualquer coisa poderia desencadeá-la. Mesmo em nosso próprio país, há tanta divisão… E então”, concluiu Ernster, “fazemos isso para que possamos ajudar a trazer a paz – paz para nossas famílias, para nossas nações, para nossa Igreja.”

São Carlos Acutis contou que, em um sonho após a morte da Irmã Lúcia, ela lhe disse: “A prática dos cinco primeiros sábados do mês pode mudar o destino do mundo.

O cardeal Raymond L. Burke, ex-prefeito do Supremo Tribunal do Vaticano e arcebispo de Saint-Louis de 2004 a 2008, incentivou uma maior participação na devoção dos Primeiros Sábados, apoiando uma iniciativa liderada pela França conhecida como “Aliança dos Primeiros Sábados de Fátima”, que também lançou o “Jubileu dos Primeiros Sábados de Fátima 2025” em 4 de janeiro.

A proximidade do centenário da aparição do Menino Jesus e de Sua Santíssima Mãe à Irmã Lúcia em Pontevedra, em 10 de dezembro de 1925, convida os fiéis a renovarem, com fé mais profunda e maior fervor, a prática da Devoção Reparadora dos Primeiros Sábados”, disse o Cardeal Burke em mensagem enviada à OSV News.

Essa devoção, insistentemente solicitada pela própria Nossa Senhora como um ato de amorosa reparação ao seu Coração Doloroso e Imaculado, permanece de importância duradoura para a salvação das almas e para a paz no mundo“, acrescentou o prelado, que, como bispo de La Crosse, Wisconsin (1995-2004), fundou o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe naquela cidade.

No dia 10 de dezembro, o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe celebrará uma missa para comemorar o centenário das aparições em Pontevedra.

Encorajo a todos a perseverarem nesta devoção“, convidou o Cardeal Burke, “com a confiança de Nossa Senhora na fidelidade de Deus às suas promessas de vitória sobre o pecado e a vitória da vida eterna.” O Padre Edward Looney, secretário da Sociedade Mariológica da América, também afirmou que os fiéis devem atender ao pedido de Maria. “No que diz respeito a Fátima, todos nós nos esforçamos para rezar o terço todos os dias, como ela pediu. Os mais dedicados observam a devoção do Primeiro Sábado“, compartilhou. “Se todos os católicos praticantes atendessem a este pedido, como sacerdote, eu estaria muito ocupado com confissões.

Observando que os Primeiros Sábados também servem como reparação pelas ofensas contra Nossa Senhora, o Padre Looney acrescentou: “Temos visto estátuas vandalizadas e pessoas falando mal de Maria. Os Primeiros Sábados nos chamam a renovar nosso amor por Maria e a difundi-lo para que seu Imaculado Coração triunfe!” Para aqueles que não podem viajar para Fátima ou Pontevedra, o Apostolado Mundial de Fátima EUA oferece uma Peregrinação Virtual dos Primeiros Sábados a 12 locais sagrados relacionados a Fátima e às três videntes. Vídeos curtos, filmados no local, incluirão uma reflexão sobre os eventos e a devoção.

O mais importante é que esta era a parte que nos cabia fazer, a parte que nos foi dada“, enfatizou Ernster. “A Igreja recebeu a sua parte em Fátima, mas os leigos receberam a sua parte — e é por isso que fazemos isto para ajudar a responder à mensagem que Nossa Senhora nos trouxe.

Kimberley Heatherington é correspondente da OSV News.

Tradução e adaptação de Faithful urged to return to Fatima message about First Saturdays devotion on its centennial“.

Publicado em Detroit Catholic.






Solenidade da Epifania do Senhor – 5 de Janeiro de 2025

Celebramos a festa Litúrgica da Epifania do Senhor que significa manifestação. Deus fez-Se Homem, nasceu em Belém e manifestou-Se a todos os povos do mundo representados por um grupo de homens importantes que vieram de várias terras, guiados por uma estrela, até Belém, para O visitar e prestar-Lhe homenagem.

  1. A Luz de Deus brilha para nós

Deus incarnou para salvar todas as pessoas. De cem, interessam-Lhe cem, porque ama infinitamente a cada uma delas. Fez de cada um de nós filhos Seus e ama-nos infinitamente.

Por isso, a festa da Epifania é especialmente para nós, que fomos chamados a fazer parte da Igreja, vindos, não do mundo judaico, mas dos gentios. Estamos representados nestes homens corajosos que vieram das suas terras até Belém.

  • Cristo, sinal e razão da nossa alegria. Às vezes, quando falamos da situação do mundo e do seu afastamento de Deus, dos males que vemos, falamos em tais termos como se Deus tivesse sido definitivamente derrotado e posto fora do mundo; ou então, como se Ele tivesse desistido de nos salvar e nos tivesse abandonado nas mãos do Inimigo. É uma atitude contrária à fé, porque o nosso Deus não perde batalhas nem nos abandonará nunca nesta vida, sejam quais forem os nossos pecados.

O nascimento de Jesus inaugurou um tempo de alegria e otimismo que nunca mais terá fim. O profeta Isaías anima-nos a encarar com otimismo e alegria a nossa vida na terra. «Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor

  • A noite cobre o mundo à espera de Deus. De facto, a sensação que temos, quando olhamos o mundo. é de que uma grande escuridão o cobre. São muitos os que se desorientam caminho e na escolha dos verdadeiros bens.

Vale a pena guardar para ti bens que não te pertencem, se saciar a ambição com as coisas que nada valem é como tentar matar a sede com água salgada?

Vale a pena odiar, difamar e matar, se ao fim o ódio e o mal estar é ainda maior?

  • Somos estrelas na noite do mundo. O profeta imagina uma grande escuridão a cobrir o mundo e as multidões caminhando ao encontro da luz que brilha na cidade santa de Jerusalém, situada num alto.

«Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe, e as tuas filhas são trazidas nos braços.»

A luz de Cristo, da Verdade, da Alegria, do Amor, brilha na face da Igreja (Lumen Gentium). E como nós somos o rosto da Igreja no mundo, a luz de Cristo deve brilhar também no nosso rosto, nas nossas palavras e obras.

  • Acorrem os tesouros de Deus. Os homens procuram dinheiro e outros bens materiais com que possam assegurar estabilidade à sua vida.

Deus não precisa de dinheiro, porque foi Ele Quem criou todas as riquezas do mundo e pode criar ainda mais. Para Ele, a verdadeira fortuna são as pessoas a viverem na Sua amizade, e caminhando para uma eternidade feliz.

É à luz desta verdade que havemos de ler o texto sagrada do hoje: «a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá

  • Privilegiados de Deus. Não sabemos o que é passar séculos a suspirar pela vinda do Redentor e não ter humanamente a quem pedir ajuda.

A desorientação era de tal ordem, que a virtude se condenava e louvava-se o vício. Chegaram a adorar como deuses o deus dos ladrões, a deusa da sensualidade e outros.

Nós nascemos no tempo de Jesus que nos ilumina, anima e alimenta. Pede-nos apenas que aceitemos os Seus dons.

Vive connosco esta aventura de amor na terra e espera apenas que Lhe peçamos ajuda. Não precisamos de O ir procurar a terras distantes, como fazemos para os bens da terra, quando saímos do país à procura de melhores condições de vida.

  1. Com os Magos, vamos a Belém

Um corajoso grupo de homens, procedendo de terras distantes entre si, encaminhou-se para Belém, guiados por uma estrela. Foi a estrela que deu norte às suas vidas e acabou por juntá-los no mesmo ideal, quando estavam já próximos do berço do Salvador, mas sem o saberem.

  • Renunciar ao sofá e calçar as sapatilhas. Estes homens viviam bem, humanamente falando. Tinham bens e gastavam o seu tempo no estudo dos astros. Foi precisamente no seu trabalho de cada dia que o Senhor os desafiou.

Deus chama-nos, porque tem uma missão para cada um de nós. Se a não realizarmos, ficará por fazer.

Precisamos de andar perto de Deus, pela oração e sacramentos, para descobrirmos o que Ele quer de nós.

Além disso, precisamos de disponibilidade para fazer o que Deus quer de nós, espírito de sacrifício. Muitos e muitas dão cabo da sua fé, porque se deixam colar ao sofá. O Santo Padre desafia-nos a deixá-lo, e a caminhar ao encontro dos outros, com a sapatilhas calçadas.

  • Manifestamo-l’O pela nossa vida. Foi uma estrela que conduziu estes homens corajosos até junto do berço de Jesus. Cada um de nós tem de ser, de algum modo, esta estrela que guia as outras pessoas até junto de Jesus, para que O conheçam, amem e sigam.

Quando temos as mesmas dificuldades que todos os outros, ou possivelmente até maiores, porque não temos privilégios e, a pesar disso, somos capazes de sorrir e de ter esperança, levamos as pessoas à descoberta de Cristo que é o segredo da nossa esperança e alegria.

Quando, depois de ofendidos e prejudicados, somos capazes, a pesar disso, de perdoar e amar quem nos ofendeu ou prejudicou, somos a estrela que ilumina e guia.

Quando, a pesar de termos tanto ou mais trabalho do que os outros e encontramos tempo para rezar e frequentar os sacramentos, iluminamos o caminho dos que andam desorientados.

  • Modos de ser estrela. Em primeiro lugar, somo-lo pela vida que levamos, porque não rastejamos pela lama dos caminhos, mas brilhamos nas alturas da graça.

Fazemo-lo pela nossa perseverança na prática da vida cristã, e não apenas durante alguns momentos na vida. A estrela brilha continuamente.

Quando damos um bom conselho que orienta quem tinha perdido o sentido da vida, também desempenhamos este papel.

  • Recomeçar o caminho. Depois de realizados alguns esforços, alguns deixam-se cair com desânimo, logo que encontram as primeiras dificuldades. Talvez isto tenha acontecido connosco.

A Liturgia da Palavra deste Domingo anima-nos a recomeçar o nosso caminho até ao Céu.

Se o Senhor nos traz à memória o dia da primeira comunhão, a profissão de fé ou qualquer outro momento em que nos parecia que estávamos mais perto de Deus – vimos uma estrela – e agora nos parece que a vida não tem sentido, é porque Deus nos está a chamar.

  • Pedir ajuda. Os magos pediram ajuda a quem lhes foi possível fazê-lo e Deus serviu-se de um homem mau – Herodes – para voltar a colocá-los no caminho certo.

Nós não precisamos de recorrer a Herodes, porque Jesus Cristo fundou a Igreja e nela encontramos sempre ajuda para nos orientar. Peçamos ajuda aos pastores da Igreja ou a um amigo com bom critério, quando nos sentirmos desorientados no caminho do Céu.

  • Generosidade. Podemos, como os magos, oferecer o ouro do nosso trabalho, o incenso da nossa oração e a mirra dos sacrifícios que a vida nos pede para sermos fiéis ao Senhor.

Estas ofertas ao Menino aproximam-nos cada vez mais d’Ele, porque nos libertam das dificuldades que nos tolhem e fazem crescer a nossa amizade com Ele.

  • Encontrar Maria. Os Magos encontraram Maria e, com Ela, Jesus. Quando encontramos Maria no nosso caminho, pela visita a um Santuário Mariano, contemplação da sua imagem, reza do terço ou qualquer outra devoção, podemos ter a certeza de que junto d’Ela encontraremos Jesus e recobraremos a alegria e a coragem. Maria foi e será sempre o caminho mais fácil e seguro para Jesus.

Publicado em Paróquia São Luis – Faro – Diocese do Algarve – Portugal.

O Menino Jesus nasceu. Viva o Natal do Senhor!

O Natal de Nosso Senhor Jesus recorda-nos que Deus está presente em todas as situações. Pensamos que Ele está ausente ou nas quais achamos que Ele não pode estar. A nossa fé estimula-nos a viver o tempo natalino com maior serenidade e esperança! Deus está aqui, tão presente que, talvez ou com certeza, nos convida a rever nossos costumes; convida-nos a lembrar que, assim como Ele veio para nos salvar, também nós, através d’Ele, só podemos nos salvar se caminharmos juntos, se aprendermos a cuidar uns dos outros. Somos convidados a ser uma “manjedoura”, onde os outros possam se alimentar do pão da amizade, do amor, da misericórdia, da esperança. 

Um convite

O Senhor oferece-se a nós para que possamos dar seu testemunho com a nossa vida. Como cristãos, somos convidados a assumir a esperança desta humanidade desnorteada e solitária, a sermos sentinelas da nova manhã, para que as trevas deste tempo sejam rompidas pela Luz, que vem do Senhor Jesus.

Minha oração

“Ó Senhor que vos revelastes tão pequenino e frágil, um Deus escondido na humanidade, porém, não menos poderoso. Concedei a nós a sabedoria para te encontrar nesses mistérios e a certeza da tua presença no meio de nós, todos os dias. Salvai-nos de nossas mazelas e durezas tornando-nos mais humildes e humanos assim como tu o fizeste. Amém.”

Um Santo Natal para você e para a sua família!

Publicado em Católico Orante (extraído de “Santo do Dia” – Comunidade Canção Nova). Obs.: Conteúdo editado.

A expectação do parto da Virgem Maria (por Santo Afonso de Ligório)

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado!

À espera de Jesus!

Nestes dias que antecedem o Natal, Maria Santíssima vive a doce espera pelo Nascimento de Jesus! 

Unamos o nosso Coração ao Imaculado Coração da Santíssima Virgem. Esperemos, cheios de esperança por aquele que nos purifica de nossos pecados.

Meditemos nesta espera pelo Menino Jesus através destas ricas palavras de Santo Afonso de Ligório.

EXPECTAÇÃO DO PARTO DA VIRGEM MARIA

(Santo Afonso de Ligório)

Exspectabimus eum et savabit nos – Esperaremos por ele, e ele nos salvará (Is 25, 9)

Sumário. Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido seu divino Filho, que em comparação com ele os suspiros mais ardentes dos Patriarcas e dos Profetas pareciam frios. Todavia Jesus não quis antecipar seu nascimento; quis ser semelhante aos outros e ficar oculto no seio materno em recolhimento e em preparação de sua entrada no mundo. Oh! Que bela lição para nós, se a soubermos aproveitar.

I. Muito embora a divina Mãe reconhecesse perfeitamente a grande honra que lhe advinha por trazer um Deus no seu seio, e os grandes tesouros de graças que ia merecendo, dando abrigo a seu Senhor, todavia foram tão grandes e tão veementes os seus desejos de ver o Salvador nascido, que em comparação deles pareciam frios os ardentes desejos dos Patriarcas e dos Profetas, que durante quatro mil anos fizeram violência ao céu dizendo: Mitte quem missurus es (1) – Envia aquele que deves enviar. Esses desejos nasciam na Santíssima Virgem de um amor duplo. Em primeiro lugar amava com terníssimo afeto o seu divino Filho, e por isso desejava dar à luz para vê-lo, abraçá-lo e provar-lhe seu amor prestando-lhe toda sorte de serviços. Demais, o coração da Virgem estava possuído de amor ardente para com o próximo. Por esta razão, apesar de prever o modo inumano de que os homens haviam de acolher e tratar Jesus Cristo, anelava pelo momento de manifestar ao mundo o seu Salvador, e de enriquecer o universo com aquele Bem supremo e com as graças infinitas que ele queria comunicar a nossas almas.

Ó divina Mãe, graças vos sejam dadas por terdes desejado tanto dar-nos o vosso Jesus! Por piedade dai-m’o também a mim; fazei que, assim como nasceu corporalmente de vossas puríssimas entranhas, assim renasça espiritualmente pela graça em meu coração. Fazei que a minha alma abrasada no amor divino, procure comunicá-lo também ao próximo.

II. Mais ardente do que o desejo de Maria foi o de Jesus. Achando-se ainda no seio de Maria ansiava pela hora de seu nascimento, afim de realizar a obra da Redenção do gênero humano e cumprir a sua missão conforme à vontade de seu Pai celestial. Parece, por assim dizer, que desde então exclamou o que depois de crescido, falando de sua Paixão, disse aos discípulos: Ah! Como sofro, enquanto não vir realizado na cruz o batismo de sangue com que devo ser batizado. – Mas, apesar disso, não quis nascer antes do tempo, para assemelhar-se a todos os outros mortais.

Conservou-se ali escondido, como que em recolhimento e preparação para a sua futura entrada no mundo, empregando todos aqueles momentos preciosos em oração e contemplação. – Desta sorte quis ensinar-nos, que nos preparemos bem para o recebermos, que nos recolhamos frequentes vezes em nós mesmos em silêncio e recolhimento, longe dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens, e entregarmo-nos aos trabalhos do ministério. Aproveitemo-nos de tão belas lições que o divino Salvador nos dá desde de o vermos em breve nascido, aos dos Patriarcas, de São José, da Santíssima Virgem e da Igreja Católica.

O Adonai… veni ad redimendum nos in brachio extento (2) – Ó Adonai, Deus, vinde para nos remir pelo poder de vosso braço. Ó Deus, protetor fortíssimo e guia fiel de vosso povo, vinde remir o gênero humano com o vosso supremo poder! Vinde livrai-nos de tantas misérias nossas e subjugar com o vosso braço todo-poderoso os poderes das trevas, que demasiado reinaram sobre nós, e arruinaram as almas. “E Vós, ó Pai Eterno, que quisestes mediante a embaixada do Anjo, que o vosso Verbo tomasse carne no seio da Bem-aventurada Virgem Maria, dai que, venerando-a como verdadeira Mãe de Deus, possamos, pela sua intercessão, obter o vosso auxílio. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo (3).

Referências:
(1) Ex 4, 13
(2) Antif. mai. fer.
(3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 61-63)

Muitas mulheres grávidas têm como devoção Nossa Senhora da Expectação, pedindo que Maria interceda por elas em um bom parto. Que Maria, nosso auxílio seguro, rogue a Deus por todas as mulheres que, como ela, também estão esperando a chegada de seu filho; recebendo, desde já, cada bebê como também propriedade sua.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO BOM PARTO:

“Ó Maria Santíssima, vós, por um privilégio especial de Deus, fostes isenta da mancha do pecado original e, devido a este privilégio, não sofrestes os incômodos da maternidade, nem ao tempo da gravidez e nem no parto; mas compreendeis perfeitamente as angústias e aflições das pobres mães que esperam um filho, especialmente nas incertezas do sucesso ou insucesso do parto. Olhai para mim, vossa serva, que, na aproximação do parto, sofro angústias e incertezas. Dai-me a graça de ter um parto feliz. Fazei que meu bebê nasça com saúde, forte e perfeito. Eu vos prometo orientar meu filho sempre pelo caminho certo, o caminho que o vosso Filho, Jesus, traçou para todos os homens, o caminho do bem. Virgem, Mãe do Menino Jesus, agora me sinto mais calma e mais tranquila porque já sinto a vossa maternal proteção. Nossa Senhora do Bom Parto, rogai por mim!”

Publicado em VOCAÇÃO DE JESUS (“Por Cristo, com Cristo, em Cristo”.

A Imaculada Conceição de Maria no Advento

No Advento eterno, antes da criação do mundo, a Imaculada Conceição de Maria já estava no desígnio amoroso de Deus para a humanidade. É significativo refletir sobre esta verdade, especialmente no Tempo do Advento e na proximidade da Solenidade da Imaculada Conceição. A este respeito, o Papa São João Paulo II nos ensina que existe um Advento primordial e eterno em Deus, que está se cumprindo na história da humanidade.

Este Advento eterno, que é o projeto de Deus para a humanidade, realiza-se em três fases na história da salvação. No primeiro Advento, tem início a Criação do mundo, que tem como centro e ápice o gênero humano, ainda em plena harmonia com o Criador. O segundo, começa com a queda de Adão e termina na primeira vinda de Jesus Cristo. O terceiro e último, tem início naquele que chamamos de Tempo da Igreja, que vivemos hoje e que culminará com a segunda e definitiva vinda do Senhor.

Desde o Advento primordial, Maria foi escolhida, predestinada, para ser a Mãe do Verbo Eterno. Em vista dessa suprema dignidade, foi também concedida à Mãe de Deus a maravilhosa graça da Imaculada Conceição [Dogma]*. A graça da Imaculada, que celebramos com toda a Igreja no Tempo do Advento, diz respeito não somente a Santíssima Virgem, mas também à escolha de Deus a respeito de cada um de nós desde toda a eternidade.

A Imaculada Conceição no Advento primordial

Na carta aos Efésios, o apóstolo São Paulo nos dá uma belíssima imagem do Advento: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos”. Esta não é ainda a imagem do Advento da vinda de Jesus Cristo, mas “trata-se daquele Advento eterno cujo início se encontra em Deus mesmo, ‘antes da constituição do mundo’, porque já a ‘constituição do mundo’ foi o primeiro passo da Vinda de Deus ao homem, o primeiro ato do Advento”.

Créditos: by Getty Images / Sidney de Almeida/cancaonova.com

Neste primeiro Advento, todo o mundo visível foi criado para o homem como demonstra o livro do Gênesis. Mas “o início do Advento em Deus é o Seu eterno projeto de criação do mundo e do homem, projeto nascido do amor. Este amor se manifesta com a eterna opção do homem em Cristo, Verbo Encarnado”. Em Cristo, fomos escolhidos por Deus, antes da constituição do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos.

Leia mais:
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“Neste eterno Advento está presente Maria. Entre todos os homens que o Pai escolheu em Cristo, Ela foi-o de modo particular e excepcional, porque foi escolhida em Cristo para ser Mãe de Cristo”. E assim Ela, melhor do que qualquer outra pessoa entre os homens “predestinados pelo Pai” para a dignidade de filhos e filhas adotivos, foi predestinada de modo especialíssimo para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que o Pai nos deu no Filho Bem-amado.

A Virgem Maria

A glória sublime da especialíssima graça de Deus é a Maternidade do Verbo eterno e, em consideração desta, a Mãe de Deus obteve em Cristo também a graça da Imaculada Conceição. Sendo assim, a Virgem Maria está presente naquele primeiro e eterno Advento da Palavra com a dignidade de Mãe de Deus e da sua Imaculada Conceição, segundo o desígnio de Amor do Pai na criação do mundo e no projeto de salvação da humanidade.

Publicado em Formação Canção Nova.

* Grifo meu.

Venham, adoremos!

O Natal é um tempo no qual todos os acontecimentos incríveis de Belém levam-nos a reconsiderar nossas motivações últimas. Jesus, Maria e José convidam-nos a adorar sem descanso o Menino Jesus, indefeso e necessitado de nossos cuidados.

24/12/2023

Quando se entra no estádio de futebol de uma cidade inglesa, os torcedores são recebidos por uma grande escultura formada por dois soldados, cada um com um uniforme diferente, que se dão as mãos por cima de uma bola. A cena recorda um evento ocorrido durante a Primeira Guerra Mundial, conhecido como “A trégua de Natal”. Conta-se que, na Noite de Natal de 1914, houve um cessar-fogo espontâneo nas trincheiras que separavam os dois exércitos. Um lado fez sinal ao outro, convidando a viver uma noite de paz, precisamente naquela noite em que se comemorava o nascimento de Jesus. A iniciativa foi bem recebida: os militares de ambos os lados se reuniram, trocaram presentes simples, cantaram canções de Natal, tiraram fotos em grupo e, inclusive, jogaram uma partida de futebol.

Uma das canções que todos recordam ter ouvido ou cantado naquela noite foi a célebre Adeste fideles, composição do século XVIII, pelo que se sabe, de um músico inglês. O fato de que a letra original fosse em latim possibilitou que pessoas que não falavam o mesmo idioma pudessem cantá-lo, acompanhadas por algumas gaitas. Esta canção, atualmente conhecida em todo o mundo, é convida as pessoas que cantam e ouvem a se juntarem ao grupo que vai a Belém – pastores, anjos, magos – para adorar a Jesus recém-nascido. “Natal. Cantam: ‘venite, venite…’ Vamos, que Ele já nasceu. E, depois de contemplar como Maria e José cuidam do Menino, atrevo-me a sugerir-te: Olha-o de novo, olha-o sem descanso”[1].

O que adoramos

O convite a adorar, a adotar uma disposição de humildade e total submissão diante de outra pessoa – especialmente se for uma criança que mal balbucia – passou a ser, para muita gente, algo estranho ou inclusive problemático. Na medida em que a autonomia pessoal é considerada o direito e o valor moral supremo, colocar nossa vida assim nas mãos de alguém pode parecer um sintoma de debilidade ou de superstição, algo talvez mais próprio de outros tempos.

Só Deus, na realidade, é digno de adoração, só a ele se deve a máxima reverência. A adoração, no entanto, é sempre de alguma forma uma realidade conatural para qualquer pessoa humana, quer ela tenha fé ou não. Assim, a pessoa estabelece algo ou alguém como a razão última pela qual faz todas as outras coisas. “O que é um ‘deus’ no plano existencial? – perguntava-se o Papa Francisco – É aquilo que está no cerne da própria vida e do qual depende o que fazemos e pensamos. Podemos crescer numa família cristã de nome, mas na realidade centrada em pontos de referência alheios ao Evangelho. O ser humano não vive sem se centrar em algo. Eis, então, que o mundo oferece o supermarket dos ídolos, que podem ser objetos, imagens, ideias, papéis”[2].

Deste ponto de vista, tanto os cristãos como aqueles que veem na adoração uma coisa do passado, podem redescobrir algo do caminho que leva a Belém. Para empreendê-lo podemos talvez começar nos perguntando: Qual é razão pela qual faço o que estou fazendo? O que me leva a fazer isto e não outra coisa? Ao refletir assim podemos identificar num primeiro momento algumas motivações; e depois delas, puxando o fio, descobriremos outras menos evidentes. Estas motivações mais sutis podem, porém, remeter por sua vez a outras mais profundas. Por isso, é necessário continuar a fazer perguntas a nós mesmos até chegar a nosso critério último de ação: aquilo que consideramos irrenunciável, intocável, e que guia nossas decisões; aquilo que, em suma, adoramos, porque submetemos a isso todo o resto.

Podemos ter então a surpresa de descobrir que, com mais ou menos frequência, nossas decisões não visam tanto o Deus que confessamos, mas talvez outros fins inconfessados, como, por exemplo, o prestígio pessoal, a segurança material, a preservação de uma determinada situação, ou a simples comodidade. Tudo isto pode, inclusive, estar misturado com elementos em parte relacionados com a fé, como a busca de uma paz espiritual, ou a tranquilidade que dá fazer o que acreditamos que devemos fazer. Mas, talvez no fim das contas, até esse tipo de motivos nos mantém longe da vertigem que este Menino que é Deus veio trazer ao mundo.

O convite que entoamos tantas vezes durante os dias de Natal – “Venham, adoremos!” – vem precisamente nos questionar em profundidade a respeito das razões pelas quais vivemos. Venham todos deixar-se interpelar por este paradoxo de ver, recém-nascido, aquele que fez nascer o céu e a terra. Venham todos contemplar como não pode articular palavra aquele que, com sua palavra, criou tudo que existe. “Toca-me o fundo da alma a figura de Jesus recém-nascido em Belém: – confessava São Josemaria – uma criança indefesa, inerme, incapaz de oferecer resistência. Deus entrega-se às mãos dos homens”[3]. O Natal é um tempo no qual todos esses acontecimentos incríveis de Belém nos levam a reconsiderar nossas motivações últimas. Jesus, Maria e José – e com deles, todos os santos – convidam-nos sempre a questionar nossas seguranças, nossas pequenas ou grandes “adorações” particulares, para poder encaminhar nosso coração para a única estrela que nos indica onde está o Salvador.

Seguir a estrela com coração sincero

“Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 1-2). Os magos se unem a esse venite, adoremus. Deixaram a segurança do conhecido para procurar a fonte para a qual a sua sede de adoração os leva. Perceberam em suas vidas um centro de gravidade que orientava suas decisões, porém não haviam conseguido delineá-lo com clareza. Agora, chegando a Belém, sentem em seu coração um palpitar diferente, que diz que já estão perto de descobri-lo. São Josemaria reconhecia nesta busca dos magos a experiência da vocação cristã: o reconhecimento de um anseio que só pode ser preenchido por Deus, a descoberta do que verdadeiramente pode ser adorado. Como eles, “nós também percebemos que, pouco a pouco, se acendia na nossa alma, um novo resplendor: o desejo de sermos plenamente cristãos; se assim me posso exprimir, a ânsia de tomarmos Deus a sério”[4].

Bento XVI os chamava “homens de coração inquieto”[5]. Essa é a característica constante da alma que, no meio da fragilidade do mundo, procura a Cristo. Em seus corações, como nos nossos, vibrava uma nostalgia semelhante à do salmista: “Ó Deus, vós sois o meu Deus, no alvorecer te busco, minha alma tem sede de Ti, por Ti minha carne desfalece, em terra deserta e seca, sem água” (Sl 62,2). É a situação do peregrino, muito diferente da do vagabundo, que não sabe o que quer nem aonde vai. O peregrino é um caminhante sempre buscando, sempre com a nostalgia de amar mais a Deus, desde a manhã até a noite. “No leito me lembro de ti, nas vigílias da noite penso em ti” (Sl 62,7). Este desejo do verdadeiro Deus está inscrito em todos os homens e mulheres da terra, cristãos e não cristãos, e é isso que os mantém a caminho. Por isso, quando na quarta oração eucarística, o sacerdote pede a Deus Pai que se lembre daqueles por quem se oferece o sacrifício de Cristo, lá onde se encontram “aqueles que vos procuram de coração sincero”[6].

Os reis magos, explica Bento XVI, “talvez fossem homens eruditos, que tinham grande conhecimento dos astros e, provavelmente, dispunham também de uma formação filosófica; mas não era apenas saber muitas coisas que queriam; queriam sobretudo saber o essencial, queriam saber como se consegue ser pessoa humana. E, por isso, queriam saber se Deus existe, onde está e como é; se Se preocupa conosco e como podemos encontrá-Lo. Queriam não apenas saber; queriam conhecer a verdade acerca de nós mesmos, de Deus e do mundo. A sua peregrinação exterior era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração. Eram homens que buscavam a Deus e, em última instância, caminhavam para Ele; eram buscadores de Deus”[7].

Seguir a estrela de Belém é na realidade uma tarefa que dura a vida toda. A tarefa de procurar o presépio escondido na nossa vida cotidiana pode ser às vezes fatigante, porque implica não se deter em locais que parecem mais cômodos, nos quais no entanto não está Jesus. De modo que a meta vale todos os esforços: “Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,10-11). Naquele dia, a vida desses homens sábios mudou para sempre. Porque, no fim das contas, “tudo depende de que em nossa vida haja ou não adoração. Sempre que adoramos ocorre algo em nós e em torno de nós. As coisas endireitam-se de novo. Entramos na verdade. O olhar torna-se agudo. Muitas coisas que nos oprimiam, desaparecem”[8].

Deixar que Deus seja Deus

Ao longo do caminho não encontraremos apenas a estrela que nos guia até Jesus: cruzaremos também com um grande número de luzes artificiais, múltiplos sucedâneos que procuram nos enganar, reivindicar nossa adoração e, afinal de contas, aprisionar a nossa liberdade. São os falsos ídolos dos quais nos fala o Catecismo da Igreja: “A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus”[9]. Todos nós, até os cristãos, podemos cair na idolatria repetidas vezes, cada vez que colocamos algo ou alguém, pelo menos parcialmente, no lugar de Deus. Estes falsos ídolos se tornam então “formas de opressão e liberdades aparentes que na verdade são correntes que escravizam”[10]. É um deslocamento de Deus que não acontece habitualmente de modo chamativo e escandaloso, mas que se introduz discretamente em nosso coração, como a hera sobe paulatinamente em um muro, até ameaçar derrubá-lo.

Todas as manhãs ao despertar, São Josemaria prostrava-se em terra e repetia a palavra “serviam! ”, “servirei!”. Muitos de nós aprendemos dele este gesto, que expressam o desejo, renovado todos os dias, de não nos distrairmos com falsas adorações; de nos inclinarmos todos os dias somente diante de Deus. É um gesto de adoração; e, por isso mesmo um gesto de liberdade, um gesto que nos liberta da possibilidade de nos determos diante de pequenos ídolos, disfarçados até das melhores aparências e intenções. “A adoração é a liberdade que provém das raízes da verdadeira liberdade: da liberdade de si mesma. Pelo que é ‘salvação’, ‘felicidade’, ou, como a chama João, ‘alegria’. E ao mesmo tempo, disponibilidade total, entrega e serviço, tal como Deus me quer”[11].

Diariamente também, São Josemaria repetia, na ação de graças depois de celebrar a Eucaristia, esta petição do salmista: Non nobis, Domine, non nobis; sed nomini tuo da gloriam! (Sl 115, 1). Empequeneceríamos esta oração se pensássemos que o que ela expressa é uma mera renúncia à gloria geral, como se se tratasse de algo mau para nós. O cristão tem esperança, de fato, na promessa de viver na glória de Deus; de modo que, mais do que de uma renúncia, é um redimensionamento: a petição do salmista assume que a glória humana, sem a glória de Deus, é sempre muito pequena, como qualquer ídolo diante de Deus. A glória meramente humana acaba se revelando uma triste caricatura: a ânsia de querer sobretudo ficar contente com nossos sucessos ou perceber a admiração dos outros, a autossatisfação da glória humana, é bem pouca coisa… porque Deus não está lá.

O Menino Jesus, indefeso e necessitado de tudo, vem para desmascarar sempre os nossos ídolos, que não veem, nem falam, nem ouvem (cfr. Sl 115,5-6). Os dias de Natal constituem um convite para empreender novamente o caminho rumo a essa casa improvisada, mas cheia de luz e calor, que é a gruta de Belém. Ficaremos surpreendidos “diante da liberdade de um Deus que, por puro amor, decide aniquilar-se, assumindo carne como a nossa”[12].


Publicado em Opus Dei.

[1] São Josemaria, Forja, n. 549.

[2] Francisco, Audiência geral, 1/08/2018.

[3] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 113.

[4] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 32.

[5] Bento XVI, Homilia na Epifania do Senhor, 6/01/2013.

[6] Missal Romano, Oração Eucarística IV.

[7] Bento XVI, Homilia na Epifania do Senhor, 6/01/2013.

[8] R. Guardini, Domínio de Dios y libertad del hombre, Madri, Guadarrama, 1963, p.30.

[9] Catecismo da Igreja Católica, n. 2113.

[10] F. Ocáriz, Carta pastoral, 9/01/2018, n. 1.

[11] J. Ratzinger, “Fazer oração em nosso tempo”, em Palabra en la Iglesia, Salamanca, Sígueme, 1976, p. 107.

[12] F. Ocaríz, Carta pastoral, 9/01/2018, n. 1.

Publicado em Opus Dei.

Onde puseram o Menino Jesus?

Antes que comece o Natal, e as trocas de presentes em família, antes que todos comecem a fazer festa, permitam-nos apregoar em voz alta, permitam-nos colar cartazes com “procura-se”, permitam-nos denunciar: roubaram o Menino Jesus!

Antes que comece o Natal, e as trocas de presentes em família, antes que todos comecem a fazer festa, permitam-nos apregoar em voz alta, permitam-nos colar cartazes com “procura-se”, permitam-nos denunciar que roubaram o Menino Jesus!

Gostaríamos muito que se tratasse apenas de uma anedota, como no tal Natal de Ângela, em que uma mocinha “rouba” de uma igreja a imagem do Divino Infante só porque achava, em sua inocência, que o menino estava com frio e precisava agasalhar-se. Mas não… Estamos diante de um roubo criminoso, sem arrependimento e intenção alguma de restituição. Roubaram o Menino Jesus e, poderíamos dizer com o Evangelho, “não sabemos onde o puseram” (Jo 20, 2).

Roubaram o Menino Jesus do ambiente público, no qual Ele sempre teve lugar de destaque, especialmente nesta época do ano. Os enfeites natalinos nas praças, comércios e repartições públicas incluem Papais Noéis, renas voadoras, árvores decoradas, mas o presépio cristão está cada vez mais difícil de encontrar. Em muitos lugares, especialmente na Europa, hoje tomada por muçulmanos, os termos natalinos cristãos são banidos em nome da tolerância e do respeito às outras religiões. O “Feliz Natal” de sempre há muito que se converteu em um vago e laico “Boas Festas” (ou Férias). O acontecimento histórico que deu origem à celebração foi reduzido a um artigo de fé meramente privada, de forma que, se uma pessoa quiser passar essa época do ano sem ouvir uma única vez o nome de Jesus (dependendo, é claro, dos ambientes que ela frequenta ou deixa de frequentar), o certo é que não terá muitas dificuldades em fazê-lo.

Roubaram o Menino Jesus do seio de nossas famílias trocando orações, novenas e idas à Missa por começões, bebedeiras e visitas ao shopping. O Natal se converteu quase que literalmente em uma “magia”: é preciso rir ainda que não se saiba por quê, é preciso festejar ainda que não se saiba o quê, é preciso seguir em frente ainda que não se saiba para onde. Pois foi roubado o Único que poderia dar real sentido à celebração, e verdadeira felicidade aos que celebram.

Roubaram o Menino Jesus de nossas casas, onde Ele deveria ocupar uma posição toda especial, ensinando às crianças que Deus, dois mil anos atrás, escolheu descer à baixeza e inocência delas. 

Mas que crianças, se também elas foram roubadas dos lares, antes mesmo de serem concebidas, trocadas pelas mais novas tecnologias do momento, pelo último lançamento de um carro e pelas viagens anuais à praia? Que crianças, se as famílias modernas decidiram não as ter e, se as tiveram, já cuidaram de sacrificá-las impiedosamente ao mundo, deixando que consumissem tudo o que ele lhes oferece, e que lhes fosse roubada desde cedo justamente a inocência que fazia delas crianças? Se todas as vezes que alguém recebesse uma criança, receberia o próprio Senhor, como Ele mesmo declarou (cf. Mt 18, 5), não é verdade que nossa aversão aos filhos é também uma aversão ao próprio Jesus? Que a recusa dos casais em serem fecundos impede que o próprio Menino Jesus nasça em suas casas?

Não é verdade que nossa aversão aos filhos é também uma aversão ao próprio Jesus?

Roubaram o Menino Jesus também de nossas igrejas, e isso nunca se poderá deplorar o suficiente. Primeiro, tiraram-no dos cibórios para o atirarem ao chão, porque não trataram com zelo o Santíssimo Sacramento. Depois, substituíram a celebração do Deus que se fez criança para nossa salvação por uma celebração grotesca do próprio “eu”. Nossas liturgias estão cada vez mais voltadas para o homem e menos centradas n’Ele. As pessoas sequer sabem direito o que estão fazendo na Missa, perdidas em meio aos teatros, às dancinhas e às músicas cada vez mais barulhentas dos “ministérios”, às criatividades cada vez mais absurdas dos celebrantes e às palmas cada vez mais efusivas do “auditório”. O padre fala com o povo, o povo fala com o padre, mas com Deus mesmo ninguém fala.

Roubaram o Menino Jesus, isso é triste; roubaram-no, mas ninguém se deu conta, e isso é pior ainda.

Repetimos acima a frase de Santa Maria Madalena, que não sabia onde haviam colocado o Senhor, mas agora não é o caso: nós sabemos onde o Menino Jesus está. A doutrina católica diz que, numa alma que crê e está em estado de graça, habita a Santíssima Trindade como um amigo. Pela fé, portanto, sabemos onde se esconde o Deus menino: Ele se encontra em toda alma que procura amá-lo e cumprir com os seus mandamentos. 

Talvez seja ao redor dessas almas que devamos celebrar o nosso Natal, ao redor de amigos que buscam a Deus. Mas se, infelizmente, as circunstâncias fazem com que nossas famílias, com quem passaremos esses dias, ainda estejam distantes de Cristo, que nossas conversas e nosso modo de viver possam despertar em seus corações a ânsia de procurar pelo Menino que há tanto tempo foi roubado de seus corações… sem que eles sequer lhe tenham notado a ausência.

Publicado em Equipe Christo Nihil Praeponere (Padre Paulo Ricardo).

Que presente podemos dar a Jesus neste Natal?

    Os reis magos vieram da Pérsia, iluminados por uma estrela no céu e por uma luz interior que os guiava e os dirigia para Cristo, o Messias que eles sabiam que os judeus esperavam. A tradição diz que eram reis de pequenos reinos, entendidos em ler as estrelas. Enquanto em Jerusalém ninguém esperava e acreditava, eles, na fé, procuravam o esperado Menino, sua Mãe e seu Pai em Belém. “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,1-2). São Mateus diz que o rei Herodes ficou perturbado e com ele toda a Jerusalém.

    E a misteriosa estrela os guiava até chegarem onde estava o Menino. Encontrando-O, prostraram-se diante d’Ele, “abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes ouro, incenso em mirra”. O ouro é dado ao Rei, o incenso a Deus, e a mirra à vítima a ser imolada um dia no Calvário. Que mistério!

    Que presente podemos dar a Jesus neste Natal?

    Foto ilustrativa: ArtistGNDphotography by Getty Images

    A epifania é esta manifestação de Jesus como Messias, Filho de Deus e Salvador do mundo. Esses “magos”, representantes das religiões pagãs, representam as primeiras nações que acolhem a Boa Nova da salvação pela Encarnação do Verbo. A vinda deles a Jerusalém para “adorar ao Rei dos Judeus” mostra que eles procuram, em Israel, a luz do Messias da estrela de Davi, aquele que será o Rei das nações. Isso significa que “a plenitude dos pagãos entra na família dos patriarcas” e adquire a mesma dignidade dos judeus.

    Como escolher um presente para Jesus?

    Os reis magos, que eram pagãos, souberam ver no Menino o Deus Salvador, por isso O adoraram e Lhe deram presentes. E nós, o que devemos dar a Jesus? Antes de tudo, precisamos seguir a sua Luz, a sua Estrela.

    Ora, São João da Cruz disse que “amor só se paga com amor”. Jesus só nos deu amor: Sua vida, Sua morte, Sua ressurreição. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Ele é o amor! Nossos presentes ao grande Menino devem ser presentes de amor.

    Ele disse na Santa Ceia: “Se me amais guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Então, a primeira disposição nossa deve ser de renovar o desejo de ouvir a Sua voz e obedecer-Lhe. São Jerônimo disse que “quem não conhece os Evangelhos não conhece Jesus”. O primeiro passo é conhecer o que Ele ensinou; o segundo é viver o que Ele manda.

    (…)

    Entregue seu coração para Ele!

    Jesus veio para “tirar o pecado do mundo” (Jo 1,29); Ele é o Cordeiro imolado pelos nossos pecados. Então, o melhor presente que você pode colocar na Sua manjedoura é o propósito firme de lutar, sem tréguas, sem desanimar, sem se cansar, contra os seus pecados, pois o pecado é a única ação que pode afastá-Lo do seu coração, onde Ele quer sempre estar.

    Olhe para você mesmo diante do Presépio, e pergunte ao divino Menino o que Ele quer que você mude na sua vida. Peça-lhe a sua graça, para ouvir a sua voz e ter a graça de obedecer-Lhe. Ofereça esse propósito como o seu ouro, incenso e mirra. Ele vai gostar!

    Mais do que os presentes e as microlâmpadas piscando, Ele quer seu coração; todo, inteiro, sem divisão. Então, o melhor presente é entregar-Lhe o coração determinado a amá-Lo.

    Prof. Felipe Aquino

    Publicado em Formação Canção Nova.

    O consumismo e o verdadeiro espírito do Natal

    Natal é Jesus. Assim gostaria de começar esse texto, para que já fique explícito desde o começo qual é o verdadeiro sentido dessa festa que se aproxima. Sentido esse que fica muitas vezes em segundo plano nas celebrações, dando lugar a um consumismo desenfreado que cega o espírito que deveríamos ter nessa época.

    consumismo

    Isso não é novo. Todos sabemos que nessa época o comércio fica aberto até mais tarde para que possamos comprar aquelas coisas de última hora. Conhecemos a correria para comprar o tender, o peru, o presente daquela pessoa que tínhamos esquecido, etc….

    Também não é novidade que existe uma reação à tudo isso. Podemos ver nos jornais, revistas e internet uma grande quantidade de pessoas que criticam todo esse consumismo que vemos nessas épocas. Mas aqui percebo um grande problema que estamos vivendo atualmente. Em vários desses artigos, os autores pregam um retorno à essência do Natal, que é o sentimento de família, a magia que ronda em torno a figura do Papai Noel, as luzes que enfeitam essa época “mágica”, a inocente alegria das crianças esperando o bom velhinho descer pela chaminé e outras coisas desse tipo.

    “Natal é Jesus. E não se pode confundir isso apenas com sentimentos positivos”.

    Por isso comecei o texto dessa maneira. Natal é Jesus. E não se pode confundir isso apenas com sentimentos positivos. Celebramos nessa data um acontecimento real. Deus veio ao mundo em um frágil menino, filho de Nossa Senhora de Nazaré. E é isso que devemos, como católicos, anunciar para o mundo inteiro.

    O mundo está descontente. Esse exemplo do consumismo de Natal é bem gráfico. Se percebe intuitivamente que estamos celebrando mal essa festa, mas não se percebe qual é a Verdade que mostra como celebrá-la bem. De uma maneira mais geral, podemos dizer que o mundo muitas vezes está triste, cansado e procura sua alegria em coisas que não podem dar, porque a alegria verdadeira de todo mundo está em encontrar-se com Deus.

    “Os presentes e a festa fazem parte de tudo isso. É um tempo de verdadeira alegria, mas que precisa ser entendida, para não perder o foco”. 

    Mas encontrar-se com Ele não é tão simples assim. Ele não veio cheio de pompa, em um castelo imponente. Ele veio frágil, em uma manjedoura. Só o encontramos se ficamos atentos aos sinais dele em nossa vida, como os pastores que receberam a visita dos anjos e os reis magos que seguiram a estrela que os guiava. É preciso fazer silêncio e ficar atento. Exatamente o contrário do que muitas vezes fazemos nessas épocas.

    Os presentes e a festa fazem parte de tudo isso. É um tempo de verdadeira alegria, mas que precisa ser entendida, para não perder o foco. Os reis magos trouxeram presentes para o menino Jesus. Presentes valiosos inclusive, ouro, incenso e mirra. Mas o fizeram sabendo porque o faziam. Tinham encontrado Jesus e essa era a alegria de cada um deles.

    Mas realmente não importa se não podemos comprar nada nessa época. Existe uma música que é muito bonita, a canção do pequeno tamborileiro, que conta a história de um garotinho que havia encontrado a Jesus que tinha acabado de nascer em Belém, mas como era muito pobre, só podia tocar para Ele o seu velho tambor.

    gesu-bambino

    Muitos pensariam talvez que esse não é um presente digno de Deus, mas conta a música que quando Ele ouviu o toque do tambor, sorriu para o pequeno tamborileiro. Pensemos se com as nossas atitudes nesse Natal, estamos fazendo, nós também, com que Jesus sorria ou não.

    Publicado em A12 Redação.

    Ao colocar o Menino Jesus no presépio, reze em família

    À meia-noite de 25 de dezembro, muitas famílias se reúnem para colocar a imagem do Menino Jesus no presépio. É um momento para rezar juntos, pedindo que o Senhor nasça também nos corações de cada um. Por isso, a ACI Digital selecionou estas duas orações para serem rezadas diante do presépio.

    Oração da família diante do presépio

    Menino Jesus, Deus que se fez pequeno por nós, diante da cena do teu nascimento, do presépio, estamos reunidos em família para rezar.

    Mesmo que fisicamente falte alguém, em espírito somos uma só alma.

    Olhando Maria, tua Mãe Santíssima, rezamos pelas mulheres da família, que cada uma delas acolha com amor a palavra de Deus, sem medo e sem reservas, que elas lutem pela harmonia e paz em nossa casa.

    Vendo teu pai adotivo, São José, pedimos ó Menino Deus, pelos homens desta família, que eles transmitam segurança e proteção, estejam sempre atentos às necessidades mais urgentes, que saibam proteger nossos lares de tudo que não provém de ti.

    Diante dos pastores e reis magos, pedimos por todos nós, para que saibamos render-te graças, louvar-te sempre em todas as circunstâncias, e que não nos cansemos de te procurar, mesmo por caminhos difíceis.

    Menino Jesus, contemplando tua face serena, teu sorriso de criança, bendizemos tua ação em nossas vidas.

    Que nesta noite santa, possamos esquecer as discórdias, os rancores, possamos nos perdoar.

    Jesus querido, abençoa nossa família, cura os enfermos que houver, cura as feridas de relacionamentos.

    Fazemos hoje o propósito de nos amar mais.

    Que neste Natal a bênção divina recaia sobre nós.

    Amém.

    Natal Feliz é Natal com Cristo

    Menino das palhas, Menino Jesus, Menino de Maria, aqui estamos diante de ti. Tu vieste de mansinho, na calada da noite, no silêncio das coisas que não fazem ruído.

    Tu é o Menino amável e santíssimo, deitado nas palhas porque não havia lugar para ti nas casas dos homens tão ocupados e tão cheios de si.

    Dá a nossos lábios a doçura do mel e à nossas vozes o brilho do cantar da cotovia, para dizer que vieste encher de sentido os dias de nossas vidas.

    Não estamos mais sós: tu és o companheiro de nossas vidas. Tu choras as nossas lágrimas e te alegras com nossas alegrias, porque tu és nosso irmão.

    Tu vieste te instalar feito um posseiro dentro de nós e não queremos que teu lugar seja ocupado pelo egoísmo que nos mata e nos aniquila, pelo orgulho que sobe à cabeça, pelo desespero.

    Sei, Menino de Maria, que a partir de agora, não há mais razão para desesperar porque Deus grande, belo, Deus magnífico e altíssimo se tornou nosso irmão.

    Santa Maria, Mãe do Senhor e Palácio de Deus, tu estás perto do Menino que envolves em paninhos quentes.

    José, bom José, carpinteiro de mãos duras e guarda de nosso Menino, protege esse Deus que se tornou mendigo de nosso amor.

    Menino Jesus, hoje é festa de claridade e dia de luz. Tu nasceste para os homens na terra de Belém.

    FONTE ACI DIGITAL

    Publicado em Associação Católica Gospa Mira.

    Novena de Natal – A espera do Senhor

    Começa hoje, 16 de dezembro, a Novena de Natal e a contagem regressiva para celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Estes nove dias podem ser vividos intensamente em família, no trabalho, com a comunidade, o grupo da Igreja, e tantas outras pessoas.

    Recomenda-se rezar à Virgem, a São José e ao Menino Jesus, refletindo e meditando sobre a vinda do Salvador.

    1. Oração inicial

    Deus benigno de infinita caridade que nos amastes tanto e que nos destes em vosso Filho a melhor oferta de vosso amor, para que, encarnado e feito nosso irmão no seio da Virgem, nascesse em um presépio para nossa saúde e remédio; vos damos graças por tão imenso benefício. De volta vos oferecemos, Senhor, o esforço sincero para fazer deste vosso mundo e nosso, um mundo mais justo, mais fiel ao grande mandamento de nos amarmos como irmãos. Conceda-nos, Senhor, vossa ajuda para poder realizá-lo. Pedimo-Vos que este Natal, festa de paz e alegria, seja para nossa comunidade um estímulo a fim de que, vivendo como irmãos, procuremos mais e mais os caminhos da verdade, da justiça, do amor e da paz. Amém.

    (Rezar um Pai Nosso)

    2. Oração para a família

    Senhor, fazei de nosso lar um lugar de Vosso amor. Que não haja injúria porque nos dais compreensão. Que não haja amargura porque nos abençoais. Que não haja egoísmo porque nos alentais. Que não haja rancor porque nos dais o perdão. Que não haja abandono porque estais conosco. Que saibamos caminhar até vós em nosso viver cotidiano. Que cada manhã amanheça mais um dia de entrega e sacrifício. Que cada noite nos encontre com mais amor. Fazei Senhor com nossas vidas, que quisestes unir, uma página cheia de vós. Fazei, Senhor, de nossos filhos o que desejardes, ajudai-nos a educá-los, orientá-los pelo vosso caminho. Que nos esforcemos no apoio mútuo. Que façamos do amor um motivo para amar-vos mais. Que quando amanhecer o grande dia de ir a seu encontro conceda nos encontrarmos unidos para sempre em vós. Amém.

    3. Oração à Virgem

    Soberana Maria, te pedimos por todas as famílias de nosso país; faz com que cada lar de nossa pátria e do mundo seja fonte de compreensão, de ternura, de verdadeira vida familiar. Que estas festas de Natal, que nos reúnem ao redor do presépio onde nasceu teu Filho, nos unam também no amor, que nos façam esquecer as ofensas e nos deem simplicidade para reconhecer os enganos que tenhamos cometido. Mãe de Deus e Nossa Mãe, intercedei por nós. Amém.

    4. Oração a São José

    Santíssimo São José, esposo de Maria e pai adotivo do Senhor, foste escolhido para fazer as vezes de pai no lar de Nazaré. Ajudai os pais de família; que eles sejam sempre no lar a imagem do pai celestial, a teu exemplo; que cumpram a grande responsabilidade de educar e formar seus filhos, entregando-lhes, com um esforço contínuo, o melhor de si mesmos. Ajudai os filhos a entender e apreciar o abnegado esforço de seus pais. São José, modelo de marido e pai, intercedei por nós. Amém.

    (Rezar um Pai Nosso)

    5. Meditações

    1ª Dia – 16 de dezembro

    Vamos avaliar nossos valores de modo que o Natal seja o que deve ser: uma festa dedicada à RECONCILIAÇÃO. Dedicada ao perdão generoso e compreensivo que aprenderemos com um Deus compassivo. Com o perdão do Espírito Santo podemos nos reconciliar com Deus e com os irmãos e andar em uma vida nova.

    É a boa notícia que São Paulo exclamou em suas cartas, tal como lemos em sua epístola aos Romanos 5, 1-11.

    Viver o Natal é apagar as ofensas se alguém nos ofendeu e é pedir perdão se tivermos ofendido a outros. Assim, do perdão nasce a harmonia e construímos essa paz que os anjos anunciam em Belém: paz na terra aos homens que amam ao Senhor e se amam entre si. Os seres humanos podem nos ofender com o ódio ou podemos ser felizes em um amor que reconcilia. E essa boa missão é para cada um de nós: ser agentes de reconciliação e não de discórdia, ser instrumento de paz e semeadores de irmandade.

    2º Dia – 17 de dezembro

    O segundo dia é dedicado à COMPREENSÃO. Compreensão é uma nota distintiva de todo verdadeiro amor. Podemos dizer que a encarnação de um Deus que se faz homem pode ler-se em chave desse grande valor chamado compreensão. É um Deus que fica em nosso lugar, que rompe as distâncias e compartilha nossos afãs e nossas alegrias. É graças a esse amor compreensivo de um Deus pai que somos filhos de Deus e irmãos entre nós. Deus, como afirma São João, nos mostra a grandeza de seu amor e nos chama a viver como filhos dele.

    Ler a primeira carta de João 3, 1-10.

    Se de verdade atuarmos como filhos de Deus não imitamos Caim, mas “dermos a vida pelos irmãos” (3, 16). Com um amor compreensivo, somos capazes de ver as razões dos outros e ser tolerantes com suas falhas. Se o Natal nos tornar compreensivos será um excelente Natal. Feliz Natal é aprender a nos colocarmos no lugar dos demais.

    3º Dia – 18 de dezembro

    O terceiro dia é dedicado ao RESPEITO. Uma qualidade do amor que nos move a aceitar os outros tal como são. Graças ao respeito valorizamos a grande dignidade de toda pessoa humana feita à imagem e semelhança de Deus, embora essa pessoa esteja errada. O respeito é fonte de harmonia porque nos anima a valorizar as diferenças, como o faz um pintor com as cores ou um músico com as notas ou ritmos. Um amor respeitoso nos impede de julgar os outros, manipulá-los ou querer moldá-los a nosso modo.

    Sempre que penso no respeito vejo Jesus conversando amavelmente com a mulher samaritana, tal como o narra São João no capítulo quarto de seu evangelho. É um diálogo sem recriminações, sem condenações e no qual brilha a luz de uma delicada tolerância. Jesus não aprova que a mulher não conviva com seu marido, mas em vez de julgá-la, a felicita por sua sinceridade. Atua como bom pastor e nos ensina a ser respeitosos se de verdade queremos nos entender com os demais.

    4º Dia – 19 de dezembro

    O quarto dia é dedicado à SINCERIDADE. Uma qualidade sem a qual o amor não pode subsistir, já que não há amor onde há mentira. Amar é andar na verdade, sem máscaras, sem o peso da hipocrisia e com a força de integridade.

    Só na verdade somos livres como anunciou Jesus Cristo: João 8, 32. Só sobre a rocha firme da verdade pode se sustentar uma relação nas crises e nos problemas. Com a sinceridade ganhamos a confiança e com a confiança chegamos ao entendimento e à unidade. O amor ensina a não agir como os egoístas e os soberbos que acreditam que sua verdade é a verdade.

    Se o Natal nos aproximar da verdade é um bom Natal, é uma festa em que acolhemos Jesus como luz verdadeira que vem a este mundo: João 1, 9. Luz verdadeira que nos afasta das trevas nos move a aceitar Deus como caminho, verdade e vida. Que nosso amor esteja sempre iluminado pela verdade, de modo que esteja também favorecido pela confiança.

    5º Dia – 20 de dezembro

    O quinto dia é dedicado ao DIÁLOGO. Toda a Bíblia é um diálogo amoroso e salvífico de Deus com os homens. Um diálogo que leva a seu cume e sua plenitude quando a Palavra de Deus que é Seu Filho, se faz carne, se faz homem, tal como narra São João no primeiro capítulo de seu evangelho. De Deus apoiado na sinceridade, assegurado no respeito e enriquecido pela compreensão, é o que necessitamos em todas nossas relações. Um diálogo em que diariamente “nos revestimos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência”. Colossenses 3, 12.

    O diálogo sereno que brota de um sincero amor e de uma alma em paz é o melhor presente que podemos nos dar em dezembro. Assim evitamos que nossa casa seja lugar vazio de afeto onde andamos dispersos como estranhos sob o mesmo teto. Deus concede a todos o dom de nos comunicar sem ofensas, sem julgamentos, sem altivez, e sim com apreço que gera acolhida e aceitação mútua.

    6º Dia – 21 de dezembro

    O Sexto dia é para valorizar a SIMPLICIDADE. Simplicidade que é a virtude das almas grandes e das pessoas nobres. Simplicidade que foi o adorno de Maria de Nazaré tal como ela mesma o proclama em seu canto de Magnificat. “Meu espírito se alegra em Deus meu Salvador porque olhou a humildade de sua serva” (Lucas 1, 47-48).

    Natal é uma boa época para desterrar o orgulho e tomar consciência de tantos males que conduzem a soberba. Nenhuma virtude nos aproxima tanto dos demais como a simplicidade e nenhum defeito nos afasta tanto como a arrogância. O amor só reina nos corações humildes, capazes de reconhecer suas limitações e de perdoar sua altivez. É graças à humildade que agimos com delicadeza, sem nos crer mais do que ninguém, imitando a simplicidade de um Deus que “se despojou de si mesmo e tomou a condição de servo” (Filipenses 2, 6-11).

    Crescer em simplicidade é um admirável presente para nossas relações. Recordemos que nesta pequenez há verdadeira grandeza, e que o orgulho acaba com o amor.

    7º Dia – 22 de dezembro

    Sétimo dia é para crescer em GENEROSIDADE. É a capacidade de dar com desinteresse onde o amor ganha a corrida do egoísmo. É na entrega generosa de nós mesmos que se mostra a profundidade de um amor que não se esgota nas palavras. E isso é o que celebramos no Natal: o gesto sem igual de um Deus que dá a si mesmo. Isso São Paulo destaca: “soberba também na generosidade… pois conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo o qual sendo rico, por vós se fez pobre para que vos enriquecêsseis com sua pobreza”. É uma passagem bíblica em que o apóstolo convida aos Coríntios a compartilhar seus bens com os necessitados (2Cor 8, 7-15).

    Sabemos amar quando sabemos compartilhar, sabemos amar quando damos o melhor de nós mesmos em lugar de dar apenas coisas. Tomemos, pois, a melhor decisão: dar carinho, afeto, ternura e perdão; dar tempo e dar alegria e esperança. São os presentes que mais valem e não custam dinheiro. Demos amor, como dizia São João da Cruz: onde não há amor coloques amor, e tirarás amor.

    8º Dia – 23 de dezembro

    Oitavo dia é para assegurar a FÉ. Uma fé que é firme quando nasce de uma relação amistosa com o Senhor. Uma fé que é autêntica se está confirmada com as boas obras, de modo que a religião não seja apenas de rezas, ritos e tradições. Precisamos cultivar a fé com a Bíblia, a oração e a prática religiosa porque a fé é nosso melhor apoio na crise. Necessitamos de uma fé grande em nós mesmo, em Deus e nos demais. Uma fé sem vacilações como queria Jesus: Marcos 11, 23. Uma fé que ilumina o amor com a força da confiança, já que “o amor em tudo crê” (1Cor 13, 7).

    A FÉ é a força da vida e sem ela andamos à deriva. De fato, aquele que perdeu a fé, já não tem mais nada a perder. Que bom que cuidamos de nossa fé como se cuida de um tesouro! Que bom que nos possam saudar como à Virgem: “Feliz és tu que acreditaste” (Lc 1, 45).

    9º Dia – 24 de dezembro

    Nono dia é para avivar a ESPERANÇA e o AMOR. O amor e a esperança sempre vão de mãos dadas com a fé. Por isso, em seu hino ao amor, São Paulo nos mostra que o amor crê sem limites e espera sem limites (1Cor 13, 7). Uma fé viva, um amor sem limites e uma esperança firme são o incenso, o ouro e a mirra que nos dão ânimo para viver e coragem para não cair.

    É graças ao amor que sonhamos com altos ideais e é graças à esperança que os alcançamos. O amor e a esperança são as asas que nos elevam à grandeza, apesar dos obstáculos e das insipidezes. Se amarmos Deus, amamos nós mesmos e amamos os outros, podemos obter o que sugere São Pedro em sua primeira carta: “Estejam sempre dispostos a dar razão de sua esperança. Com doçura, respeito e com uma boa consciência” (3, 15-16). Se acendermos a chama da esperança e o fogo do amor, sua luz radiante brilhará no novo ano depois que se apaguem as luzes do Natal.

    6. Oração ao Menino Deus:

    Senhor, Natal é a lembrança de teu nascimento entre nós, é a presença de teu amor em nossa família e em nossa sociedade. Natal é certeza de que o Deus do céu e da terra é nosso Pai, que tu, Divino Menino, é nosso irmão. Que esta reunião junto a teu presépio nos aumente a fé em sua bondade, comprometa-nos a viver verdadeiramente como irmãos, nos dê valor para matar o ódio e semear a justiça e a paz. Ó Divino Menino, ensina-nos a compreender que onde há amor e justiça, ali estas tu e ali também é Natal. Amém.

    (Rezar um Glória ao Pai)

    7. Gozos

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Ó sapiência suma de Deus soberano que ao nível de um menino te rebaixaste. Ó Divino infante, vem para nos ensinar a prudência que faz verdadeiros sábios.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Menino do presépio nosso Deus e irmão, tu sabes e entendes da dor humana; que quando sofrermos dores e angústias sempre lembremos que tu nos salvaste.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Ó luz do oriente, sol de eternos raios que entre as trevas seu esplendor vejamos, Menino tão precioso, sorte do cristão, ilumina o sorriso de seus doces lábios.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Rei das nações, ilustre Emanuel, de Israel pastor. Menino que apascenta com suave cajado a ovelha arisca ou o cordeiro manso.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Abram-se os céus e chova do alto o bom orvalho, como santa irrigação. Venha belo menino, venha Deus encarnado; brilha bela estrela, brota a flor do campo.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Tu te fizeste Menino em uma família cheia de ternura e calor humano. Que vivam os lares aqui congregados o grande compromisso do amor cristão.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Do fraco és auxílio, do enfermo és amparo, consolo és do triste, luz do desterrado. Vida de minha vida, meu sonho adorado, meu constante amigo, meu divino irmão.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Vem diante de meus olhos por ti enamorados, ora beije teus pés, ora beije tuas mãos. Prosternado em terra, te estendo os braços e, mais do que minhas frases, te diz meu pranto.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Faz de nossa pátria uma grande família; semeia em nosso chão teu amor e tua paz, nos dê fé na vida, nos dê esperança e um sincero amor que nos una mais.

    Meu doce Jesus, meu menino adorado! Vem a nossas almas! Vem, não demores tanto!

    – Vem nosso Salvador, por quem suspiramos! Vem às nossas almas, vem, não demores tanto!

    Publicado em Paróquia Nossa Senhora das Dores – Odessa SP.

    São João da Cruz – Biografia – Memória -14 de dezembro

    O Carmelo

    Vivido entre 1542 e 1591 na Espanha, sua vida é marcada, por um lado, pela dor infligida-lhe pela dura realidade externa, e por outro pela alegria da descoberta crescente de uma vasta e luminosa realidade interior.

    Órfão de pai aos 3 anos, João de Yepes – seu nome civil – prova o esforço da mãe que procura corações benevolentes a garantir-lhe a sobrevivência. Na adolescência pode trabalhar e estudar.

    Aos 21 anos faz-se religioso carmelita, mas sofre a angústia de não poder viver ali como queria, e sonha com a austeridade e o silêncio monástico dos cartuxos.

    No ano em que se ordena sacerdote, em 1567, encontra-se com Santa Teresa, que o conquista para a sua obra de reforma entre os frades. No ano seguinte, em 1568, torna-se o primeiro carmelita descalço, assume o novo nome de João da Cruz e vive momentos de indescritível felicidade, num casebre perdido da zona rural de Ávila. A partir daqui empenha-se, até o fim da vida, em diversas tarefas entre os carmelitas descalços que veem-se em ligeira expansão. Sua missão somente é interrompida pela perseguição dos padres da Ordem Carmelitana, que o escolhem como vítima do conflito gerado pelo crescimento dos descalços. Durante 9 meses, entre 1577 e 1578, é encarcerado no convento da cidade de Toledo. No meio de um sofrimento físico e moral somente imaginável por quem passou pela dura realidade da prisão, brotam do seu coração as mais belas poesias místicas já escritas, que revelam a experiência de um Deus que se faz prisioneiro do nosso amor.

    Terminado o tempo da prisão, retoma suas atividades, até o ano de 1591, quando, em meio a uma surda perseguição dos seus próprios superiores, alegra-se por ver aproximar-se o almejado momento de poder ver rompida a tênue tela que o separava do seu divino amado.

    São João da Cruz deixou-nos escritos de maravilhosa profundidade de vida espiritual. Seus escritos revelam a densidade de vida que ele mesmo viveu, e constitui doutrina insuperável, pela originalidade das considerações, a respeito do itinerário da vida cristã, desde seus primeiros passos às mais altas realizações nesta vida. A forma que envolve o conteúdo dos ensinamentos do místico doutor, é de igual modo, plena de beleza poética, pois somente a poesia é capaz de expressar sentimentos e realidades indizíveis.

    Escritor

    Quando sobra tempo e sente necessidade torna-se escritor. A maioria dos que entram em contato com os escritos de São João da Cruz, são levados a considerá-lo um escritor profissional, no entanto sua atividade é breve, 8 anos, de 1578 a 1586…É no sofrimento e na marginalização mais dura que nasce o Frei João, poeta e escritor… Além das cartas, de pensamentos e ditos e outros escritos menores, São João da Cruz deixou-nos quatro grandes escritos que inter-relacionam-se e onde desenvolve o dinamismo que toda pessoa humana é chamada a percorrer em sua relação com Deus. Tais obras são: Subida do Monte Carmelo, Noite escura, Cântico espiritual e Chama viva de Amor. As duas primeiras obras acentuam a purificação como passagem e caminho que concretiza a união, purificação que envolve atitudes que têm por protagonismo ora a pessoa que responde à graça, ora Deus mesmo que, aos passos da pessoa, toma o processo em suas mãos. As outras obras, ainda que tocando a realidade da purificação, centram sua atenção na vivacidade do amor que tudo pervade e nas consequências positivas da união com Deus, ideal último para o qual todos nós fomos criados.

    Místico

    Não há dúvida de que São João da Cruz é um dos maiores místicos de todos os tempos…Ele foi alguém que não só teve uma experiência forte da presença de Deus, mas também ajudou outros a iniciar o caminho da aventura da fé…Ao longo de seus escritos, encontramos conselhos, avisos, que evitam ao ‘principiante’ perder tempo precioso na busca de Deus.(p.21).

    O centro de tudo para nosso santo é sem dúvida o amor: força propulsora do processo, objeto de purificação que consiste em concentrar toda a sua força para Deus, fim e ideal do caminho. A união com Deus é união de amor com aquele que é amor. Ordenado para Deus, nosso amor recupera sua veemência, sua característica de força e movimento, afinal o amor é forte como a morte e sua medida é ser sem medida. Tão infinito como Deus é o amor, e, do mesmo modo como ele nos amou, à loucura, quando o amamos, somos levados a cometer por ele loucuras de amor. “Com ânsias de amores inflamada”, diz um trecho de uma sua poesia, é assim que a alma caminha em seu caminho com Deus e para Deus. Amando assim, este santo carmelita tornou-se, sem dúvida, um louco, louco de paixão por Deus, e nenhum de nós que dele se aproxima e por ele deixa-se guiar, pode deixar de almejar a mesma loucura, de um mesmo amor.

    A Bíblia

    São João da Cruz conhecia a Bíblia, amava-a de coração e sabia se movimentar com facilidade pelo mundo bíblico. Mais que um erudito é um apaixonado pela palavra de Deus.

    Teólogo

    Normalmente podemos correr o risco de colocar em oposição a teologia e a mística. É um erro que deve ser evitado. João da Cruz é um teólogo e um grande teólogo…Possui uma visão sistemática e completa da história da salvação.

    Quadro cronológico

    1542 – Nascimento em Fontiveros(Ávia), em data desconhecida. Filho de Gonzalo de Yepes e Catalina Álvarez. São três irmãos: Francisco, Luís e João.

    1545-1551 – Infância pobre e difícil: Quando morre o pai, a família emigra para Torrijos e não encontrando melhores condições de vida, volta a Fontiveros. Luís, o segundo dos irmãos, morre. Em 1551 fixam residência em Arévalo.

    1551-1559 – Ocupou-se nos ofícios de carpinteiro, pintor, entalhador; acólito na igreja da Madalena.

    1559-1563 – Estuda humanidades no colégio dos Jesuítas.

    1563 – Recebe o hábito religioso dos Carmelitas, chamado Frei João de São Matias.

    1564 – Entre o verão e o outono faz sua profissão religiosa.

    1567- Ordenado sacerdote em Salamanca, provavelmente em julho; reza sua primeira missa em Medina, provavelmente em agosto, acompanhado de sua mãe. Setembro/outubro: Encontra-se pela primeira vez com Santa Teresa, em Medina, que o conquista para dar início à sua Reforma entre os frades.

    1568 – Terminados seus estudos em Salamanca, volta a Medina; mantém colóquios com Santa Teresa; parte com ela rumo a Valladolid no dia 9 de agosto para a fundação das descalças e permanece lá até outubro, informando-se detalhadamente da nova vida reformada; no início de outubro vai a Duruelo(Ávila) para preparar uma ‘alquería’ para o primeiro convento descalço, e no dia 28 de novembro, primeiro domingo do Advento, inaugura nele a vida reformada de Carmelitas Descalços.

    1569-1572- Formador dos descalços

    1572 – Fim de maio, chega a Ávila a pedido de Santa Teresa, como confessor e vigário do Mosteiro de Carmelitas da Encarnação, onde ela é priora.

    1574 – …no dia 19 de março inauguram a fundação de Descalças, regressando a Ávila no fim do mês.

    1575-1576 – …Os Calçados de Ávila levam-no prisioneiro a Medina, onde fica nove meses, mas foi libertado e restituído ao seu cargo por intervenção do Núncio.

    1577-1578 – Encarcerado em Toledo – Na noite do dia é aprisionado e tirado violentamente de sua casinha da Encarnação de Ávila, e entre o dia 4 e 8 é levado ao Convento dos Descalços de Toledo, onde fica recluso no cárcere conventual durante oito meses; ali compõe seus primeiros poemas místicos.

    1578 – Durante a oitava as Assunção, por volta das duas ou três horas, provavelmente no dia 17, foge do cárcere conventual se refugiando de dia no convento das Descalças. O resto do mês de agosto e todo o mês de setembro, fica escondido na casa do Sr.Pedro González de Mendoza.

    1578-1588- Superior de Andaluzia

    1578- No início de outubro encontra-se em Almodóvar, onde participa do Capítulo dos Descalços, que começa no dia 9, e é eleito Vigário do Convento do Calvário(Jaén); de passagem para esta casa se detém em La Peñuela e nas Descalças de Beas; no início de novembro toma posse de seu cargo que durará sete meses e meio.

    1580 – Morre em Medina a mãe do santo.

    1585 – No dia 17 de fevereiro inaugura a fundação de Descalças em Málaga;

    1591 – Últimos sofrimentos e morte

    Junho – do Capítulo de Madri sai sem nenhum cargo…o abandono e uma surda perseguição caem sobre ele.

    10 de agosto – Chega como súdito a La Peñuela; um mês depois aparecem nele ‘umas pequenas calenturas’ que nunca mais cedem;

    28 de setembro – Vai doente para Úbeda(Jaén), onde passa os últimos meses de sua vida.

    Dezembro – à meia-noite de 6ª feira, 13, ao sábado, 14, morre santamente em Úbeda aos 49 anos de idade.

    1675 – Aos 25 de janeiro é beatificado pelo Papa Clemente X

    1726 – O Papa Bento XIII o canoniza aos 27 de dezembro.

    1926 – Pio XI, o Papa Carmelitano, proclama-o Doutor da Igreja, chamando-o Doutor Místico, no dia 24 de agosto.

    1952 – É proclamado Padroeiro dos poetas espanhóis, aos 21 de março.

    Fonte: São João da Cruz . Obras Completas. 2002. Vozes.

    Publicado em Carmelitas Mensageiros do Espírito Santo.

    Natal, o mistério da encarnação

    Bastam as primeiras estrofes do canto natalino mais popular na Itália desde o século XVIII até nossos dias, composto por Santo Afonso Maria de Ligório, para percebermos o mistério da encarnação como alicerce da espiritualidade.

    Neste mês de dezembro sinta-se convidado, a olhar para a manjedoura, para a humildade e fragilidade da criança que, entre palhas, demonstra a loucura do Amor de Deus em busca do coração do homem.

    Santo Afonso deixou uma herança para os seus filhos e eles a conservam e transmitem: Diante da Manjedoura ficamos estupefatos por causa do mistério de amor. Esse espanto logo se torna encanto e em seguida leva à paixão. Esse olhar, essa contemplação, essa percepção de uma realidade amorosa, contagia a todos.

    A Espiritualidade da Manjedoura é, na verdade, um grande convite: Não perceber na vida um outro sentido senão fazer de tudo para corresponder tamanho amor. O mistério da encarnação de Jesus é o início de um caminho concreto, palpável, inserido na história humana, iniciado por Deus para entrar em comunhão de amor com o ser humano.

    O despojamento do Cristo, tomando a condição de servo (Fl 2,7), quer nos ajudar a celebrar bem o natal. A herança alfonsiana pode ajudar a todos num mundo onde, influenciados por tantas ideias e realidades, os homens e mulheres nem sempre percebem a grandeza do amor de Deus expressa na encarnação do Verbo Eterno que, tomando nossa condição, faz-se pobre, necessitado da atenção e do carinho humano. Deus se assemelha a nós, torna-se impotente em tudo, exceto na capacidade de amar.

    Na criança da manjedoura está a manifestação plena do Amor Divino pela humanidade e, ao mesmo tempo, a expressão do amor humano por Deus. Eis a Copiosa Redenção acontecendo desde o primeiro instante: o Sim de Deus se encontra com o Sim do homem.

    O Presépio (a manjedoura) juntamente com a Cruz e o Santíssimo Sacramento revelam o aniquilamento (Kénosis) de Cristo que começou na encarnação e não termina jamais, porque continua em cada Eucaristia.

    Celebremos o Natal. Celebremos a Encarnação.

    Santo Afonso, numa outra canção, convida-nos a contemplar uma singular realidade, a beleza de Maria, a Mãe cuidando do seu filho, o Menino Deus:

    Calaram os céus A sua harmonia Enquanto Maria Ninava Jesus. (…)Calaram os céus A sua harmonia Enquanto Maria Ninava Jesus. (…)

    Calou-se e em seu peito Cingindo o Menino, No rosto divino Um beijo lhe deu”.

    Pe. Luiz Cláudio Alvez de Macedo, C. SS. R.
    Fonte: Revista de Aparecida

    Publicado em Catequese Católica.

    Imagem: Wikipédia.

    Festa da Imaculada Conceição de Maria: origens e significados

    SOLENIDADE – 8 DE DEZEMBRO

    A Imaculada Conceição de Maria por Antonio Cavallucci (1790)
    A Imaculada Conceição de Maria por Antonio Cavallucci (1790)

    Neste dia de preceito, rogamos a nossa Mãe do Céu pelas almas e pelas intenções de todos os nossos leitores, irmãos em Cristo e amigos, para que interceda por nós junto a seu Filho e Nosso Senhor:

    Ó Maria, Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós!

    Estamos diante de um mistério; diante de um fato que excede nossa inteligência humana. Sim, o mistério não contradiz a razão humana, mas a excede.

    O privilégio da Imaculada Conceição não se refere ao fato de Maria de Nazaré ter sido virgem antes, durante e depois do parto de Jesus. Não se refere ao fato de ter ela concebido o Filho sem concurso de homem, mas por Obra e Graça do Espírito Santo. Não se refere ao fato de Maria não ter cometido nenhum dos pecados que para nós são, – lamentavelmente, corriqueiros. – Refere-se, isto, sim, ao fato de Deus havê-la preservado da mancha com a qual todas as criaturas humanas nascem, a mancha herdada do Pecado cometido por Adão e Eva, que a Teologia chama Pecado original.

    Pecado que se chama original não porque, a partir dele, nascemos todos como fruto do ato sexual. Original porque se refere à Origem de toda a humanidade, isto é, dos nossos primeiros pais, que a Bíblia chama (simbolicamente ou não) Adão e Eva.

    As Sagradas Escrituras ensinam-nos que Deus criou o ser humano à sua Imagem e Semelhança. Não o fez por necessidade, – já que Deus se basta a Si mesmo, – mas num gratuito gesto de Amor.

    Criado por amor, o ser humano estava destinado à plena e eterna festa de Comunhão com Deus. Uma Comunhão tão íntima e divina que o próprio Filho de Deus poderia dela participar sem nenhuma diminuição de sua Divindade.

    Ora, para que viesse ao mundo o Filho de Deus Salvador, encarnado em forma humana, Deus escolheu desde antes do início dos tempos, uma mulher, e a para tal finalidade a fez santíssima, ou seja, adornada com qualidades e belezas do próprio Deus. Para Deus, imaginação e criação são uma mesma coisa.

    Nossos primeiros pais, apesar de feitos à imagem e semelhança de Deus, eram criaturas e como criaturas dependiam do Criador. Sua liberdade era a plenitude da liberdade como criaturas. Adão e Eva pecaram, querendo passar da liberdade e santidade de criaturas à liberdade e santidade próprias do Criador, ou seja, quiseram igualar-se a Deus. Pecado de orgulho. Pecado de desobediência. Quiseram “ser como Deus” (Gn 3,5) e não como criaturas de Deus.

    Consequências dramáticas dessa suprema prepotência de nossos primeiros pais: embora mantivessem a dignidade de Imagem e Semelhança de Deus, perderam, como diz São Paulo “a Graça da santidade original” (Rm 3,23); passaram a ter medo de Deus; perderam o equilíbrio de criaturas, ou seja, foram tomados pelas más inclinações e passaram a sentir em suas consciências a desarmonia e a tensão entre o bem e o mal, e a experiência da terrível necessidade de optar entre um e outro. “Entrou a morte na história da humanidade” (Rm 5,12).

    Ora, os planos de Deus, ainda que as criaturas os reneguem ou se desviem deles, acabam se realizando. Aquela mulher imaginada/criada por Deus antes do Paraíso terrestre, para ser a Mãe do Filho em carne humana, estava isenta do pecado de Adão e Eva. Todavia há uma verdade de fé professada desde sempre pela Igreja que ensina com clareza que todas as criaturas humanas são redimidas, sem exceção, exclusivamente pelos méritos de Jesus Cristo. Ora, sabemos bem que Maria é uma criatura de Deus e não uma espécie “deusa” (somente na imaginação desvairada de certos inimigos da igreja esta absurda confusão seria possível). Por isso, também ela deveria ser, – como de fato foi, – redimida por Jesus Cristo, a um só tempo seu Filho e Senhor.

    Teólogos discutiram durante séculos sobre como Maria poderia ter sido remida. Nunca, nenhum santo Padre duvidou da santidade de Maria, de sua vida puríssima, de seu coração inteiramente voltado para Deus, ou seja, de ser uma mulher “Cheia de Graça” (Lc 1,28). A razão de tanta convicção e de tanta certeza sempre foi a certeza e a convicção de que Deus Todo Poderoso, o Santo dos Santos, só poderia nascer de um vaso que fosse puríssimo. Ainda assim, mesmo que pudessem conceber Maria como Virgem Imaculada, haviam teólogos que não conseguiam entendê-la isenta do Pecado original. E estavam certos! Entre estes, que num primeiro momento encontraram dificuldades em conceber a Imaculada Conceição de Nossa Senhora, haviam inclusive santos, como São Bernardo, – justamente ele, autor de belíssimos textos sobre a Virgem Maria e sua maternidade divina.

    Mas haviam teólogos favoráveis à aceitação da verdade da Imaculada Conceição de Maria, entre os quais o Bem-aventurado Duns Scotus, que argumentava assim: primeiro, sim, Deus podia criá-la sem mancha, porque “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37); 2) convinha que Deus a criasse sem mancha, porque ela estava predestinada a ser a Mãe de Deus e, portanto, ter todas as qualidades que não afetasse de modo absolutamente nenhum a Dignidade suprema do Filho. Assim, Deus podia, e convinha; logo, Deus a criou isenta do Pecado original, ou seja, imaculada antes, durante e depois de sua conceição no seio de sua mãe.

    No ano 1615 encontramos o povo de Sevilha, na Espanha, cantando pelas ruas alguns versos derivados do argumento de Duns Scotus: “Quis e não pôde? Não é Deus / Pôde e não quis? Não é Filho. / Digam, pois, que pôde e quis!”.

    Imaculada Conceição de Maria por Bartolomé Esteban Murillo (1661)
    Imaculada Conceição de Maria por Bartolomé Esteban Murillo (1661)

    Também artistas entraram na procissão dos que louvavam e difundiam a devoção à Imaculada. Nenhum foi tão profícuo quanto o espanhol Murillo, falecido em 1682. A ele se atribuem nada menos que 41 diferentes quadros com o tema Imaculada Conceição, inconfundíveis, retratando sempre a Virgem assunta, cercada de anjos, quase sempre com a meia lua sob os pés, lembrando de perto a mulher descrita pelo Apocalipse (Ap 12,1). A lua, por variar tanto, é símbolo da instabilidade humana e das coisas passageiras. Maria foi sempre a mesma, sem nenhum pecado.

    No entanto, escreve o papa Pio IX, era absolutamente justo que, como tinha um Pai no Céu, que os Serafins exaltam “Santo, Santo, Santo”, o Unigênito tivesse também uma Mãe na Terra, em quem jamais faltasse o esplendor da santidade (Ineffabilis Dei, 31). Com efeito, essa doutrina se apossou de tal forma dos corações e da inteligência dos nossos antepassados que deles se fez ouvir uma singular e maravilhosa linguagem. Muitas vezes se dirigiram à Mãe de Deus como “toda santa”, “inocentíssima”, “a mais pura”, “santa e alheia a toda mancha de pecado”, etc.

    Aos 8 de dezembro de 1854, o bem-aventurado papa Pio IX declarou verdade de fé a Conceição Imaculada de Maria:

    “Pela Inspiração do Espírito Santo Paráclito, para honra da santa e indivisa Trindade, para glória e adorno da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica e para a propagação da religião católica, com a autoridade de Jesus Cristo, Senhor nosso, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e nossa, declaramos, promulgamos e definimos que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, foi preservada de toda mancha de pecado original, por singular graça e privilégio do Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador dos homens, e que esta doutrina está contida na Revelação Divina, devendo, portanto, ser crida firme e para sempre por todos os fiéis.”
    (Ineffabilis Dei, 42)

    A Imaculada Conceição por Peter Paul Rubens (1627)
    A Imaculada Conceição por Peter Paul Rubens (1627)

    Há 161 anos foi proclamado o dogma, mas a devoção à Imaculada é muito mais antiga. Basta lembrar que a festa é conhecida pelo menos desde o século VIII. Desde 1263, a Ordem Franciscana celebrou com solenidade a Imaculada Conceição, no dia 8 de dezembro de cada ano, e costumava cantar a Missa em sua honra aos sábados. Em 1476, o Papa Xisto IV adicionou a Festa ao Calendário Litúrgico da Igreja. Em 1484, Santa Beatriz da Silva, filha de pais portugueses, fundou uma Ordem contemplativa de mulheres, conhecidas como Irmãs Concepcionistas, para venerar especialmente e difundir o privilégio mariano da Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Deus.

    Desde a proclamação do dogma, a festa da Imaculada Conceição passou a ser dia santo, de guarda ou preceito.

    Em Roma, na Praça Espanha, para perenizar publicamente a declaração do dogma, levantou-se uma belíssima coluna entalhada, encimada por uma formosa estátua da Imaculada Conceição. Todos os anos, no dia 8 de dezembro à tarde, o Papa costuma ir à Praça, e com o povo romano e peregrinos reverenciar o privilégio da Imaculada Conceição da santíssima Virgem, privilégio este que deriva do maior de todos os seus títulos: Mãe do Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador.

    A coroação final e maravilhosa desta riquíssima história veio menos quatro anos após a proclamação do dogma, quando, em Lourdes, França, à menina Bernardete. Simples e analfabeta, ao ser agraciada com a visão da santíssima Virgem, perguntava insistentemente à visão quem era, até receber como resposta, cercada de terníssimo sorriso: “Eu sou a Imaculada Conceição” (‘que soy era immaculada concepciou’).

    Não podemos esquecer que a imagem ou representação da padroeira de nossa nação, chamada comumente Nossa Senhora Aparecida, é também uma Imaculada Conceição; por isso mesmo, seu título oficial é “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”.

    Como é bonito, piedoso e comovente escutar o povo brasileiro cantando uníssono: “Viva a Mãe de Deus e nossa / sem pecado concebida! / salve, Virgem Imaculada, / ó Senhora Aparecida!”

    Fonte e ref. bibliográfica:
    NEOTTI, Clarência, Frei OFM, artigo ‘Imaculada Conceição da Maria – 150 anos de Proclamação do Dogma’,

    disp. em http://www.franciscanos.org.br/?page_id=5536#sthash.EZyE8fFg.dpuf
    Acesso 8/12/015
    • PERRY, Tim; KENDALL, Daniel SJ. The Blessed Virgin Mary. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 2013.

    Publicado em O Fiel Católico.

    O verdadeiro sentido do Natal para os católicos

    A luz do mundo

    A pintura do Museu de Belas Artes de Lyon (Artista: François Boucher)

    O verdadeiro Natal nunca muda, pois não muda também a compreensão do que é o Natal na alma dos católicos de verdade.

    Nessas almas, mais do que o consumismo estúpido, mais do que a vermelha figura do Papai Noel, em seu trenó deslizante no verão brasileiro, mais do que a maçante Gingle Bells, exaustivamente tocada nas lojas com descartáveis produtos coloridos, ressoa o hino cantado pelos anjos “Glória in excelsis Deo”.

    Ressoam as puras notas do “Puer natus est nobis, et filium nobis est datum”. Porque, para nós que “habitávamos nas sombras da morte, para nós brilhou uma grande luz”.

    Que se entende, hoje, que é um “Feliz natal, para você” ? No máximo da inocência, uma [diversão] em família, com presentinhos, beijinhos e indigestão.

    (…)

    E quando o Natal não é tão inocente…

    Quando o Natal não é tão inocente se realiza o canto pagão e naturalista; “Adeus ano velho. Feliz ano novo. Muito dinheiro no bolso. Saúde para dar e vender”.

    Eis a felicidade pagã: dinheiro, saúde, prazer.

    Sem Deus. Sem Redenção. Sem alma. Que triste Natal esse!

    Que infeliz e decrépito ano novo, tão igual aos velhos anos do paganismo!

    Será que o povo que habitava nas sombras da morte já não vê a grande luz que brilhou para ele em Belém?

    Até a luz do Natal está ofuscada. E quão poucos compreendem essa luz!

    No presépio se conta tudo.

    Tudo está lá bem resumido. Mas o povo olha as pequenas figuras e não compreende o que significa que um Menino nos foi dado, que um Filho nasceu para nós.

    No presépio se vê um Menino numa manjedoura, entre um boi e um burro…

    A Virgem Maria, Mãe de Deus adorando seu Filhinho que é o Verbo de Deus encarnado, envolto em panos. São José, contemplando o Deus Menino tiritante de frio, à luz de uma tosca lanterna.

    Um anjo esvoaçante sobre a cabana rústica. Uma estrela. Pastores com suas ovelhas, cabras e bodes. Um galo que canta na noite. Os Reis que chegam olhando a estrela, seguindo a estrela, para encontrar o Menino com sua Mãe.

    Tudo envolto no cântico celeste dos anjos;

    “Glória a Deus nas alturas! E paz, na terra, aos homens que têm boa vontade” (Luc. II, 14) 

    Isso aconteceu nos dias de Herodes, quando César Augusto decretou um recenseamento.

    E como não havia lugar para Maria e José na estalagem, em Bethleem, terra de Davi, eles tiveram que se refugiar numa cocheira, entre um boi e um burro.

    Porque assim se realizaram as profecias:

    * “E tu, Bethleem Efrata, tu és a mínima entre as milhares de Judá, mas de ti há de me sair Aquele que há de reinar em Israel, e cuja geração é desde o Princípio, desde os dias da eternidade”, como profetizou o Profeta Miquéias (Mi. V, 1).

    ** ”O Senhor vos dará este sinal: uma Virgem conceberá, e dará à luz um filho, e seu nome será Emanuel” (Is. VII,14)

    *** “O Boi conhece o seu dono, e o burro conhece o presépio de seu senhor, mas Israel não me conheceu e o meu povo não teve inteligência” profetizou Isaías muitos séculos antes (Is. I,3).

    E Cristo, nos dias de Herodes, nasceu em Bethleem que quer dizer casa do pão (Beth = casa. Leem = pão).

    Cristo devia nascer em Belém, casa do pão, porque Ele é o pão que desceu dos céus, para nos alimentar. Por isso foi posto numa manjedoura, para alimentar os homens.

    Devia nascer num estábulo, porque recebemos a Cristo como pão do Céu na Igreja, representada pelo estábulo, visto que nas cocheiras, os animais deixam a sujeira no chão, e comem no cocho. E na Igreja os católicos deixam a sujeira de seus pecados no confessionário, e, depois, comem o Corpo e bebem o Sangue de Jesus Cristo presente na Hóstia consagrada, na mesa da comunhão.

    Jesus devia nascer de uma mulher, Maria, para provar que era homem como nós. Mas devia nascer de uma Virgem — coisa impossível sem milagre — para provar que era Deus. Este era o sinal, isto é, o milagre que anunciaria a chegada do Redentor: uma Virgem seria Mãe. Nossa Senhora é Virgem Mãe. E para os protestantes, que não creem na virgindade perpétua de Maria Santíssima, para eles Maria não foi dada por Mãe, no Calvário. Pois quem não tem a Maria por Mãe, não tem a Deus por Pai.

    E por que profetizou Isaías sobre o boi e o burro no presépio?

    Que significam o boi e o burro?

    O boi era o animal usado então, para puxar o arado na lavoura da terra.

    Terra é o homem. Adão foi feito de terra. Trabalhar a terra é símbolo de santificar o homem. Ora, os judeus tinham sido chamados por Deus para ser o sal da terra e a luz do mundo, isto é, para dar vida (sal) espiritual, santidade, aos homens, e ensinar-lhes a verdade (luz).

    O boi era então símbolo do judeu.

    O burro, animal que simboliza falta de sabedoria, era o símbolo do povo gentio, dos pagãos, homens sem sabedoria.

    Mas Deus veio salvar objetivamente a todos os homens, judeus e pagãos. Por isso, no presépio de Cristo, deviam estar o boi (o judeu) e o burro (o pagão).

    Foi também por isso que Jesus subiu ao Templo montado num burrico que jamais havia sido montado, isto é, um povo pagão que não fora sujeito ao domínio de Deus. E os judeus não gostaram que o burro fosse levado ao Templo, isto é, que Cristo pretendesse levar também os pagãos à casa de Deus, à religião verdadeira. Por isso foi escrito: “mas Israel não me conheceu e o meu povo não teve inteligência”.

    Como também o povo católico, hoje, já não tem inteligência para compreender o Natal, pois “coisas espantosas e estranhas se tem feito nesta terra: os profetas profetizaram a mentira, e os sacerdotes do Senhor os aplaudiram com as suas mãos. E o meu povo amou essas coisas. Que castigo não virá, pois, sobre essa gente, no fim disso tudo?” (Jer. V, 30-31).

    Pois se chegou a clamar: “Glória ao Homem, já rei da Terra e agora príncipe do céu”, só porque o homem fora até a Lua num foguete, única maneira do homem da modernidade subir ao céu.

    No Natal de Cristo, tudo mostra como Ele era Deus e homem ao mesmo tempo.

    Como já lembramos, Ele nasceu de uma mulher, para provar que era homem como nós. Nasceu de uma Virgem, para provar que era Deus.

    Como um bebê, Ele era incapaz de andar e de se mover sozinho. Como Deus, Ele movia as estrelas.

    Como criança recém nascida era incapaz de falar. Como Deus fazia os anjos cantarem.

    Ele veio salvar objetivamente a todos, mas nem todos o aceitaram. E Herodes quis matá-lo.

    Ele chamou para junto de si, no presépio, os pastores e os Reis, para condenar a Teologia da Libertação e os demagogos pauperistas que pregam que Cristo nasceu como que exclusivamente para os pobres. É falso!

    Assim como o sol brilha para todos, Deus quis salvar a todos sem acepção de pessoa. Por isso chamou os humildes e os poderosos junto à manjedoura de Belém.

    Mas, dirá um seguidor do bizarro frei Betto ou do ex frei Boff, que nada compreendem do Evangelho pois o lêem com os óculos heréticos e assassinos de Fidel e de Marx, sendo “cegos ao meio dia” (Deut. XXVIII, 29): Deus tratou melhor os pastores pobres, pois lhes mandou um anjo, do que os reis poderosos, exploradores do povo, aos quais chamou só por meio de uma estrela. É verdade!!!

    Deus tratou melhor aos pastores. Mas não porque eram pastores, e sim porque eram judeus. Sendo judeus, por terem a Fé verdadeira, então, mandou-lhes um sinal espiritual. Aos reis magos, porque pertenciam a um povo sem a religião verdadeira, mandou-lhes um sinal material: a estrela.

    No presépio havia ovelhas e bodes, porque Deus veio salvar os bons e os pecadores.

    E a Virgem envolveu o menino em panos.

    Fez isso, é claro, porque o pequeno tinha frio, e por pudor.

    Mas simbolicamente porque aquele Menino —que era o Verbo de Deus feito homem—, que era a palavra de Deus humanada, tinha que ser envolta em panos, pois que a palavra de Deus, na Sagrada Escritura, aparece envolta em mistério, pois não convém que a palavra de Deus seja profanada. Daí estar escrito: “A glória de Deus consiste em encobrir a palavra; e a glória dos reis está em investigar o discurso” (Prov, XXV, 2).

    E “Um Menino nasceu para nós, um filho nos foi dado, e o império foi posto sobre os seus ombros, e seu nome será maravilhoso, Deus Poderoso, Conselheiro, o Deus eterno, o Príncipe da Paz” (Is. IX, 5).

    Porque todos os homens, em Adão, haviam adquirido uma dívida infinita para com Deus, já que toda culpa gera dívida conforme a pessoa ofendida. E a ofensa de Adão a Deus produzira dívida infinita, que nenhum homem poderia pagar, pois todo mérito humano é finito. Só Deus tem mérito infinito. Portanto, desde Adão, nenhum homem poderia salvar-se. Todos nasceriam, viveriam e iriam para o inferno. E a humanidade jazia então nas sombras da morte.

    Mas porque Deus misericordiosamente se fez homem, no seio de Maria, era um Homem que pagaria a dívida dos homens, porque esse Menino, sendo Deus, teria mérito infinito, podendo pagar a dívida do homem. Por isso, quando Ele morreu por nós, foi condenado por Pilatos, representando o maior poder humano — o Império — que O apresentou no tribunal dizendo: “Eis o Homem”.  (Jo XIX, 5)

    Ele era O Homem.

    Era um homem que pagava os pecados dos homens assumindo a nossa natureza e nossas culpas, mas sem o pecado. Era Deus-Menino sofrendo frio e fome por nossos confortos ilícitos e nossa gula, na pobreza e no desprezo, por nossa ambição e nosso orgulho.

    E os pastores e os Reis O encontraram com Maria sua Mãe, para mostrar que só encontra a Cristo quem O busca com sua Mãe.

    E para demonstrar que diante de Jesus, ainda que Menino, todo poder deve dobrar o joelho.

    E os pastores levaram ao Deus Menino suas melhores ovelhas, e seus melhores cabritos, enquanto os Reis Lhe levaram mirra, incenso e ouro. A mirra da penitência. O incenso da adoração. O ouro do poder.

    Tudo é de Cristo.

    Todos, levando esses dons, reconheciam que Ele era Deus, o Senhor de todas as coisas, Ele que dá todas as ovelhas e cabras aos pastores. Ele que dá aos Reis o poder e o ouro.

    Deus é o Supremo Senhor de todas as coisas. Ele é o Soberano Absoluto a quem devemos tudo. E para reconhecer que Ele é a fonte de todos os bens que temos é que devemos levar-Lhe em oferta o melhor do que temos.  

    Publicado em Catolicismo Romano.