A devoção ao Sagrado Coração de Jesus (Solenidade – 2025)

Conheça a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, qual a sua origem, como se popularizou, quais são as suas promessas e como praticá-la.

Quando é a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus em 2025?

Em 2025, celebraremos a festa do Sagrado Coração de Jesus no dia 27 de junho — oito dias depois da solenidade de Corpus Christi, conforme o decreto do Papa Pio IX.

Conheça a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, qual a sua origem, como se popularizou, quais são as suas promessas e como praticá-la.

É parte da cultura universal fazer referência ao coração quando o assunto é sentimento, especialmente amor. Sem dúvida, o coração é um símbolo do amor. Imagine então o coração do próprio Jesus! João foi o único apóstolo que teve a graça de se reclinar no peito de Jesus, na última Ceia. Ele ouviu o pulsar do Coração que mais amou os homens.

Neste artigo, você vai conhecer a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Ela pode ser considerada a fonte de todas as devoções, pois consiste numa devoção intimamente ligada ao Amor do próprio Deus por cada um de nós.

O que é a devoção ao Sagrado Coração de Jesus?

Na linguagem bíblica, o coração quer dizer “toda a pessoa na sua unidade de consciência, inteligência, liberdade. O coração indica a interioridade do homem, como também a sua capacidade de pensar: é a sede da memória, centro de escolhas e projetos.” 1 A devoção ao Sagrado Coração de Jesus revela, sobretudo, o infinito amor de Deus por cada um de nós, seus filhos. Sendo assim, é também um chamado para que aprendamos a amar como Ele nos amou — e ama.

Em primeiro lugar, Deus quis ter um coração de carne. Isso se torna evidente na Encarnação do Verbo, pois Ele se fez homem, através de Jesus Cristo, para nos amar com o coração de Seu Filho. “O objeto específico dessa devoção é o imenso amor do Filho de Deus, que O levou a entregar-se por nós à morte e a dar-se inteiramente a nós no Santíssimo Sacramento do Altar.” 2Dessa forma, a devoção ao Sagrado Coração resulta também na devoção a Jesus Eucarístico, portanto é um dogma de fé.

Ao se fazer homem, viver tudo como nós — exceto o pecado —, e ainda sofrer e morrer numa cruz, Cristo nos convence de que um coração humano é capaz de amar. E nos convence também do Seu amor por nós. Se para nós é difícil compreender que Deus, Criador de todo o universo, nos ama, talvez seja mais simples imaginar que um homem, humano como nós, nos ama e anseia pelo nosso amor.

Por isso, viver essa devoção é honrar de todas as formas possíveis — por meio de orações, adorações, agradecimentos etc. — tudo quanto Cristo fez por nós, especialmente entregar-se na Santa Eucaristia.

As origens da devoção

A França é filha primogênita da Igreja. Ela foi um berço de santos e também um lugar de aparições marianas, como La Salette (em 1846) e Lourdes (em 1858). E foi neste país que Deus quis também despertar a devoção ao Seu Sagrado Coração.

Alguns místicos na Idade Média, como Matilde de Magdeburg (1212-1283) e o Beato dominicano Enrico Suso (1295 – 1366) já cultivavam a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. E em 1672, João Eudes, sacerdote francês, celebrou esta festa pela primeira vez. 1 Mas foram especialmente com as revelações de Nosso Senhor feitas à mística francesa Santa Margarida Maria Alacoque, a partir de 1673, que a devoção se propagou ainda mais.

Santa Margarida Maria Alacoque

Santa Margarida Maria Alacoque nasceu em 1647. Era de uma família católica e recebeu uma boa formação cultural e religiosa. No entanto, seus pais hesitavam em deixá-la ir para o convento, como era sua vontade. Contudo, depois de ter sido curada de uma doença — tinha convicção da intervenção divina —, entra para a Ordem da Visitação, aos 24 anos.

Foi uma freira e mística francesa da Ordem da Visitação. Ela recebeu visões de Jesus e de Maria, as quais revelaram o poder do Sagrado Coração de Jesus. A primeira vez que o Senhor lhe apareceu — em 27 de dezembro de 1673 — foi na capela do convento Visitação de Paray-le-Monial, enquanto o Santíssimo Sacramento estava exposto e a santa em profundo recolhimento interior.

Na segunda aparição, a santa decide ofertar o seu coração a Cristo, que lhe adverte o quanto ela teria de sofrer dali em diante para que a devoção fosse difundida. Mas também a consola com a certeza de estar sempre unido a ela, como o esposo à esposa. Ela relatava todas as visões ao seu diretor espiritual, o padre jesuíta francês Jean Croiset, que encorajado pela própria Santa deixa uma grande obra escrita sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Por fim, o Senhor apresenta a Santa Margarida o seu desejo de que o Rei da França (Luís XIV) consagre a si mesmo e toda a sua corte ao Sagrado Coração de Jesus. Apesar de o pedido ter sido negado, e de toda a prudência da Igreja, muitos bispos permitiram a fundação de confrarias em honra a esta preciosa devoção ao longo do século XVIII. E, desde então, a devoção só aumentou. 3

Santa Margarida Maria Alacoque morre aos 43 anos, em 1690, depois de muito sofrer e lutar para propagar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus

Nas aparições de Nosso Senhor à Santa Margarida Maria Alacoque, Ele revela como está o seu coração, que é desprezado pelos homens diariamente: “Eis o Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se poupou até se esgotar e consumir para testemunhar-lhes o seu amor; e em reconhecimento não recebo da maior parte deles senão ingratidões por meio das irreverências e sacrilégios, tibiezas e desdéns que usam para comigo neste sacramento de amor. E o que mais me custa é tratar-se de corações a mim consagrados os que assim me tratam.”

Mas, além das visões, o próprio Jesus revela que cumprirá grandes promessas na vida daqueles que se dedicarem, de fato, à devoção ao Seu Sagrado Coração. Não se sabe exatamente quem as enumerou em 12, como conhecemos hoje, mas é certo que elas estão contidas nas revelações, conforme os registros da própria Santa Margarida.

Conheça as 12 promessas

1ª: “A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração”;

2ª: “Eu darei aos devotos de Meu Coração todas as graças necessárias a seu estado”;

3ª: “Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias”;

4ª: “Eu os consolarei em todas as suas aflições”;

5ª: “Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte”;

6ª: “Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos”;

7ª: “Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias”;

8ª: “As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção”;

9ª: “As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição”;

10ª: “Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos”;

11ª: “As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração”;

12ª: “A todos os que comunguem, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna”.

A popularização da devoção

Depois da morte de Santa Margarida, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi se popularizando cada vez mais. O processo de reconhecimento e aprovação da Igreja também é prudente, a Festa do Sagrado Coração de Jesus foi instituída quase dois séculos depois das aparições. No entanto, isso não impediu que muitos mantivessem uma devoção particular durante esses anos. Vamos conhecer agora alguns acontecimentos que contribuíram para propagar a devoção.

A revolta da Vendeia

A revolta da Vendeia acontece em meio à Revolução Francesa. A região da Vendeia era uma área rural que, anos antes da revolução, foi evangelizada por São Luís de Montfort. Ele esteve lá pregando em missões, e a fé do povo se manteve de tal forma que os princípios da revolução foram por ele contrariados. Mesmo com a pobreza da região, os camponeses se recusaram a invadir e tomar as terras da nobreza, porque estas não lhe pertenciam.

Era um povo simples, mas de muita fé. Conheciam os mandamentos que lhes foram ensinados pelo santo e diziam que fazer aquilo seria atentar contra os mandamentos “não roubar” e “não cobiçar as coisas alheias”. A pregação de São Luís contemplava também o culto mariano e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus — o que foi refúgio para essa gente católica durante a revolução.

Logo, diversos homens e mulheres, nobres, padres e leigos se uniram para resistir à revolução e poderem viver a sua fé. A imagem do Sagrado Coração — como na visão de Santa Margarida: “um coração em chamas, coroado de espinhos e encimado por uma cruz”, 4 — passou a ser para eles um distintivo e também uma proteção contra os males da época.

Inclusive, muitas pessoas, durante a revolução, foram levadas à prisão e até mortas por confeccionar, distribuir ou portar a estampa do Sagrado Coração. Os contrarrevolucionários de Vendeia usavam uma insígnia do Sagrado Coração, onde se tinha escrito “Dieux le Roi“, que quer dizer, Deus é Rei.

Conheça a história dos Mártires do Sagrado Coração!

A recomendação dos Papas

A devoção foi sancionada em uma bula papal em 1794, pelo Papa Pio VI, a Auctorem Fidei. Na beatificação de Santa Margarida Maria Alacoque, pelo Papa Pio XI, ele diz: “Não havia nada mais caro ao Coração de Jesus do que acender no coração dos homens a mesma chama de amor que ardia no seu. A fim de alcançar este objetivo, Ele quis que se estabelecesse e se difundisse na Igreja a devoção ao seu Sacratíssimo Coração.”

Além disso, a devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus aparece recomendada por muitos outros pontífices no decorrer da história da Igreja. Papa Leão XIII, Inocêncio XII, Bento XIII, Clemente XIII, Pio VI e Pio IX contribuíram devotamente para a sua propagação. A encíclica Haurietis Aquas — promulgada em 15 de maio de 1956 —, do venerável Papa Pio XII, foi o maior documento pontifício a fundamentar com excelência a devoção, no que diz respeito a sua teologia. 5

Já Pio IX enfatizava a necessidade do sacrifício e da oração para que Nosso Senhor reinasse nos corações dos homens. Os Padres da Igreja viram no coração de Jesus aberto de Jesus, na Cruz, a origem dos sacramentos, a Eucaristia e sobretudo o sacerdócio. Também São João Paulo II afirma que o Coração de Jesus é fonte de santidade e que nele tem início a nossa santidade. É este coração que nos leva a compreender o amor de Deus e o mistério do pecado. 6

Festa litúrgica

Na segunda aparição, em 1675, depois de revelar Seu coração dilacerado, Jesus pede à Santa Margarida: “Por isso, que seja constituída uma festa especial para honrar meu Coração na primeira sexta-feira depois da oitava do corpo de Deus [Corpus Christi]. Comungue-se, nesse dia, e seja feita a devida reparação por meio de um ato de desagravo, para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo que fica exposto sobre os altares. Eu te prometo que o meu Coração se dilatará, para derramar com abundância os benefícios de seu divino amor sobre os que lhe tributarem essa honra e procurarem que outros a tributem” 7

E, na última aparição de Nosso Senhor à Santa Margarida, Ele pede que seja instituída uma festa litúrgica para honrar o Seu Sagrado Coração. Depois de muitas dificuldades — como já previsto —, em 1856, o Papa Pio IX estabelece a Festa do Sagrado Coração de Jesus como obrigatória para toda a Igreja. Então, ela passa a ser celebrada na sexta-feira após a oitava de Corpus Christi, como pedido pelo próprio Cristo. Em 28 de junho de 1889, o Papa Leão XIII promulga um decreto por meio do qual a festa do Sagrado Coração de Jesus é elevada à dignidade de primeira classe no calendário litúrgico romano.

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Um livro para se aprofundar na Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

As aparições de Nosso Senhor à Santa Margarida são um apelo para que possamos amar e reparar o Sagrado Coração de Jesus. Deus vem primeiro até nós, revela o Seu amor e nos convida a amá-lo de volta. Agora cabe a nós buscar os meios de responder a esse amor, como é o desejo do Seu Sacratíssimo Coração.

Uma das formas de fazer isso é se aprofundar no conhecimento da devoção. Para isso, um livro que pode nos ajudar é “A Devoção ao Sagrado Coração”, do Pe. Jean Croiset. Ele foi amigo do confessor de Santa Margarida Maria Alacoque, o qual acompanhou de perto os relatos de suas visões.

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Livro sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Esta preciosa obra conta com uma linguagem de fácil compreensão. É um livro completo sobre o tema. Ele vai te ajudar a entender no que consiste a devoção, a conhecer os meios para obtê-la e a colocá-la em prática — com exercícios e meditações para todas as semanas do ano. Além disso, ela apresenta orações próprias para dias específicos.

A própria Santa Margarida incentivou o padre a escrever tal obra para divulgar essa singular devoção. Por isso, este é um verdadeiro tesouro para a vida espiritual de todo católico que deseja corresponder ao amor de Jesus Cristo e reparar o Seu Coração tão desprezado e, muitas vezes, esquecido pelos homens.

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Oração ao Sagrado Coração de Jesus

Sagrado Coração de Jesus ofereço-vos, através do Coração Imaculado de Maria, mãe da Igreja, em união com o Sacrifício Eucarístico, as orações, obras, sofrimentos e alegrias deste dia, em reparação das nossas ofensas e pela salvação de todos os homens, com a graça do Espírito Santo, para a glória do Pai Divino. Amém. 1

Reze também a Consagração ao Sagrado Coração de Jesus!

Referências

  1. Vatican News, SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS[][][]
  2. Pe. Jean Croiset S.J., Devoção ao Sagrado Coração de Jesus, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 19. []
  3. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 9.[]
  4. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 60.[]
  5. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 42.[]
  6. São João Paulo II, Homilia, Junho de 1999[]
  7. Editorial MBC, Guia: Deus é Rei, Dois Irmãos, Minha Biblioteca Católica, p. 54.[]

Publicado em Minha Biblioteca Católica.

Leia mais: ORAÇÕES JACULATÓRIAS – SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS.

Veja também: Filme A história de Santa Margarida Maria Alacoque e o Sagrado Coração de Jesus:

A Paixão do Senhor segundo São Lucas – Homilia Dominical (Domingo de Ramos da Paixão do Senhor)

O Domingo de Ramos marca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, mas também é o único domingo dedicado a uma meditação especial sobre sua Paixão, que, neste ano, é narrada pelo Evangelho de São Lucas.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 22, 14 -23, 56)

Neste domingo, celebramos o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, que marca o início da Semana Santa. Chegamos, portanto, ao final dos quarenta dias de jejum e penitência, a Quaresma — período especialíssimo para vivermos, com verdadeira devoção, a Paixão de Cristo. 

O Domingo de Ramos marca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, mas também é o único domingo dedicado a uma meditação especial sobre sua Paixão. Embora a Sexta-feira Santa seja a ocasião própria para isso, ela não é um dia de preceito e não há Missa propriamente, apenas a Celebração da Adoração da Cruz. Como nem todos participam das celebrações do Tríduo Pascal, a Igreja garante que, pelo menos no Domingo de Ramos, os fiéis ouçam a narrativa da Paixão de Nosso Senhor.

Neste ano, seguimos o relato de São Lucas sobre a Paixão, que possui detalhes singulares. A descrição começa na Última Ceia, onde Jesus institui a Eucaristia, entregando-se completamente. São Pedro, entusiasmado, acredita estar pronto para agir de modo semelhante a Jesus. Essa cena nos convida a refletir sobre nossa atitude ao comungar: ao receber a Eucaristia, não apenas nos aproximamos de Jesus, mas somos chamados a nos doar como Ele. Frequentemente, como Pedro, acreditamos estar preparados, sem perceber nossas fragilidades.

No Evangelho de São Lucas, Jesus nos desmascara, mas também nos assegura que está rezando por nós. Pedro, cheio de entusiasmo, declara: “Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte” (Lc 22, 33). Porém, Jesus o adverte: “Simão, Simão, olha que Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo. Eu, porém, rezei por ti, Pedro, para que a tua fé não se apague. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32). Nosso Senhor também diz a Pedro que, antes que o galo cante, por três vezes o Apóstolo o negaria. Apesar disso, Jesus já intercede por ele, para que sua fé não se apague e, depois de convertido, fortaleça os irmãos. Esse diálogo exclusivo de Lucas nos mostra que Jesus nos escolhe para uma missão, mas também conhece nossas quedas. Diferente de nós, que muitas vezes rompemos alianças por causa de traições, Jesus já prevê nossas falhas e, mesmo assim, reza por nossa conversão, esperando que voltemos a Ele.

De fato, é maravilhoso saber que Nosso Senhor reza por nós. Ao comungarmos, oferecemos nossa vida a Ele, que conhece nossa fraqueza e já intercede por nós. Assim, mesmo nossas quedas podem se tornar oportunidade de fortalecer os irmãos, pois, uma vez restaurados, somos chamados a confirmar a fé dos outros. Assim como rezou por Pedro, Jesus reza por cada um de nós.

Após a Última Ceia, Jesus segue com Pedro ao Horto das Oliveiras e pede que os Apóstolos orem para não caírem em tentação. Ele próprio se afasta e, de joelhos, começa a rezar. São Lucas destaca detalhes únicos dessa agonia: o suor de Jesus se torna como gotas de sangue e um anjo é enviado a fim de consolá-lo. Enquanto Cristo enfrenta sua grande provação, Pedro e os outros Apóstolos, em vez de rezarem, dormem. Essa cena nos ensina que, assim como Jesus pediu oração aos Apóstolos, Ele também nos chama a vigiar e a orar, mesmo quando nos sentimos sozinhos.

Podemos contemplar a imensa solidão de Jesus no Horto das Oliveiras, carregando o peso dos pecados do mundo e suando sangue em sua agonia. Ele esperava o consolo da oração dos Discípulos, mas encontrou apenas o silêncio. No entanto, sua súplica não ficou sem resposta: Deus enviou um anjo para confortá-lo. Esse detalhe, único no relato de Lucas, lembra-nos que também não estamos sozinhos em nossas angústias. Mesmo quando o mundo parece nos abandonar, Deus nos ampara.

Embora Lucas não mencione, podemos imaginar que Maria, mesmo sem estar no Horto das Oliveiras em pessoa, acompanhava tudo em oração. O anjo que consolou Jesus talvez não tenha sido fruto das orações de Pedro, que dormia, mas das súplicas da Virgem Santíssima. Assim como muitas mães intercedem por seus filhos à distância, Maria, em espírito, pode ter enviado esse anjo para fortalecer seu Filho em sua missão. Este é um belo papel materno: sustentar os filhos com a oração, mesmo quando não é possível estar fisicamente ao lado deles.

Após a prisão de Jesus, Pedro o negou três vezes no palácio do sumo sacerdote. Ao perceber sua traição, o Apóstolo sai e chora amargamente, como relata o versículo 62: “Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente” — “flevit amare”. Naquele momento, o choro de Pedro revela que ele enfrentava a tentação do desespero, como Judas. A diferença foi a oração de Jesus, que o sustentou e ajudou-o a reencontrar seu caminho.

À vista dessa realidade, precisamos recordar, especialmente a quem se sente desanimado ou afastado de Jesus neste Domingo da Paixão: Ele está rezando por nós — “ad interpellandum pro nobis”. Nos momentos de solidão e angústia, a Virgem Maria intercede e envia os anjos para nos consolar. Nunca estamos sozinhos. Mesmo em meio às nossas dores, Cristo está diante de Deus, sempre vivo, intercedendo por nós. Diante da grande tragédia redentora da Paixão, reconheçamos também nossas próprias dores e sofrimentos, sabendo que estamos unidos a Ele em sua Paixão.

Então, Jesus é conduzido ao tribunal, onde é condenado pelos sumos sacerdotes e, em seguida, levado a Pilatos. Este, ao saber que Ele é galileu, recusa-se a julgá-lo e envia-o a Herodes, que o interroga insistentemente, mas Jesus permanece em silêncio. Frustrado, Herodes devolve-o a Pilatos, que declara: “Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei” (Lc 23, 15-16). No entanto, a fraqueza de Pilatos, que busca agradar a multidão e preservar sua própria posição, resulta na condenação injusta do inocente. O povo, inflamado, clama em uníssono: “Crucifica-o!”.

Na crucificação, São Lucas nos apresenta uma cena singular: enfatiza que Jesus foi pregado na Cruz entre dois malfeitores. No Calvário, ao ser despojado das suas vestes e transpassado pelos pregos, Jesus não apenas disse, mas “ia dizendo”: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). O uso do tempo verbal imperfeito indica que essa oração foi repetida por um certo período, tornando-se uma súplica contínua. Mel Gibson, em “A Paixão de Cristo”, captou essa nuance ao mostrar Jesus repetindo o pedido de perdão enquanto sofria. Esse detalhe, exclusivo do Evangelho de São Lucas, revela-nos a profundidade do amor e da misericórdia de Cristo, preparando o cenário para o extraordinário diálogo com o Bom Ladrão.

Somente São Lucas nos transmite esse diálogo marcante na Cruz. Um dos malfeitores blasfema contra Jesus, desafiando-o a provar seu poder: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23, 39). Em vez de demonstrar humildade e fé diante da morte, ele transforma sua súplica em tentação e desafio. O outro, identificado pela tradição como Dimas, repreende-o: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas Ele não fez nada de mal” (Lc 23, 41). Nesse ato de contrição, o Bom Ladrão reconhece tanto a própria culpa quanto a inocência de Nosso Senhor. Esse reconhecimento da verdade ilumina seu coração, levando-o a pronunciar uma súplica cheia de esperança: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Em resposta, Cristo realiza a primeira canonização da história, garantindo-lhe: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). 

O Bom Ladrão, ao olhar para Jesus na Cruz, vê um homem condenado à morte, alguém que em breve morrerá e será sepultado. Todavia, ao reconhecer seu próprio pecado e a inocência de Cristo, recebe a luz da fé. Diante daquele que, aos olhos do mundo, parecia derrotado, ele enxerga um rei e suplica: “Senhor Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino” (Lc 23, 42). Qualquer um que testemunhasse aquela cena veria apenas um homem humilhado e moribundo, mas o Bom Ladrão reconhece ali a fonte da graça. Por isso, recebe a promessa extraordinária de Jesus: “Em verdade eu te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso”. À vista disso, como nos recorda o “Dies irae”, quem não perde o temor de ser condenado ao ver a salvação do Bom Ladrão? 

Jesus finalmente morre na Cruz, pronunciando suas últimas palavras, registradas apenas por São Lucas: “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito” (Lc 23, 46). Essa frase ressoa profundamente, sendo repetida tantas vezes na Sexta-feira Santa. O Evangelho de São Lucas, em seu início, apresenta Jesus, ainda menino, no Templo, dizendo a Maria: “Não sabíeis que eu devo cuidar das coisas do meu Pai?” (Lc 2, 49) e encerra-se com essa entrega total ao Pai. A primeira e a última palavra de Cristo é “Pai”, revelando a confiança absoluta do Filho. Enquanto o mundo gritava que Deus o havia abandonado, Jesus responde entregando-se inteiramente ao amor do Pai, como se dissesse: “O Pai não me abandonou, sou eu quem me abandono aos seus braços”.

Este Evangelho tão rico e repleto de ensinamentos nos convida a uma profunda reflexão. Estamos no tempo favorável da conversão, na Semana Santa, e não devemos deixar passar a Páscoa sem buscar a Confissão e a reconciliação com Nosso Senhor. Assim como Cristo rezou por Pedro, Ele também intercede por nós em nossas fraquezas. Se, a exemplo do Bom Ladrão, reconhecermos nossos pecados e a inocência de Cristo, ouviremos d’Ele a mesma promessa: “Estarás comigo no paraíso”. Entreguemo-nos, portanto, ao Pai, confiando-lhe nossa vida e nossos sofrimentos — assim como Jesus se entregou na sua Cruz.

Publicado em padrepauloricardo.orgChristo Nihil Præponere (“A nada dar mais valor do que a Cristo”) – (11.04.2025).

Castíssimo Coração de São José: lições que podemos com ele aprender

São José – Patrono da Sagrada Família – Solenidade – 19 de Março (*)

Wikipédia

O Castíssimo Coração de São José, esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus Cristo, é um símbolo de pureza, amor, fé e obediência. Através de sua vida exemplar, podemos aprender valiosas lições que nos guiam em nossa jornada de fé e crescimento espiritual.

1. Pureza de coração:

São José, guardião da Sagrada Família, nos ensina a importância da pureza de coração. Sua castidade não se limitava à abstinência sexual, mas se manifestava também em sua total entrega a Deus e à sua missão. Ele nos convida a cultivar um coração livre de vícios e paixões desordenadas, buscando sempre a santidade em nossos pensamentos, palavras e ações.

2. Amor incondicional:

O amor de São José por Maria e Jesus era puro, sacrificial e abnegado. Ele dedicou sua vida ao cuidado e proteção da Sagrada Família, renunciando aos seus próprios sonhos e ambições. Sua devoção nos inspira a amar com generosidade, colocando as necessidades do próximo à frente das nossas.

3. Fé inabalável:

Diante das provações e desafios, São José manteve sua fé inabalável em Deus e confiante na Providência Divina. Sua fé nos ensina a perseverar em meio às dificuldades, confiando na infinita misericórdia de Deus.

4. Obediência fiel:

São José foi um homem obediente à vontade de Deus. Em cada passo de sua vida, ele se colocava à disposição do Senhor, cumprindo com fidelidade os planos divinos. Sua obediência nos convida a discernir a vontade de Deus em nossas vidas e a segui-la com docilidade e prontidão.

5. Humildade profunda:

São José, apesar de sua posição elevada como pai adotivo de Jesus, foi um homem humilde e simples. Ele reconhecia sua total dependência de Deus e não buscava reconhecimento ou glória pessoal. Sua humildade nos ensina a cultivar a mansidão e a reconhecer que tudo o que somos e temos vem de Deus.

Conclusão:

O Castíssimo Coração de São José é um farol que nos guia em nossa jornada de fé. Ao contemplar suas virtudes, podemos aprender a cultivar a pureza de coração, o amor incondicional, a fé inabalável, a obediência fiel e a humildade profunda. Que a intercessão de São José nos inspire a viver uma vida santa e agradável a Deus, seguindo seus passos de amor, fé e devoção.

Reflexão:

  • Como posso cultivar a pureza de coração no meu dia a dia?
  • De que maneira posso demonstrar amor incondicional pelas pessoas que me rodeiam?
  • Como posso fortalecer minha fé em Deus, mesmo diante das dificuldades?
  • O que posso fazer para ser mais obediente à vontade de Deus?
  • Como posso ser mais humilde de coração?

Oração:

Ó São José, castíssimo esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus Cristo, a ti recorremos com filial confiança. Te pedimos que nos ensines a cultivar a pureza de coração, o amor incondicional, a fé inabalável, a obediência fiel e a humildade profunda. Que o teu testemunho nos inspire a viver uma vida santa e agradável a Deus, seguindo teus passos de amor, fé e devoção. Amém.

São José, rogai por nós!

Publicado em Paróquia Coração de Maria (Claretianos) – Londrina- PR.

* Acréscimo meu.

A Imaculada Conceição de Maria no Advento

No Advento eterno, antes da criação do mundo, a Imaculada Conceição de Maria já estava no desígnio amoroso de Deus para a humanidade. É significativo refletir sobre esta verdade, especialmente no Tempo do Advento e na proximidade da Solenidade da Imaculada Conceição. A este respeito, o Papa São João Paulo II nos ensina que existe um Advento primordial e eterno em Deus, que está se cumprindo na história da humanidade.

Este Advento eterno, que é o projeto de Deus para a humanidade, realiza-se em três fases na história da salvação. No primeiro Advento, tem início a Criação do mundo, que tem como centro e ápice o gênero humano, ainda em plena harmonia com o Criador. O segundo, começa com a queda de Adão e termina na primeira vinda de Jesus Cristo. O terceiro e último, tem início naquele que chamamos de Tempo da Igreja, que vivemos hoje e que culminará com a segunda e definitiva vinda do Senhor.

Desde o Advento primordial, Maria foi escolhida, predestinada, para ser a Mãe do Verbo Eterno. Em vista dessa suprema dignidade, foi também concedida à Mãe de Deus a maravilhosa graça da Imaculada Conceição [Dogma]*. A graça da Imaculada, que celebramos com toda a Igreja no Tempo do Advento, diz respeito não somente a Santíssima Virgem, mas também à escolha de Deus a respeito de cada um de nós desde toda a eternidade.

A Imaculada Conceição no Advento primordial

Na carta aos Efésios, o apóstolo São Paulo nos dá uma belíssima imagem do Advento: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos”. Esta não é ainda a imagem do Advento da vinda de Jesus Cristo, mas “trata-se daquele Advento eterno cujo início se encontra em Deus mesmo, ‘antes da constituição do mundo’, porque já a ‘constituição do mundo’ foi o primeiro passo da Vinda de Deus ao homem, o primeiro ato do Advento”.

Créditos: by Getty Images / Sidney de Almeida/cancaonova.com

Neste primeiro Advento, todo o mundo visível foi criado para o homem como demonstra o livro do Gênesis. Mas “o início do Advento em Deus é o Seu eterno projeto de criação do mundo e do homem, projeto nascido do amor. Este amor se manifesta com a eterna opção do homem em Cristo, Verbo Encarnado”. Em Cristo, fomos escolhidos por Deus, antes da constituição do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos.

Leia mais:
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“Neste eterno Advento está presente Maria. Entre todos os homens que o Pai escolheu em Cristo, Ela foi-o de modo particular e excepcional, porque foi escolhida em Cristo para ser Mãe de Cristo”. E assim Ela, melhor do que qualquer outra pessoa entre os homens “predestinados pelo Pai” para a dignidade de filhos e filhas adotivos, foi predestinada de modo especialíssimo para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que o Pai nos deu no Filho Bem-amado.

A Virgem Maria

A glória sublime da especialíssima graça de Deus é a Maternidade do Verbo eterno e, em consideração desta, a Mãe de Deus obteve em Cristo também a graça da Imaculada Conceição. Sendo assim, a Virgem Maria está presente naquele primeiro e eterno Advento da Palavra com a dignidade de Mãe de Deus e da sua Imaculada Conceição, segundo o desígnio de Amor do Pai na criação do mundo e no projeto de salvação da humanidade.

Publicado em Formação Canção Nova.

* Grifo meu.

O perigo do Halloween

Quando se trata de Halloween no meio cristão, existem duas reações muito comuns que estamos acostumados a ver nas pessoas: ou imediatamente se posicionam contra, com firmeza e repulsa, ou então reviram os olhos, achando que é exagero, por parte de alguns, privar-se de uma festa cultural que consideram inocente. Nenhuma dessas duas figuras, no entanto, vai de fato atrás para entender os verdadeiros motivos, raízes, perigos e tudo que está por trás do dia 31 de outubro de todos os anos.

O Halloween, em sua origem, não era uma festa pagã. Muito pelo contrário! Seu próprio nome se remete justamente a uma celebração católica. “All Hallow’s Eve”, em português, a Véspera do dia de Todos os Santos. É verdade que os povos celtas da Irlanda possuíam um pequeno festival pagão na mesma data, mas, conforme o catolicismo se espalhava pela Europa, os Papas da Igreja conseguiram ressignificar esta festa. No Século VIII, o Papa Gregório III definiu o dia 1º de novembro como dia da comemoração de Todos os Santos em Roma e, alguns anos mais tarde, o Papa Gregório IV estendeu a celebração para todos os lugares.

All Hallow’s Eve

A celebração da Véspera do dia de Todos os Santos se tornou uma forma de evangelização nos países do Reino Unido, embora ainda distante de ser como o Halloween que conhecemos hoje em dia. Naquela época, visitavam-se cemitérios e faziam-se encenações sobre demônios e sobre as almas condenadas como forma de catequese, ensinando ao povo sobre a existência do Inferno e a importância de renunciar à vida de pecado. No dia seguinte, ensinava-se sobre o Céu e sobre os Santos, e no próximo dia, sobre o Purgatório.

As mudanças sofridas nessa data tiveram início na Reforma Protestante e foram concretizadas com uma mistura de culturas na colonização da América do Norte. A retomada de práticas pagãs na noite do dia 31 de outubro, como o culto aos mortos, práticas ocultistas etc., foi ocasionada aos poucos a partir do momento em que a Família Real Inglesa proibia a celebração de cerimônias católicas.

Quando tudo isso chegou aos Estados Unidos, outras culturas foram inseridas e misturadas com a celebração. Existem diversas teorias que sugerem a origem de elementos como a abóbora, “doces ou travessuras”, e a formação do termo Halloween como conhecemos hoje. Não vem ao caso explorá-las aqui, embora se acredite que muitos desses aspectos também tenham surgido de práticas católicas (como por exemplo a doação de comida aos pobres).

“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém.” 1Cor 6, 12

O Halloween foi então, ao longo dos anos, de uma cerimônia de evangelização cristã que mostrava o horror do Inferno para uma cerimônia de exaltação a ele, aos seus demônios e ao espiritismo. E isso é motivo suficiente para que tenhamos cuidado com essa festa que, superficialmente, parece inocente e infantil.

Como São Paulo diz na carta aos Coríntios: nem tudo convém. Ainda que a intenção do seu coração seja boa, ainda que não haja malícia de sua parte, muito menos nas suas crianças, se expor ao que é a festa de Halloween hoje em dia é se expor ao perigo da contaminação espiritual. Práticas ocultistas acontecem às escondidas de um lado, enquanto, do outro, crianças inocentemente banalizam e contribuem para que, cada dia mais, as pessoas deixem de acreditar na existência de demônios e do Inferno.

Para Satanás, é extremamente vantajoso que deixem de acreditar nele, pois não combatemos aquilo que teoricamente não existe. E essa tem sido sua estratégia ao longo da história. O Inferno não escandaliza mais como escandalizava antes. Pelo contrário, uma inversão de valores tem sido impregnada na nossa cultura. Exalta-se o feio, o horrendo, o esquisito, o macabro. E o Belo, que é o que vem de Deus, é desprezado e zombado.

Tudo aquilo que envolve o Halloween atualmente não condiz mais com os verdadeiros valores cristãos, portanto diversos perigos cercam esta prática e não nos convém participar dela. Não devemos condenar, todavia, quem participa por ignorância. Sei que explicar isso para as crianças pode ser um desafio, mas nunca podemos nos esquecer da Sabedoria do Espírito Santo que nos auxilia nestes momentos.

A partir do momento em que sabemos sobre a origem do Halloween no catolicismo, podemos usar disso para recapitular este sentido na vida de nossas crianças. E também usar da oportunidade para ensiná-las sobre o Céu e o Inferno, e convidá-las a celebrar então o dia de Todos os Santos, com doces e fantasias assim como gostam.

Giovana Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator

Publicado em Comunidade Católica Pantokrator.

Nossa Senhora do Carmo – Memória – 16.07.2024

Doze chaves para usar o escapulário de Nossa Senhora do Carmo

16 de jul de 2024 às 01:00

“A devoção do Escapulário do Carmo fez descer sobre o mundo copiosa chuva de graças espirituais e temporais”, disse o papa Pio XII. Conheça aqui 12 chaves para quem usa este objeto religioso.

1. Não é um amuleto

Não é um amuleto nem nenhuma garantia automática de salvação ou uma dispensa para não viver as exigências da vida cristã. “Perguntas: e se eu quiser morrer com meus pecados? Eu te respondo, então morrerá em pecado, mas não morrerá com teu escapulário”, advertia São Cláudio de la Colombière.

2. Era uma veste

Escapulário vem do latim “scapulae” que significa “ombros” e originalmente era uma veste sobreposta que caia dos ombros, usada pelos monges no trabalho. Os carmelitas o assumiram como mostra de dedicação especial à Virgem, buscando imitar sua entrega a Cristo e ao próximo.

3. É um presente da Virgem

Segundo a tradição, o escapulário, tal como se conhece atualmente, foi dado pela própria Virgem Maria a São Simão Stock em 16 de julho de 1251. A Mãe de Deus lhe disse: “Deve ser um sinal e privilégio para ti e para todos os Carmelitas: Aquele que morrer usando o escapulário não sofrerá o fogo eterno”. Posteriormente, a Igreja estendeu este escapulário aos leigos.

4. É um mini hábito

É como um hábito carmelita em miniatura que todos os devotos podem portar como mostra de sua consagração à Virgem. Consiste em um cordão que se coloca no pescoço com duas peças pequenas de tecido cor de café. Uma das peças fica sobre o peito e a outra sobre as costas e se costuma usar sob a roupa.

5. É sinal de serviço

Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Igreja, dizia: “Assim como os homens ficam orgulhosos quando outros usam a sua insígnia, assim a Santíssima Virgem se alegra quando os seus filhos usam o escapulário como sinal de que se dedicam ao seu serviço e são membros da família da Mãe de Deus”.

6. Tem três significados

O amor e o amparo maternal de Maria, a pertença a Nossa Senhora e o suave jugo de Cristo que Ela nos ajuda a levar.

7. É um sacramental

É reconhecido pela Igreja como um sacramental, ou seja, um sinal que ajuda a viver santamente e a aumentar nossa devoção. O escapulário não comunica graças como fazem os Sacramentos, mas sim dispõe ao amor do Senhor e ao arrependimento se recebido com devoção.

8. Pode ser dado a um não católico

Certo dia, levaram a São Stock um ancião moribundo, que ao recuperar a consciência disse ao santo que não era católico, que usava o escapulário como promessa a seus amigos e que rezava uma Ave Maria diariamente. Antes de morrer, recebeu o batismo e a unção dos enfermos.

9. Foi visto em uma aparição de Fátima

Lúcia, a vidente de Nossa Senhora de Fátima, contou que na última aparição (outubro de 1917), Maria apareceu com o hábito carmelita e o escapulário na mão e voltou a pedir que seus verdadeiros filhos o levassem com reverência. Deste modo, pediu que aqueles que se consagrem a Ela o usem como sinal desta consagração.

10. O escapulário que não se danificou

O Beato Papa Gregório X foi enterrado com seu escapulário e 600 anos depois, quando abriram sua tumba, o objeto mariano estava intacto. Algo semelhante aconteceu com Santo Afonso Maria de Ligório. São João Bosco e São João Paulo II também o usavam e São Pedro Claver investia com o escapulário os que convertia e preparava.

11. Não é qualquer um que o pode impor

A imposição do escapulário deve ser feita preferivelmente em comunidade e que na celebração fique bem expresso o sentido espiritual e de compromisso com a Virgem. O primeiro escapulário deve ser abençoado por um sacerdote e posto sobre o devoto com a seguinte oração.

“Recebe este santo Escapulário como sinal da Santíssima Virgem Maria, Rainha do Carmelo, para que, com seus méritos, o uses sempre com dignidade, seja tua defesa em todas as adversidades e te conduza à vida eterna”.

Publicado em acidigital.

O Sangue de Cristo é o preço da nossa salvação

“Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso sangue de Cristo.” (IPd 1, 18). São Pedro nos exorta sobre o meio pelo qual nós fomos resgatados, os apresentando que fomos salvos pelo Sangue de Jesus Cristo, que na Cruz pagou por nossos pecados. Esta é uma realidade sobre natural que ultrapassa os limites de nossa inteligência, é um mistério que não somos capazes de compreender.

Por nós mesmos não podemos nos salvar, é por garça de Deus que nos vem a salvação (cf Ef 2,5). Nossa salvação custou o Sangue precioso de Jesus, sem Sua intervenção, Sem Seu Sacrifício de amor, estaríamos todos condenados a morte eterna. Cristo ao se encarnar, vir ao mundo, se fazer um como nós, menos no pecado, não o fez por beneficio próprio, mas veio e aceitou pagar o preço para que fossemos salvos. O resgate, o preço pago não foi plano de Deus nem ago que Ele desejou, mas Lhe custou esforço, renúncia e muito sofrimento. Fomos reconciliados com Deus pela more de Seu Filho, (cf. Rm 5,10) e, isto não e coisa qualquer, portanto.

O Sangue precioso de Jesus foi derramado para que eu e você tivéssemos vida! Ele cura as feridas que nós mesmos causamos em nós, por causa dos nossos pecados, erros, omissões… por causa do orgulho nos ferimos e também aqu’Ele que derramou Seu Sangue por nós!

Somos convidados a meditar, contemplar as feridas que causamos em Cristo Jesus , olhar para Seu peito aberto jorrando Sangue e Água preciosos, que nos cura e nos purifica. Somos convidados a reparar Seu Coração chagado, ferido por nossa causa e acima de tudo, somos convidados a nos redimir, mediante o sacrifício de amor de nosso Deus. Seu Sangue nos lava, nos cura e, nos liberta da vida do pecado para a vida nova.

Sem o Sangue de Jesus não há salvação! É o Sangue de Cristo que nos protege de todo mal, nos liberta do pecado e cura as feridas de nossa alma. O Sangue de Jesus foi o alto preço pago para que eu e você tenhamos vida e nos é oferecido, todos os dias, no Santo Sacrifício do altar, na Santa Missa.

Nós vos agradecemos Senhor, por vosso Preciosíssimo Sangue, pelo qual nós fomos salvos e preservados de todo mal. Amém.

Publicado em Comunidade Coração Fiel.

Quaresma: Tempo de crescer no amor

Assim como nossa vida é feita de momento mais fortes e momentos mais “fracos”, a nossa vida espiritual também acaba passando por esses altos e baixos. Para nos ajudar a não cair na tibieza espiritual e no cansaço diante da oração, da vida sacramental, e para nos ajudar a seguir e crescer espiritualmente a nossa Santa Igreja, nos dá também durante o ano litúrgico tempos mais “fortes espiritualmente”: Quaresma e Advento.

A Quaresma é o tempo no qual nos preparamos para a Páscoa, mas não somente a Páscoa da ressurreição de Cristo. O crescimento espiritual que teremos durante a Quaresma nos prepara também para a nossa páscoa, ou seja, a nossa passagem desta vida. Por isso, é muitíssimo importante aproveitar este tempo e crescer no Amor, na Caridade, na Penitência, e subjugar cada vez mais a nossa carne para que possamos fortalecer o espírito.

Nossa religião nos ensina os meios que temos de nos unir a Jesus:

Se você não está em estado de graça, o primeiro passo é se confessar e restabelecer o amor no seu próprio coração. Para que possa colher os frutos das obras a seguir.

1º Se você está em estado de graça, você precisa de um tempo para amar Jesus!

Vá a Igreja, visite o sacrário com mais frequência! Como você poderá amar alguém se não passa tempo com essa pessoa? Quando amamos, somos atraídos por aquele que amamos! Então, vamos procurar Cristo e aumentar a oração direcionada para o próprio Amor, que é Deus. Então mais que pedir coisas, mais que falar de si, contemple Cristo na tua oração, e deixe Deus falar no seu coração.

Vá mais ao Sacrário, Comungue com fervor, intensifique as orações!

Atenção: O DIABO NÃO QUER QUE FAÇAMOS ISSO! Então surgirão muitas dificuldades. O próprio Cristo foi tentado no deserto 3 vezes. Satanás tem inveja porque NUNCA verá a Deus, então por ódio ele vai fazer de tudo para que você também nunca contemple a Deus no céu. A oração nos ajuda a caminhar a cada dia mais para o céu, então tenha uma certeza: você será tentado de alguma forma a não crescer na sua vida de oração! Você vai sentir preguiça, vai pensar “ah… mas e já rezo o suficiente”, “ah, mas por que isso??”. Seja forte!

2º É preciso fazer Penitência: tirar do seu corpo os caprichos da criança mimada que é o seu corpo!

Não dê ao seu corpo tudo aquilo que ele quer. Assim como educamos uma criança assim, devemos nos educar assim também. Quando você dá tudo ao seu corpo, você mergulha no tédio e na tristeza, e para sair dessa tristeza precisa recorrer a subterfúgios: álcool, comida em excesso, drogas, pornografia, masturbação, programas de TV inúteis, horas e horas em Redes Sociais, etc.

A penitência, algo que tire do nosso corpo os prazeres da carne, nos ajudará a ficar mais saudáveis fisicamente e espiritualmente. Por que?

Negando ao seu corpo egoísta o que ele quer, você vai estar abrindo a porta para amar Jesus. Você estará abrindo espaço no seu coração, para receber a graça que Deus quer dar a você durante a sua oração.Padre Paulo Ricardo

Assim, o Jejum/Penitência é o complemento da Oração! É como se a penitência “turbinasse” a oração, pois é a penitência o que abre o meu coração para colher os frutos da oração, assim, aos poucos vendo os frutos dessa oração na minha vida eu cada vez mais desejo ter essa Presença perto de mim.

3º Melhorar na Caridade

Todo esse amor que alimentamos nos passos anteriores, se transforma não só em ação para com os irmãos mas em questionamentos também: Como eu estou tratando as pessoas com as quais eu mais convivo? Como eu tenho sido? Sou impaciente desmedidamente? Tenho sido bom? No meu trabalho, puxo tapetes? Procuro o meu bem acima do das outras pessoas?

A caridade, as obras de amor, também nos ajudam a praticar uma fagulha do amor com o qual Deus nos ama, nos fazendo amar o nosso próximo, o que agrada a Deus e nos aproxima dEle. A caridade pode ser frutos da Penitência e Oração, mas também pode ser um passo que nos ajudem a melhorar nos outros dois.

Ajuda para viver a Quaresma:

É importante nos darmos conta de que Jesus venceu o Inimigo! O Senhor colocou a nosso serviço os Santos Anjos e Ele próprio é a fonte da Graça, a fonte inesgotável do Amor.
O desejo de Cristo é que nós amemos a Deus, como Deus se ama na Santíssima Trindade e como Deus nos ama.

Nos momentos de dificuldade e em que somos atacados por Satanás e seus demônios, que NÃO QUEREM QUE NÓS CAMINHEMOS PRO CÉU, devemos recorrer aos Anjos! No Evangelho do 1º Domingo da Quaresma vemos que os anjos estavam a serviço de Cristo no deserto, e Cristo venceu as tentações! Os anjos também estão a nosso serviço e nós também temos a capacidade, pela graça de Deus, de vencer as tentações!

Então, vamos pedir a ajuda dos Santos Anjos para que nos ajudem a bem viver a Quaresma.

Publicado em Paróquia Bom Pastor.

O sentido da Quaresma

“O período quaresmal encaminha a pessoa para uma transformação humana e espiritual em Deus”

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Quaresma é um dos tempos mais importantes do ciclo litúrgico da Igreja. Tem como fundamento o convite à conversão, a experiência desértica com Deus, tendendo sempre à mudança radical de vida e de atitudes, olhando para dentro de si e mergulhando na via penitencial de Cristo, cercado pelo caminho do arrependimento e da misericórdia, no qual o cristão é chamado a dar um sentido mais verdadeiro de si e mais transparente.

O caráter original da Quaresma, segundo a força expressiva da mesma palavra, foi posto na penitência de toda a comunidade e dos indivíduos ao longo de quarenta dias. Na determinação da duração de quarenta dias, para que os cristãos se preparem para celebrar a solenidade Pascal, é mais do que certo que teve grande peso a tipologia bíblica dos quarenta dias, a saber: o jejum de quarenta dias de Jesus Cristo; os quarenta anos que passou o Povo de Deus no deserto; os quarenta dias passados por Moisés no Monte Sinai; os quarenta dias durante os quais Golias, o gigante filisteu, afrontou Israel, até que Davi avançou contra ele, abateu-o e o matou; os quarenta dias durante os quais o Profeta Elias, fortificado pelo pão assado e pela água, chegou ao Monte de Deus, o Horeb; os quarenta dias que o Profeta Jonas pregou a penitência aos habitantes de Nínive.

O Tempo da Quaresma tem a finalidade de preparar a Páscoa: a Liturgia Quaresmal conduz para a celebração do mistério pascal tanto os catecúmenos, através dos diversos graus da iniciação cristã, quanto aos fiéis, por meio da recordação do batismo e da penitência. Esse tempo favorável de reconciliação transcorre desde a Quarta-feira de Cinzas, que é dia de jejum e abstinência e de imposição das cinzas, até a Missa da Ceia do Senhor, inclusive. Desde o início da Quaresma até a Vigília Pascal não se canta (diz) o Aleluia nem o Glória. Os domingos deste Tempo são chamados 1°, 2°, 3°, 4° e 5º Domingos da Quaresma. O 6º Domingo, com o qual se inicia a Semana Santa, é chamado Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. A Semana Santa recorda a Paixão de Cristo, desde sua entrada triunfante em Jerusalém até a sua Ressurreição.

O período quaresmal encaminha a pessoa para uma transformação humana e espiritual em Deus, culminando todo o seu ser na plenitude da festa da Páscoa, a ressurreição do Senhor, o mistério salvífico de Jesus, o “Rabi”, que faz morada em nosso meio e traz a vida em abundância.

Por Pe. Antônio Lúcio, ssp e Cl. Deivid Rodrigo dos Santos Tavares, ssp

Publicado em Padres e Irmãos Paulinos.

Por que Deus fez-se homem?

Esse mistério de Deus que se fez homem, sem deixar de ser Deus e sem mutilar a natureza humana, a Igreja chama de Encarnação (cf. CaIC 461). Esta união admirável da natureza divina e da natureza humana na única pessoa do Verbo, para realizar a nossa salvação, é sinal distintivo da fé cristã.

Para responder à pergunta do título deste artigo, trazemos dois posicionamentos distintos:

  1. Para Santo Agostinho († 430), Deus quis a Encarnação por causa do pecado do homem. Nesta visão, “se o homem não tivesse caído, o Filho do Homem não teria vindo”. Pois como rezamos no Credo Nicenoconstantinopolitano: “Por nós homens, e para nossa Salvação, desceu dos céus, … e se fez homem” (1Tm 1,15);
  2. Já João Duns Scotus O.F.M († 1308) supõe outra tese: “A vocação da criatura é condividir a filiação divina. Deus cria o mundo porque quer condividir o amor”. Para Duns Scotus, Jesus Cristo é de tal excelência no plano de Deus que mesmo que o ser humano não tivesse pecado, o Filho de Deus teria se encarnado. Até porque, na sua visão, não é o ser humano que condiciona Deus, fazendo com que Ele mude seus planos.

Não queremos aqui fazer uma análise sobre o posicionamento de Agostinho e de Duns Scotus. A verdade é que a história da humanidade é essa que conhecemos, a da humanidade pecadora.

O ser humano criado por Deus encontra a sua felicidade quando O alcança. Mas isso era impossível para o homem pecador. Então, Deus Pai que tem um Filho muito amado, tomou a decisão corajosa de alargar a sua família, pensou em alcançar o ser humano e de adotar os seres humanos como filhos. Então, o Filho ofereceu-se para tornar-se como nós. E “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade”(Jo 1,14).

Sim, o Verbo, a segunda pessoa da Trindade, fez-se carne no seio da Virgem Maria para dar a quem o acolhe e a quem crê Nele o poder de se tornar filho de Deus. Jesus que existe desde toda a eternidade, que é Deus, que é fonte da vida e da luz, este Deus é verdadeiramente homem e não só na aparência. Em Jesus, Deus não é mais um ser distante, ele se torna nosso Pai. Ele não é mais um ser distante, Ele se torna nosso irmão.

Assim, Jesus assumiu a nossa humanidade, para que nós pudéssemos participar da vida divina. A encarnação revela o grande amor de Deus por nós a ponto de dividir a sua condição divina e assumir a nossa fragilidade humana.

Somos convidados a contemplar esta cena de um Deus menino, que se fez pequeno e indefeso, para ser acolhido nas nossas mãos. Deus poderia vir com potência, no fulgor de sua glória e certamente todos o acolheriam. Porém, Deus não quer ser acolhido como ídolo. A sua grandeza é aquela do pequeno, seu esplendor aquele da criança enfaixada na manjedoura. Podemos imaginar Maria ao encontrá-lo nos seus braços, vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, abraçar naquela pequena criança, Deus mesmo. É um dom assim tão grande que nós muitas vezes não conseguimos compreender e por isso Ele não é aceito por todos. Parece demais, um Deus assim tão pequeno e muitos não conseguem compreender.

O nascimento do menino Deus não pode ser compreendido por dedução de um raciocínio e nem é produto do esforço humano. Com a nossa razão certamente procuraríamos um Deus grande, tremendo, fascinante, potente, glorioso. Ele, porém, é-nos revelado um Deus pequeno, impotente, que nasce em Belém, cujo nome significa casa do pão, e se oferece como alimento na manjedoura dos animais. Natal é o mistério do amor de Deus, que se faz pequeno, que nada teme e se expõe à humilhação para alcançar o seu amado (o ser homem).

Se Deus se fez um de nós, primeiro é para que possamos compreendê-lo. Ele pode falar, pode experimentar a nossa vida, pode amar e ser amado, pode salvar – nosso Deus não é abstrato é pessoal. E segundo, se Deu fez-se igual a nós é para dizer, que assim como somos, na nossa simplicidade humana é possível ter um relacionamento de amor com o Pai, é possível como humano viver a fidelidade de Deus, não temos necessidade de nos tornar anjos. Não temos necessidade de sair do mundo, para viver em Deus.

Pe. Emerson Detoni

Publicado em Catedral Nossa Senhora da Glória – Francisco Beltrão, PR.

Imagem: Wikipédia.

Saber viver o sofrimento a exemplo de Cristo e São Paulo

Ninguém gosta de sofrer e poucos conseguem perceber que o sofrimento é redentor. Para perceber que existe um mistério salvífico no sofrer, basta que olhemos como Cristo viveu o seu sofrimento. A Cruz foi para Cristo a coroação do seu sofrimento e o ápice de toda a paixão salvadora. Durante as dificuldades e sofrimentos da vida, muitos se perguntam: “Por que eu estou passando por este sofrimento?”.

A resposta para essa pergunta é complexa, porém, podemos buscar nos dois grandes exemplos encontrados nos relatos bíblicos, Jesus e São Paulo. Primeiro, Cristo sofre por um fim, existe uma finalidade no padecimento do Senhor. Segundo, o apóstolo São Paulo sabiamente configura-se a Cristo e utiliza dos seus sofrimentos para assemelhar-se mais ainda. Essas duas grandes figuras de maneira geral têm muito a nos ensinar, principalmente quando se fala de dor e sofrimento.

O sofrimento de Cristo

O livro de Is 53,3-4 quando escreve sobre o Servo sofredor, figura essa que a igreja identifica a prefiguração de Cristo, relata o seguinte: “Era o mais desprezado e abandonado de todos, homem do sofrimento, experimentado na dor, indivíduo de quem a gente desvia o olhar, repelente, dele nem tomamos conhecimento. Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas”.

Esse trecho do livro de Isaías retrata o motivo pelo qual Cristo padeceu. Foi para nos livrar das nossas dores, para reparar o erro cometido por nós. E você pode se perguntar: “Por que ainda sofremos?”. As ações de Jesus têm sempre um teor de eternidade, por isso, o padecimento de Cristo livrou-nos não do que é passageiro, mas do que é definitivo, ou seja, livrou-nos do sofrimento eterno muito mais do que o sofrimento passageiro.

A Cruz, ao mesmo tempo que retrata a dor e a morte do Senhor, significa sinal de redenção. O que para os judeus era escândalo e para os pagãos loucura, para nós, cristãos, é sinal de salvação e da glória de Cristo. O Senhor transforma todas as coisas, até mesmo o antigo sentido da cruz que, agora, torna-se novo com a manifestação de Jesus.

Os sofrimentos de Paulo

O apóstolo São Paulo começa a Carta aos Colossenses com uma declaração que, ao olhar humano, pode ser insana: “Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós e completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo em favor do seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24). São Paulo não se alegra por ter recebido a liberdade da prisão, por ter recebido o “título” de apóstolo ou por ser reconhecido pelas pessoas, mas ele se alegra por sofrer. Sim, São Paulo deixa explicitamente claro que a sua alegria é suportar os sofrimentos e ainda completar o que falta a Cristo.

O apóstolo não é nenhum tipo de masoquista ou alguém que busca o sofrimento pelo sofrimento, mas, assim como Cristo, ele o faz por um sentido. São Paulo sabe que ele pode tirar proveito do que a vida o proporcionou viver, não um proveito pessoal, e sim como ele mesmo disse: em favor do corpo de Cristo que é a Igreja. Ele ainda coloca numa progressão geométrica do sofrimento, pois, à medida que crescem os sofrimentos de Cristo para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo, eis então o ângulo pelo qual os cristãos entendem o sentido do padecer. O sofrimento tem a condição de fazer crescer o conforto do homem em Cristo.

O meu sofrimento

O Senhor concede aos homens poderem contribuírem com a humanidade sendo cooperadores de d’Ele e de seu Reino. O Catecismo da Igreja Católica no n° 307 diz: “os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, por suas ações, por suas orações, mas também por seus sofrimentos”. Partindo desse parágrafo do Catecismo e por meio do sacramento do Batismo, o cristão é convidado a ser outro Cristo assemelhando-se a Ele. Dessa forma, a semelhança não pode ser pela metade ou naquilo que nos convém, mas em tudo, até nas dores.

Precisamos utilizar dos nossos sofrimentos para remir as culpas obtidas pelos nossos pecados. A sabedoria que São Paulo expressou na Carta aos Romanos 8,18 é, de certa forma, reconfortante e nos promete uma recompensa sem medidas, impulsionando-nos a bem viver as dores que padecemos: “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada”. Sabemos que somos peregrinos neste mundo, estamos de passagem e não há motivo de nos apegarmos aqui nesta vida eternidade, pois a eternidade está na glória de Cristo. A nossa espera deve ser na glória futura, no que Deus ainda tem reservado para os fiéis.

Foi por consequência da obra salvífica de Cristo que o homem passou a ter esperança da vida e da santidade. A linguagem da cruz quer nos comunicar um sentido, mas esse só poderá ser entendido se olhado pelas chagas abertas de Cristo pelas quais o ser humano é salvo. Aprendamos com São Paulo e com Nosso Senhor Jesus Cristo a dar sempre sentido às dores e dificuldades que passamos. Os insensatos murmuram dos sofrimentos e os sábios tiram proveito para a contribuição da obra de Cristo.

Por Fábio Nunes, via Canção Nova

Publicado em Catedral Divino Espírito Santo (Palmas – TO)

O amor de Jesus e a Cruz, maior motivo para amá-lo

São Bernardo ensina que os padecimentos pelos quais passou Nosso Senhor, passou por amor a nós. Portanto, a relação do amor de Jesus Cristo e o sacrifício da Cruz é o maior motivo que nos faz amar Jesus.

Além disso, São Luis Maria Grignion de Montfort nos diz que entre todos os motivos que nos podem impulsionar a amar Jesus Cristo, o mais poderoso são os sofrimentos que aceitou padecer para nos testemunhar o seu amor pela humanidade.

Justamente esta obra de redenção, este testemunho de caridade que tornou Jesus Cristo amável aos nossos corações. Nesse sentido, as circunstâncias que acompanharam a Paixão de Nosso Senhor tornam nítido aos nossos olhos esse infinito amor.

Podemos citar três circunstâncias de seus sofrimentos.

O amor de Jesus foi apresentado na Cruz

A primeira circunstância consistiu na excelência da sua pessoa, que deu valor infinito a todos os sofrimentos da sua paixão.

Se Deus tivesse enviado um Serafim para morrer por nós, sem dúvida que isso teria sido um fato admirável, porém, o Criador do céu e da terra fez algo infinitamente maior. O Filho Unigênito de Deus encarnou-se e deu sua vida.

Da mesma forma, se pudéssemos colocar ao lado da Vida de Jesus, a vida de todos os Anjos, de todos os homens e de todas as criaturas juntas, elas seriam menos que a vida de um mosquito comparada com o Deus que nos amou e por isso morreu na Cruz.

A Cruz e amor de Jesus pela humanidade pecadora

A qualidade das quais Cristo sofreu é a segunda circunstância. Trata-se dos próprios homens, criaturas desprezíveis e inimigas de Deus pelo pecado.

Por outro lado, é verdade que já houve casos de amigos que deram a vida pelos seus amigos; porém, será que alguém – com exceção do Filho de Deus – já tenha dado a vida por um de seus inimigos?

Assim, observando o  amor de Jesus e a Cruz, ficam claras as palavras de São Paulo: “Deus, porém, demonstra o Seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8).

Porque amou todos os homens, Jesus sofreu até o fim

Qual o tamanho e a duração dos sofrimentos de Cristo?

Esta é a terceira circunstância, pois, foi tal a quantidade dos seus tormentos que veio a ser chamado por Isaías de o Homem das Dores, no qual, desde a planta dos pés até o alto da cabeça, não há nada nele sem sofrimento.

Definitivamente, este Amigo tão querido de nossas almas sofreu de todas as maneiras: padecimentos exteriores e interiores, no corpo e na alma.

Diante de tudo isso, os santos dizem que Jesus Cristo, apesar de ter podido ficar na Glória do Paraíso, infinitamente distante de nossas misérias, preferiu vir à terra, tornar-se homem  e demonstrar seu amor através da Cruz.

Ao mesmo tempo, se fosse sua vontade, depois de ter assumido um corpo mortal, Ele poderia tê-lo revestido de glória e felicidade. Porém, não quis proceder assim e preferiu sofrer. Sofrer por mim, por você, leitor.

Nesse sentido, um autor afirma que, o Pai Eterno ofereceu a Jesus, no momento da encarnação, a possibilidade de escolher como salvar a humanidade.

Poderia redimir o mundo pela via do prazer, das honras e das riquezas ou pela via dos tormentos, desprezos e pobreza, se pela vida ou pela morte.

Imediatamente Ele escolheu os padecimentos e a Cruz para dar assim maior glória ao Pai e, deste modo, testemunhar do amor de Jesus pela humanidade, por cada um de nós!

A sede de Amor pela humanidade

Além disso, podemos recordar que, enquanto Nosso Senhor estava na Cruz ele exclamou: “Tenho sede”. Mas de que sede Ele falava?

Em primeiro lugar, é São Lourenço Justiniano que explica, esta sede jorrava do ardor do amor de seu Coração, da torrente de sua caridade. Ou seja, tinha sede de nós e suspirava por nós, de sofrer e oferecer-se por nós!

Finalmente, depois de tudo isso dito, podemos entender porque devemos amar Jesus.

De fato, a Santa Igreja nos faz refletir todos os dias sobre este amor de Jesus pela humanidade, e concluímos que “o mundo não O conheceu”.

O mundo não conheceu Jesus Cristo. E, para dizer a verdade, conhecer o que Nosso Senhor padeceu por nós e não amar a Ele ardentemente é algo moralmente impossível.

Amemos este que tanto nos amou!

Publicado em Maria Rainha dos Corações.

À escuta de Deus

Uma das mais simples e talvez mais frequentes definições de oração é: «Rezar é falar com Deus». Sendo totalmente verdadeira esta afirmação, ela não deixa, no entanto, de levantar algumas dificuldades a essa mesma oração. A dificuldade está em, muitas vezes, não se saber o que dizer e como o dizer, exatamente porque o interlocutor é Deus. Ora se é verdade que rezar é falar com Deus, também é verdade que, nessa conversa, a iniciativa é sempre de Deus. É sempre o Senhor a ter a primeira palavra. É Ele quem inicia o diálogo e, por isso, da nossa parte, a primeira atitude não deverá ser a de falarmos, mas a de nos colocarmos na sua presença, procurando escutar o que Ele nos quer dizer. Se assim fizermos, perceberemos como a oração é habitualmente mais fácil do que aquilo que imaginamos.

Escutar torna-se, assim, naturalmente, o primeiro degrau de um diálogo com Deus que queremos que aconteça em cada dia das nossas vidas. Se pensarmos um pouco, veremos que é o que ocorre em qualquer conversa. Para poder saber o que uma pessoa diz, tenho que a escutar. Apesar de ser natural, escutar nem sempre é fácil. Com frequência, estamos viciados em tomar a iniciativa, em partir de nós, em fazer do nosso eu o centro do mundo. Escutar vai exigir-nos uma deslocação de nós para o outro. Deixamos de ser o centro para passar a ser o outro, aquele com quem queremos dialogar. Este sair de nós é sempre, em maior ou menor medida, um morrer para nós próprios. E por isso, tantas vezes, o querer rezar e o rezar se nos afiguram realmente difíceis.

Daqui e pela mesma razão advém também uma das dificuldades em fazer silêncio. Habitualmente, quando pensamos em silêncio, pensamos antes de mais em estar calados. E isso, num mundo e numa cultura que privilegia o ruído e em que todos têm que falar, dificulta muito uma verdadeira atitude de escuta, um silêncio suscitado pelo gosto de escutar o outro. Confundimos silêncio com mutismo e então o silêncio e a atitude de escuta, em lugar de se tornarem facilitadores da oração, erguem-se como obstáculos.

Temos que ir aprendendo a estar em silêncio, a escutar. Não ter medo de nos deslocarmos sem ter de levar conosco um leitor de mp3 ou algo que nos ocupe a atenção. Aceitar que os sons interiores e exteriores nos toquem, nos perturbem, inclusivamente nos incomodem, é um passo importante para nos começarmos a abrir, no nosso dia a dia, a um Deus que fala, como nos diz a Sagrada Escritura.

Um Deus que fala

O falar de Deus é também, muitas vezes, uma dificuldade. Como é que Ele fala? O que nos diz? Estas questões são suscitadas exatamente pelo interesse que temos em escutar a Deus e saber o que Ele quer para a nossa vida. Por outro lado, com alguma frequência, nos nossos dias, ouvimos relatos de pessoas que dizem ter falado com Deus e, sobretudo, que Deus fala com elas, transmitindo-nos a impressão, errada, de que Deus fala conosco da mesma forma que nós falamos uns com os outros.

Como nos recorda a carta aos Hebreus: «Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a Quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de Quem fez o mundo» (Heb 1, 1-2). O falar de Deus acontece, sobretudo e primordialmente, em Jesus Cristo. É n’Ele que nós vemos Deus a falar ao nosso modo. O próprio Jesus dirá: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15).

O falar de uma maneira humana em tudo igual a nós, com sujeito, predicado e complemento direto, de facto, aconteceu em Jesus Cristo. Desde que Ele regressou ao Pai, porém, o falar de Deus já não é dessa forma mas pelo Espírito Santo, que fala com acontecimentos e nos acontecimentos da nossa vida. Esta forma de falar, já não direta e articulada mas velada, obriga-nos a ter que contrariar a nossa tentação, tão atual, de querer ver tudo clara e imediatamente.

Teremos de aceitar a dificuldade em não entender logo o que Deus nos diz, como entendemos aquelas pessoas com quem diariamente nos cruzamos e com quem falamos. Somos, no entanto, chamados a estar atentos ao que em nós acontece, sentimentos, desejos, sonhos, projetos, e aonde somos levados pelo impacto que esses acontecimentos provocam quando os escutamos no mais profundo de nós.

Sérgio Diz Nunes, sj

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