Fiéis são incentivados a retornar à mensagem de Fátima sobre a devoção dos Primeiros Sábados em seu centenário (10 de dezembro de 2025)

Centenas de milhares de fiéis reuniram-se no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, no dia 12 de maio de 2025, para rezar pelo recém-eleito Papa Leão XIV e pela paz mundial. Os peregrinos vieram ao santuário para participar das comemorações do 108º aniversário da primeira aparição de Maria a três crianças pastoras, em 13 de maio de 1917.
(Foto: OSV News/Pedro Nunes, Reuters)

(OSV News) ─ […] Nossa Senhora de Fátima – Nossa Mãe Santíssima […] em 1925 pediu aos fiéis que cumprissem a devoção dos Primeiros Sábados.

É um pedido que ─ em seu centenário, em 10 de dezembro ─ é frequentemente considerado “esquecido” entre os eventos sobrenaturais que cercam Fátima. Mas, após as aparições mais conhecidas de 1917, a Irmã Lúcia de Jesus Rosa dos Santos – uma das três videntes de Fátima, que mais tarde se tornou freira carmelita – revelou que Maria lhe apareceu duas vezes enquanto estava hospedada em um convento em Pontevedra, na Espanha, e pediu especificamente a prática.

Católicos do mundo todo foram convidados a dedicar o primeiro sábado do mês – por cinco meses consecutivos, daí o nome “Cinco Primeiros Sábados” – à confissão, à recepção da Sagrada Comunhão e ao rosário e meditação [por 15 minutos] sobre seus mistérios.

“Acredito que os aniversários de 100 anos são significativos porque ajudam a relembrar as novas gerações sobre as devoções que não desaparecem”, disse Barbara Ernster, gerente de comunicação e editora do Apostolado Mundial de Fátima EUA, à OSV News.

Embora não tenha havido qualquer investigação canônica, a devoção dos Primeiros Sábados foi aprovada pelo bispo de Leiria, Portugal, em 13 de setembro de 1939.

“Nossa Senhora pediu-nos que fizéssemos isto, e a mensagem de Fátima é atemporal”, disse Ernster, “porque é a mensagem do Evangelho. Nunca ficará desatualizada.”

Falando de Fátima — onde participava num programa e conferência do centenário, no âmbito do Apostolado Mundial — Ernster reforçou a mensagem de paz.

“Uma das coisas que Lúcia sempre dizia era que isso poderia ajudar a evitar guerras e contribuir para a paz mundial. E nos vemos agora em situações em que ouvimos falar de uma terceira guerra mundial – qualquer coisa poderia desencadeá-la. Mesmo em nosso próprio país, há tanta divisão… E então”, concluiu Ernster, “fazemos isso para que possamos ajudar a trazer a paz – paz para nossas famílias, para nossas nações, para nossa Igreja.”

São Carlos Acutis contou que, em um sonho após a morte da Irmã Lúcia, ela lhe disse: “A prática dos cinco primeiros sábados do mês pode mudar o destino do mundo.

O cardeal Raymond L. Burke, ex-prefeito do Supremo Tribunal do Vaticano e arcebispo de Saint-Louis de 2004 a 2008, incentivou uma maior participação na devoção dos Primeiros Sábados, apoiando uma iniciativa liderada pela França conhecida como “Aliança dos Primeiros Sábados de Fátima”, que também lançou o “Jubileu dos Primeiros Sábados de Fátima 2025” em 4 de janeiro.

A proximidade do centenário da aparição do Menino Jesus e de Sua Santíssima Mãe à Irmã Lúcia em Pontevedra, em 10 de dezembro de 1925, convida os fiéis a renovarem, com fé mais profunda e maior fervor, a prática da Devoção Reparadora dos Primeiros Sábados”, disse o Cardeal Burke em mensagem enviada à OSV News.

Essa devoção, insistentemente solicitada pela própria Nossa Senhora como um ato de amorosa reparação ao seu Coração Doloroso e Imaculado, permanece de importância duradoura para a salvação das almas e para a paz no mundo“, acrescentou o prelado, que, como bispo de La Crosse, Wisconsin (1995-2004), fundou o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe naquela cidade.

No dia 10 de dezembro, o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe celebrará uma missa para comemorar o centenário das aparições em Pontevedra.

Encorajo a todos a perseverarem nesta devoção“, convidou o Cardeal Burke, “com a confiança de Nossa Senhora na fidelidade de Deus às suas promessas de vitória sobre o pecado e a vitória da vida eterna.” O Padre Edward Looney, secretário da Sociedade Mariológica da América, também afirmou que os fiéis devem atender ao pedido de Maria. “No que diz respeito a Fátima, todos nós nos esforçamos para rezar o terço todos os dias, como ela pediu. Os mais dedicados observam a devoção do Primeiro Sábado“, compartilhou. “Se todos os católicos praticantes atendessem a este pedido, como sacerdote, eu estaria muito ocupado com confissões.

Observando que os Primeiros Sábados também servem como reparação pelas ofensas contra Nossa Senhora, o Padre Looney acrescentou: “Temos visto estátuas vandalizadas e pessoas falando mal de Maria. Os Primeiros Sábados nos chamam a renovar nosso amor por Maria e a difundi-lo para que seu Imaculado Coração triunfe!” Para aqueles que não podem viajar para Fátima ou Pontevedra, o Apostolado Mundial de Fátima EUA oferece uma Peregrinação Virtual dos Primeiros Sábados a 12 locais sagrados relacionados a Fátima e às três videntes. Vídeos curtos, filmados no local, incluirão uma reflexão sobre os eventos e a devoção.

O mais importante é que esta era a parte que nos cabia fazer, a parte que nos foi dada“, enfatizou Ernster. “A Igreja recebeu a sua parte em Fátima, mas os leigos receberam a sua parte — e é por isso que fazemos isto para ajudar a responder à mensagem que Nossa Senhora nos trouxe.

Kimberley Heatherington é correspondente da OSV News.

Tradução e adaptação de Faithful urged to return to Fatima message about First Saturdays devotion on its centennial“.

Publicado em Detroit Catholic.






Santa Maria – Mãe de Deus: Solenidade – 1º de janeiro – o Dogma

A Virgem Maria é também chamada de Mãe de Deus. Mas como se dá a maternidade divina? Conheça a festa e o dogma de Maria Mãe de Deus.

Quarta-feira, dia 1º de janeiro do ano do Jubileu de 2025, a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e o dia mundial da paz. A Virgem Maria é também chamada de Mãe de Deus. Mas como se dá a maternidade divina? Conheça a festa e o dogma de Maria Mãe de Deus.

Nossa Senhora foi designada e preservada desde o ventre para assumir o papel sublime de ser a mãe de Jesus. O dogma da Imaculada Conceição, proclamado pela Igreja, ressalta essa escolha divina ao designar Maria como “a toda santa”. 1 Além desse dogma, a Igreja possui outros três referentes a Maria, incluindo o reconhecimento de sua Maternidade Divina.

Neste artigo, mergulharemos no significado do dogma da Maternidade Divina, abordando passagens bíblicas que destacam Maria como Mãe de Deus e seu o fundamento teológico. Além disso, veremos o papel da Virgem Maria também como mãe na nossa vida espiritual.

Conheça aqui os quatro dogmas marianos.

O que é o dogma da Mãe de Deus ou Maternidade Divina?

Todo fiel católico deve crer nos dogmas da Igreja, ou seja, nas verdades de fé. No Catecismo da Igreja Católica encontramos o que significa o dogma da Mãe de Deus e por que a Igreja crê nesse fato.A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida. Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou, com toda a verdade, Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: «Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne». 2

Desse modo, sendo Mãe de Jesus, que é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, Maria é também Mãe de Deus. Isto é o que afirma o dogma da Maternidade Divina.

O que é a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus?

A Solenidade de Maria, Mãe de Deus, é uma festa litúrgica que celebra o dogma da Maternidade Divina de Nossa Senhora. Durante esta solenidade, os fiéis recordam com alegria e reverência que a Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus. Pois concebeu e deu à luz o Filho de Deus, uma pessoa divina, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.

Esta solenidade destaca-se como um momento propício para mergulhar na relação íntima de Maria com a obra redentora do Pai, reconhecendo-a como a Mãe do Salvador e de todos nós. E Maria é parte integrante da realidade salvadora. Além disso, a solenidade é um dia santo de guarda, é preceito na fé católica, exigindo a participação dos fiéis na celebração da Santa Missa neste dia — ou na noite do dia anterior.

celebração da solenidade de Maria Mãe de Deus no vaticano.
Solenidade de Maria, Mãe de Deus na Basílica de São Pedro. Foto/divulgação: Vatican News.

Quando é celebrada Santa Maria, Mãe de Deus?

A Maternidade Divina de Maria, celebrada desde o século VII, teve sua festa litúrgica estabelecida pelo Papa Pio XI em 1931. Desde então, a Igreja celebra a Solenidade de Maria Mãe de Deus no dia primeiro de janeiro — que é ao mesmo tempo o dia da Oitava do Natal.Nós veneramos esta maternidade no primeiro dia do novo ano. É nosso desejo, de fato, que, nesta nova etapa do tempo humano, Maria continue a abrir a Cristo a via para a humanidade, do mesmo modo que lha abriu na noite do nascimento de Deus. 3

Saiba o que é a Oitava de Natal.

A Mãe de Deus na Bíblia

A Sagrada Escritura nos oferece diversas passagens que ressaltam o papel único de Maria como Mãe de Deus. No Evangelho de Lucas, durante a Visitação, Isabel, cheia do Espírito Santo, saúda Maria, reconhecendo-a como “a mãe do meu Senhor”. Essa saudação destaca não apenas a maternidade de Maria sobre Jesus, mas sua condição como Mãe do próprio Senhor.Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. 4

imagem da visitação, quando Isabel reconhece Maria como mãe de Deus.

O Catecismo da Igreja Católica também reforça este ponto no seu número 495:Chamada nos evangelhos «a Mãe de Jesus» 5, Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito Santo e desde antes do nascimento do seu Filho, como «a Mãe do meu Senhor» 6. Com efeito, Aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e que Se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é, verdadeiramente, Mãe de Deus («Theotokos»)

Em outra passagem presente no Evangelho de Mateus, a citação da profecia de Isaías 7 destaca que o nascimento de Jesus, por meio de Maria, é o cumprimento divino da promessa de Deus de estar conosco, encarnado na pessoa de Jesus:Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa “Deus está conosco”. 8

Não deve haver dúvidas, portanto, em relação à Maternidade Divina de Nossa Senhora. Se ela é Mãe de Jesus e[…] para nós, contudo, existe um só Deus, o Pai, de quem tudo procede e para o qual caminhamos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e para quem caminhamos. 9

Fundamento teológico do dogma da maternidade divina

O fundamento teológico do dogma da Maternidade Divina remonta ao Concílio de Éfeso em 431, quando a Igreja oficialmente proclamou essa verdade de fé. O contexto envolveu a refutação das ideias equivocadas de Nestório, que separava as naturezas humana e divina de Cristo, negando assim o título de “Mãe de Deus” a Maria.

Nesse contexto, São Cirilo de Jerusalém emergiu como um defensor notável, contestando e condenando as ideias de Nestório. Suas argumentações, notavelmente expressas em cartas, foram incorporadas na proclamação dogmática. Contudo, vale lembrar que quando a Igreja proclama um dogma, ela não está introduzindo algo novo, mas reconhecendo uma realidade já existente, garantindo que não haja mais mal-entendidos.

A tradição dessa maternidade divina encontra-se em orações antigas e escritos dos Padres da Igreja, como Orígenes no século terceiro. Os Santos Padres já reconheciam que Maria não era apenas o lugar de nascimento de Jesus, mas a verdadeira fonte da encarnação divina. Santo Tomás de Aquino e o Beato Duns Scotus, doutor mariano, por exemplo, ressaltam a dignidade única de Maria como Mãe de Deus.

Além disso, mesmo reformadores protestantes como Lutero e Calvino reconheceram a maternidade divina. O fundamento teológico permeia, portanto, as Escrituras, a Tradição da Igreja e o pensamento de diversos teólogos ao longo dos séculos.

A solenidade da Mãe de Deus e a nossa vida espiritual

Esta solenidade também é um convite profundo para explorarmos a íntima relação entre Maria e a nossa vida espiritual. Quando Jesus, na cruz, diz Eis aí a tua mãe 10, Ele não apenas confiou Maria a João, mas simbolicamente a todos nós, tornando-a Mãe da Igreja, composta pela cabeça, que é Cristo, e pelo corpo, que somos nós, seus membros.

São Paulo, ao chamar a Igreja de Corpo Místico de Cristo, destaca a união vital entre Cristo e os fiéis. São Luís Maria Grignion de Montfort, formulando essa questão, destaca a necessidade natural de uma mãe dar à luz tanto a cabeça quanto o corpo. Assim, Maria, como Mãe de Deus, é também nossa mãe, uma mãe que não só deu à luz a Cristo, nosso irmão, mas que, por extensão, acolhe-nos como filhos espirituais.

menina rezando diante da imagem de Maria, mãe de Deus e nossa mãe.

Maria é, portanto, nosso modelo de vida com Deus. Sua humildade, obediência e amor são um guia para nos aproximarmos de Cristo e nos assemelharmos a Ele — o que buscamos quando pensamos na santidade. Além disso, como mãe, ela intercede por nós diante do Pai, conhecendo o papel vital da mãe na vida dos filhos. Deus, ao nos dar Maria como mãe, reconhece nossa necessidade espiritual de orientação e cuidado materno.

Por isso, recorramos à Nossa Senhora, nossa mãe. Ela deseja ser uma presença viva na nossa vida espiritual e derramar muitas graças. Mas para isso precisamos invocá-la, pedir que ela esteja presente nos diversos momentos de nossa vida. Um meio devoto e eficaz de recorrer à Nossa Senhora é repetir várias vezes ao dia: Ave Maria!A esta invocação – Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores –, a Mãe de Deus sempre responde! Escuta os nossos pedidos, abençoa-nos com o seu Filho nos braços, traz-nos a ternura de Deus feito carne; numa palavra, dá-nos esperança. 11

Conheça os mistérios do terço e saiba como rezá-lo.

Referências

  1. CIC, 493[]
  2. CIC, 466[]
  3. Papa João Paulo II, Santa Missa para o XVII Dia Mundial da Paz Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, 1º de janeiro de 1984[]
  4. Lc 1,43-44[]
  5. Jo 2, 1; 19, 25[]
  6. Lc 1, 43[]
  7. 7, 14[]
  8. Mt 1, 22-23[]
  9. I Cor 8, 6[]
  10. João 19,26-27[]
  11. Papa Francisco, Santa Missa na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus LVI Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2023[]

Publicado em Minha Biblioteca Católica.

São João da Cruz – Memória – 14 de dezembro

Origens

Juan de Yepes era seu nome de batismo. Nasceu em 1542, em Fontivaros, pertencente à província de Ávila, na Espanha. Seu pai, Gonzalo de Yepes, descendia de uma família tradicional e rica de Toledo. Porém, por ter se casado com uma jovem de família humilde, perdeu os direitos da herança. Catarina Alvarez, sua esposa e mãe de São João da cruz, era vista como sendo de classe inferior. Gonzalo, pai de São João da Cruz, faleceu ainda jovem, quando João ainda era uma criança. Por isso, a viúva, desprezada pela família do marido e obrigada a trabalhar para sobreviver, mudou-se com os filhos para a cidade de Medina.

Trabalho e vocação

Em Medina, João, já jovem, começou a trabalhar. Ele tentou algumas profissões. A última foi a de ajudante no hospital da cidade. À noite, João estudava gramática no colégio dos jesuítas. Sob a influência dos padres da Companhia de Jesus, a espiritualidade do jovem João de Yepes desabrochou. Por isso, aos vinte e um anos, ele entrou na Ordem Carmelita, procurando uma vida de oração profunda.

Estudos e caridade

Após o noviciado, João de Yepes foi transferido para a Universidade de Salamanca, com o objetivo de terminar o estudo da filosofia e da teologia. Mesmo cursando a Universidade, que exigia dele toda a dedicação aos estudos, João encontrava tempo para a caridade e fazia questão de visitar os doentes nos hospitais ou nas residências, onde prestava seu precioso serviço de enfermeiro.

Santa Tereza de Ávila cruza seu caminho

João foi ordenado sacerdote quando tinha vinte e cinco anos. Nessa ocasião, mudou seu nome para João da Cruz, pois já tinha o desejo de se aproximar dos sofrimentos da cruz de Cristo. Por causa disso, achava a Ordem dos Carmelitas muito suave, sem austeridade. Pensou, inclusive, em entrar numa congregação mais austera. Foi nessa ocasião que Madre Tereza de Ávila atravessou seu caminho. Na época, ela tinha autorização fundar conventos reformados da Ordem Carmelita. Tinha também autorização de todos os superiores da Espanha para intervir nos conventos masculinos. O entusiasmo de Santa Tereza contagiou o Padre João da Cruz e ele começou a trabalhar na reforma da Ordem Carmelita, voltando às origens da mesma, procurando reviver em todos o carisma fundante da Ordem e ajustando a disciplina.

Formador A partir de então, a Ordem Carmelita encarregou o Pe. João da Cruz na missão formador dos noviços. Por isso, ele assumiu o posto de reitor de um convento dedicado à formação e aos estudos dos novos carmelitas. Assim, ele contagiou um grande número de carmelitas e, por conseguinte, reformou vários conventos.

Barreiras e perseguições

Como era de se esperar, padre João da Cruz começou a enfrentar dificuldades dentro da Ordem. Conventos inteiros e vários superiores se opuseram às reformas quando ele começou a aplica-las efetivamente. Por isso, ele passou por sofrimentos insuportáveis se não fossem vistos com os olhos da fé. Chegou, por exemplo, a ficar preso durante nove meses num convento que recusava terminantemente a reforma proposta por ele. Tudo isso sem contar as perseguições que começaram a aparecer de todos os cantos.

Paciência, fé e louvor

Testemunhas dizem, no entanto, que Pe. João da Cruz fez jus ao nome que escolheu abraçando a cruz, os sofrimentos e as perseguições com alegria e louvor a Deus. E esta foi a grande marca de sua vida, além de seus escritos preciosos. São João da Cruz abraçou o sofrimento com prazer, desejando ao máximo, sofrer como Cristo e unir seus sofrimentos aos do Mestre, em sacrifício pela própria conversão e também da Igreja.

Doutor da Igreja

O espírito de sacrifício, o fugir das glórias humanas, a busca da humildade, a oração profunda e o conhecimento da Palavra de Deus renderam a São João da Cruz vários escritos de grande profundidade teológica e sabedoria divina. Dentre eles, destacam-se os livros Cântico Espiritual, Subida do Carmelo e Noite Escura. Por isso, ele foi aclamado Doutor da Igreja, equiparado a Santa Tereza de Ávila, também Doutora. Deixou uma grande obra escrita, que é lida, estudada e seguida até hoje por religiosos e leigos.

Apenas três pedidos a Deus

Os biógrafos de São João da Cruz relatam que ele sempre fazia três pedidos a Deus. Conta-se que ele pedia, insistentemente, três coisas a Deus. Primeiro, que ele tivesse forças para sofrer e trabalhar muito. Segundo, que ele não saísse deste mundo estando no cargo de superior de nenhuma comunidade. E, terceiro, que ele tivesse a graça de morrer humilhado e desprezado por todos, como aconteceu com Jesus. Isto fazia parte de sua mística: igualar-se ao máximo a Jesus no momento de sua paixão.

Três pedidos atendidos

Pouco antes de falecer, São João da Cruz passou, de fato, por grandes sofrimentos, advindos de calúnias e incompreensões. Foi destituído de todos os cargos que ocupava na Ordem Carmelita e passou os últimos meses de sua vida no abandono e na solidão. Antes de falecer, sofreu de uma terrível doença, sempre louvando e agradecendo a Deus por tudo. Faleceu no Convento de Ubeda, Espanha, no dia 14 de dezembro de 1591, tendo somente quarenta e nove anos. A reforma da Ordem Carmelita Descalça proposta por ele, por fim, tornou-se realidade. Pouco tempo após sua morte, São João da Cruz passou a ser venerado e seguido pelos seus confrades. Em 1952 foi aclamado como o Padroeiro dos Poetas da Espanha.

Oração a São João da Cruz (extraída do Primeiro dia da Novena)

“Glorioso São João da Cruz, que desde vossa infância fostes terno amante de Maria Santíssima e da cruz de seu Santíssimo Filho, merecendo por este amor ser protetor singular das almas aflitas e desconsoladas: Vos suplico, Pai meu, interponhais vossos rogos para com Mãe e Filho a fim de que me concedam viva fé, firme esperança, fervente caridade e terníssimo amor à cruz de meu Senhor, em cujo exercício viva e more amparado sempre de sua graça, e também consiga, se me convém, o que peço nesta novena. Amém.”

São João da Cruz, rogai por nós!

Publicado em IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA – Largo do Machado – Catete – Rio de Janeiro – RJ

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A Imaculada Conceição de Maria no Advento

No Advento eterno, antes da criação do mundo, a Imaculada Conceição de Maria já estava no desígnio amoroso de Deus para a humanidade. É significativo refletir sobre esta verdade, especialmente no Tempo do Advento e na proximidade da Solenidade da Imaculada Conceição. A este respeito, o Papa São João Paulo II nos ensina que existe um Advento primordial e eterno em Deus, que está se cumprindo na história da humanidade.

Este Advento eterno, que é o projeto de Deus para a humanidade, realiza-se em três fases na história da salvação. No primeiro Advento, tem início a Criação do mundo, que tem como centro e ápice o gênero humano, ainda em plena harmonia com o Criador. O segundo, começa com a queda de Adão e termina na primeira vinda de Jesus Cristo. O terceiro e último, tem início naquele que chamamos de Tempo da Igreja, que vivemos hoje e que culminará com a segunda e definitiva vinda do Senhor.

Desde o Advento primordial, Maria foi escolhida, predestinada, para ser a Mãe do Verbo Eterno. Em vista dessa suprema dignidade, foi também concedida à Mãe de Deus a maravilhosa graça da Imaculada Conceição [Dogma]*. A graça da Imaculada, que celebramos com toda a Igreja no Tempo do Advento, diz respeito não somente a Santíssima Virgem, mas também à escolha de Deus a respeito de cada um de nós desde toda a eternidade.

A Imaculada Conceição no Advento primordial

Na carta aos Efésios, o apóstolo São Paulo nos dá uma belíssima imagem do Advento: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos”. Esta não é ainda a imagem do Advento da vinda de Jesus Cristo, mas “trata-se daquele Advento eterno cujo início se encontra em Deus mesmo, ‘antes da constituição do mundo’, porque já a ‘constituição do mundo’ foi o primeiro passo da Vinda de Deus ao homem, o primeiro ato do Advento”.

Créditos: by Getty Images / Sidney de Almeida/cancaonova.com

Neste primeiro Advento, todo o mundo visível foi criado para o homem como demonstra o livro do Gênesis. Mas “o início do Advento em Deus é o Seu eterno projeto de criação do mundo e do homem, projeto nascido do amor. Este amor se manifesta com a eterna opção do homem em Cristo, Verbo Encarnado”. Em Cristo, fomos escolhidos por Deus, antes da constituição do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos.

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“Neste eterno Advento está presente Maria. Entre todos os homens que o Pai escolheu em Cristo, Ela foi-o de modo particular e excepcional, porque foi escolhida em Cristo para ser Mãe de Cristo”. E assim Ela, melhor do que qualquer outra pessoa entre os homens “predestinados pelo Pai” para a dignidade de filhos e filhas adotivos, foi predestinada de modo especialíssimo para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que o Pai nos deu no Filho Bem-amado.

A Virgem Maria

A glória sublime da especialíssima graça de Deus é a Maternidade do Verbo eterno e, em consideração desta, a Mãe de Deus obteve em Cristo também a graça da Imaculada Conceição. Sendo assim, a Virgem Maria está presente naquele primeiro e eterno Advento da Palavra com a dignidade de Mãe de Deus e da sua Imaculada Conceição, segundo o desígnio de Amor do Pai na criação do mundo e no projeto de salvação da humanidade.

Publicado em Formação Canção Nova.

* Grifo meu.

Venham, adoremos!

O Natal é um tempo no qual todos os acontecimentos incríveis de Belém levam-nos a reconsiderar nossas motivações últimas. Jesus, Maria e José convidam-nos a adorar sem descanso o Menino Jesus, indefeso e necessitado de nossos cuidados.

24/12/2023

Quando se entra no estádio de futebol de uma cidade inglesa, os torcedores são recebidos por uma grande escultura formada por dois soldados, cada um com um uniforme diferente, que se dão as mãos por cima de uma bola. A cena recorda um evento ocorrido durante a Primeira Guerra Mundial, conhecido como “A trégua de Natal”. Conta-se que, na Noite de Natal de 1914, houve um cessar-fogo espontâneo nas trincheiras que separavam os dois exércitos. Um lado fez sinal ao outro, convidando a viver uma noite de paz, precisamente naquela noite em que se comemorava o nascimento de Jesus. A iniciativa foi bem recebida: os militares de ambos os lados se reuniram, trocaram presentes simples, cantaram canções de Natal, tiraram fotos em grupo e, inclusive, jogaram uma partida de futebol.

Uma das canções que todos recordam ter ouvido ou cantado naquela noite foi a célebre Adeste fideles, composição do século XVIII, pelo que se sabe, de um músico inglês. O fato de que a letra original fosse em latim possibilitou que pessoas que não falavam o mesmo idioma pudessem cantá-lo, acompanhadas por algumas gaitas. Esta canção, atualmente conhecida em todo o mundo, é convida as pessoas que cantam e ouvem a se juntarem ao grupo que vai a Belém – pastores, anjos, magos – para adorar a Jesus recém-nascido. “Natal. Cantam: ‘venite, venite…’ Vamos, que Ele já nasceu. E, depois de contemplar como Maria e José cuidam do Menino, atrevo-me a sugerir-te: Olha-o de novo, olha-o sem descanso”[1].

O que adoramos

O convite a adorar, a adotar uma disposição de humildade e total submissão diante de outra pessoa – especialmente se for uma criança que mal balbucia – passou a ser, para muita gente, algo estranho ou inclusive problemático. Na medida em que a autonomia pessoal é considerada o direito e o valor moral supremo, colocar nossa vida assim nas mãos de alguém pode parecer um sintoma de debilidade ou de superstição, algo talvez mais próprio de outros tempos.

Só Deus, na realidade, é digno de adoração, só a ele se deve a máxima reverência. A adoração, no entanto, é sempre de alguma forma uma realidade conatural para qualquer pessoa humana, quer ela tenha fé ou não. Assim, a pessoa estabelece algo ou alguém como a razão última pela qual faz todas as outras coisas. “O que é um ‘deus’ no plano existencial? – perguntava-se o Papa Francisco – É aquilo que está no cerne da própria vida e do qual depende o que fazemos e pensamos. Podemos crescer numa família cristã de nome, mas na realidade centrada em pontos de referência alheios ao Evangelho. O ser humano não vive sem se centrar em algo. Eis, então, que o mundo oferece o supermarket dos ídolos, que podem ser objetos, imagens, ideias, papéis”[2].

Deste ponto de vista, tanto os cristãos como aqueles que veem na adoração uma coisa do passado, podem redescobrir algo do caminho que leva a Belém. Para empreendê-lo podemos talvez começar nos perguntando: Qual é razão pela qual faço o que estou fazendo? O que me leva a fazer isto e não outra coisa? Ao refletir assim podemos identificar num primeiro momento algumas motivações; e depois delas, puxando o fio, descobriremos outras menos evidentes. Estas motivações mais sutis podem, porém, remeter por sua vez a outras mais profundas. Por isso, é necessário continuar a fazer perguntas a nós mesmos até chegar a nosso critério último de ação: aquilo que consideramos irrenunciável, intocável, e que guia nossas decisões; aquilo que, em suma, adoramos, porque submetemos a isso todo o resto.

Podemos ter então a surpresa de descobrir que, com mais ou menos frequência, nossas decisões não visam tanto o Deus que confessamos, mas talvez outros fins inconfessados, como, por exemplo, o prestígio pessoal, a segurança material, a preservação de uma determinada situação, ou a simples comodidade. Tudo isto pode, inclusive, estar misturado com elementos em parte relacionados com a fé, como a busca de uma paz espiritual, ou a tranquilidade que dá fazer o que acreditamos que devemos fazer. Mas, talvez no fim das contas, até esse tipo de motivos nos mantém longe da vertigem que este Menino que é Deus veio trazer ao mundo.

O convite que entoamos tantas vezes durante os dias de Natal – “Venham, adoremos!” – vem precisamente nos questionar em profundidade a respeito das razões pelas quais vivemos. Venham todos deixar-se interpelar por este paradoxo de ver, recém-nascido, aquele que fez nascer o céu e a terra. Venham todos contemplar como não pode articular palavra aquele que, com sua palavra, criou tudo que existe. “Toca-me o fundo da alma a figura de Jesus recém-nascido em Belém: – confessava São Josemaria – uma criança indefesa, inerme, incapaz de oferecer resistência. Deus entrega-se às mãos dos homens”[3]. O Natal é um tempo no qual todos esses acontecimentos incríveis de Belém nos levam a reconsiderar nossas motivações últimas. Jesus, Maria e José – e com deles, todos os santos – convidam-nos sempre a questionar nossas seguranças, nossas pequenas ou grandes “adorações” particulares, para poder encaminhar nosso coração para a única estrela que nos indica onde está o Salvador.

Seguir a estrela com coração sincero

“Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 1-2). Os magos se unem a esse venite, adoremus. Deixaram a segurança do conhecido para procurar a fonte para a qual a sua sede de adoração os leva. Perceberam em suas vidas um centro de gravidade que orientava suas decisões, porém não haviam conseguido delineá-lo com clareza. Agora, chegando a Belém, sentem em seu coração um palpitar diferente, que diz que já estão perto de descobri-lo. São Josemaria reconhecia nesta busca dos magos a experiência da vocação cristã: o reconhecimento de um anseio que só pode ser preenchido por Deus, a descoberta do que verdadeiramente pode ser adorado. Como eles, “nós também percebemos que, pouco a pouco, se acendia na nossa alma, um novo resplendor: o desejo de sermos plenamente cristãos; se assim me posso exprimir, a ânsia de tomarmos Deus a sério”[4].

Bento XVI os chamava “homens de coração inquieto”[5]. Essa é a característica constante da alma que, no meio da fragilidade do mundo, procura a Cristo. Em seus corações, como nos nossos, vibrava uma nostalgia semelhante à do salmista: “Ó Deus, vós sois o meu Deus, no alvorecer te busco, minha alma tem sede de Ti, por Ti minha carne desfalece, em terra deserta e seca, sem água” (Sl 62,2). É a situação do peregrino, muito diferente da do vagabundo, que não sabe o que quer nem aonde vai. O peregrino é um caminhante sempre buscando, sempre com a nostalgia de amar mais a Deus, desde a manhã até a noite. “No leito me lembro de ti, nas vigílias da noite penso em ti” (Sl 62,7). Este desejo do verdadeiro Deus está inscrito em todos os homens e mulheres da terra, cristãos e não cristãos, e é isso que os mantém a caminho. Por isso, quando na quarta oração eucarística, o sacerdote pede a Deus Pai que se lembre daqueles por quem se oferece o sacrifício de Cristo, lá onde se encontram “aqueles que vos procuram de coração sincero”[6].

Os reis magos, explica Bento XVI, “talvez fossem homens eruditos, que tinham grande conhecimento dos astros e, provavelmente, dispunham também de uma formação filosófica; mas não era apenas saber muitas coisas que queriam; queriam sobretudo saber o essencial, queriam saber como se consegue ser pessoa humana. E, por isso, queriam saber se Deus existe, onde está e como é; se Se preocupa conosco e como podemos encontrá-Lo. Queriam não apenas saber; queriam conhecer a verdade acerca de nós mesmos, de Deus e do mundo. A sua peregrinação exterior era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração. Eram homens que buscavam a Deus e, em última instância, caminhavam para Ele; eram buscadores de Deus”[7].

Seguir a estrela de Belém é na realidade uma tarefa que dura a vida toda. A tarefa de procurar o presépio escondido na nossa vida cotidiana pode ser às vezes fatigante, porque implica não se deter em locais que parecem mais cômodos, nos quais no entanto não está Jesus. De modo que a meta vale todos os esforços: “Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,10-11). Naquele dia, a vida desses homens sábios mudou para sempre. Porque, no fim das contas, “tudo depende de que em nossa vida haja ou não adoração. Sempre que adoramos ocorre algo em nós e em torno de nós. As coisas endireitam-se de novo. Entramos na verdade. O olhar torna-se agudo. Muitas coisas que nos oprimiam, desaparecem”[8].

Deixar que Deus seja Deus

Ao longo do caminho não encontraremos apenas a estrela que nos guia até Jesus: cruzaremos também com um grande número de luzes artificiais, múltiplos sucedâneos que procuram nos enganar, reivindicar nossa adoração e, afinal de contas, aprisionar a nossa liberdade. São os falsos ídolos dos quais nos fala o Catecismo da Igreja: “A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus”[9]. Todos nós, até os cristãos, podemos cair na idolatria repetidas vezes, cada vez que colocamos algo ou alguém, pelo menos parcialmente, no lugar de Deus. Estes falsos ídolos se tornam então “formas de opressão e liberdades aparentes que na verdade são correntes que escravizam”[10]. É um deslocamento de Deus que não acontece habitualmente de modo chamativo e escandaloso, mas que se introduz discretamente em nosso coração, como a hera sobe paulatinamente em um muro, até ameaçar derrubá-lo.

Todas as manhãs ao despertar, São Josemaria prostrava-se em terra e repetia a palavra “serviam! ”, “servirei!”. Muitos de nós aprendemos dele este gesto, que expressam o desejo, renovado todos os dias, de não nos distrairmos com falsas adorações; de nos inclinarmos todos os dias somente diante de Deus. É um gesto de adoração; e, por isso mesmo um gesto de liberdade, um gesto que nos liberta da possibilidade de nos determos diante de pequenos ídolos, disfarçados até das melhores aparências e intenções. “A adoração é a liberdade que provém das raízes da verdadeira liberdade: da liberdade de si mesma. Pelo que é ‘salvação’, ‘felicidade’, ou, como a chama João, ‘alegria’. E ao mesmo tempo, disponibilidade total, entrega e serviço, tal como Deus me quer”[11].

Diariamente também, São Josemaria repetia, na ação de graças depois de celebrar a Eucaristia, esta petição do salmista: Non nobis, Domine, non nobis; sed nomini tuo da gloriam! (Sl 115, 1). Empequeneceríamos esta oração se pensássemos que o que ela expressa é uma mera renúncia à gloria geral, como se se tratasse de algo mau para nós. O cristão tem esperança, de fato, na promessa de viver na glória de Deus; de modo que, mais do que de uma renúncia, é um redimensionamento: a petição do salmista assume que a glória humana, sem a glória de Deus, é sempre muito pequena, como qualquer ídolo diante de Deus. A glória meramente humana acaba se revelando uma triste caricatura: a ânsia de querer sobretudo ficar contente com nossos sucessos ou perceber a admiração dos outros, a autossatisfação da glória humana, é bem pouca coisa… porque Deus não está lá.

O Menino Jesus, indefeso e necessitado de tudo, vem para desmascarar sempre os nossos ídolos, que não veem, nem falam, nem ouvem (cfr. Sl 115,5-6). Os dias de Natal constituem um convite para empreender novamente o caminho rumo a essa casa improvisada, mas cheia de luz e calor, que é a gruta de Belém. Ficaremos surpreendidos “diante da liberdade de um Deus que, por puro amor, decide aniquilar-se, assumindo carne como a nossa”[12].


Publicado em Opus Dei.

[1] São Josemaria, Forja, n. 549.

[2] Francisco, Audiência geral, 1/08/2018.

[3] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 113.

[4] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 32.

[5] Bento XVI, Homilia na Epifania do Senhor, 6/01/2013.

[6] Missal Romano, Oração Eucarística IV.

[7] Bento XVI, Homilia na Epifania do Senhor, 6/01/2013.

[8] R. Guardini, Domínio de Dios y libertad del hombre, Madri, Guadarrama, 1963, p.30.

[9] Catecismo da Igreja Católica, n. 2113.

[10] F. Ocáriz, Carta pastoral, 9/01/2018, n. 1.

[11] J. Ratzinger, “Fazer oração em nosso tempo”, em Palabra en la Iglesia, Salamanca, Sígueme, 1976, p. 107.

[12] F. Ocaríz, Carta pastoral, 9/01/2018, n. 1.

Publicado em Opus Dei.

Ao colocar o Menino Jesus no presépio, reze em família

À meia-noite de 25 de dezembro, muitas famílias se reúnem para colocar a imagem do Menino Jesus no presépio. É um momento para rezar juntos, pedindo que o Senhor nasça também nos corações de cada um. Por isso, a ACI Digital selecionou estas duas orações para serem rezadas diante do presépio.

Oração da família diante do presépio

Menino Jesus, Deus que se fez pequeno por nós, diante da cena do teu nascimento, do presépio, estamos reunidos em família para rezar.

Mesmo que fisicamente falte alguém, em espírito somos uma só alma.

Olhando Maria, tua Mãe Santíssima, rezamos pelas mulheres da família, que cada uma delas acolha com amor a palavra de Deus, sem medo e sem reservas, que elas lutem pela harmonia e paz em nossa casa.

Vendo teu pai adotivo, São José, pedimos ó Menino Deus, pelos homens desta família, que eles transmitam segurança e proteção, estejam sempre atentos às necessidades mais urgentes, que saibam proteger nossos lares de tudo que não provém de ti.

Diante dos pastores e reis magos, pedimos por todos nós, para que saibamos render-te graças, louvar-te sempre em todas as circunstâncias, e que não nos cansemos de te procurar, mesmo por caminhos difíceis.

Menino Jesus, contemplando tua face serena, teu sorriso de criança, bendizemos tua ação em nossas vidas.

Que nesta noite santa, possamos esquecer as discórdias, os rancores, possamos nos perdoar.

Jesus querido, abençoa nossa família, cura os enfermos que houver, cura as feridas de relacionamentos.

Fazemos hoje o propósito de nos amar mais.

Que neste Natal a bênção divina recaia sobre nós.

Amém.

Natal Feliz é Natal com Cristo

Menino das palhas, Menino Jesus, Menino de Maria, aqui estamos diante de ti. Tu vieste de mansinho, na calada da noite, no silêncio das coisas que não fazem ruído.

Tu é o Menino amável e santíssimo, deitado nas palhas porque não havia lugar para ti nas casas dos homens tão ocupados e tão cheios de si.

Dá a nossos lábios a doçura do mel e à nossas vozes o brilho do cantar da cotovia, para dizer que vieste encher de sentido os dias de nossas vidas.

Não estamos mais sós: tu és o companheiro de nossas vidas. Tu choras as nossas lágrimas e te alegras com nossas alegrias, porque tu és nosso irmão.

Tu vieste te instalar feito um posseiro dentro de nós e não queremos que teu lugar seja ocupado pelo egoísmo que nos mata e nos aniquila, pelo orgulho que sobe à cabeça, pelo desespero.

Sei, Menino de Maria, que a partir de agora, não há mais razão para desesperar porque Deus grande, belo, Deus magnífico e altíssimo se tornou nosso irmão.

Santa Maria, Mãe do Senhor e Palácio de Deus, tu estás perto do Menino que envolves em paninhos quentes.

José, bom José, carpinteiro de mãos duras e guarda de nosso Menino, protege esse Deus que se tornou mendigo de nosso amor.

Menino Jesus, hoje é festa de claridade e dia de luz. Tu nasceste para os homens na terra de Belém.

FONTE ACI DIGITAL

Publicado em Associação Católica Gospa Mira.

Da Anunciação do Anjo Gabriel ao Natal do Menino Jesus

Esta oração pode ser rezada diariamente, durante 9 meses: de 25 de março até 25 de dezembro, ou seja, da Anunciação até o Natal do Senhor

Ó Maria, virgem Imaculada, Porta do Céu e causa da Nossa Alegria, respondendo com generosidade ao Anúncio do Arcanjo São Gabriel, Vós pudestes dar curso ao plano de Deus para nossa salvação.

Vós fostes, pela Providência Santíssima desde toda a eternidade, constituída morada digna do Filho de Deus Encarnado. Pelo vosso “sim” e fidelidade ao Pai celeste, o Espírito Santo teceu em vosso ventre Jesus, nosso Senhor e Salvador.

Eis que desejando que o Filho de Deus que quis nascer em Vós, nasça também em meu coração e conceda-me o perdão de meus pecados, prostro-me aos vossos pés e vos imploro, com todo o fervor de minha alma, que vos digneis alcançar-me, do vosso Filho, a graça que tanto necessito… (colocar a graça).

Ouvi minha súplica, ó Virgem Santíssima, Vós que, perante o trono da Graça, sois a “Onipotência Suplicante”, enquanto vou meditando, com reverência e filial afeto, todos os momentos de dor e de alegria, de desolação e de providência, que vos acompanharam em vossa bendita e singular Gestação, na qual trouxestes em vosso ventre por nove meses o Filho do Deus Altíssimo. Amém.

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