A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e o Magistério da Igreja (www.passioiesus.org)

Jesus no Horto das Oliveiras

A Igreja, sempre fiel ao seu Mestre, guia-nos, por meio do Espírito Santo, para a verdade total. Ela própria nasceu do lado aberto do Salvador.

« Esta obra da redenção humana e da glorificação perfeita de Deus, prefigurada pelas suas grandes obras no povo do Antigo Testamento, realizou-a Cristo, Senhor, principalmente pelo mistério pascal da sua bem-aventurada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão, em que, ‘morrendo, destruiu a nossa morte e ressurgindo restaurou a nossa vida’. Pois do lado aberto de Cristo, morto na Cruz, nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja. Foi do lado de Cristo adormecido na cruz, que nasceu ‘o sacramento admirável de toda a Igreja’ » (SC 5). É por isso que, na Liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério pascal, pelo qual Cristo realizou a obra da nossa salvação ». (CIC 1067; CV II, SC 5)

A Igreja nunca cessa de nos recordar que “a obra mais excelente da misericórdia de Deus foi a justificação que nos foi merecida pela Paixão de Cristo”(CIC 2020).

Por isso, não podemos deixar de considerar a importância primordial que tem o meditar na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. De facto, o Catecismo da Igreja Católica ensina-nos que “o cristão deve meditar regularmente” (CIC 2707); com muita mais razão devemos meditar na misericórdia de Cristo que “pela sua paixão nos libertou de Satanás e do pecado. Nos mereceu a vida nova no Espírito Santo. A Sua graça restaura em nós aquilo que o pecado destruiu” (CIC 1708).

Devido à importância que tem este tema, quisemos acrescentar as seguintes secções:

Os Papas e a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo

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S.S. João Paulo II,
Audiência Geral das Quartas-feiras;
7 de Abril de 1993.
  Que Mistério tão grande é a Paixão de Cristo: Deus feito Homem, sofre para salvar o homem, carregando com toda a tragédia da Humanidade!
S.S. Bento XVI,
Santuário de Mariazell;
8 de Setembro del 2007
  Jesus transformou a Paixão, o Seu sofrimento e a Sua morte em oração, em acto de amor a Deus e aos homens. Por isso, os braços estendidos de Cristo crucificado são também um gesto de abraço, através do qual nos atrai a Si e com o qual nos quer estreitar nos Seus braços com amor. Deste modo, é imagem do Deus Vivo, é o próprio Deus, e podemos colocar-nos nas Suas mãos.
S. Leão Magno,
Sermão 15 sobre a Paixão.
 
  Aquele que quer venerar, de verdade, a Paixão do Senhor deve contemplar, a Jesus crucificado, com os olhos da alma, até ao ponto de reconhecer a sua própria carne na Carne de Jesus.
S.S. João Paulo II
XIV Jornada Mundial da Juventude;
28 de Março de 1999
  Ao contemplar Jesus na Sua Paixão, vemos, como num espelho, os sofrimentos da Humanidade, assim como as nossas situações pessoais. Cristo, ainda que não tivesse pecado, tomou sobre Si aquilo que o homem não podia suportar: a injustiça, o mal, o pecado, o ódio, o sofrimento e, por último, a morte.
S.S. João Paulo II
XV Jornada Mundial da Juventude;
29 de Julho de 1999.
  Paixão, quer dizer amor apaixonado, que ao dar-se não faz cálculos: a Paixão de Cristo é o culminar de toda a Sua existência “dada” aos homens para revelar o Coração do Pai. A Cruz, que parece elevar-se da terra, na realidade desce do Céu, como abraço divino que estreita o universo. A Cruz manifesta-se como centro, sentido e fim de toda a história e de cada vida humana.

 

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São Pedro de Alcântara

Os Santos e a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo

É muito importante saber que não há nenhum santo que tenha chegado ao cume da vida espiritual sem ter meditado frequentemente na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Muitos deles, no início da sua vida espiritual, atribuíram à meditação da Paixão de Nosso Senhor, o facto de se terem entregado totalmente a Deus e à Sua Vontade Santíssima. Algumas vezes, nos seus escritos, eles dizem que se avança mais no caminho da santidade com a ajuda da meditação da Paixão de Nosso Senhor, que com a ajuda de qualquer outro meio. Naturalmente, não podemos dizer que supere o grande meio dos Sacramentos, porém pode-se dizer que estes não obteriam toda a sua eficácia sem a ajuda da meditação da Paixão, porque os próprios Sacramentos são os frutos preciosíssimos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quisemos, portanto, dedicar aqui um espaço no qual colocámos várias citações daquilo que dizem os Santos a respeito da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Esperamos que possam fazer bem às nossas almas.

S. Afonso Maria de Ligório,
Meditações sobre a Paixão de Jesus Cristo, Cadernos Palavra, pág. 18.
  “Alma devota, se queres crescer sempre mais na virtude e de graça em graça, procura meditar todos os dias a Paixão de Jesus Cristo”. Isto é de S. Boaventura, e acrescenta: “Não existe exercício mais apropriado para santificar a tua alma que a meditação dos sofrimentos de Jesus Cristo”. E S. Agostinho diz “que vale mais uma lágrima derramada em memória da Paixão de Cristo que fazer uma peregrinação a Jerusalém e jejuar a pão e água durante um ano”.
Beato Rafael,
  “A Ti cuspiram-Te, insultaram-Te, açoitaram-Te, cravaram-Te num madeiro, e sendo Deus, humildemente, perdoavas, calavas e oferecias-Te…! O que poderei dizer eu da Tua Paixão!… Mais vale não dizer nada e que no meu íntimo medite naquelas coisas que o homem nunca poderá chegar a compreender”.
Santa Teresa de Lisieux,
“O canto do sofrimento unido aos Seus sofrimentos é aquilo que mais cativa o Seu coração.Jesus arde de amor por nós…! Olha a Sua Face adorável…! Olha os Seus olhos apagados e baixos…! Olha essas chagas… Olha a Face de Jesus… Ali verás como nos ama”.
S. José Maria Escrivá de Balaguer  “Na meditação, a Paixão de Cristo eleva-se além do limite frio da história ou a piedosa consideração, para se apresentar diante dos olhos, terrível, aflitiva, cruel, sangrenta…, cheia de Amor… E sente-se que o pecado não se reduz a uma pequena “falta de ortografia”: é crucificar, pregar com marteladas as mãos e os pés do Filho de Deus, e fazer-lhe saltar o coração.
S. Paulo da Cruz,
Cartas e diário espiritual.
“A recordação da Paixão Santíssima de Jesus Cristo e a meditação das Suas virtudes… conduzem a alma à união íntima com Deus, ao recolhimento interior e à contemplação mais sublime… A Paixão de Jesus Cristo é a obra mais maravilhosa do Amor de Deus. A Paixão de Jesus Cristo é o melhor meio para levar as almas à conversão, até mesmo as mais empedernidas. Conservem cuidadosamente a piedosa recordação dos sofrimentos do Filho de Deus e viverão eternamente.

O caminho mais rápido para chegar à santidade cristã é o de se perder, totalmente, no oceano dos sofrimentos do Filho de Deus.

No imenso oceano da Paixão de Jesus Cristo a alma cristã pesca as pérolas preciosas de todas as virtudes
e faz seus os sofrimentos do seu amado Bem.

El recuerdo de la Pasión Santísima de Jesucristo y la meditación de sus virtudes… conducen al alma a la unión íntima con Dios, al recogimiento interior y a la contemplación más sublime…

S. Pedro de AlcântaraSão seis as coisas que se devem meditar na Paixão de Cristo: A grandeza das Suas dores, para nos compadecermos delas. A gravidade do nosso pecado, que é a sua causa, para o detestarmos. A grandeza do benefício, para o agradecer. A excelência da Divina bondade e caridade, que se descobre nela, para a amar. A conveniência do mistério, para se maravilhar dele. E a multidão das virtudes de Cristo, que resplandecem nela, para as imitar.

De acordo com isto, quando vamos meditando devemos ir inclinando o nosso coração, umas vezes compadecendo-nos das dores de Cristo, pois foram as maiores do mundo, quer pela delicadeza do Seu Corpo, quer pela grandeza do Seu Amor, como também por padecer sem nenhuma forma de consolação, como está dito noutra parte.

Umas vezes, devemos ter em atenção o tirar desta motivos de dor pelos nossos pecados, considerando que eles foram a causa de que Ele padecesse tantas e tão graves dores como padeceu. Outras vezes, devemos tirar dela motivos de amor e agradecimento, considerando a grandeza do Amor que Ele através dela nos manifestou e a grandeza do benefício que nos fez redimindo-nos tão copiosamente, com tanto suor da sua parte e tanto proveito para nós.

S. Alberto Furtado,
Qual não terá sido o seu horror quando se olhou e não se reconheceu, quando se encontrou semelhante a um impuro, a um pecador detestável, portanto coberto de corrupção que O cobria desde a Sua cabeça, até à orla da Sua túnica! Qual não seria a sua confusão quando viu que os Seus olhos, as Suas mãos, os Seus pés, os Seus lábios, o Seu coração eram como os membros do malvado e não os do Filho de Deus! São estas as mãos do Cordeiro de Deus antes inocentes e agora roxas com mil actos bárbaros e sangrentos? São estes os lábios do Cordeiro, os olhos profanados por visões malignas, por fascinações idolátricas pelas quais os homens abandonaram o seu Criador? Os Seus ouvidos escutam o ruído de festas e combates. O Seu coração chagado pela avareza, a crueldade e a incredulidade… A Sua memória está carregada com a memória de todos os pecados cometidos desde Eva, em todas as partes da terra. A luxúria de Sodoma, a dureza dos egípcios, a ingratidão e desprezo de Israel… Todos os pecados dos vivos e dos mortos, dos que ainda não nasceram, dos condenados e dos escolhidos: Todos estavam lá.
S. Francisco de Sales,
Tratado do amor de Deus.
A Paixão de Nosso Senhor é o motivo mais doce e mais forte que pode mover os nossos corações nesta vida mortal… lá em cima, na glória, depois do motivo da Bondade divina conhecida e considerada em si mesma, e da morte do Salvador será o mais poderoso, para arrebatar o espírito dos Bem-aventurados no Amor de Deus.
Tomás de KempisO cristão que medite, atentamente, na Vida, Paixão e Morte do Senhor, encontrará ali, em abundância, tudo aquilo que lhe é necessário, para progredir na sua vida espiritual, sem necessidade de ir a buscar fora de Jesus algo que lhe possa aproveitar mais.
S. Afonso Maria de LigórioUm certo dia um cavaleiro encontrou (a S. Francisco de Assis) gemendo e gritando e tendo-lhe perguntado qual era a razão, respondeu: “Choro as dores, e a ignomínia do meu Senhor, e o que mais me faz chorar é que os homens não se recordam de Quem tanto padeceu por eles… por esta razão exortava, continuamente, os seus irmãos a pensarem sempre na Paixão de Jesus Cristo.
S. João da Cruz
Epistolário, carta 10
Acerca da Paixão do Senhor, procure… não querer fazer a sua vontade e gosto em nada, pois ela foi a causa da Sua Paixão e Morte.
S. Luís Beltran o.p
Obras e Sermões;
Meditações sobre a Paixão de Jesus; Tomo I
Saboreia o livro da Paixão de Cristo e captarás a sua doçura, porém quando o digerires experimentarás a amargura grande que existe nele. Contempla essa Paixão. Avalia o preço da tua redenção.
Beata Ângela de Foligno,
O Livro da vida.
Se a tua mente não se eleva à contemplação desse Homem-Deus crucificado, volta atrás e, começando desde início até ao fim, rumina todos os caminhos da Paixão e da Cruz do Homem-Deus vilipendiado. E se não podes retomar e falar de novo destas coisas com o coração, repete-as frequentemente e amorosamente com os lábios, porque aquilo que se repete com frequência com os lábios, dá calor e fervor ao coração.
S. Máximo de Turim,
Cristo dia sem ocaso;
Sermão 53, 1-2.4
A Paixão do Salvador tira-nos do abismo, eleva-nos acima do que é terreno e coloca-nos no mais alto dos Céus.
S. Boaventura
Legenda maior;
Conversão de S. Francisco, n.1.4.
Um dia em que (S. Francisco de Assis) estava a orar […] apareceu-lhe Cristo Jesus em figura de Crucificado, penetrando-o com eficácia aquelas palavras do Evangelho: “Aquele que quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, carregue a sua cruz e siga-Me”…, diante de tal visão…gravou-se-lhe, no mais íntimo do seu coração, a memória da Paixão de Cristo, que quase continuamente via com os olhos da alma as chagas do Senhor crucificado e apenas podia conter externamente as lágrimas e os gemidos.
S. Francisco de Sales,
Introdução à Vida devota.
Aconselho-te a oração mental e cordial e particularmente sobre a Vida e a Paixão de Nosso Salvador. Se frequentemente a contemplas na meditação, encherá a tua alma, aprenderás a Sua modéstia e modelarás as tuas acções pelo modelo das Suas. Ele é a Luz do mundo e n’Ele, por Ele e para Ele devemos ser instruídos e iluminados.
S. João de Ávila,
Audi Filha. II. Et Vide;
Frutos da meditação da Paixão.
Porque não existe nenhum livro tão eficaz para ensinar o homem todo o género de virtude, e quanto deve ser odiado o pecado e amada a virtude, como a Paixão do Filho de Deus; e também porque é extremo ser ingrato pôr em dúvida um tão imenso benefício de amor como foi o padecer por nós.

Através dos quais queremos proporcionar-lhes, ainda que brevemente, uma ajuda extra, para poder aprofundar a meditação da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Publicado em As Horas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo (www.passioiesus.org)

Sexta Feira Santa: “Jesus derrotou a violência sem opor a ela uma violência maior ainda – ‘Victor quia victima’ – ‘vencedor porque vítima’.” – Homilia do Frei Cantalamessa (Rádio do Vaticano)

Sexta-feira Santa: homilia do Frei Cantalamessa

Cidade do Vaticano (RV) – Segue, na íntegra, a homilia do Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, proferida nesta Sexta-feira Santa, na Basílica de São Pedro.”Eis o homem!”Acabamos de ouvir o relato do julgamento de Jesus perante Pilatos. Há nele um momento que nos pede uma atenção especial.

“Pilatos mandou então flagelar Jesus. Os soldados teceram de espinhos uma coroa, puseram-na sobre a sua cabeça e o cobriram com um manto de púrpura. Aproximavam-se dele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação. Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: Ecce homo! Eis o homem!” (Jo 19,1-5).

Entre as muitas pinturas que retratam o Ecce Homo, há uma que sempre me impressionou. É de Jan Mostaert, pintor flamengo do século XVI, e está na National Gallery de Londres. Tentarei descrevê-la. Ela nos ajudará a imprimir melhor na mente o episódio, já que o pintor transcreve fielmente, em cores, os dados do relato evangélico, especialmente do relato de Marcos (Mc 15,16-20).

Jesus tem na cabeça uma coroa de espinhos. Um feixe de arbustos espinhosos que estava no pátio, talvez para fazer fogo, deu aos soldados a ideia dessa cruel zombaria da sua realeza. Da cabeça de Jesus descem gotas de sangue. Sua boca está semiaberta, como que lutando para respirar. Sobre os ombros, sulcados pelos golpes recentes da flagelação, um manto pesado e desgastado, mais próximo da lata que da estopa. Ele tem os pulsos amarrados por uma corda grosseira; em uma das mãos, eles colocaram um pedaço de pau a fazer as vezes de cetro e, na outra, um feixe de varetas, símbolos que ridicularizavam a sua majestade. Jesus não pode mover sequer um dedo; é o homem reduzido à total impotência, o protótipo de todos os algemados da história.

Meditando sobre a Paixão, o filósofo Blaise Pascal escreveu certa vez estas palavras: “Cristo está em agonia até o fim do mundo: não podemos dormir durante este tempo”. Há um sentido em que estas palavras se aplicam à pessoa de Jesus mesmo, ou seja, à cabeça do corpo místico e não apenas aos membros. Não apesar de Ele ter ressuscitado e estar vivo, mas justamente porque Ele ressuscitou e está vivo. Deixemos de lado, no entanto, este significado misterioso demais para nós e falemos do sentido mais claro daquelas palavras. Jesus está em agonia até o fim do mundo em cada homem ou mulher submetidos aos mesmos tormentos. “Vós o fizestes a mim” (Mt 25, 40): Ele não disse esta frase apenas sobre quem acredita nele; ele a disse sobre cada homem e cada mulher famintos, nus, maltratados, presos.

Ao menos por uma vez, não pensemos nos males sociais, coletivos: a fome, a pobreza, a injustiça, a exploração dos fracos. Desses males já se fala muitas vezes, embora nunca o suficiente, e há o risco de se tornarem abstrações. Categorias, não pessoas. Pensemos agora no sofrimento dos indivíduos, das pessoas com nome e identidade concreta; nas torturas decididas a sangue frio e infligidas voluntariamente, neste exato momento, por seres humanos contra outros seres humanos, inclusive crianças.

Quantos “Ecce homo” no mundo! Meu Deus, quantos “Ecce homo”! Quantos prisioneiros na mesma condição de Jesus no pretório de Pilatos: sozinhos, algemados, torturados, à mercê de soldados ásperos e cheios de ódio, que se entregam a todo tipo de crueldade física e psicológica, divertindo-se em ver sofrer. “Não podemos dormir, não podemos deixá-los sós!”.

A exclamação “Ecce homo!” não se aplica somente às vítimas, mas também aos carnífices. Ela quer dizer: eis aqui do que o homem é capaz! Com temor e tremor, digamos ainda: eis do que somos capazes nós, homens! Muito distante da marcha inexorável do Homo sapiens sapiens, o homem que, segundo alguns, nasceria da morte de Deus e tomaria o seu lugar.

Os cristãos não são, certamente, as únicas vítimas da violência homicida que há no mundo, mas não se pode ignorar que, em muitos países, eles são as vítimas marcadas e mais frequentes. Jesus disse um dia aos seus discípulos: “Chegará uma hora em que aqueles que vos matarem julgarão estar honrando a Deus” (Jo 16, 2). Talvez estas palavras nunca tenham achado na história um cumprimento tão pontual quanto hoje.

Um bispo do século III, Dionísio de Alexandria, nos deixou o testemunho de uma Páscoa celebrada pelos cristãos durante a feroz perseguição do imperador romano Décio: “Eles nos exilaram e, sozinhos entre todos, fomos perseguidos e lançados à morte. Mas, ainda assim, celebramos a Páscoa. Todo lugar em que se sofria tornou-se para nós um lugar de celebração da festa: fosse um acampamento, um deserto, um navio, uma pousada, uma prisão. Os mártires perfeitos celebraram a mais esplêndida das festas pascais ao ser admitidos no banquete celeste”. Será assim para muitos cristãos também na Páscoa deste ano, 2015 depois de Cristo.

Houve alguém que teve a coragem de denunciar, como leigo, a indiferença perturbadora das instituições mundiais e da opinião pública em face de tudo isto, lembrando a quais consequências essa indiferença já levou no passado. Corremos todos o risco, tanto instituições quanto pessoas do mundo ocidental, de ser Pilatos que lavam as mãos.

A nós, no entanto, não é permitido fazer qualquer denúncia neste dia. Trairíamos o mistério que estamos celebrando. Jesus morreu gritando: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Esta oração não é simplesmente murmurada; é gritada para ser bem ouvida. Na verdade, não é sequer uma oração, mas uma exigência imperativa, feita com a autoridade de quem é Filho: “Pai, perdoa-os!”. E como Ele mesmo disse que o Pai escuta todas as suas orações (Jo 11,42), devemos acreditar que Ele ouviu também esta última feita na cruz, e que, portanto, aqueles que crucificaram o Cristo foram perdoados por Deus (é claro que não sem antes se arrependerem de alguma forma) e estão com Ele no paraíso, testemunhando para toda a eternidade o ponto até o qual pode chegar o amor de Deus.

Essa ignorância, como tal, estava só nos soldados. Mas a oração de Jesus não se limita a eles. A grandeza divina do seu perdão consiste no fato de que o perdão também é oferecido aos seus inimigos mais ferozes. É para eles que Jesus alega a desculpa da ignorância. Mesmo que eles tenham agido com astúcia e malícia, eles realmente não sabiam o que faziam, não pensavam que estavam crucificando um homem que era de fato o Messias e Filho de Deus! Em vez de acusar os seus adversários, ou de os perdoar confiando ao Pai Celestial o cuidado de vingá-lo, Ele os defende.

Seu exemplo sugere aos discípulos uma generosidade infinita. Perdoar com a sua mesma grandeza de alma não pode envolver simplesmente uma atitude negativa, de renunciar a querer o mal para quem faz o mal; deve traduzir-se, em vez disso, em uma vontade positiva de lhes fazer o bem, mesmo que apenas com uma oração dirigida a Deus em seu favor. “Orai por aqueles que vos perseguem” (Mt 5, 44). Esse perdão não deve procurar compensação nem sequer na esperança de um castigo divino. Deve ser inspirado por uma caridade que desculpa o próximo, mesmo sem fechar os olhos para a verdade, e que tenta parar os maus para que eles não façam mais mal aos outros nem a si mesmos.

Quereríamos dizer: “Senhor, o que nos pedes é impossível!”, mas Ele nos responderia: “Eu sei. E morri para vos dar o que vos peço. Não vos dei apenas o mandado de perdoar, nem apenas um exemplo heroico de perdão; com a minha morte, eu vos dei a graça que vos torna capazes de perdoar. Eu não deixei ao mundo apenas um ensinamento sobre a misericórdia, como tantos outros também deixaram. Eu sou Deus e, para vós, fiz brotarem da minha morte rios de misericórdia. Deles podeis beber a mãos cheias no Ano Jubilar da Misericórdia que tendes pela frente”.

Então, indagará alguém, seguir a Cristo é sempre um resignar-se passivamente à derrota e à morte? Pelo contrário! “Tende coragem”, disse Ele aos apóstolos antes da Paixão: “Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). Cristo venceu o mundo vencendo o mal do mundo. A vitória definitiva do bem sobre o mal, que se manifestará no fim dos tempos, já aconteceu, de fato e de direito, na cruz de Cristo. “Esta é hora do juízo deste mundo” (Jo 12, 31). Desde aquele dia, o mal é o perdedor: tanto mais perdedor quanto mais parece triunfar. O mundo já foi julgado e condenado em última instância, com sentença inapelável.

Jesus derrotou a violência sem opor a ela uma violência maior ainda, e sim sofrendo-a e revelando toda a sua injustiça e inutilidade. Ele inaugurou um novo tipo de vitória, que Santo Agostinho resumiu em três palavras: “Victor quia victima” – “vencedor porque vítima”. Foi ao “vê-lo morrer assim” que o centurião romano exclamou: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mc 15, 39). Os outros se perguntavam o que significava o alto brado que Jesus tinha dado ao morrer (Mc 15, 37). O centurião, que era experiente em lutas e lutadores, reconheceu de imediato que aquele era um grito de vitória.

O problema da violência nos persegue, nos choca, inventando formas novas e espantosas de crueldade e de barbárie. Nós, cristãos, reagimos horrorizados à ideia de que se possa matar em nome de Deus. Alguém poderia objetar: mas a Bíblia também não está cheia de histórias de violência? Deus mesmo não é chamado de “Senhor dos Exércitos”? Não é atribuída a Ele a ordem de exterminar cidades inteiras? Não é Ele quem decreta, na Lei mosaica, numerosos casos de pena de morte?

Se tivessem dirigido a Jesus, durante a sua vida, esta mesma objeção, Ele certamente teria respondido o que respondeu sobre o divórcio: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas no princípio não foi assim” (Mt 19,8). Também sobre a violência, “no princípio não foi assim”. O primeiro capítulo do Gênesis mostra um mundo onde a violência não é sequer pensável, nem dos seres humanos entre si, nem entre homens e animais. Nem sequer para vingar a morte de Abel, e assim punir um assassino, é lícito matar (cf. Gn 4, 15).

Publicado em  Vatican Radio.

“Vivamos o grande retiro da Quaresma, tempo do deserto e do combate espiritual, com abertura para estes valores que nos aproximam de Deus pelo próximo.” – Artigo – Cardeal Orani João Tempesta Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) – (CNBB)

Quaresma: Tempo de Luta Espiritual

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12, 1s).

 A Quaresma tem um sentido eminentemente pascal: é um tempo de caminho de conversão a Cristo, período de cristificação. “Morremos com o Cristo; trazemos em nosso corpo a morte de Cristo, para que também a vida de Cristo se manifeste em nós”. “Já não vivemos, portanto, nossa própria vida, mas a vida de Cristo, vida de inocência, vida de castidade, vida de sinceridade e de todas as virtudes”. “Ressuscitamos com o Cristo; vivamos, pois, com ele, subamos com ele, a fim de que a serpente não possa encontrar na terra nosso calcanhar”. (Santo Ambrósio, Tratado sobre a Fuga do Mundo).

Esta cristificação é ação do Espírito Santo: o homem não pode atingir tal escopo sem a graça do Santo Espírito, único que pode testemunhar Jesus em nós e conformar-nos a Cristo. Por isso mesmo, a busca da cristificação é um combate espiritual: combate porque é luta contra as tendências desencontradas do homem velho, que ainda persistem em nós; espiritual porque é combate na força do Espírito do Cristo: “Por ele, os corações são elevados ao alto, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem na virtude chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda a mancha e torna-os espirituais pela comunhão consigo. Dele nos vem a alegria sem fim, a união constante e a semelhança com Deus; dele procede, enfim, o bem mais sublime que se pode desejar: o homem é divinizado” (São Basílio Magno, Tratado sobre o Espírito Santo).

A Quaresma é, pois, tempo do combate espiritual, tempo de uma ascese mais cuidadosa, ascese de caráter cristo-pneumatológico, tendo como fim a divinização (a vida de filhos do Pai). Sendo assim, esse tempo nada mais é que uma intensificação daquilo que é e deve ser toda a vida do cristão. São Bento, por exemplo, dizia a seus monges que a vida deles deveria ser uma contínua quaresma (ou seja, uma contínua preparação para a Páscoa).

Aproveitemos para viver esse combate espiritual com algumas atitudes de ascese.

Temos várias atitudes e comportamentos que podem nos ajudar, como por exemplo, o jejum: meio de tomar consciência da dependência de Deus; meio de domar nossas paixões, meio de atingir a educação de nossos instintos, modo de nos sensibilizarmos para a fome alheia.

Faz parte também a vida de oração: como modo de nos abrir para Deus e sua Presença; como meio de nos fazer sensíveis à sua Palavra; como modo de nos ajudar a compreender sua santa vontade; como meio de tudo avaliar com o coração de Deus; como modo privilegiado de fazer-se dócil à ação do Espírito Santo.

Uma atitude de desprendimento importante para hoje é a esmola, pois nos abre para os outros; é sinal da própria comunhão trinitária; é remédio contra nossas concupiscências; descentra-nos.

Outra prática não muito comum entre nós são as vigílias, que nos ajudam a vigiar pela vinda do Reino; no combate à preguiça espiritual; faz-nos intercessores pelo mundo que dorme e nos ajudam no autodomínio.

Vivamos o grande retiro da Quaresma, tempo do deserto e do combate espiritual, com abertura para estes valores que nos aproximam de Deus pelo próximo.

No Ano Arquidiocesano da Esperança sejamos portadores da boa notícia do Reino de Deus e aproveitemos do tempo favorável para vivermos a caminhada de conversão, sendo ajudados pela penitência física e silenciosa do jejum. Jejum não só de carne e de alimentos às sextas-feiras, mas jejum da maldade, jejum da perversidade, jejum dos maus atos e pensamentos, jejum da desagregação e jejum da intolerância religiosa.

Sejamos generosos com as obras de caridade da Igreja, doando o que deixamos de comer, como gesto concreto em favor dos mais pobres e das necessidades das obras caritativas da Igreja (de maneira especial no Domingo de Ramos, dia da Coleta da Solidariedade). A oração que é ouvida por Deus é aquela que é acompanhada destes gestos concretos.

Boa Quaresma e profunda conversão rumo à Páscoa!

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Segunda, 09 de Março de 2015.

Publicado em CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

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4ª-feira da 3ª Semana da Quaresma
Cor: Roxo 1ª Leitura – Dt 4,1.5-9 Cumpri e praticai as leis e decretos. Leitura do Livro do Deuteronômio (4,1.5-9):

Moisés falou ao povo, dizendo:
1 ‘Agora, Israel, ouve as leis e os decretos
que eu vos ensino a cumprir,
para que, fazendo-o, vivais
e entreis na posse da terra prometida
que o Senhor Deus de vossos pais vos vai dar.
5 Eis que vos ensinei leis e decretos
conforme o Senhor meu Deus me ordenou,
para que os pratiqueis na terra em que ides entrar
e da qual tomareis posse.
6 Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática,
porque neles está vossa sabedoria
e inteligência perante os povos,
para que, ouvindo todas estas leis, digam:
‘Na verdade, é sábia e inteligente esta grande nação!
7 Pois, qual é a grande nação
cujos deuses lhe são tão próximos
como o Senhor nosso Deus,
sempre que o invocamos?
8 E que nação haverá tão grande
que tenha leis e decretos tão justos,
como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos?
9 Mas toma cuidado!
Procura com grande zelo não te esqueceres
de tudo o que viste com os próprios olhos,
e nada deixes escapar do teu coração
por todos os dias de tua vida;
antes, ensina-o a teus filhos e netos.

Palavra do Senhor.

Salmo – Sl 147, 12-13. 15-16. 19-20 (R. 12a)

R. Glorifica o Senhor, Jerusalém!
12 Glorifica o Senhor, Jerusalém!*
Ó Sião, canta louvores ao teu Deus!
13 Pois reforçou com segurança as tuas portas,*
e os teus filhos em teu seio abençoou. R.15 Ele envia suas ordens para a terra,*
e a palavra que ele diz corre veloz.
16 ele faz cair a neve como a lã *
e espalha a geada como cinza. R.19 Anuncia a Jacó sua palavra,*
seus preceitos suas leis a Israel.
20 Nenhum povo recebeu tanto carinho,*
a nenhum outro revelou os seus preceitos.

Evangelho – Mt 5,17-19

Jesus fala aos discipulos.Aquele que praticar e ensinar os mandamentos,
este será considerado grande.+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus (5,17-19)Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
17 Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas.
Não vim para abolir,
mas para dar-lhes pleno cumprimento.
18 Em verdade, eu vos digo:
antes que o céu e a terra deixem de existir,
nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei,
sem que tudo se cumpra.
l9 Portanto, quem desobedecer
a um só destes mandamentos, por menor que seja,
e ensinar os outros a fazerem o mesmo,
será considerado o menor no Reino dos Céus.
Porém, quem os praticar e ensinar
será considerado grande no Reino dos Céus.Palavra da Salvação.

Reflexão – Mt 5, 17-29

Todos nós estamos de acordo que devemos obedecer a Deus, mas não estamos muito de acordo se perguntarmos por que devemos obedecer a Deus. Isto porque existem duas formas de obediência. A primeira é a obediência de quem reconhece o poder de quem manda e se submete a este poder por causa das vantagens da obediência ou das conseqüências da desobediência. É aquele que diz que manda quem pode e obedece quem tem juízo. A segunda é de quem reconhece os valores que motivam a autoridade e assume esses valores como próprios, vendo na obediência a grande forma de concretização desses valores. Jesus não veio mudar a lei, mas mostrar as suas motivações, os seus valores, a fim de que a sua observância não seja um jugo, mas uma forma de realização pessoal.
Fonte: Paróquia Nossa Senhora do Resgate (extraído de CNBB).

Jesus é tentado em três momentos no deserto… – Quaresma (Caritatis – Portal Católico)

Quaresma_Tentação-no-deserto
Mt 4,1-11: “E os anjos se aproximaram para servir Jesus”.

Artigo e imagem publicados em Caritatis – Portal Católico

Jesus posto à prova (Mateus 4, 1-11)

1Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio.  2Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. 3O tentador aproximou-se dele e lhe disse: Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães. 4Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Dt 8,3). 5O demônio transportou-o à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe: 6Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra (Sl 90,11s). 7Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16). 8O demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: 9Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares. 10Respondeu-lhe Jesus: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás (Dt 6,13).   11Em seguida, o demônio o deixou, e os anjos aproximaram-se dele para servi-lo.

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Comentando:

A pedagogia de Jesus quer nos mostrar que antes de qualquer iniciativa, devemos nos recolher, e no silêncio, orar, experimentar Deus em nossa vida, conversar e escutar o que Ele nos fala. Assim, será este tempo da Quaresma, propício a este recolhimento. O caminho é longo e precisamos, neste momento, fazer um balanço de nossa vida. É tempo de conversão.

Jesus se deixa conduzir pelo Espírito do Pai, mesmo sabendo que será tentado pelo demônio em três momentos. Ele vai, exorta confiança, se defronta com dificuldades, mas confia para onde está sendo levado. Jesus quer nos ensinar como devemos lutar e vencer as nossas tentações: com confiança em Deus, com a oração, com a graça divina e com a fortaleza. Rezamos, diariamente, na oração do Pai Nosso, pedindo a Deus que nos ajude com a Sua graça. “Não nos deixeis cair em tentação”.

Jesus manifesta a sua natureza humana, fazendo jejum, tendo fome, para mostrar que somos capazes de uma parada em nossa vida para a reflexão, contemplação. Jesus quer mostrar que antes de começar a sua obra messiânica, será necessário uma preparação, com oração e jejum no deserto. Da mesma forma, Moisés, o fez antes de promulgar, em nome de Deus, a Antiga lei do Sinai (cf. Ex 34,28), e também Elias, que caminhou quarenta dias no deserto para levar avante a sua missão: fazer renovar o cumprimento da Lei (1Rs 19,5-8).

A Igreja estabelece anualmente o tempo de jejum quaresmal (neste domingo contemplamos o retiro de Jesus no deserto), tempo este, que devemos nos preparar, com a oração e penitência, que será fundamental a nossa vida. Inclusive uma boa reflexão, no silêncio, sempre deverá acontecer antes de empreendermos alguma atividade ou tomarmos alguma decisão importante.

Recordo que no ano de 2010, tive a graça de participar da Quaresma, de forma diferenciada, pois estava sendo acompanhado pelo Pe. Paulo Pedreira, sj, nos Exercícios Espirituais. Então, foi uma Quaresma e Semana Santa intensas, onde pude perceber o amor que Jesus tem por cada um de nós. A nossa vida dá um salto de qualidade. Sentimos o ardor do coração de Cristo sofredor e crucificado e pedimos a graça de estar com Ele. Foi a melhor Quaresma, por isto estou aqui, continuando, convidando outros a esta experiência dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio.

Ser cristão hoje é ser um “super herói”, onde necessitamos nos livrar das armadilhas do inimigo a cada instante, principalmente pessoas como nós, que vivem em uma grande cidade, como o Rio de Janeiro. Este Primeiro Domingo da Quaresma se faz necessário, para contemplarmos Jesus, em sua fome, por ter ficado um tempo, sem alimento e observarmos o diálogo entre Jesus e o acusador.

Num primeiro momento, a fome de Jesus é intensa, o diabo aproveita para tentá-Lo, mas o Senhor o rejeita com uma frase do Dt 8,3. Jesus, não se assusta, apenas responde com Palavras da Sagrada Escritura, para mostrar, que como Ele podemos ser fortes, se tivermos a vivência da Palavra de Deus, que nos conforta e poderá ser nosso verdadeiro alimento, o Pão da Palavra da mesma forma como Yahweh alimentou os filhos de Israel com o maná no deserto e hoje, somos alimentados com o maná como imagem da Eucaristia. Com efeito, “o homem não vive só de pão, mas também de toda a palavra que sai da boca de Deus”.

Num segundo momento, Jesus é levado ao pináculo do Templo, e o acusador pede que Ele se jogue, pois os anjos o protegerão. Nesta passagem, Jesus quer mostrar aos cristãos que se deve estar alerta, quanto as falsas interpretações da Sagrada Escritura, como a citação proposta pelo diabo. Jesus chama a atenção para o erro da heresia, que consiste em fixar o olhar em um determinado trecho da Escritura, com exclusão de outros, com interpretação ao bel prazer, o que nos faz perder de vista a unidade da Escritura e a totalidade da fé.

Num terceiro momento, Jesus é levado para um monte muito alto e o demônio oferece a Jesus, todos os reinos, se o adorar. Jesus, responde de forma enérgica “para trás satanás”. Tiramos deste momento o ensinamento de Jesus, que devemos estar firme na missão salvífica em nossos ambientes e não podemos se deixar seduzir por ofertas, que muitas vezes, nos encantam. Vemos o grave problema da corrupção em nosso país, onde cada vez mais se agrava. As pessoas dormindo pelas ruas, pedindo esmolas nos sinais, se prostituindo. Tudo é lamentável, tudo é fruto da corrupção. Mas, aprendemos de Jesus: a sua atitude, a sua oposição as coisas do mundo.

O demônio deixa Jesus, é a vitória, consequência da constância na luta. Os anjos vêm e servem a Jesus. Este trecho do Evangelho mostra a alegria interior que teremos, quando, pela nossa confiança em Deus, nos opormos às tentações às coisas do mundo. Contra as tentações, Deus nos dá poderosos defensores, que quando precisarmos devemos invocar: os anjos da guarda.

Publicado em Caritatis – Portal Católico.

Papa Francisco envia uma mensagem aos cristãos do Oriente Médio para encorajá-los neste período de “lágrimas e suspiros” (23.12.2014 – Rádio Vaticano)

Fonte: Rádio Vaticano

Papa Francisco \ Documentos

Sem medo e vergonha de ser cristão: Papa quer visitar Oriente Médio

Cristãos iraquianos que fugiram de Mosul e agora se encontram no campo de refugiados em Erbil, no norte do país.

Cidade do Vaticano (RV) –23.12.2014 – Solidariedade e esperança: às vésperas do Natal, o Papa Francisco enviou uma mensagem aos cristãos do Oriente Médio para encorajá-los neste período de “lágrimas e suspiros”.

“A aflição e a tribulação não faltaram, infelizmente, no passado mesmo recente do Oriente Médio. Mas agravaram-se nos últimos meses por causa dos conflitos que atormentam a Região e, sobretudo, pela atuação duma organização terrorista mais recente e preocupante, de dimensões antes inconcebíveis, que comete toda a espécie de abusos e práticas indignas do homem, atingindo de forma particular alguns de vós que foram brutalmente expulsos das suas terras, onde os cristãos têm estado presentes desde a época apostólica”, escreve o Papa em sua mensagem.

Francisco afirma que acompanha diariamente as notícias do sofrimento de tantas pessoas no Oriente Médio. De modo especial, cita as crianças, as mães, os idosos, os deslocados e os refugiados, os que sofrem a fome, e os que têm de enfrentar a dureza do inverno sem um teto para se protegerem.

“Este sofrimento brada a Deus e faz apelo ao compromisso de todos nós por meio da oração e de todo o tipo de iniciativa. Desejo exprimir a todos unidade e solidariedade, minha e da Igreja, e oferecer uma palavra de consolação e de esperança.”

O Papa indica o caminho do diálogo como o único possível para tentar resolver os conflitos. “Não há outra estrada. O diálogo baseado numa atitude de abertura, na verdade e no amor é também o melhor antídoto contra a tentação do fundamentalismo religioso, que é uma ameaça para os crentes de todas as religiões. Simultaneamente, o diálogo é um serviço à justiça e uma condição necessária para a tão desejada paz.”

O Pontífice cita os inúmeros problemas, como o sequestro de pessoas – inclusive de bispos –, o tráfico de armas e a inércia internacional, mas também os sinais de esperança, como o testemunho dos membros da Igreja e a assistência humanitária.

“Não tenhais medo nem vergonha de ser cristãos”, encoraja Francisco, que se pergunta quanto tempo deverá ainda sofrer o Oriente Médio por carência de paz. “Não podemos resignar-nos aos conflitos, como se não fosse possível uma mudança!”, conclui o Papa, garantindo sua oração diária por todos os cristãos e manifestando o desejo de visitar em breve pessoalmente a região.

(BF)

Publicado em Rádio Vaticano.

 

Mensagem da aparição de Nossa Senhora em La Salette (na França, em 19 de setembro de 1846) diz muito da realidade que vivemos em nosso tempo (Blog Canção Nova)

19 de setembro – Dia de Nossa Senhora de La Salette

Uma mensagem que veio em forma de profecias, confirmada pelos santos Papas Pio IX (que a aprovou em 1852), Leão XIII e São João Paulo II. Fala do materialismo e das infidelidades no seguimento de Jesus Cristo pelos sacerdotes, prelados, consagrados e consagradas (em grande número se tornariam apóstatas), bem como uma série de advertências aos governantes, que deixariam de lado o senso de justiça, dominados que estariam  pelo espírito materialista, por abandonarem o espírito religioso.

Nossa Senhora em La Salette (França) chora pelos males que recairiam sobre o mundo se não houvesse arrependimento de toda a Humanidade e volta à piedade e devoção.Fala sempre em tom de advertência!

Nossa Senhora de La Salette, fortalecei-nos no combate da Fé!

Lúcia Barden Nunes

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Fonte: Blog Canção Nova

Em sua aparição em La Salette, Nossa Senhora deixou uma mensagem que diz muito da realidade que vivemos em nosso tempo.

Nossa Senhora confiou uma mensagem aos videntes Maximino Giraud e Mélanie Calvat, em sua aparição em La Salette, na França, em 19 de Setembro de 1846. No início da aparição, ambos viram a Santíssima Virgem sentada sobre uma enorme pedra. Ela tinha o rosto entre as mãos e chorava amargamente. As duas crianças foram até a Bela Senhora, que não parava de chorar. A Virgem Maria explicou a Maximino e a Mélanie que chorava pelos pecados da humanidade e que deveríamos rezar para que o braço de seu Filho Jesus não pesasse sobre a Terra. Além, da mensagem, confiada aos dois videntes, pedindo oração e penitência pela humanidade, a Mãe de Deus confiou a Mélanie um segredo, que deveria ser revelado somente em 1858. Em 1852, o Papa Pio IX aprovou a aparição e reconheceu a origem celeste da mensagem. O Papa Leão XIII também reconheceu e apoiou a mensagem de La Salette e o Papa João Paulo II considerou-a como “o coração das profecias de Maria”.

Num primeiro momento, Nossa Senhora fala da infidelidade de muitas almas consagradas a Deus: “Os sacerdotes, ministros de meu Filho, pela sua má vida, sua irreverência e impiedade na celebração dos santos mistérios, pelo amor do dinheiro, das honrarias e dos prazeres, tornaram-se cloacas de impureza. Sim, os sacerdotes atraem a vingança e a vingança paira sobre suas cabeças. Ai dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus, que pela sua infidelidade e má vida crucificam de novo meu Filho! Os pecados das pessoas consagradas a Deus bradam ao Céu e clamam por vingança. E eis que a vingança está às suas portas, pois não se encontra mais uma pessoa a implorar misericórdia e perdão para o povo. Não há mais almas generosas, não há mais ninguém digno de oferecer a vítima imaculada ao [Pai] Eterno em favor do mundo”1.

Depois, a Virgem Maria profetiza sobre a família e a sociedade e quais os males que se seguirão. Destas profecias, apresentamos aquelas que são mais significativas e que dizem respeito também ao nosso tempo: “Os chefes, os condutores do povo de Deus negligenciaram a oração e a penitência. E o demônio obscureceu suas inteligências. Transformaram-se nessas estrelas errantes, que o velho diabo arrastará com sua cauda para fazê-las perecer. […] Os maus livros abundarão sobre a Terra, e os espíritos das trevas espalharão por toda parte um relaxamento universal em tudo o que se refere ao serviço de Deus. […] Deus vai golpear de modo inaudito. Ai dos habitantes da Terra. Deus vai esgotar sua cólera, e ninguém poderá fugir a tantos males acumulados. […] Toda ordem e toda justiça serão calcados aos pés. Não se verá outra coisa senão homicídios, ódio, inveja, mentira e discórdia, sem amor pela pátria e sem amor pela família. […] Os governantes civis terão todos um mesmo objetivo, que consistirá em abolir e fazer desaparecer todo princípio religioso para dar lugar ao materialismo, ao ateísmo, ao espiritismo e a toda espécie de vícios. […] Os maus estenderão toda sua malícia. Até nas casas as pessoas matar-se-ão e massacrar-se-ão mutuamente. […] Os justos sofrerão muito. Suas orações, sua penitência e suas lágrimas subirão até o céu e todo o povo de Deus pedirá perdão e misericórdia. E pedirá minha ajuda e intercessão”2.

Assista programa do Padre Paulo Ricardo sobre “O alerta de Maria para o Brasil(também em áudio):

O apelo àqueles que a Mãe de Deus chama de “Apóstolos dos Últimos Tempos” pode ser o que São João Paulo II chama de “o coração das profecias de Maria”. Este apelo é dirigido aos verdadeiros devotos da Virgem Maria: “Eu dirijo um premente apelo à Terra. Apelo aos verdadeiros discípulos do Deus vivo que reina nos Céus. Apelo aos verdadeiros imitadores de Jesus Cristo feito homem, o único e verdadeiro Salvador dos homens. Apelo aos meus filhos, meus verdadeiros devotos, aqueles que se deram a mim para que eu os conduza a meu divino Filho, aqueles que levo por assim dizer nos meus braços, que vivem de meu espírito. Enfim, apelo aos Apóstolos dos Últimos Tempos, aos fiéis discípulos de Jesus Cristo que viveram no desprezo do mundo e de si próprios, na pobreza e na humildade, no desprezo e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento e desconhecidos do mundo. É chegado o tempo para que eles saiam e venham iluminar a Terra. Ide e mostrai-vos como meus filhos amados. Estou convosco e em vós, contanto que vossa fé seja a luz que vos ilumina nestes dias de desgraças. Que vosso zelo vos faça como que famintos da glória e honra de Jesus Cristo. Combatei, filhos da luz, pequeno número que isto vedes, pois aí está o tempo dos tempos, o fim dos fins”3.

A mensagem de Nossa Senhora de La Salette certamente não se dirigia somente às pessoas daquele tempo, pois muitas das suas profecias estão acontecendo em nossos dias. Por isso, sejamos obedientes a Santíssima Virgem, façamos orações, jejuns e penitências na intenção dos sacerdotes, religiosos e religiosas, de todas as almas consagradas a Deus. Façamos o mesmo também pelos nossos governantes, pela nossa sociedade e pelas famílias. O apelo da Virgem Maria é especialmente para aqueles que São Luís Maria Grignion de Montfort chamou de “verdadeiros Apóstolos dos Últimos Tempos, a quem o Senhor das virtudes dará a palavra e a força para operar maravilhas e arrebatar gloriosos despojos ao inimigo”4. É impossível negar que o Segredo de La Salette tem uma particular ligação com o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria. Segundo o Autor, estes Apóstolos “serão os verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, que seguirão as pegadas da sua pobreza, humildade, desprezo do mundo e caridade. Ensinarão o estreito caminho de Deus na pura verdade, segundo o Santo Evangelho e não segundo as máximas do mundo. […] Terão nos lábios a espada de dois gumes, que é a Palavra de Deus; trarão aos ombros o estandarte sangrento da Cruz, o crucifixo na mão direita, o Rosário na esquerda, os sagrados nomes de Jesus e Maria no coração, e a modéstia e a mortificação de Jesus Cristo em toda a sua conduta”5. Quando e como surgirão estes Apóstolos dos Últimos Tempos? São Luís Maria responde: “Só Deus o sabe. Quanto a nós, apenas nos compete calar, rezar, suspirar e esperar”6: “Esperei ansiosamente o Senhor”7. Nossa Senhora de La Salette, rogai por nós!

Referências:

2 Idem, ibidem.

3 Idem, ibidem.

5 Idem, 59.

6 Idem, ibidem.

7 Sl 39, 2.

Natalino Ueda é brasileiro, católico, missionário da Comunidade Canção Nova, formado em Filosofia e Teologia.

Atualmente é produtor de conteúdo do portal cancaonova.com. Na consagração a Virgem Maria, segundo o Tratado

de São Luís Maria, descobriu um caminho fácil, rápido, perfeito e seguro para chegar a Jesus Cristo. Desde então,

ensina esta devoção, o caminho “a Jesus por Maria”, que é o seu maior apostolado.

 

Publicado em Blog Canção Nova.

A tentação da religião fácil – Cardeal Odilo Pedro Scherer – Arcebispo de São Paulo (SP) – Notícias Católicas

Grave engano

A tentação da religião fácil

leiss-das-religioes-sobre-dinheiro-catolicismo.-1pngPor Cardeal Odilo Pedro Scherer – Arcebispo de São Paulo (SP) Não está fácil ser cristão, em várias partes do mundo! Muitos estão sendo cerceados em sua liberdade de consciência, perseguidos e martirizados, apenas por serem discípulos de Jesus Cristo. São muito atuais as palavras de advertência de Jesus, ao encorajar os discípulos, falando-lhes do que os esperava: “sereis perseguidos e odiados por minha causa” (cf Lc 21, 12-19). Jesus não prometeu vida fácil a seus seguidores! A cena de Jesus com seus discípulos no caminho para Jerusalém, retratada no Evangelho de São Mateus (cf Mt 16,21-27), é muito ilustrativa. Jesus lhes fala da própria rejeição pelas autoridades do templo de Salomão, em Jerusalém, de seus sofrimentos, morte na cruz e ressurreição ao terceiro dia. Pedro, cheio de vontade de “defender” o Mestre, quer convencê-lo a desistir do caminho para Jerusalém: “Deus te livre, isso não te acontecerá!” As palavras de Jesus a Pedro são duras: “vá para longe de mim, satanás! És para mim, ocasião de tropeço!” São as mesmas palavras usadas por Jesus para superar a terceira tentação no deserto, antes de iniciar sua missão pública (cf Mt 4,10). Pedro fazia o papel de “tentador” e Jesus o afastou decididamente, continuando seu caminho para Jerusalém: “tu não pensas conforme Deus, mas conforme os homens!” (cf Mt 16,23). De qual tentação tão grave se tratava? Se Jesus desse razão a Pedro, evitaria os sofrimentos anunciados. Qual seria o mal? É que essa tentação implicava em desistir do Evangelho e da missão de Jesus. Pedro, ingenuamente, querendo impedir que algo de mal acontecesse a Jesus, acabaria desviando Jesus do seu caminho, impedindo-o de ser a testemunha fiel da verdade de Deus, de ser coerente e fiel à missão de manifestar o amor de Deus até às últimas consequências. Era uma grande tentação!

Jesus não atrai os discípulos para facilidades, vantagens, prosperidade e glórias terrenas: “se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga!” (Mt 16,24).

Jesus não atrai os discípulos para facilidades, vantagens, prosperidade e glórias terrenas: “se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga!” (Mt 16,24). Várias outras passagens do Evangelho retratam o convite a seguir Jesus, não por interesses pessoais, mas a abraçar de coração inteiro o Evangelho do reino de Deus por ele anunciado e tornado presente no mundo. É antiga e sempre atual a tentação de oferecer Jesus como um “produto” para a solução mágica para todos os males, sem a exigência de verdadeira fé e conversão ao reino de Deus. Um cristianismo sem mudança de vida, sem cruz nem renúncia aos próprios projetos, sem sintonia com o projeto de Deus, sem os 10 mandamentos da lei de Deus, seria falsificar Jesus e o Evangelho!

Lembrou o papa Francisco: uma Igreja sem Jesus Cristo crucificado e ressuscitado, acabaria sendo uma espécie de “ONG do bem”, mas não seria mais a Igreja de Cristo!

Essa tentação insidiosa, mais do que nunca, pode ser atual em nossos dias: pretende-se apresentar um Jesus simpático e atraente, produto falsificado nas vitrines de um mercado religioso sempre mais florescente, para atrair adeptos com toda sorte de facilidades e vantagens. Lembrou o papa Francisco: uma Igreja sem Jesus Cristo crucificado e ressuscitado, acabaria sendo uma espécie de “ONG do bem”, mas não seria mais a Igreja de Cristo! Tentação perigosa, pois mexe com coisas muito sérias e induz a engano fatal: “de que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?” – pergunta Jesus. (cf Mt 16,26). Quem busca Jesus apenas para ter vantagens pessoais, facilidades, vaidades e riquezas, não “arrisca” nada por ele; não é a Jesus e o reino de Deus que busca, mas apenas a si próprio e a seus projetos pessoais. A “renúncia a si mesmo” equivale, de fato, à primazia absoluta dada a Deus e a seus caminhos. A “religião fácil” é uma tentação perigosa, um grave engano! No final de tudo, se não houve sincera conversão e “renúncia a si mesmo”, mesmo tendo conseguido todas as vantagens do mundo, a frustração poderá ser total.

Por Cardeal Odilo Pedro Scherer – Arcebispo de São Paulo (SP)
Publicado em NOTÍCIAS CATÓLICAS.

Papa recebeu padre Jorge Hernandez, pároco de Gaza – Entrevista à Rádio Vaticano (30.08.2014)

Fonte: Rádio Vaticano (30.08.2014)

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Nesta sexta-feira, o Papa Francisco recebeu, na Casa de Santa Marta, do Vaticano, o padre Jorge Hernández, pároco católico em Gaza. Interpelado por Alessandro Gisotti, padre Hernandez mostrou-se impressionado pela “força” e “coragem” transmitidas pelo Papa, assim como pela preocupação com que acompanha a conjuntura em que se encontra a minoria cristã em Gaza, e o seu “empenho” pela paz na Terra Santa.

– Alguma palavra do Papa Francisco o tocou em particular neste encontro?

Justamente sobre o testemunho cristão. Ele disse: ‘o Evangelho exige sacrifícios que Jesus Cristo pede a cada um de nós, em diversos locais. A vocês é testemunhar Jesus Cristo ali, na terra que o viu sofrer, que o viu morrer e que também o viu ressuscitar. Portanto, força, coragem, em frente!’ – foram estas as palavras do Papa Francisco que nos tocaram profundamente.

– Portanto, sobretudo uma palavra de encorajamento a manter este testemunho forte nesta terra assim martirizada pelo sofrimento….

Sim, sobretudo na vida vivida no sofrimento. O Papa Francisco tem consciência de que nós somos minoria: falamos de 1.300 cristãos entre dois milhões de habitantes, dos quais apenas 136 são católicos. Assim, a nossa paróquia compreende 136 fiéis. Evidentemente, as nossas relações com os ortodoxos são absolutamente boas: nós não fazemos diferença, mas isto já é sabido. E seguimos em frente assim.

– Claramente, o Papa Francisco deu tudo de si pela paz na Terra Santa, com a sua viagem, e também a imagem muito forte no Muro de Belém e após o encontro de paz aqui, a poucos metros, nos Jardins do Vaticano. Como é percebido, também pelos não-cristãos, este esforço de Francisco?

É um compromisso de vida, um compromisso existencial e concreto, de dizer que a paz é possível, que todos os dois povos podem viver em paz, testemunhando sobretudo o Príncipe da Paz, que é Jesus Cristo. Os frutos da peregrinação do Papa nós vemos já agora e os veremos mais adiante: o facto de ter conquistado os corações das pessoas, de ter deixado uma palavra boa para todos, os dois Estados, foi para todos nós uma graça imensa.

– Agora há uma trégua, após tantos mortos, após tanta violência. Qual a esperança em relação a esta trégua? O que a população, os fiéis da paróquia, esperam dela?

Esperamos que seja duradoura, longa, que seja para sempre. Basta ver o sofrimento dos dois povos…. e é necessário entender uma coisa, que absolutamente é necessário entender: numa guerra, ninguém vence. Ninguém. Cada uma das duas partes deverá pagar as consequências, de um modo ou de outro… Porém, fundamentalmente, com a guerra ninguém ganha: todos a perdemos. Esperemos que Deus nos abençoe com a força necessária para recomeçar de zero.

– Que apelo quer fazer aos ouvintes da Rádio Vaticano, a favor da sua população, da sua terra?

Sobretudo, procurar construir a paz na justiça. A paz é possível, a paz requer sacrifícios, requer o testemunho de um e de outro e o reconhecimento do próximo. Mas é possível. Sobretudo para os cristãos, não é verdade? Nós somos cristãos, somos seguidores do Príncipe da paz, na terra de Jesus Cristo: pensemos em Israel, pensemos na Palestina… Portanto, sermos fortes e firmes no testemunho que Jesus nos pede, que quer que o demos ali: quer em Israel quer na Palestina.
Gostaria de acrescentar uma palavra de agradecimento: não sei como agradecer a tantas pessoas da Itália, de todo o mundo, que estiveram próximas de nós. Sobretudo os doentes, que ofereceram os seus sofrimentos, rezando e suplicando por esta paz. Nós, todos os cristãos das paróquias de Gaza, também rezamos pelas pessoas que rezam por nós, quer na Missa, que com o terço, quer na Adoração Eucarística… Queria aproveitar para dizer obrigado. E que Deus os abençoe.

O padre Jorge Hernández – que tal como o Papa tem nacionalidade argentina – está ligado ao Instituto do Verbo Incarnado e tem acompanhado diariamente o drama a que estão sujeitas as comunidades católicas da Paróquia da Sagrada Família, no bairro de Al-Zeitun, na cidade de Gaza.
Recorde-se que já em julho, o Papa Francisco escrevera ao padre Jorge Hernández, transmitindo o seu “encorajamento” e assegurando a sua oração por todos os elementos da comunidade cristã de Gaza.

 

Publicado em Rádio Vaticano.

Papa Francisco concede entrevista a Il Messagero e fala da realidade de Roma, dos comunistas, do papel da mulher na Igreja, da corrupção e a política (Il Messagero – ACI Digital)

Papa Francisco concedeu duas longas entrevistas neste semestre. Nesta, é entrevistado pela jornalista italiana Franca Giansoldati,  do Il Messaggero (Roma – Itália). A entrevista foi publicada no dia 29-06-2014  com o título “O comunismo nos roubou a bandeira”. Ao longo da entrevista, traduzida por ACI Digital, e reproduzida pela “Fraternidade O Caminho”, podemos ver que este título pode ser lido tal como o Santo Padre declarou na entrevista: “A bandeira dos pobres é cristã”.

Boa leitura! Que Deus nos abençoe com discernimento e fortaleza nestes tempos de crise moral, econômica, social e política, aliás, uma crise que vem  afetando o mundo inteiro  há pelo menos duas décadas. (LBN)

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Fonte: Fraternidade O Caminho (traduzido por ACI Digital)

Publicado em 1 de julho de 2014

Papa_Francisco_audiencia29ACI Digital oferece a seus leitores e ao público em geral a íntegra em português da entrevista que o Papa Francisco concedeu recentemente ao jornal italiano Il Messagero, publicada no domingo 29 de junho, festa dos Apóstolos Pedro e Paulo. Nesta oportunidade o Santo Padre fala da realidade de Roma, do comunismo, do papel da mulher na Igreja, da corrupção e a política.

O texto original da entrevista encontra-se aqui.

E então, na partida a Itália x Uruguai. Santo Padre, para quem torcia?

Eu, para nenhum, na verdade. Prometi à presidenta do Brasil (Dilma Rousseff), que seria neutro.

Começamos por Roma?

Você sabia que eu não conheço Roma? Veja só, eu vi a Capela Sistina pela primeira vez quando participei do Conclave que elegeu Bento XVI (2005). Nem sequer estive nos Museus. O fato é que quando era Cardeal não vinha muito frequentemente. Conheço Santa Maria Maior porque ia sempre. E depois São Lorenzo Extra Muros, onde ia para as confirmações quando estava Dom Giacomo Tantardini. Obviamente conheço Piazza Navona porque sempre me alojei na Via della Scrofa, ali ao lado”.

Há um pouco de romano no Bergoglio argentino?

Pouco e nada. Eu sou mais do Piamonte, essas são as raízes de minha família de origem. Ainda estou começando a me sentir romano. Tenho a intenção de ir visitar o território, as paróquias. Estou descobrindo pouco a pouco esta cidade. É uma metrópole muito formosa, única, com os problemas das grandes metrópoles. Uma pequena cidade possui a estrutura quase inequívoca, uma metrópole, por outro lado, compreende sete ou oito cidades imaginárias, superpostas juntas, em vários níveis. Também em níveis culturais.

Penso, por exemplo, nas tribos urbanas juvenis. Ocorre o mesmo em todas as cidades. Em novembro faremos em Barcelona um congresso dedicado precisamente à pastoral das metrópoles. Na Argentina promoveu-se intercâmbios com o México. Descobriram muitas culturas cruzadas, mas nem tanto devido às migrações, mas porque se tratavam de territórios culturais transversais, feitos de pertences próprios. Cidades dentre de uma cidade. A Igreja deve saber responder a este fenômeno.

Por que S.S. desde o começo quis sublinhar tanto as funções de Bispo de Roma?

O primeiro serviço de Francisco foi este: ser o Bispo de Roma. Todos os títulos do Papa, Pastor universal, Vigário de Cristo, etecetera, são dados ao Papa precisamente porque é Bispo de Roma. É a eleição primitiva. As consequências do Primado do Pedro. Se amanhã o Papa quisesse ser o Bispo de Tivoli, certamente me removeriam.

Há 40 anos, com o Papa Paulo VI, o Vicariato (da diocese de Roma) promoveu o congresso sobre os males de Roma. Dali saiu um quadro da cidade onde os que tinham muito tinham o melhor, e quem tinha pouco, tinha o pior. Hoje, no seu parecer, Quais são os males desta cidade?

São os das metrópoles como Buenos Aires. Estão os mais beneficiados, e aqueles que estão cada vez mais pobres. Não sabia do congresso sobre os males de Roma. Estas são perguntas muito romanas, e eu então tinha 38 anos. Sou o primeiro Papa que não participou do Concílio e, naquela época, para nós a grande luz era Paulo VI. Para mim, a Evangelii Nuntiandi, sempre será um documento pastoral insuperável.

Existe uma hierarquia de valores a ser respeitada na gestão dos assuntos públicos?

É evidente. Tutelar sempre o bem comum. A vocação para qualquer político é esta. Um conceito amplo que inclui, por exemplo, a custódia da vida humana, de sua dignidade. Paulo VI costumava dizer que a missão da política permanece como uma das mais altas da caridade. Hoje o problema da política –não falo só da Itália, mas de todos os países, pois o problema é mundial-, é que se desenvolveu, arruinado pela corrupção, pelo fenômeno dos subornos.

Lembro-me de um documento que publicaram os bispos franceses há 15 anos. Era uma carta pastoral titulada: Reabilitar a política. Confrontava precisamente este argumento. Se não houver um serviço de base, não se pode sequer entender a identidade da política.

Sua Santidade disse que a corrupção cheira a putrefação. Disse também que a corrupção social é o fruto do coração doente e não só de condições externas. Não haveria corrupção sem corações corruptos. O corrupto não tem amigos, apenas idiotas que lhe são úteis. Poderia explicar-nos melhor isso?

Falei durante dois dias seguidos sobre este tema porque comentava a leitura da Vinha de Nabor. Eu gosto de falar sobre as leituras do dia. No primeiro dia confrontei a fenomenologia da corrupção, no segundo dia sobre como acabam os corruptos. O corrupto, portanto, não tem amigos, só tem cúmplices.

Você acredita que se fala tanto de corrupção porque os meios de comunicação insistem neste tema ou porque efetivamente se trata de um mal endêmico e grave?

Não, infelizmente o fenômeno é mundial. Há chefes de estado na prisão precisamente por isso. Perguntei-me muito sobre isto, e cheguei à conclusão que muitos males crescem sobre tudo durante as mudanças de época. Estamos vivendo mais que uma época de mudanças, mas uma mudança de época. E portanto, trata-se de uma mudança de cultura, precisamente desta fase emergem coisas assim. A mudança de época alimenta a decadência moral, não só na política, mas também na vida financeira ou social.

Também os cristãos parecem não brilhar por seu testemunho…

O ambiente é o que facilita a corrupção. Não digo que todos sejam corruptos, mas acredito que é difícil permanecer honestos nesta política. Falo de todo o mundo, não só da Itália. Penso também em outros casos. Às vezes há pessoas que queriam fazer as coisas mais claras, mas depois se encontram com dificuldades, e é como se fossem fagocitados por um fenômeno endêmico, a altos níveis, transversais. Não porque seja esta a natureza da política, mas sim porque em uma mudança de época, as tensões para uma certa deriva moral se tornam fortes.

O que mais o assusta: a pobreza moral ou material de uma cidade?

As duas me assustam. Um faminto, por exemplo, posso ajudá-lo para que não tenha mais fome, mas se tiver perdido o trabalho e não encontra outra ocupação, isso já é outra pobreza. Ele já não tem dignidade. Possivelmente possa ir à Cáritas e levar para casa um pouco de mantimentos, mas experimenta uma pobreza muito grave que arruína o seu coração. Um Bispo auxiliar de Roma me contou que muitas pessoas vão aos refeitórios populares em segredo, cheios de vergonha, e levam para casa a comida. Sua dignidade se empobreceu e vivem em um estado de prostração.

Pelas grandes ruas de Roma vê-se mulheres de apenas 14 anos, frequentemente obrigadas a prostituir-se no meio do descuido geral, enquanto que no metrô vê-se crianças mendigando. A Igreja é ainda fermento para a massa? Sente-se impotente como Bispo ante esta degradação cultural?

Sinto dor. Sinto uma enorme dor. A exploração de crianças me faz sofrer. Também na Argentina ocorre o mesmo. Para alguns trabalhos manuais se utiliza crianças porque têm as mãos menores pequenas. Mas elas também são exploradas sexualmente em hotéis. Uma vez me advertiram sobre uma rua de Buenos Aires onde havia garotinhas, prostitutas de 12 anos. Informei-me e efetivamente era sim. Isto me feriu. Mais ainda ao ver que eram abordadas por automóveis de grande cilindrada conduzidos por idosos. Podiam ser seus avós. Subiam a menina ao carro, davam-lhe 15 pesos que depois eram usados para comprar drogas, uma dose. Para mim as pessoas que fazem isto com meninas são pedófilos. Acontece também em Roma. A cidade eterna que deveria ser um farol no mundo é um espelho da degradação moral da sociedade. Penso que são problemas que se resolve com uma boa política social.

O que pode fazer a política?

Responder limpamente. Por exemplo, com os serviços sociais que permitam que as famílias entendam e tenham acompanhamento para sair de situações difíceis. O fenômeno indica uma deficiência do serviço social na sociedade.

A Igreja está trabalhando muitíssimo…

E deve continuar fazendo-o. Precisamos ajudar as famílias em dificuldade, uma tarefa árdua que requer esforço comum.

Em Roma cada vez menos jovens vão à igreja, não batizam seus filhos, não sabem nem sequer fazer o sinal da cruz. Que estratégia serviria para mudar esta tendência?

A Igreja deve sair às ruas, procurar às pessoas, ir às casas, visitar as famílias, ir às periferias. Não ser uma Igreja que só recebe, mas que oferece.

E os párocos devem então colocar chifres nas ovelhas (ndt: referindo-se a que os cristãos devem ser encorajados pelos párocos a serem mais agressivos no anúncio da Boa Nova)…

(Risadas) Obviamente. Estamos em uma época de missão há dez anos. Devemos insistir nisso.

Preocupa-lhe a cultura da não-natalidade na Itália?

Acredito que é preciso trabalhar mais pelo bem comum da infância. Pôr sobre a família um compromisso, às vezes não é suficiente com um salário, não se chega ao fim do mês. Existe o medo de perder o trabalho ou de não poder pagar mais o aluguel. A política social não ajuda. A Itália tem uma taxa de natalidade muito baixa, a Espanha também. A França vai um pouco melhor, mas também é baixa. É como se a Europa, cansou-se do papel de mãe e preferisse o de avó. Muito depende da crise econômica e não só de uma deriva cultural sobrecarregada no egoísmo e no hedonismo. O outro dia eu lia uma estatística sobre os critérios do gasto da população em nível mundial. Depois da alimentação, vestidos e remédios, três vozes necessárias, seguem a estética e os gastos com os animais domésticos.

As crianças importam menos que os animais?

Trata-se de outro fenômeno de degradação cultural. Isto é porque a relação afetiva com os animais é mais fácil, mais previsível. Um animal não é livre, enquanto que ter um filho é uma coisa complexa.

O Evangelho fala mais aos pobres ou aos ricos para convertê-los?

A pobreza está no centro do Evangelho. Não se pode entender o Evangelho sem entender a pobreza real, tendo em conta que existe também uma pobreza belíssima do espírito: ser pobre perante Deus porque Deus te preenche. O Evangelho se dirige indistintamente a pobres e ricos. E fala tanto de pobreza como de riqueza. Não condena para nada aos ricos, mas sim as riquezas quando se tornam objetos de idolatria. O deus dinheiro, o bezerro de ouro.

Sua Santidade tem fama de ser um Papa comunista, populista. A revista The Economist, que lhe dedicou uma capa, afirma que fala como Lenin. Identifica-se com isto?

Eu digo apenas que os comunistas nos roubaram a bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza está no centro do Evangelho. Os pobres estão no centro do Evangelho. Se olharmos Mateus 25, o protocolo sobre o qual seremos julgados: tive fome, tive sede, estive no cárcere, estive doente, nu. Ou olhemos as Bem-aventuranças, que é outra bandeira. Os comunistas dizem que tudo isto é comunista. Sim, como não, vinte séculos depois. Então quando falamos de comunistas, nós poderíamos virar e dizer: então vocês são cristãos! (risadas)

Se me permitir uma crítica…

Claro.

Você possivelmente fala pouco das mulheres e quando fala confronta o argumento só do ponto de vista maternal, a mulher esposa, a mulher mãe, etecetera. E as mulheres já dirigem estados, multinacionais, exércitos. Na Igreja, segundo você, que lugar ocupa as mulheres?

As mulheres são o mais formoso que Deus criou. A Igreja é mulher. Igreja é uma palavra feminina. Não se pode fazer teologia sem esta feminidade. Disto você tem razão, não se fala o suficiente. Estou de acordo que se deve trabalhar mais sobre a teologia da mulher. Eu já disse e se está trabalhando neste sentido.

Não entrevê uma certa misoginia de fundo?

O fato é que a mulher foi tirada de uma costela… (risadas). Brinco, eu só estava brincando. Estou de acordo que é necessário aprofundar mais na questão feminina, do contrário não se pode entender a Igreja em si mesma.

Podemos esperar de você decisões históricas, tipo uma mulher chefe de dicastério, não falo do clero…

(Risadas). Bom, muitas vezes os sacerdotes acabam sob a autoridade das beatas de igreja…

Em agosto S.S. irá a Coréia. É a porta para a China? Está apontando para a Ásia?

Irei à Ásia duas vezes em seis meses. À Coréia em agosto para encontrar aos jovens asiáticos. Em janeiro ao Sri Lanka e Filipinas. A Igreja na Ásia é uma promessa. A Coréia representa muito, tem uma história muito bonita, durante dois séculos não teve sacerdotes e o catolicismo avançou graças aos leigos. Houve também mártires. Quanto à China, trata-se de um desafio cultural grande. Maior. E depois está o exemplo de Matteo Ricci, que fez tanto bem…

Para onde está indo a Igreja de Bergoglio?

Graças a Deus não tenho nenhuma Igreja, sigo a Cristo. Não fundei nada. Do ponto de vista do estilo não mudei comparado a como eu era em Buenos Aires. Sim, possivelmente alguma coisa pequena, porque é devido, mas mudar na minha idade teria sido ridículo. Em meu programa, por outro lado, sigo o que os cardeais pediram durante as congregações gerais antes do Conclave. Vou nessa direção. O Conselho dos oito cardeais, um organismo externo, nasce daí. Haviam pedido para ajudar a reformar a Cúria. Algo por outro lado nada fácil, porque damos um passo, mas logo ocorre algo que mostra que falta isso ou aquilo, e se primeiro era um dicastério depois se converte em quatro… Minhas decisões são o fruto das reuniões Pré-Conclave. Eu não tenho feito nada sozinho.

Isto é uma aproximação democrática…

Foram as escolhas dos cardeais. Não sei se se trata de uma aproximação democrática, diria que foi mais sinodal, ainda que esta palavra para os cardeais não seja a apropriada.

Que deseja aos romanos pela festa dos padroeiros São Pedro e Paulo?

Que continuem sendo bons. São muito simpáticos. Vejo-os nas audiências e quando vou às paróquias. Espero deles que não percam a alegria, a esperança, a fé não obstante as dificuldades. Também o ‘romanaccio’ –dialeto romano-, é bonito.

Wojtyla tinha aprendido a dizer em dialeto romano. ‘nos amemos os uns aos outros, nos ofereçamos a outros’. Você aprendeu alguma frase em romano?

Por enquanto poucas, ´Campa e fa’ campa´ -viva e deixe viver- (termina o Papa com risadas).

Por ACI Digital.

Vamos defender a vida – Vídeo publicado em 30 de maio de 2014 (Padre Paulo Ricardo)

A prática do aborto em hospitais públicos e clínicas particulares do Brasil não vai trazer avanço social algum à vida dos seus habitantes, sejam mulheres, homens e crianças, ricos ou pobres. Esta campanha [a da sua legalização ou descriminalização] vem se desenvolvendo  em nível planetário, com ênfase na América Latina. Obviamente, teve início em regiões desenvolvidas, como Estados Unidos e Europa, com alto índice de adesão no início da década de 70.

Há, no entanto, recuos após quatro décadas de implementação do aborto legal (em clínicas particulares ou públicas) nestes dois continentes, na forma de campanhas pró-vida, que visam a revogação da lei federal, admitida  em vários estados norte-americanos ou então, através da mudança no ordenamento jurídico de países que atualmente permitem sua prática legal, tais como a Itália, Portugal, Espanha ou no Reino Unido.

Leia a matéria publicada em https://padrepauloricardo.org/blog/vamos-defender-a-vida e saiba com detalhes como podemos deter no Congresso Nacional o avanço dos segmentos de pressão “pró-escolha” (grupos que defendem junto ao Congresso Nacional, a interrupção da gestação pela mulher, por suposto direito sobre o corpo). Tais segmentos (grandes laboratórios e empresas a eles associadas),  buscam  a implementação do aborto legal através de projeto de lei que já tramita, e que possibilitaria a sanção para sua prática nos setores público e privado de saúde em nosso País. (LBN)

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Fonte: https://padrepauloricardo.org/blog/vamos-defender-a-vida30/05/2014 15:44 |

Vamos defender a vida

Descubra como você pode ajudar a derrubar a Lei Cavalo de Troia e afugentar o aborto do Brasil

Este é um momento importantíssimo de nossa luta em defesa da vida, contra a legalização do aborto no Brasil. No ano passado, a Lei n. 12.845/2013, que aparentemente dispunha “sobre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual”, foi sancionada pela Presidente da República. Olhando para a linguagem do texto legal, alertamos que esta lei abriria uma brecha para a possibilidade de se fazer o aborto em nosso país. Com razão o então projeto foi apelidado de “Cavalo de Troia”.

O argumento do governo – e até de algumas pessoas do movimento pró-vida – era o de que esta lei se referia tão somente à proteção da mulher e que não tinha nada que ver com o Poder Executivo – ainda que fosse o próprio Ministério da Saúde a propor o projeto de lei.

Acontece que, na última semana, o mesmo Ministério da Saúde, por meio da Portaria n. 415 de 2014, regulamentou a Lei Cavalo de Troia, incluindo na tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde a “interrupção da gestação/antecipação terapêutica do parto”, fixando o preço do abortamento em R$ 443,40. O mesmo preço de um parto. (Aparentemente, para essas pessoas, a morte e a vida são a mesma coisa.)

Diante da notoriedade que ganhou a portaria, o Ministério da Saúde acabou por revogá-la esta semana (pela Portaria n. 437), sem apresentar nenhuma justificativa. No entanto, a verdade já havia sido revelada: realmente, a Lei Cavalo de Troia foi concebida para disseminar a prática do aborto no Brasil.

Se a portaria foi felizmente revogada, a Lei Cavalo de Troia, no entanto, continua vigente. Só poderemos cantar um canto de verdadeira vitória quando este texto for totalmente retirado de nosso ordenamento jurídico.

Para isso, é preciso que ajamos, entrando em contato com os parlamentares da Câmara dos Deputados. Há um projeto de lei no Congresso Nacional, de autoria do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que “revoga a Lei n.º 12.845, de 1º de agosto de 2013”: trata-se do Projeto de Lei n. 6033/2013. É importante que todos os brasileiros, independentemente da religião que professam, telefonem e enviem e-mails aos nossos parlamentares, pedindo que aprovem com urgência o PL 6033/13, a fim de varrer do mapa do Brasil a perfídia do aborto e da cultura da morte.

Segue abaixo a lista com os telefones e e-mails de contato das lideranças dos partidos e dos parlamentares de cada estado:

Liderança do Governo
Henrique Fontana (PT-RS) / 0 xx (61) 3215-9001;
lid.govcamara@camara.leg.br

Liderança da Minoria
Domingos Sávio / 0 xx (61) 3215-9820;
lid.min@camara.leg.br

PT Partido dos Trabalhadores
Vicentinho / 0 xx (61) 3215-9102
lid.pt@camara.leg.br

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
Eduardo Cunha / 0 xx (61) 3215-9181 / 80
lid.pmdb@camara.leg.br

PSD Partido Social Democrático
Moreira Mendes / 0 xx (61) 3215-9060 / 9070
lid.psd@camara.leg.br

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
Antonio Imbassahy / 0 xx (61) 3215-9345 / 9346
lid.psdb@camara.leg.br

PP Partido Progressista
Eduardo da Fonte / 0 xx (61) 3215-9421
lid.pp@camara.leg.br

PR Partido da República
Bernardo Santana de Vasconcellos / 0 xx (61) 3215-9550
lid.pr@camara.leg.br

DEM Democratas
Mendonça Filho / 0 xx (61) 3215-9265 / 9281
lid.dem@camara.leg.br

PSB Partido Socialista Brasileiro
Beto Albuquerque / 0 xx (61) 3215-9650
lid.psb@camara.leg.br

SD Solidariedade
Fernando Francischini / 0 xx (61) 3215-5265
lid.solidariedade@camara.leg.br

PROS Partido Republicano da Ordem Social
Givaldo Carimbão / 0 xx (61) 3215-9990
lid.pros@camara.leg.br

PDT Partido Democrata Trabalhista
Vieira da Cunha / 0 xx (61) 3215-9700 / 9701 / 9703
lid.pdt@camara.leg.br

PTB Partido Trabalhista Brasileiro
Jovair Arantes / 0 xx (61) 3215-9502 / 9503
lid.ptb@camara.leg.br

PSC Partido Social Cristão
Andre Moura / 0 xx (61) 3215-9762 / 9771 / 9761
lid.psc@camara.leg.br

PRB Partido Republicano Brasileiro
George Hilton / 0 xx (61) 3215-9880 / 9882 / 9884
lid.prb@camara.leg.br

PV Partido Verde
Sarnye Filho / 0 xx (61) 3215-9790 / Fax: 0 xx (61) 3215-9794
lid.pv@camara.leg.br

E-mails dos Gabinetes das Lideranças …

(clique aqui para acessar links no site https://padrepauloricardo.org/blog/vamos-defender-a-vida

Publicado em padrepauloricardo.org .

Patriarca Latino de Jerusalém presidirá no Santuário de Fátima a peregrinação internacional de 13 de maio (Tarde com Maria)

Fátima_Portugal_2014

Publicado em Tarde com Maria (texto e foto).

O Patriarca Latino de Jerusalém, Dom Fouad Twal, presidirá no Santuário de Fátima a peregrinação internacional de 13 de maio.

Numa entrevista à sala de imprensa do Santuário de Fátima, Dom Twal apresentou as principais intenções de oração que serão feitas num local onde “Maria continua irradiando sua luz, seu amor de Mãe e seus ensinamentos”.

“Irei apresentar a Nossa Senhora as súplicas de seus filhos do Oriente Médio e as de seus filhos do mundo inteiro. De modo especial, pedirei pelas necessidades dos cristãos e de todos os habitantes de sua pátria: a Terra Santa. Peço a todos para que rezem pela Terra de Jesus e de Maria”, frisou o patriarca.

Nas mesmas declarações, Dom Twal falou sobre a primeira viagem do Papa Francisco à Terra Santa de 24 a 26 de maio próximo, afirmando que o Santo Padre irá à Terra Santa “como peregrino da paz e da unidade”, a uma terra “em chamas “, com muros visíveis e invisíveis, difíceis de ultrapassar.

Como gestos concretos para assinalar a peregrinação pontifícia, o Patriarca Latino de Jerusalém pediu liberdade total de acesso aos lugares sagrados para todos os fiéis e liberdade para que as famílias separadas pelo Muro possam se encontrar.

Dom Twal pediu orações pelos cristãos e seu futuro, afirmando que os cristãos no Oriente Médio são uma riqueza para toda a Igreja.

Fonte: Rádio Vaticano.

“Discurso da lua” é proferido espontaneamente pelo Papa João XXIII a fiéis que acorreram à Praça de São Pedro portando velas e em oração, após abertura do Concílio Vaticano II – 11 de outubro de 1962 (YouTube)

“O discurso da lua” é uma das mais famosas intervenções do chamado “Papa bom” ou João XXIII.
Na noite de 11 de Outubro de 1962, após a sessão de abertura do Concílio Vaticano II, uma multidão de fiéis acorreu espontaneamente à Praça de São Pedro com velas e em oração.
Informado pelo seu secretário, Mons. Capovilla, João XXIII aproximou-se à janela, e, emocionado, falou de improviso.
O caráter coloquial e absolutamente inesperado da sua saudação, granjeou-lhe o título de “discurso da lua“, devido à referência que o mesmo fez no início do diálogo. (Fonte: YouTube – Canal João Batista Merc..)

“Não tenhais medo!” Papa João Paulo II – Trecho de discurso inaugural – Domingo 22 outubro 1978 (YouTube)

Trecho do discurso inaugural do pontificado do Papa João Paulo II. Apresenta o tema que foi marcante em sua condução pastoral: “Não tenhais medo!” O texto na íntegra pode ser encontrado aqui: http://www.vatican.va/holy_father/joh…

 

Fonte: YouTube (Canal Andlavor).

Eu ressuscito e ressuscitarei para a vida eterna graças à Tua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição – Domingo – Páscoa (Carmelo Descalço- OCD – 2014)

Graças, vos damos, Senhor…

páscoa carmelo

Senhor,

neste dia de Páscoa,
é com o coração cheio de júbilo
que faço memória e atualizo a fé em que acredito:
creio na ressurreição dos mortos
e na vida do mundo que há de vir.
Sim, Jesus, dou-Te graças infindas, pois,
porque deste voluntariamente a Tua vida,
retomaste-a e retomaste-a para mim.
Eu ressuscito e ressuscitarei para a vida eterna
graças à Tua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição.
O coração não cabe em mim de tanta alegria por esta certeza.
Que ela inunde a minha vida, sare as minhas feridas,
cure os meus desgostos e alivie as minhas dores,
porque a Vida venceu a morte, o mal e todo o pecado.
E a vida é a Vida de Deus,
que Tu derramaste no meu coração
e está em mim presente, agora e sempre!

 

Publicado em  Carmelodescalco Ocd.

“A compaixão é a misericórdia que se inclina sobre a miséria e mostra a grandeza da alma.” – Pe. Antônio Francisco Bohn (Quinta-Feira Santa – 2014)

William-Adolphe Bouguereau(1825-1905) – “Compassion” (1897)

A indiferença e o individualismo como fontes da falta de compaixão

Lúcia Barden Nunes

Nosso tempo é marcado por duas características: a indiferença e o individualismo. Ambos já permeiam até mesmo o convívio familiar. Falas ou mensagens rápidas pelo celular; e-mails raros e telegráficos – cartas, nem pensar, e visitas – bem, a agenda está cheia para a maioria. Não devia ser assim porque o tempo deve ser vivido por nós e não o contrário – ele nos apressar, até quando não é necessário. Vivemos em uma sociedade superficial e volúvel. Não devíamos abrir mão de nossos afetos por uma suposta falta de tempo. Quando nosso coração está partido, ou enfrentamos todo tipo de dificuldades que podem surpreender-nos ao longo da vida,  podemos “estranhamente” receber a mesma falta de tempo

Acredito que não é uma regra, mas a pressa, a superficialidade estão pautando os relacionamentos. Fica um vazio que nada preenche, simplesmente porque nada pode preencher o lugar do amor. As cidades estão cheias de pessoas vazias por sua própria conta, enquanto outras se encontram esvaziadas de amor…

Padre Antônio Francisco Bohn, em um pequeno texto na Folhinha do Sagrado Coração, afirma o seguinte:

“A compaixão é que torna o coração verdadeiramente humano. Ela é uma virtude. (….) Inicie suas atividades com o pensamento voltado para o Sagrado Coração de Jesus. Você é a beleza da vida, obra-prima do Criador, a síntese de seu amor. Jesus deve estar em seu pensamento e no seu caminho. Nele você deve confiar todos os seus atos em cada minuto deste dia. Só um espírito bom pode ser compassivo. Quem se compadece dos outros, de si próprio se lembra. A compaixão se manifesta por atos e nela é essencial a bondade. Quando a pessoa tem compaixão das demais, Jesus tem compaixão dela. A compaixão é a misericórdia que se inclina sobre a miséria e mostra a grandeza da alma.”

Tenho pensado que a compaixão parece que deixou de ser um valor universal, e lamentavelmente, a razão pode se dever ao fato, entre outros, de nos permitirmos viver com um um mínimo de afetividade. Vamos ficando cada vez mais vez mais áridos, vazios.

Talvez precisemos retomar o “trabalho da formiguinha”: cada um de nós pode não ter mais influência na cultura de falta de compaixão, indiferença já instaladas, mas, é certo que podemos fazer a nossa parte…  Podemos nos dar uma chance de termos compaixão quando a circunstância se apresenta à nossa frente. Podemos ter a certeza de que nosso peito se aquecerá neste gesto…

Que Deus tenha sempre compaixão de nós. Amém.

LBN

Fonte/imagem: http://www.territorioscuola.com/wikipedia/pt.wikipedia (termo “Compaixão)