O problema da ditadura do relativismo

© artproem

Se negarmos que existe a verdade objetiva e perene, o Cristianismo fica destruído desde a sua raiz

O Papa Emérito Bento XVI usou essa expressão para explicar o regime filosófico que se deseja impor no mundo. Há duas formas de ditadura: das armas e da cultura. Essa última é muito pior, porque dura muito mais tempo. A expressão relativismo mostra a ideia central, isto é, a ausência da verdade absoluta, renascimento de uma ideologia antiga. É uma ditadura, porque deseja proibir você de sustentar o contrário. Tudo passa a ser, então, relativo, exceto o próprio relativismo, que é um absurdo.

Ora, se tudo é relativo e não existe a verdade objetiva, então, a própria afirmação “tudo é relativo” ou “não existe verdade absoluta” também não podem ser tidas como verdadeiras. Além do relativismo ser um grave erro, que destrói as bases da civilização, o pior de tudo é não admitir que alguém dele discorde. Essa triste mentalidade, na verdade, é uma lógica muito esperta e maldosa daqueles que desejam eliminar a religião. Se a liberdade é absoluta para pensar no que eu quero, então, todas as afirmações são igualmente aceitas, e você joga tudo no mesmo saco, mentiras e verdades.

A incoerência se nota quando se percebe que os defensores da verdade absoluta são perseguidos e caluniados; ora, então “a liberdade não é tão absoluta nem a verdade tão relativa”, como disse o amigo advogado Rafael Vitola. E ele afirma, com razão, que “o que está por trás disso não é o amor à liberdade, mas o ódio à verdade. Sob a capa de uma liberdade absoluta – que, aliás, seria imoral –, esconde-se a mais terrível das tiranias. Na realidade, nem os que propugnam a verdade relativa nela acreditam. Pensam, no fundo, que ela é absoluta – pois negam a liberdade a seus opositores. Sua agravante é a hipocrisia. E a hipocrisia – atroz e autoritária – é sua arma principal”.

O relativismo está na moda?

É a luta do bem contra o mal; a luta da verdade contra a mentira, da luz contra as trevas. Na homilia que o então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa emérito Bento XVI, pronunciou na Missa “Pro Eligendo Pontífice”, celebrada no dia 18 de abril de 2005, às vésperas de sua eleição como Papa, ele disse:

“Quantos ventos de doutrina conhecemos nestas últimas décadas, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento. A pequena barca do pensamento de muitos cristãos, com frequência, fica agitada pelas ondas, levadas de um extremo a outro: do marxismo ao liberalismo, até o libertinismo; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo etc. A cada dia, nascem novas seitas e se realiza o que diz São Paulo sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir no erro (cf. Efésios 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é etiquetado com frequência como fundamentalismo.

Enquanto que o relativismo, ou seja, o deixar-se levar «guiados por qualquer vento de doutrina», parece ser a única atitude que está na moda. Vai-se construindo uma “ditadura do relativismo”, que não reconhece nada como definitivo e que só deixa como última medida o próprio eu e suas vontades”.

Nós temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro humanismo. «Adulta» não é uma fé que segue as ondas da moda e da última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente arraigada na amizade com Cristo. Essa amizade nos abre a tudo o que é bom e nos dá a medida para discernir entre o verdadeiro e o falso, entre o engano e a verdade”.

Bento XVI e João Paulo II

Em outra ocasião, na visita à Polônia, na Praça da Vitória (Pilsudski) de Varsóvia, a mesma onde, em 1979, João Paulo II exaltou os seus compatriotas, encorajando-os a vencer o governo comunista, o Papa emérito Bento XVI convidou os 300 mil fiéis que participaram da Eucaristia, a “não cair na tentação do relativismo ou da interpretação subjetiva e seletiva da Sagrada Escritura”, denunciando a tentativa da parte de “pessoas ou ambientes falsificarem a Palavra de Deus e retirar do Evangelho as verdades” segundo eles, “demasiado incômodas para o homem moderno”.

O Papa anterior, João Paulo II, foi à Polônia para combater o comunismo. Bento XVI voltou lá para combater o “relativismo religioso” e a “ditadura do relativismo”, as novas bases do secularismo. Para esse relativismo, que nega que possa haver uma verdade absoluta e permanente, ficando por conta de cada um definir a “sua” verdade e aquilo que lhe parece ser o seu bem, “a pessoa se torna a medida de todas as coisas”, como dizia o filósofo grego Protágoras.

Evidentemente, a Igreja rejeita isso, porque há verdades que são permanentes. As verdades da fé e da moral cristã são perenes, porque foram dadas por Deus. Cristo afirmou solenemente: “Eu sou a Verdade” (Jo 14,6); “a verdade vos libertará” (Jo 8,32); e Ele disse a Pilatos que veio ao mundo exatamente “para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37). São Paulo disse que Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4), e que “ a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3,15).

O dicionário da Verdade

Ora, se negarmos que existe a verdade objetiva e perene, o Cristianismo fica destruído desde a sua raiz. O Evangelho é o dicionário da Verdade. Segundo o relativismo, no campo moral não existe “o bem a fazer e o mal a evitar”, pois o bem e o mal são relativos. Isso destrói completamente a moral católica que moldou o Ocidente e a nossa civilização. Ele ignora a lei natural, que é a lei de Deus colocada na consciência de todo ser humano, desde que ele dispõe do uso da razão.

Por causa do relativismo moral, os governantes propõem leis contra a Lei Natural que Deus colocou no coração de todos os homens. Dessa forma, a palavra do legislador humano vai superando a do Legislador Divino, que é a mesma para todos os homens. Quem não estiver dentro do “politicamente correto” é anulado, desprezado, zombado com cinismo e perseguido.

O relativismo derruba as normas morais válidas para todos os homens. Ele é ateu, ele vê, na religião e na moral católicas, um obstáculo e um adversário, pois Deus é visto como um escravizador do homem e a moral católica destinada a tornar o homem infeliz. O relativismo atual coloca a ciência como uma deusa que vai resolver todos os problemas do homem; e que está acima da moral e da religião, mas se esquece de dizer que o homem nunca foi tão infeliz como hoje; nunca houve tantos suicídios, nunca se usou tanto antidepressivo e remédio para os nervos; nunca se viu tanta decadência moral, destruição da família e da sociedade.

Uma nova “teologia liberal”

O relativismo é embalado também pelo ceticismo e utilitarismo, que só aceita o que pode ajudar a viver num bem-estar hedonista aqui e agora. Há uma aversão ao sacrifício e à renúncia. Infelizmente, esse perigoso relativismo religioso, que tudo destrói, penetrou sorrateiramente também na Igreja, especialmente nos seminários e na teologia. Isso levou o Papa João Paulo II a alertar os bispos na Encíclica Veritatis Spendor, de 1992, sobre o perigo desse relativismo que anula a moral católica. No centro da “crise”, o Papa viu uma grave “contestação ao patrimônio moral da Igreja”.

Ele diz: “Não se trata de contestações parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do patrimônio moral. Rejeita-se, assim, a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente validade dos seus preceitos; consideram-se simplesmente inaceitáveis alguns ensinamentos morais da Igreja” (n. 4).

E chama a atenção para o fato grave de que “a discordância entre a resposta tradicional da Igreja e algumas posições teológicas está acontecendo mesmo nos Seminários e Faculdades eclesiásticas”. (idem) No centro da “crise moral” enfatizada pelo Pontífice, ele revela qual é a sua causa – o homem quer ocupar o lugar de Deus: “A Revelação ensina que não pertence ao homem o poder de decidir o bem e o mal, mas somente a Deus” (Gen 2,16-17). Não é lícito que cada cristão queira fazer a fé e a moral segundo o “seu” próprio juízo do bem e do mal.

É por causa desse relativismo moral que encontramos, vez ou outra, religiosos e sacerdotes que aceitam o divórcio, o aborto, a pílula do dia seguinte, o casamento de homossexuais, a ordenação de mulheres, a eutanásia, a inseminação artificial, a manipulação de embriões, o feminismo e outros erros que o Magistério da Igreja condena explicitamente.

Esse mesmo relativismo é a razão que move os contestadores do Papa, do Vaticano, dos Bispos e da hierarquia da Igreja, como se tivessem usurpado o poder sagrado, e não recebido do próprio Cristo pelo sacramento da Ordem. Esse relativismo fez surgir na Igreja uma “teologia liberal” de Rudolf Bultman, que por sua vez alimentou uma teologia “da libertação”, uma teologia “feminista”, e agora falam já de uma “teologia gay”.

Prof. Felipe Aquino

Publicado em Aleteia.

Dom Orani Tempesta afirma: “Os cristãos ‘participam na vida pública como cidadãos’. A Igreja venera entre os seus Santos numerosos homens e mulheres que serviram a Deus através do seu generoso empenho nas atividades políticas e de governo. Também os políticos podem ser santos!” – Artigo publicado no novo site da CNBB (03.03.2010)

"Movimentos: evangelizar a cultura, com testemunho de santidade, oração e formação!" É o que pede no Brasil o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada - Província Franciscana Nossa Senhora da Assunção - Bacabal - MA

Fonte/imagem/notícia: http://www.franciscanosmapi.org.br/ – Publicado em 18/12/2008 – Atualizado em 07.03.2010.

___________________________________________________________________________________________________________

Fonte: CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – “Artigos dos Bispos”

O nosso futuro

Qua, 03 de Março de 2010

A nossa Conferência Episcopal, ecoando um grito de todo o nosso povo, aprovou, coletou assinaturas e entregou ao Congresso Nacional o projeto de lei popular denominado “Ficha Limpa”. É uma iniciativa da Igreja em conjunto com o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, congregando mais de 50 organizações da sociedade civil.

É interessante que quando foi iniciado o processo houve muitas pressões para que não ocorresse. É claro que ele indica uma direção que a sociedade está tentando encontrar para que o nosso processo político seja mais transparente e possa dar frutos democraticamente para o bem social e justo do nosso país. Estamos todos aguardando os passos que os nossos legisladores irão dar para a aprovação desse projeto de lei.

Nas eleições (que a cada dois anos acontece), as tensões políticas acirram os ânimos com as várias denúncias, e ocorre também uma certa paralisia das instituições que começam desde o início a disputa, e com as leis eleitorais, a partir da metade do ano, os projetos e iniciativas são cerceados justamente para tentar barrar aproveitadores da situação, mas que, ao mesmo tempo, emperram a caminhada das instituições e a caminhada do país.

A nossa Conferência Episcopal tem intensificado o seu trabalho em favor de uma verdadeira política para atender aos anseios da população, que necessita de verdadeiras políticas para a educação, saúde, trabalho, habitação, cultura, lazer, em uma sociedade que se privilegia o capital em detrimento à pessoa humana.

Os cristãos “participam na vida pública como cidadãos”. A Igreja venera entre os seus Santos numerosos homens e mulheres que serviram a Deus através do seu generoso empenho nas atividades políticas e de governo. Também os políticos podem ser santos!

As sociedades democráticas atuais, onde, louvavelmente, todos participam na gestão da coisa pública num clima de verdadeira liberdade, exigem novas e mais amplas formas de participação na vida pública da parte dos cidadãos, cristãos e não cristãos. Todos podem, de fato, contribuir através do voto na eleição dos legisladores e dos governantes e, também de outras formas na definição das orientações políticas e das opções legislativas que, no seu entender, melhor promovam o bem comum. Num sistema político democrático, a vida não poderia processar-se de maneira profícua sem o envolvimento ativo, responsável e generoso de todos, “mesmo na diversidade e complementaridade de formas, níveis, funções e responsabilidades”.

Nossa “polis” encontra-se hoje dentro de um processo cultural complexo, que evidencia o fim de uma época e a incerteza relativamente à nova que desponta no horizonte. As grandes conquistas de que se é espectadores obrigam a rever o caminho positivo que a humanidade percorreu no progresso e na conquista de condições de vida mais humanas. Constata-se hoje certo relativismo cultural, que apresenta sinais evidentes da sua presença quando teoriza e defende um pluralismo ético que sanciona a decadência e a dissolução da razão e dos princípios da lei moral natural.

Do concreto da realização e da diversidade das circunstâncias brota necessariamente a pluralidade de orientações e de soluções, que, porém, devem ser moralmente aceitáveis. Não cabe à Igreja formular soluções concretas – e muito menos soluções únicas – para questões temporais, que Deus deixou ao juízo livre e responsável de cada um, embora seja seu direito e dever pronunciar juízos morais sobre realidades temporais, quando a fé ou a lei moral o exijam. Se o cristão é obrigado a “admitir a legítima multiplicidade e diversidade das opções temporais”, é igualmente chamado a discordar de uma concepção do pluralismo em chave de relativismo moral, nociva à própria vida democrática, que tem necessidade de bases verdadeiras e sólidas, ou seja, de princípios éticos que, por sua natureza e função de fundamento da vida social, não são “negociáveis”.

A busca da verdade e do bem comum faz com que muitas vezes as nossas posições sejam confundidas com as de outros que também defendem posições parecidas em alguns campos, mas contrários aos princípios cristãos em outra realidade. Isso ocorre nos dois lados do processo político, e a Igreja sempre sofre por tomar posições que, se de um lado podem assemelhar-se a de outros grupos, no entanto faz parte de uma totalidade de mentalidade que contradiz outras situações. Estamos sempre em “companhias” que os adversários não aceitam e que outros aplaudem e vice-versa.

A fé em Jesus Cristo, que Se definiu a Si mesmo “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), nos indica o esforço de nos empenharmos mais decididamente na construção de uma cultura que, inspirada no Evangelho, proponha o patrimônio de valores e conteúdos da Tradição cristã e católica, que no fundo são os valores verdadeiros da pessoa humana.

Porém, é insuficiente e redutivo pensar que o empenho social dos católicos possa limitar-se a uma simples transformação das estruturas, porque, não existindo na sua base uma cultura capaz de acolher, justificar e projetar as instâncias que derivam da fé e da moral, as transformações apoiar-se-iam sempre em alicerces frágeis.

A fé não pretende manietar num esquema rígido os conteúdos sociopolíticos, bem sabendo que a dimensão histórica em que o homem vive impõe que se admita a existência de situações não perfeitas e, em muitos casos, em rápida mudança. Neste âmbito, há que recusar as posições políticas e os comportamentos que se inspiram numa visão utópica que, ao transformar a tradição da fé bíblica numa espécie de profetismo sem Deus, instrumentaliza a mensagem religiosa, orientando a consciência para uma esperança unicamente terrena que anula ou redimensiona a tensão cristã para a vida eterna. Isso não significa uma alienação das realidades do mundo, nem tampouco excluir essas preocupações, mas, pelo contrário, dar o verdadeiro peso das realidades humanas com as quais nos comprometemos justamente por causa do Reino dos Céus.

Assim, o político que professa a fé católica é aquele que, acima dos programas partidários, tem um compromisso inalienável com os aspectos da unidade de vida do cristão: a coerência entre a fé e a vida, entre o evangelho e a cultura. O Concílio Vaticano II exorta os fiéis “a cumprirem fielmente os seus deveres temporais, deixando-se conduzir pelo espírito do evangelho. Afastam-se da verdade aqueles que, pretextando que não temos aqui cidade permanente, pois demandamos a futura, creem poder, por isso mesmo, descurar as suas tarefas temporais sem se darem conta de que a própria fé, de acordo com a vocação de cada um, os obriga a um mais perfeito cumprimento delas”. Queiram os fiéis “poder exercer as suas atividades terrenas, unindo numa síntese vital todos os esforços humanos, familiares, profissionais, científicos e técnicos, com os valores religiosos, sob cuja altíssima jerarquia tudo coopera para a glória de Deus”.

Que neste ano eleitoral os católicos olhem bem a trajetória política de seus candidatos, para os valores que defende ou aprova, verifique se o tipo de sociedade que ele projeta é realmente o mundo que queremos viver e entregar aos nossos descendentes, se ele sabe utilizar os bens públicos para o bem do povo, e tenham a coragem de votar em candidatos de acordo com a nossa iluminada consciência bem formada.

Dom Orani João Tempesta

Publicado em “Artigos dos Bispos” – Site da CNBB.

%d blogueiros gostam disto: