Solenidade da Epifania do Senhor – 5 de Janeiro de 2025

Celebramos a festa Litúrgica da Epifania do Senhor que significa manifestação. Deus fez-Se Homem, nasceu em Belém e manifestou-Se a todos os povos do mundo representados por um grupo de homens importantes que vieram de várias terras, guiados por uma estrela, até Belém, para O visitar e prestar-Lhe homenagem.

  1. A Luz de Deus brilha para nós

Deus incarnou para salvar todas as pessoas. De cem, interessam-Lhe cem, porque ama infinitamente a cada uma delas. Fez de cada um de nós filhos Seus e ama-nos infinitamente.

Por isso, a festa da Epifania é especialmente para nós, que fomos chamados a fazer parte da Igreja, vindos, não do mundo judaico, mas dos gentios. Estamos representados nestes homens corajosos que vieram das suas terras até Belém.

  • Cristo, sinal e razão da nossa alegria. Às vezes, quando falamos da situação do mundo e do seu afastamento de Deus, dos males que vemos, falamos em tais termos como se Deus tivesse sido definitivamente derrotado e posto fora do mundo; ou então, como se Ele tivesse desistido de nos salvar e nos tivesse abandonado nas mãos do Inimigo. É uma atitude contrária à fé, porque o nosso Deus não perde batalhas nem nos abandonará nunca nesta vida, sejam quais forem os nossos pecados.

O nascimento de Jesus inaugurou um tempo de alegria e otimismo que nunca mais terá fim. O profeta Isaías anima-nos a encarar com otimismo e alegria a nossa vida na terra. «Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor

  • A noite cobre o mundo à espera de Deus. De facto, a sensação que temos, quando olhamos o mundo. é de que uma grande escuridão o cobre. São muitos os que se desorientam caminho e na escolha dos verdadeiros bens.

Vale a pena guardar para ti bens que não te pertencem, se saciar a ambição com as coisas que nada valem é como tentar matar a sede com água salgada?

Vale a pena odiar, difamar e matar, se ao fim o ódio e o mal estar é ainda maior?

  • Somos estrelas na noite do mundo. O profeta imagina uma grande escuridão a cobrir o mundo e as multidões caminhando ao encontro da luz que brilha na cidade santa de Jerusalém, situada num alto.

«Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe, e as tuas filhas são trazidas nos braços.»

A luz de Cristo, da Verdade, da Alegria, do Amor, brilha na face da Igreja (Lumen Gentium). E como nós somos o rosto da Igreja no mundo, a luz de Cristo deve brilhar também no nosso rosto, nas nossas palavras e obras.

  • Acorrem os tesouros de Deus. Os homens procuram dinheiro e outros bens materiais com que possam assegurar estabilidade à sua vida.

Deus não precisa de dinheiro, porque foi Ele Quem criou todas as riquezas do mundo e pode criar ainda mais. Para Ele, a verdadeira fortuna são as pessoas a viverem na Sua amizade, e caminhando para uma eternidade feliz.

É à luz desta verdade que havemos de ler o texto sagrada do hoje: «a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá

  • Privilegiados de Deus. Não sabemos o que é passar séculos a suspirar pela vinda do Redentor e não ter humanamente a quem pedir ajuda.

A desorientação era de tal ordem, que a virtude se condenava e louvava-se o vício. Chegaram a adorar como deuses o deus dos ladrões, a deusa da sensualidade e outros.

Nós nascemos no tempo de Jesus que nos ilumina, anima e alimenta. Pede-nos apenas que aceitemos os Seus dons.

Vive connosco esta aventura de amor na terra e espera apenas que Lhe peçamos ajuda. Não precisamos de O ir procurar a terras distantes, como fazemos para os bens da terra, quando saímos do país à procura de melhores condições de vida.

  1. Com os Magos, vamos a Belém

Um corajoso grupo de homens, procedendo de terras distantes entre si, encaminhou-se para Belém, guiados por uma estrela. Foi a estrela que deu norte às suas vidas e acabou por juntá-los no mesmo ideal, quando estavam já próximos do berço do Salvador, mas sem o saberem.

  • Renunciar ao sofá e calçar as sapatilhas. Estes homens viviam bem, humanamente falando. Tinham bens e gastavam o seu tempo no estudo dos astros. Foi precisamente no seu trabalho de cada dia que o Senhor os desafiou.

Deus chama-nos, porque tem uma missão para cada um de nós. Se a não realizarmos, ficará por fazer.

Precisamos de andar perto de Deus, pela oração e sacramentos, para descobrirmos o que Ele quer de nós.

Além disso, precisamos de disponibilidade para fazer o que Deus quer de nós, espírito de sacrifício. Muitos e muitas dão cabo da sua fé, porque se deixam colar ao sofá. O Santo Padre desafia-nos a deixá-lo, e a caminhar ao encontro dos outros, com a sapatilhas calçadas.

  • Manifestamo-l’O pela nossa vida. Foi uma estrela que conduziu estes homens corajosos até junto do berço de Jesus. Cada um de nós tem de ser, de algum modo, esta estrela que guia as outras pessoas até junto de Jesus, para que O conheçam, amem e sigam.

Quando temos as mesmas dificuldades que todos os outros, ou possivelmente até maiores, porque não temos privilégios e, a pesar disso, somos capazes de sorrir e de ter esperança, levamos as pessoas à descoberta de Cristo que é o segredo da nossa esperança e alegria.

Quando, depois de ofendidos e prejudicados, somos capazes, a pesar disso, de perdoar e amar quem nos ofendeu ou prejudicou, somos a estrela que ilumina e guia.

Quando, a pesar de termos tanto ou mais trabalho do que os outros e encontramos tempo para rezar e frequentar os sacramentos, iluminamos o caminho dos que andam desorientados.

  • Modos de ser estrela. Em primeiro lugar, somo-lo pela vida que levamos, porque não rastejamos pela lama dos caminhos, mas brilhamos nas alturas da graça.

Fazemo-lo pela nossa perseverança na prática da vida cristã, e não apenas durante alguns momentos na vida. A estrela brilha continuamente.

Quando damos um bom conselho que orienta quem tinha perdido o sentido da vida, também desempenhamos este papel.

  • Recomeçar o caminho. Depois de realizados alguns esforços, alguns deixam-se cair com desânimo, logo que encontram as primeiras dificuldades. Talvez isto tenha acontecido connosco.

A Liturgia da Palavra deste Domingo anima-nos a recomeçar o nosso caminho até ao Céu.

Se o Senhor nos traz à memória o dia da primeira comunhão, a profissão de fé ou qualquer outro momento em que nos parecia que estávamos mais perto de Deus – vimos uma estrela – e agora nos parece que a vida não tem sentido, é porque Deus nos está a chamar.

  • Pedir ajuda. Os magos pediram ajuda a quem lhes foi possível fazê-lo e Deus serviu-se de um homem mau – Herodes – para voltar a colocá-los no caminho certo.

Nós não precisamos de recorrer a Herodes, porque Jesus Cristo fundou a Igreja e nela encontramos sempre ajuda para nos orientar. Peçamos ajuda aos pastores da Igreja ou a um amigo com bom critério, quando nos sentirmos desorientados no caminho do Céu.

  • Generosidade. Podemos, como os magos, oferecer o ouro do nosso trabalho, o incenso da nossa oração e a mirra dos sacrifícios que a vida nos pede para sermos fiéis ao Senhor.

Estas ofertas ao Menino aproximam-nos cada vez mais d’Ele, porque nos libertam das dificuldades que nos tolhem e fazem crescer a nossa amizade com Ele.

  • Encontrar Maria. Os Magos encontraram Maria e, com Ela, Jesus. Quando encontramos Maria no nosso caminho, pela visita a um Santuário Mariano, contemplação da sua imagem, reza do terço ou qualquer outra devoção, podemos ter a certeza de que junto d’Ela encontraremos Jesus e recobraremos a alegria e a coragem. Maria foi e será sempre o caminho mais fácil e seguro para Jesus.

Publicado em Paróquia São Luis – Faro – Diocese do Algarve – Portugal.

A expectação do parto da Virgem Maria (por Santo Afonso de Ligório)

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado!

À espera de Jesus!

Nestes dias que antecedem o Natal, Maria Santíssima vive a doce espera pelo Nascimento de Jesus! 

Unamos o nosso Coração ao Imaculado Coração da Santíssima Virgem. Esperemos, cheios de esperança por aquele que nos purifica de nossos pecados.

Meditemos nesta espera pelo Menino Jesus através destas ricas palavras de Santo Afonso de Ligório.

EXPECTAÇÃO DO PARTO DA VIRGEM MARIA

(Santo Afonso de Ligório)

Exspectabimus eum et savabit nos – Esperaremos por ele, e ele nos salvará (Is 25, 9)

Sumário. Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido seu divino Filho, que em comparação com ele os suspiros mais ardentes dos Patriarcas e dos Profetas pareciam frios. Todavia Jesus não quis antecipar seu nascimento; quis ser semelhante aos outros e ficar oculto no seio materno em recolhimento e em preparação de sua entrada no mundo. Oh! Que bela lição para nós, se a soubermos aproveitar.

I. Muito embora a divina Mãe reconhecesse perfeitamente a grande honra que lhe advinha por trazer um Deus no seu seio, e os grandes tesouros de graças que ia merecendo, dando abrigo a seu Senhor, todavia foram tão grandes e tão veementes os seus desejos de ver o Salvador nascido, que em comparação deles pareciam frios os ardentes desejos dos Patriarcas e dos Profetas, que durante quatro mil anos fizeram violência ao céu dizendo: Mitte quem missurus es (1) – Envia aquele que deves enviar. Esses desejos nasciam na Santíssima Virgem de um amor duplo. Em primeiro lugar amava com terníssimo afeto o seu divino Filho, e por isso desejava dar à luz para vê-lo, abraçá-lo e provar-lhe seu amor prestando-lhe toda sorte de serviços. Demais, o coração da Virgem estava possuído de amor ardente para com o próximo. Por esta razão, apesar de prever o modo inumano de que os homens haviam de acolher e tratar Jesus Cristo, anelava pelo momento de manifestar ao mundo o seu Salvador, e de enriquecer o universo com aquele Bem supremo e com as graças infinitas que ele queria comunicar a nossas almas.

Ó divina Mãe, graças vos sejam dadas por terdes desejado tanto dar-nos o vosso Jesus! Por piedade dai-m’o também a mim; fazei que, assim como nasceu corporalmente de vossas puríssimas entranhas, assim renasça espiritualmente pela graça em meu coração. Fazei que a minha alma abrasada no amor divino, procure comunicá-lo também ao próximo.

II. Mais ardente do que o desejo de Maria foi o de Jesus. Achando-se ainda no seio de Maria ansiava pela hora de seu nascimento, afim de realizar a obra da Redenção do gênero humano e cumprir a sua missão conforme à vontade de seu Pai celestial. Parece, por assim dizer, que desde então exclamou o que depois de crescido, falando de sua Paixão, disse aos discípulos: Ah! Como sofro, enquanto não vir realizado na cruz o batismo de sangue com que devo ser batizado. – Mas, apesar disso, não quis nascer antes do tempo, para assemelhar-se a todos os outros mortais.

Conservou-se ali escondido, como que em recolhimento e preparação para a sua futura entrada no mundo, empregando todos aqueles momentos preciosos em oração e contemplação. – Desta sorte quis ensinar-nos, que nos preparemos bem para o recebermos, que nos recolhamos frequentes vezes em nós mesmos em silêncio e recolhimento, longe dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens, e entregarmo-nos aos trabalhos do ministério. Aproveitemo-nos de tão belas lições que o divino Salvador nos dá desde de o vermos em breve nascido, aos dos Patriarcas, de São José, da Santíssima Virgem e da Igreja Católica.

O Adonai… veni ad redimendum nos in brachio extento (2) – Ó Adonai, Deus, vinde para nos remir pelo poder de vosso braço. Ó Deus, protetor fortíssimo e guia fiel de vosso povo, vinde remir o gênero humano com o vosso supremo poder! Vinde livrai-nos de tantas misérias nossas e subjugar com o vosso braço todo-poderoso os poderes das trevas, que demasiado reinaram sobre nós, e arruinaram as almas. “E Vós, ó Pai Eterno, que quisestes mediante a embaixada do Anjo, que o vosso Verbo tomasse carne no seio da Bem-aventurada Virgem Maria, dai que, venerando-a como verdadeira Mãe de Deus, possamos, pela sua intercessão, obter o vosso auxílio. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo (3).

Referências:
(1) Ex 4, 13
(2) Antif. mai. fer.
(3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 61-63)

Muitas mulheres grávidas têm como devoção Nossa Senhora da Expectação, pedindo que Maria interceda por elas em um bom parto. Que Maria, nosso auxílio seguro, rogue a Deus por todas as mulheres que, como ela, também estão esperando a chegada de seu filho; recebendo, desde já, cada bebê como também propriedade sua.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO BOM PARTO:

“Ó Maria Santíssima, vós, por um privilégio especial de Deus, fostes isenta da mancha do pecado original e, devido a este privilégio, não sofrestes os incômodos da maternidade, nem ao tempo da gravidez e nem no parto; mas compreendeis perfeitamente as angústias e aflições das pobres mães que esperam um filho, especialmente nas incertezas do sucesso ou insucesso do parto. Olhai para mim, vossa serva, que, na aproximação do parto, sofro angústias e incertezas. Dai-me a graça de ter um parto feliz. Fazei que meu bebê nasça com saúde, forte e perfeito. Eu vos prometo orientar meu filho sempre pelo caminho certo, o caminho que o vosso Filho, Jesus, traçou para todos os homens, o caminho do bem. Virgem, Mãe do Menino Jesus, agora me sinto mais calma e mais tranquila porque já sinto a vossa maternal proteção. Nossa Senhora do Bom Parto, rogai por mim!”

Publicado em VOCAÇÃO DE JESUS (“Por Cristo, com Cristo, em Cristo”.

Venham, adoremos!

O Natal é um tempo no qual todos os acontecimentos incríveis de Belém levam-nos a reconsiderar nossas motivações últimas. Jesus, Maria e José convidam-nos a adorar sem descanso o Menino Jesus, indefeso e necessitado de nossos cuidados.

24/12/2023

Quando se entra no estádio de futebol de uma cidade inglesa, os torcedores são recebidos por uma grande escultura formada por dois soldados, cada um com um uniforme diferente, que se dão as mãos por cima de uma bola. A cena recorda um evento ocorrido durante a Primeira Guerra Mundial, conhecido como “A trégua de Natal”. Conta-se que, na Noite de Natal de 1914, houve um cessar-fogo espontâneo nas trincheiras que separavam os dois exércitos. Um lado fez sinal ao outro, convidando a viver uma noite de paz, precisamente naquela noite em que se comemorava o nascimento de Jesus. A iniciativa foi bem recebida: os militares de ambos os lados se reuniram, trocaram presentes simples, cantaram canções de Natal, tiraram fotos em grupo e, inclusive, jogaram uma partida de futebol.

Uma das canções que todos recordam ter ouvido ou cantado naquela noite foi a célebre Adeste fideles, composição do século XVIII, pelo que se sabe, de um músico inglês. O fato de que a letra original fosse em latim possibilitou que pessoas que não falavam o mesmo idioma pudessem cantá-lo, acompanhadas por algumas gaitas. Esta canção, atualmente conhecida em todo o mundo, é convida as pessoas que cantam e ouvem a se juntarem ao grupo que vai a Belém – pastores, anjos, magos – para adorar a Jesus recém-nascido. “Natal. Cantam: ‘venite, venite…’ Vamos, que Ele já nasceu. E, depois de contemplar como Maria e José cuidam do Menino, atrevo-me a sugerir-te: Olha-o de novo, olha-o sem descanso”[1].

O que adoramos

O convite a adorar, a adotar uma disposição de humildade e total submissão diante de outra pessoa – especialmente se for uma criança que mal balbucia – passou a ser, para muita gente, algo estranho ou inclusive problemático. Na medida em que a autonomia pessoal é considerada o direito e o valor moral supremo, colocar nossa vida assim nas mãos de alguém pode parecer um sintoma de debilidade ou de superstição, algo talvez mais próprio de outros tempos.

Só Deus, na realidade, é digno de adoração, só a ele se deve a máxima reverência. A adoração, no entanto, é sempre de alguma forma uma realidade conatural para qualquer pessoa humana, quer ela tenha fé ou não. Assim, a pessoa estabelece algo ou alguém como a razão última pela qual faz todas as outras coisas. “O que é um ‘deus’ no plano existencial? – perguntava-se o Papa Francisco – É aquilo que está no cerne da própria vida e do qual depende o que fazemos e pensamos. Podemos crescer numa família cristã de nome, mas na realidade centrada em pontos de referência alheios ao Evangelho. O ser humano não vive sem se centrar em algo. Eis, então, que o mundo oferece o supermarket dos ídolos, que podem ser objetos, imagens, ideias, papéis”[2].

Deste ponto de vista, tanto os cristãos como aqueles que veem na adoração uma coisa do passado, podem redescobrir algo do caminho que leva a Belém. Para empreendê-lo podemos talvez começar nos perguntando: Qual é razão pela qual faço o que estou fazendo? O que me leva a fazer isto e não outra coisa? Ao refletir assim podemos identificar num primeiro momento algumas motivações; e depois delas, puxando o fio, descobriremos outras menos evidentes. Estas motivações mais sutis podem, porém, remeter por sua vez a outras mais profundas. Por isso, é necessário continuar a fazer perguntas a nós mesmos até chegar a nosso critério último de ação: aquilo que consideramos irrenunciável, intocável, e que guia nossas decisões; aquilo que, em suma, adoramos, porque submetemos a isso todo o resto.

Podemos ter então a surpresa de descobrir que, com mais ou menos frequência, nossas decisões não visam tanto o Deus que confessamos, mas talvez outros fins inconfessados, como, por exemplo, o prestígio pessoal, a segurança material, a preservação de uma determinada situação, ou a simples comodidade. Tudo isto pode, inclusive, estar misturado com elementos em parte relacionados com a fé, como a busca de uma paz espiritual, ou a tranquilidade que dá fazer o que acreditamos que devemos fazer. Mas, talvez no fim das contas, até esse tipo de motivos nos mantém longe da vertigem que este Menino que é Deus veio trazer ao mundo.

O convite que entoamos tantas vezes durante os dias de Natal – “Venham, adoremos!” – vem precisamente nos questionar em profundidade a respeito das razões pelas quais vivemos. Venham todos deixar-se interpelar por este paradoxo de ver, recém-nascido, aquele que fez nascer o céu e a terra. Venham todos contemplar como não pode articular palavra aquele que, com sua palavra, criou tudo que existe. “Toca-me o fundo da alma a figura de Jesus recém-nascido em Belém: – confessava São Josemaria – uma criança indefesa, inerme, incapaz de oferecer resistência. Deus entrega-se às mãos dos homens”[3]. O Natal é um tempo no qual todos esses acontecimentos incríveis de Belém nos levam a reconsiderar nossas motivações últimas. Jesus, Maria e José – e com deles, todos os santos – convidam-nos sempre a questionar nossas seguranças, nossas pequenas ou grandes “adorações” particulares, para poder encaminhar nosso coração para a única estrela que nos indica onde está o Salvador.

Seguir a estrela com coração sincero

“Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 1-2). Os magos se unem a esse venite, adoremus. Deixaram a segurança do conhecido para procurar a fonte para a qual a sua sede de adoração os leva. Perceberam em suas vidas um centro de gravidade que orientava suas decisões, porém não haviam conseguido delineá-lo com clareza. Agora, chegando a Belém, sentem em seu coração um palpitar diferente, que diz que já estão perto de descobri-lo. São Josemaria reconhecia nesta busca dos magos a experiência da vocação cristã: o reconhecimento de um anseio que só pode ser preenchido por Deus, a descoberta do que verdadeiramente pode ser adorado. Como eles, “nós também percebemos que, pouco a pouco, se acendia na nossa alma, um novo resplendor: o desejo de sermos plenamente cristãos; se assim me posso exprimir, a ânsia de tomarmos Deus a sério”[4].

Bento XVI os chamava “homens de coração inquieto”[5]. Essa é a característica constante da alma que, no meio da fragilidade do mundo, procura a Cristo. Em seus corações, como nos nossos, vibrava uma nostalgia semelhante à do salmista: “Ó Deus, vós sois o meu Deus, no alvorecer te busco, minha alma tem sede de Ti, por Ti minha carne desfalece, em terra deserta e seca, sem água” (Sl 62,2). É a situação do peregrino, muito diferente da do vagabundo, que não sabe o que quer nem aonde vai. O peregrino é um caminhante sempre buscando, sempre com a nostalgia de amar mais a Deus, desde a manhã até a noite. “No leito me lembro de ti, nas vigílias da noite penso em ti” (Sl 62,7). Este desejo do verdadeiro Deus está inscrito em todos os homens e mulheres da terra, cristãos e não cristãos, e é isso que os mantém a caminho. Por isso, quando na quarta oração eucarística, o sacerdote pede a Deus Pai que se lembre daqueles por quem se oferece o sacrifício de Cristo, lá onde se encontram “aqueles que vos procuram de coração sincero”[6].

Os reis magos, explica Bento XVI, “talvez fossem homens eruditos, que tinham grande conhecimento dos astros e, provavelmente, dispunham também de uma formação filosófica; mas não era apenas saber muitas coisas que queriam; queriam sobretudo saber o essencial, queriam saber como se consegue ser pessoa humana. E, por isso, queriam saber se Deus existe, onde está e como é; se Se preocupa conosco e como podemos encontrá-Lo. Queriam não apenas saber; queriam conhecer a verdade acerca de nós mesmos, de Deus e do mundo. A sua peregrinação exterior era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração. Eram homens que buscavam a Deus e, em última instância, caminhavam para Ele; eram buscadores de Deus”[7].

Seguir a estrela de Belém é na realidade uma tarefa que dura a vida toda. A tarefa de procurar o presépio escondido na nossa vida cotidiana pode ser às vezes fatigante, porque implica não se deter em locais que parecem mais cômodos, nos quais no entanto não está Jesus. De modo que a meta vale todos os esforços: “Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,10-11). Naquele dia, a vida desses homens sábios mudou para sempre. Porque, no fim das contas, “tudo depende de que em nossa vida haja ou não adoração. Sempre que adoramos ocorre algo em nós e em torno de nós. As coisas endireitam-se de novo. Entramos na verdade. O olhar torna-se agudo. Muitas coisas que nos oprimiam, desaparecem”[8].

Deixar que Deus seja Deus

Ao longo do caminho não encontraremos apenas a estrela que nos guia até Jesus: cruzaremos também com um grande número de luzes artificiais, múltiplos sucedâneos que procuram nos enganar, reivindicar nossa adoração e, afinal de contas, aprisionar a nossa liberdade. São os falsos ídolos dos quais nos fala o Catecismo da Igreja: “A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus”[9]. Todos nós, até os cristãos, podemos cair na idolatria repetidas vezes, cada vez que colocamos algo ou alguém, pelo menos parcialmente, no lugar de Deus. Estes falsos ídolos se tornam então “formas de opressão e liberdades aparentes que na verdade são correntes que escravizam”[10]. É um deslocamento de Deus que não acontece habitualmente de modo chamativo e escandaloso, mas que se introduz discretamente em nosso coração, como a hera sobe paulatinamente em um muro, até ameaçar derrubá-lo.

Todas as manhãs ao despertar, São Josemaria prostrava-se em terra e repetia a palavra “serviam! ”, “servirei!”. Muitos de nós aprendemos dele este gesto, que expressam o desejo, renovado todos os dias, de não nos distrairmos com falsas adorações; de nos inclinarmos todos os dias somente diante de Deus. É um gesto de adoração; e, por isso mesmo um gesto de liberdade, um gesto que nos liberta da possibilidade de nos determos diante de pequenos ídolos, disfarçados até das melhores aparências e intenções. “A adoração é a liberdade que provém das raízes da verdadeira liberdade: da liberdade de si mesma. Pelo que é ‘salvação’, ‘felicidade’, ou, como a chama João, ‘alegria’. E ao mesmo tempo, disponibilidade total, entrega e serviço, tal como Deus me quer”[11].

Diariamente também, São Josemaria repetia, na ação de graças depois de celebrar a Eucaristia, esta petição do salmista: Non nobis, Domine, non nobis; sed nomini tuo da gloriam! (Sl 115, 1). Empequeneceríamos esta oração se pensássemos que o que ela expressa é uma mera renúncia à gloria geral, como se se tratasse de algo mau para nós. O cristão tem esperança, de fato, na promessa de viver na glória de Deus; de modo que, mais do que de uma renúncia, é um redimensionamento: a petição do salmista assume que a glória humana, sem a glória de Deus, é sempre muito pequena, como qualquer ídolo diante de Deus. A glória meramente humana acaba se revelando uma triste caricatura: a ânsia de querer sobretudo ficar contente com nossos sucessos ou perceber a admiração dos outros, a autossatisfação da glória humana, é bem pouca coisa… porque Deus não está lá.

O Menino Jesus, indefeso e necessitado de tudo, vem para desmascarar sempre os nossos ídolos, que não veem, nem falam, nem ouvem (cfr. Sl 115,5-6). Os dias de Natal constituem um convite para empreender novamente o caminho rumo a essa casa improvisada, mas cheia de luz e calor, que é a gruta de Belém. Ficaremos surpreendidos “diante da liberdade de um Deus que, por puro amor, decide aniquilar-se, assumindo carne como a nossa”[12].


Publicado em Opus Dei.

[1] São Josemaria, Forja, n. 549.

[2] Francisco, Audiência geral, 1/08/2018.

[3] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 113.

[4] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 32.

[5] Bento XVI, Homilia na Epifania do Senhor, 6/01/2013.

[6] Missal Romano, Oração Eucarística IV.

[7] Bento XVI, Homilia na Epifania do Senhor, 6/01/2013.

[8] R. Guardini, Domínio de Dios y libertad del hombre, Madri, Guadarrama, 1963, p.30.

[9] Catecismo da Igreja Católica, n. 2113.

[10] F. Ocáriz, Carta pastoral, 9/01/2018, n. 1.

[11] J. Ratzinger, “Fazer oração em nosso tempo”, em Palabra en la Iglesia, Salamanca, Sígueme, 1976, p. 107.

[12] F. Ocaríz, Carta pastoral, 9/01/2018, n. 1.

Publicado em Opus Dei.

O verdadeiro Natal para os pequeninos!

Está chegando o Natal, é tempo de advento, há um clima diferente no ar! E como diz uma antiga canção: “Natal, natal das crianças… Natal do Menino Jesus”, acho que é por isso que a criança tem um destaque especial no Natal, pois ele existe, por causa de uma criança. E isso nos remete a um sentimento de ternura e carinho para com as crianças.

Por aquela criança especial ter recebido presentes de ilustres visitantes, também nós queremos presentear nossa crianças. Conta-se que São Nicolau fazia isso para homenagear o Menino Jesus. Ação válida, mas precisamos ter a consciência de ensiná-las o verdadeiro significado do Natal, para que elas não esperem apenas os presentes.

Precisamos levá-las a viver essa inquietude no coração, da espera, da preparação, para a vinda do Salvador, pois Ele é o verdadeiro presente.

E como fazemos isso? Muitas formas, enfatizando sempre como personagens principais a Sagrada Família, o anjo, as figuras bíblicas. Podemos ler juntos a história do nascimento de Jesus, em livros infantis ou na bíblia. Montar o presépio em casa, levá-las para visitar outros presépios, participar da liturgia própria do tempo, cantando com elas músicas natalinas católicas, falar da pobreza e nobreza do presépio.

É muito importante que como cristãos católicos, ensinemos a eles o sentido de cada símbolo que esse tempo litúrgico nos apresenta, para que eles vivam a fé já na idade tenra. Como nos diz Provérbios 22,6: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até que envelheças, não se desviará dele”.

Uma tradição que tenho lá em casa é decorar a casa ouvindo músicas natalinas tradicionais, e cantamos enquanto decoramos. Não arrumo muito cedo, mas no tempo do advento. Hoje mesmo com eles crescidos, continuo com a tradição e eles gostam desse clima.

Devemos também instigar neles o sentimento de fraternidade e doação, fazendo ações concretas para que a lição do Menino Deus, que nasceu pobre para nos salvar, crie neles uma mentalidade aberta para o amor gratuito e generoso, pois as crianças são o futuro!

Cleide Maria Machado Pereira Consagrada Missionária Arca da Aliança

Publicado em Arca da Aliança (Comunidade Católica).