
Como viver no silêncio em um mundo que grita?
Vivemos na era do barulho e da distração. É o celular tocando , a mensagem chegando , dezenas de “posts” e “curtidas” sobre assuntos que vão desde acontecimentos importantes do outro lado do mundo até imagens privadas de uma pseudo-realidade da vida de um conhecido. Todo este ruído compete pela nossa atenção. Clama pela nossa resposta. Passamos o dia no “muito fazer” quando “somente uma coisa é necessária”.
Nós Carmelitas temos nossa origem nos Padres do Deserto. Fugiam da segurança do mundo para se focar somente em Deus. Mais do que buscar um silêncio externo buscavam um silêncio interior. Entendiam que o primeiro silêncio deve ser interno. Parar para escutar. O silêncio, a solidão e a pobreza fazem parte das obrigações da ordem. “Em silêncio e esperança procurais viver sempre” Moradas 3,2
São José, padroeiro do Carmelo, é nosso exemplo de silêncio. Em todo Evangelho não temos uma única palavra sua. Isto não o impediu de ser homem de mensagem e homem de ação. Sobretudo homem de escuta. Percebe o querer de Deus e se entrega à Sua vontade.
Lembramos também a figura de Elias. Em meio a muito barulho e chamados diversos foi no silêncio da brisa suave que Deus se fez presente (1Rs 19,12).
Como contemplativos seculares devemos buscar nosso deserto no dia a dia. Aproveitar os curtos momentos de silêncio, tornar os momentos simples momentos de contemplação. Até mesmo um simples respirar pode ser um instante de presença. Recolher o próprio pensamento em silêncio e evitar distrações , como citado por Teresa “buscar calar nossa palavra e escutar a palavra de Deus”. Buscar calar até nossos pensamentos e desejos mais íntimos para estar perto de Deus.
Não é tarefa fácil, já dizia Teresa, “o mesmo cuidado que se põe em pensar em nada talvez desperte o pensamento a pensar muito.” (Castelo 4,3 pg 684 ). Recolher os sentidos é mais uma ato de graça que segue um ato de vontade.
Que busquemos ser silêncio. Viver do Nada e entregar-se a Deus. Entregar Tudo, até nossos pensamentos. E em nosso calar o Espírito possa orar em nós com gemidos inefáveis ( Rm 8,26).
Fontes
Deserto Vivo. Poustinia. Catherine de Hueck Doherty. 2001
Silêncio – Frei Patrício Sciadini
Amor líquido , sobre a fragilidade dos laços humanos – Zygmunt Bauman
Santa Teresa do Menino Jeusus – Obras completas – Santa Teresa
Para se aprofundar no assunto :
- Na terra do silêncio – Martin Laird
- Ao Sopro Do Espírito – Oração E Ação – Maria-Eugenio Do Menino Jesus
- O Silêncio de Maria – Ignácio Larrãnga
- Vida silenciosa – Thomas Merton
- As Exigências do Silêncio – Thomas Merton
- Diálogos com o silêncio Thomas Merton
- Quero ver a Deus – Frei Maria-Eugênio do Menino Jesus
- A força do silêncio: Contra a ditadura do ruído – Robert Sarah
- Exigências do silêncio – Anselm Grün
- José – O Silencioso – Michel Gasnier
- Doze graus do silêncio – vários autores
- O Silêncio Amoroso de Deus – Paul Evdo
Publicado em Seculares Contemplativos (Autor: Flávio Teixeira – Secular Contemplativo).