“Moradas” – as feras, os desafios…

Jesus e a tempestade
Jesus e a tempestade

Na medidas das circunstâncias, tudo corre bem. Estamos vivos e inteiros, como dizem por aí, e isto é muito importante. Creiam nisto, sim? Estamos seguindo nosso roteiro, e Deus cuida de nós, ainda que venham acidentes, doenças, incompreensões, discórdias, limitações materiais, sensações de vazio (que algumas vezes passam por nossa mente), dúvidas sobre o sentido de tudo que nos envolve e sobre o que, de fato, significamos como criaturas de Deus.

Penso que esta vida é ao mesmo tempo maravilhosa e, inexoravelmente, tenebrosa. Vivemos entre luz e trevas… Mesmo os Santos e Santas que viveram tão somente para Deus, dentro da vida monástica e fora dela, conheceram “A Noite Escura da Alma”, parafraseando São João da Cruz. O título de seu famoso escrito é revelador, já que em sua santidade visava o perfeiçoamento da Cristandade. Esta, a seu tempo também vivia em constante luta contra o egoísmo, em meio a uma  pretensa auto suficiência. É um mal que tem nos acompanhado ao longo dos tempos. Quanto a esta auto suficiência humana, já culturalmente aceita, é horrível pensar que, de algum modo, entre distraída e deslumbrada com pequenas conquistas, me deixei ficar, ainda que por um breve tempo neste patamar… Mas nossa alma sabe, se o deseja obviamente, ordenar para que as feras desistam de seu intento. Santa Teresa de Jesus nos dá a conhecer nossa superioridade, em Deus, para que avancemos com consciência e fortaleza sobre os inimigos de nossa alma. Eles têm muitos ardis, mas agem com sutileza… São invisíveis, e como São Pedro alertava:”(…) rugem à nossa volta, para nos devorar”. Temos que nos decidir a dizer muitas vezes “não”! A oração, o pensamento voltado para as coisas sagradas – que vem de Deus: o amor, a amizade, o perdão, no que depende de nós, nos salvam. Creio que fazem uma barreira contra esta verdadeira avalanche de “informações”, que contêm obscenidades, culto à violência, ofertas de consumo, enfim, contra a superficialidade de nossa sociedade.

Desse modo, nós que estamos mergulhados até o pescoço neste ritmo de coisas, temos como aliada o que os teólogos denominam Teologia da Revelação – o Antigo e o Novo Testamentos. Assim, sabemos, na profundidade de nossos corações que enfrentamos um combate espiritual que se dá no dia-a-dia. São Paulo nos lembra” O bem que quero não faço, e o mal que não quero, este, sim, faço (…)”. Esta batalha espiritual e física, se dá primeiramente contra nós próprios (nossas inclinações, as que não nos propendem à santidade – falar, agir, etc.). Em seguida, é contra o mundo que nos cerca que se dá o combate interior. A vida atual, muito mais que no passado, foi tornada cada vez mais profana. Lembremos da “queda da Graça do Criador”: o pecado original. Esta luta é contínua; há uma cultura que busca subverter as ações voltadas para o Bem. Lembram de Santa Teresa de Calcutá? Envolveram-na, sem sucesso em suspeitas de corrupção… Vi o filme sobre sua vida. Um grupo, formado por leigos voluntários foi criado por um sacerdote apoiador, para angariar fundos. Ela não gostava de lidar com dinheiro, mas discordava quanto a dar controle a um grupo, até que cedeu à idéia deste sacerdote, seu amigo, com aprovação do bispo. No ano 2000 já era uma “corporação”… Em 2003 retirou a autoridade do grupo, desfazendo-o, desta vez com o apoio do mesmo sacerdote e o reconhecimento de que ela sempre esteve certa. Para ela, a simplicidade traz paz, alegria a qualquer iniciativa voltada para o bem.

Vivemos atualmente oprimidos pelas exigências de um modo de vida desumano e desumanizador, que inúmeras vezes depõem contra nossos valores. Mas o discernimento se mostra pela nossa consciência (segundo os valores atemporais do Cristianismo). E, esta (a consciência) racionalmente nos apresenta a melhor escolha: a que não nos trará qualquer arrependimento. Sugiro que vejam o filme “O Maquinista”.

Por vezes, esta “harmonia interior” balança nosso edifício (ou castelo?) , já que as pressões tornaram o viver humano uma elegia à vida profana, tal como uma moeda que tem uma única face. Do outro lado… nada. É esquisito dizer isto, mas é o que ocorre na atualidade: o sagrado não inspira as ações, as decisões. No entanto, esta realidade é questionável, porque afinal somos livres, temos livre-arbítrio. Não somos “zumbis”, ou, igualmente ruim, “brinquedos robóticos” de lojas de departamento… Ele [o Sagrado] é vital para a paz interior de quem não admite abdicar de sua humanidade. Acredito piamente que sempre é tempo para reverter qualquer processo. A propósito procurem algo sobre Santa Maria do Egito, a eremita, que viveu por mais de 40 anos no deserto. Absolutamente só, soube se proteger de perigos – nos desertos há cavernas, todos sabemos, com leões, serpentes, escorpiões. Alimentava-se de gafanhotos e outros insetos. Teria sido uma linda mulher, que até os 17 anos vivia satisfeita com sua vida mundana. Certo dia abandonou tudo. Foi encontrada por um monge chamado Zósimo, era um padre do deserto que, casualmente por lá peregrinava. Vivia dignamente, mal coberta por trapos. Apresentava uma magreza que espantou o monge. Também, possuía grande sabedoria, e para admiração de todos conhecia a Bíblia. Isto se passou no ano 500 da era cristã. É venerada no Oriente, mas pouco conhecida no Ocidente.

Assim, é nosso direito sonhar com um mundo justo, com o amor de alguém em especial, com, pelo menos, a expectativa de confiança básica naqueles que depositamos nossos afetos (e que consideramos recíprocos), tanto na relação familial, quanto dentro da comunidade em que vivemos. Em todo caso, na pior das hipóteses, afirmemos com Santa Teresa de Jesus : “Somente Deus basta.”

Não é nem um pouco fácil, mas, já que vivemos quase que desumanizados, em defesa de minha integridade pessoal, tenho a tendência, desde muito jovem, a ter rejeição a qualquer gueto de idéias, estilos, modos de vida, etc., que deixem de lado a possibilidade da busca do amor, em tudo e em todos. Há somente, pelo menos para mim, uma condição: ser um ser humano de boa-vontade. A meu ver, este critério faz cair as frutas podres do pomar que há em nosso coração… Levei tempo para compreender isto interiormente e ficar em paz comigo mesma. Portanto, não faço concessões.

Voltemos nosso foco às “Moradas”. Santa Teresa de Jesus não desperdiça a alma de ninguém em seus escritos, mas suas admoestações demonstram a evidência de que podemos mais, mais, mais… A cada dia podemos, no que depende de nossa vontade, buscar nosso aperfeiçoamento como pessoas. Temos a vida toda para empreender este desafio. Este é o objetivo dela em “Castelo Interior – Moradas”, e ele não vale somente para quem decidiu entrar para um convento, ou para o monastério. São patamares que devemos ultrapassar, e que na elaboração de Santa Teresa de Jesus são sete. Na verdade, ela se refere a moradas espirituais. Ela vai nos incentivando a subir os degraus de nosso castelo interior… A meta é a perfeição. Não se trata de vaidade: eu acrescentaria (com certo constrangimento, pela ousadia), aquilo que me vem à mente neste momento: Jesus Cristo disse: “Sede perfeitos como meu Pai O é.”

No post anterior, prometi que publicaria neste blog o que Santa Teresa de Ávila deixou escrito sobre “Provas”. Este termo compõe o Índice Analítico de as Obras Completas, no qual qual ela se refere às provações que sofremos na vida (in Teresa de Jesus, “Obras Completas”, texto estabelecido por Frei Tomas Alvarez, Ordem Carmelita de Descalços(O.C.D.); em sua edição brasileira o texto foi revisado e anotado por Frei Tomas de La Cruz (O.C.D.), Editorial Monte Carmelo, Burgos, 1997. Edições Carmelitanas. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1995; 2ª edição 2002).

Provas

“O Senhor quer provar aos que O amam antes de colocar neles seus grandes tesouros [V 11,11]; mesmo os mais elevados na oração, Deus os quer provar  algum tempo, parece que Sua Majestade os deixa [V15, 12]; algumas vezes permite o Senhor que caiamos… para provar se nos pesa muito tê-lo ofendido [M, 2, 1, 8]; provemo-nos a nós mesmos antes que nos prove o Senhor [M 3, 2, 3] Sabe Deus provar se não nos provamos a nós mesmos [M 3,1, 7];  Deus dá licença ao demônio para provar-nos [M 6, 1, 9]; Nosso Senhor a quer provar para ver o amor que Lhe tem [Cta 329, 2]; muitas vezes o Senhor prova para ver se as palavras se conformam com as obras [Cta 264, 3.”

Autor: Lúcia Barden Nunes - Blog "Castelo Interior - Moradas"

Assinatura no blog: Lúcia Barden Nunes. Católica (Igreja Católica Apostólica Romana). Jornalista (Reg.Prof. MTb/RS 7.142- Lúcia Aparecida Nunes). Estado Civil: Casada (com Arturo Fatturi). Local de nascimento: Rio Grande do Sul. Data: 1960. País: Brasil.

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