
O que diz hoje Teresa de Ávila à Igreja?
Superior Carmelita no Egito explica que Teresa possui um humor que te faz sorrir e ao mesmo tempo diz verdades
Cairo, 07 de Maio de 2015 (ZENIT.org) Frei Patrício Sciadini
Teresa de Ávila possui um humor que te faz sorrir e, ao mesmo tempo, diz verdades que não deixam espaço para a monotonia e nem para uma vida de falsa tranquilidade. Às vezes na minha oração me vem à cabeça um pensamento que me “persegue dia a dia e noite a noite”. Até parece que está maduro e é preciso dar-lhe vida e fazê-lo nascer. Um pensamento que faz tempo que me agita, especialmente neste V Centenário de Santa Teresa: o que Teresa de Jesus diria à Igreja de hoje? Qual seria a sua mensagem? E como a Igreja reagiria?
Não há duvida, segundo o meu pobre parecer, que alguns teólogos dos mais aficcionados à teologia se sentiriam incomodados com as visões desta mulher andariega, que sobe na cátedra e dá conselhos, escreve livros e diz coisas que parecem vir do outro mundo. Os seus livros não receberiam sempre uma apreciação de louvor mas de crítica. Como aceitar, por exemplo, tranquilamente, a afirmação teresiana “o que seria a Igreja sem as mulheres”, ou quando ela diz “é interessante como no Evangelho sempre Jesus foi duro e repreendeu os homens e sempre foi doce e nunca repreendeu uma mulher”.
É um feminismo que fere o nosso machismo escondido mas presente.
Teresa diria à Igreja que não se preocupe com o poder, com sua força, que não condene mas que seja misericordiosa. Há uma profunda sintonia entre o pensamento do Papa Francisco e Teresa de Ávila. Os dois combinam nas ideias, na pastoral, na teologia e especialmente em “ir às periferias para evangelizar.” Teresa não aguentou mais ficar fechada no Carmelo da Encarnação, perdendo “tempo” em encontros vazios com as visitas das pessoas ricas e importantes que não sabendo o que fazer na própria casa e na vida iam ao Carmelo para fazer perder tempo e vocação às monjas. E hoje existem também tantas pessoas que preenchem o tempo com vãos discursos de espiritualidade de “sala de espera”.
Uma vez uma rica senhora colocou à disposição de Teresa um “carrão de luxo” e Teresa usou sem muitas preocupações, mas uma pessoa do “povo” vendo isso ficou escandalizada e disse “é esta a monja que chamam de santa e anda com o tal carrão?” Teresa escutou, desceu e nunca mais na sua vida usou estes carros de luxo puxados com belos cavalos, mas usava “carrinhos populares” e não queria que suas freiras e monjas nas viagens, usassem carros caros.
Teresa diria à Igreja que sem uma vida espiritual de qualidade, entra na vida a “mundanidade espiritual”, isto é, uma espiritualidade aparente, consumista, de confeitarias, dietética. Ela queria uma igreja “amiga forte de Deus”, baseada no fundamento da oração, da vida interior, da mortificação, da pobreza.
Aqui estão os segredos da atualidade dos escritos de Teresa de Ávila. Ela fala de coisas que aconteciam ontem e hoje, de problemas de ontem que hoje estão aqui vivos. Teresa toca no âmago do “câncer” que é o de sempre: comodismo, riqueza, sensualidade, busca de prazer, de vida fácil, de dinheiro e de luxo… câncer que estava presente já no tempo de Jesus. É só ler o Evangelho, era presente no tempo de Abraão e de Moisés, no tempo de Francisco de Assis, de Caterina de Siena, do Papa João Paulo II e do Papa Francisco e depois dele. Necessitamos de santos que quando abrem a boca nós podemos dizer com sinceridade “é isso mesmo, devo me converter se quero ser cristão.”
Teresa diria à Igreja “que não podemos nos perder em bisbilhotices”, quando há problemas grandes por aí, milhões de pessoas que morrem de fome, que não conhecem o Cristo. Quando avança um legalismo que condena “a torto e à direita”. Quando parece aumentar o número dos que pregam para os outros uma vida austera e para eles, a vida cômoda.
Ainda para terminar: como dizia um teólogo pouco [antes] de sua morte, “lendo os escritos de Teresa me parece ler uma página do Evangelho”. Teresa é necessária na Igreja para que a Igreja não adormeça na sua tranquilidade e especialmente para que o Carmelo não seja um “museu” de recordações do passado glorioso, nem um jardim florido, mas sim uma videira que dá frutos e frutos abundantes.
(Fonte/imagem: comshalom.org)
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