Fonte: Comunidade Santa Teresa – Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares (OCDS) – Província do Carmo – Sul – Brasil
SÃO JOSÉ E O PRIMADO DA VIDA INTERIOR
(Da Exortação Apostólica do Venerável Papa João Paulo II)

Os Evangelhos falam exclusivamente daquilo que José «fez»; no entanto, permitem-nos auscultar nas suas «ações», envolvidas pelo silêncio, um clima de profunda contemplação. José estava cotidianamente em contato com o mistério «escondido desde todos os séculos», que «estabeleceu a sua morada» sob o teto da sua casa.
Isto explica, por exemplo, a razão por que Santa Teresa de Jesus, a grande reformadora do Carmelo contemplativo, se tornou promotora da renovação do culto de São José na cristandade ocidental.”
O sacrifício total, que José fez da sua existência inteira, às exigências da vinda do Messias à sua própria casa, encontra a motivação adequada na «sua insondável vida interior, da qual lhe provêm ordens e consolações singularíssimas; dela lhe decorrem também a lógica e a força, própria das almas simples e límpidas, das grandes decisões, como foi a de colocar imediatamente à disposição dos desígnios divinos a própria liberdade, a sua legítima vocação humana e a felicidade conjugal, aceitando a condição, a responsabilidade e o peso da família e renunciando, por um incomparável amor virgíneo, ao natural amor conjugal que constitui e alimenta a mesma família».
Esta submissão a Deus, que é prontidão de vontade para se dedicar às coisas que dizem respeito ao seu serviço, não é mais do que o exercício da devoção, que constitui uma das expressões da virtude da religião.
A comunhão de vida entre José e Jesus leva-nos a considerar ainda o mistério da Incarnação precisamente sob o aspecto da humanidade de Cristo, instrumento eficaz da divindade para a santificação dos homens: «Por força da divindade, as ações humanas de Cristo foram salutares para nós, produzindo em nós a graça, quer em razão do mérito, quer por uma certa eficácia».
Entre estas ações os Evangelistas privilegiam aquelas que dizem respeito ao mistério pascal; mas não deixam de frisar bem a importância do contacto físico com Jesus em ordem às curas de enfermidades (cf., por exemplo, Mc 1, 41) e a influência por ele exercida sobre João Baptista, quando ambos estavam ainda no seio materno (cf. Lc 1, 41-44).
O testemunho apostólico não transcurou — como já se viu — a narração do nascimento de Jesus, da circuncisão, da apresentação no templo, da fuga para o Egito e da vida oculta em Nazaré, por motivo do «mistério» de graça contido em tais «gestos», todos eles salvíficos, porque todos participavam da mesma fonte de amor: a divindade de Cristo. Se este amor se irradiava, através da sua humanidade, sobre todos os homens, certamente eram por ele beneficiados, em primeiro lugar, aqueles que a vontade divina tinha posto na sua maior intimidade: Maria, sua Mãe, e José, seu pai putativo .
Uma vez que o amor «paterno» de José não podia deixar de influir sobre o amor «filial» de Jesus e, vice-versa, o amor «filial» de Jesus não podia deixar de influir sobre o amor «paterno» de José, como chegar a conhecer as profundezas desta singularíssima relação? Justamente, pois, as almas mais sensíveis aos impulsos do amor divino vêem em José um exemplo luminoso de vida interior.
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